Cultura, Reportagem, Teatro

“REDE ENCENA SALVADOR” PROMOVE ENCONTRO COM DRAMATURGO

ICultura

 
Rede Encena Salvador, movimento civil organizado de grupos de teatro das comunidades de Salvador, promoveu, na tarde de ontem, no Espaço Xisto Bahia, um encontro com o dramaturgo e diretor teatral Paulo Henrique Alcântara. O bate-papo, que tinha como intuito debater sobre dramaturgia, reuniu estudantes de teatro, servidores públicos e jornalistas.
 
Leitura dramática
 
Paulo Henrique Alcântara é jornalista de formação, mas foi no teatro que encontrou o seu foco profissional. Depois de ingressar na Escola de Teatro da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e ter contato com direção teatral, iniciou nos palcos em 1992, ainda como ator. Mas a sua realização nas artes cênicas só foi concretizada anos mais tarde, dirigindo e escrevendo. No primeiro espetáculo que dirigiu, em 1996, Paulo teve no elenco os talentosos atores baianos João Miguel e Wagner Moura, seu amigo até hoje. Dentre os seu textos, constam obras como BoleroLábios que beijei e Partiste, encenada em 2010. E foi justamente esta última produção que Paulo levou para servir como base de sua oficina no Espaço Xisto Bahia. O autor, juntamente com os participantes, fez a leitura dramática da peça. Durante a atividade, ele explicou a sinopse da história, deu dicas sobre como produzir um texto teatral e ouviu as impressões dos “alunos” em relação à obra. Partiste está indicada ao Prêmio Braskem de Teatro em três categorias: revelação (Margarida Laporte), melhor texto e melhor espetáculo adulto.
 
A Rede
 
Rede Encena Salvador surgiu com o intuito de buscar melhorias para todos os grupos teatrais das comunidades da capital baiana. Ivana Santana, 31 anos, uma das responsáveis pelo movimento, enfatiza a importância do órgão: “A Rede foi criada para atender às necessidades de todos os grupos de teatro. Antigamente, cada um buscava benefícios de forma individual e hoje buscamos melhores condições para todos. Teatro é coletividade”, destaca. O evento contou com a participação de grupos ligados à Rede, como a Companhia de Teatro Arte Pura, coordenada pelo ator e diretor Max Ruy, de 39 anos, e do Grupo de Teatro Juntando os Cacos, representado pelo produtor, iluminador e ator Edmundo Júnior, de 21 anos.
 
#Foto: Raulino Júnior
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ASSUMINDO AS NOSSAS FRA(N)QUEZAS

IArtigo

“Eu perdi na prova porque o professor não sabia ensinar”, “O concurso foi muito difícil e eu concorri com pessoas que tinham um grau de instrução mais elevado que o meu, por isso não passei”, “Para mim, quando uma turma toda perde, a culpa é do professor”, “Às vezes, o importante não é ganhar. Fiquei em 2º. lugar, mas valeu a participação”, “Fiz o vestibular só por experiência, por isso não fiquei triste com a reprovação”. Você já percebeu que o ser humano está sempre na defensiva? Reconhecer as fraquezas é uma qualidade incomum entre alguns indivíduos.

Hoje em dia, poucas pessoas são capazes de assumir que não têm competência para fazer determinada atividade, que podem ter errado quando tomaram uma certa atitude impensada, que perderam na prova de direção para adquirir a Carteira Nacional de Habilitação por pura falta de habilidade para tal. Quando algo de ruim acontece, a culpa é sempre do outro. Não há uma consciência da falha humana. Não há uma conversa franca consigo mesmo. Se a pessoa que fez o vestibular “por experiência” for aprovada na seleção, vai deixar de assumir a vaga por que o intuito era somente o de treinar? Deixaria para assumir somente quando fizesse a prova “pra valer”?

A sociedade perdeu um pouco a preocupação com a verdade. O capitalismo selvagem não deixa ninguém ser quem realmente é. A competitividade do mercado de trabalho não abre espaço para pessoas que são, predominantemente, transparentes. Todo mundo está, vez por outra, “contando vantagem”. Quem não segue essa linha é visto como bobo, inocente.

“Errei, sim”, “Perdi por incompetência minha”, “Não sei nada de ciências exatas porque, na época da escola, só estudava no intuito de passar”, “Eu fui um péssimo aluno neste ano e não merecia ser aprovado”, “Na discussão que tivemos, eu fui grosso e por isso quero te pedir desculpas”, “Eu nunca tinha ouvido falar disso, ainda bem que você me informou”, “Gente, eu não sei o significado da palavra ‘sinceridade’. Alguém pode me explicar?”. Você já percebeu que determinadas frases quase nunca são ditas pelos seres humanos? Assumir as fraquezas é sempre bom.

 

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CARLA VISI E SUA AUTÊNTICA ENTREGA À ARTE MUSICAL

Dendê Cultural: Carla Visi cativa o público do Pelourinho com seu projeto Encanto Mestiço

Foto: Reprodução do site Dendê Cultural

ICultura 


A cantora Carla Visi, 40 anos, levou todo o seu encanto mestiço para o palco do Largo Tereza Batista, no Pelourinho, na noite de ontem. Acompanhada pelos músicos Rudnei Monteiro (violões), Ayrton Zetterman (baixo) e Márcio Dhiniz (bateria percussiva), a artista mostrou por que é uma das melhores intérpretes brasileiras da atualidade. O show En*canto Mestiço, que tem direção artística de Paulo Atto e direção musical do maestro Letieres Leite, da respeitada Orkestra Rumpilezz, trouxe uma Carla totalmente renovada e muito confortável na pele de cantora de MPB. Para quem não sabe (ou não lembra), Carla foi vocalista, no período de 1996 a 2000, da Banda Cheiro de Amor, expoente grupo de Axé Music. Contudo, mesmo na época em que cantava músicas mais agitadas, a cantora não deixou de passear pelo universo da Música Popular Brasileira. Tanto é que, no CD “Cheiro de Amor- Me chama”, de 1998, ela gravou as músicas Me chama, do polêmico Lobão, e Fácil de entender, de Jorge Vercillo.
O show no Pelô

Carla iniciou o show com uma canção que mais parecia uma prece, uma oração e depois saudou o público. “É um enorme prazer estar tocando num lugar tão importante para a nossa cultura e fazendo música, que é o que a gente [se referindo aos músicos que a acompanhavam] ama fazer. Sejam bem-vindos!” declarou. A vocalista se apresentou descalça, certamente para receber toda a energia que os artistas dizem emanar do palco. E energia foi o que não faltou ao músico e vendedor Guilherme Cunha, 22 anos, admirador da artista desde os 13 e que fez grande esforço para prestigiá-la. “Hoje, estou sem moto, sem carro, sem nada. Vou voltar pra casa de ônibus. Vim de Lauro de Freitas só pra ver essa mulher”, falou com entusiasmo. Para Guilherme, entre as cantoras baianas, Carla Visi e Daniela Mercury são as melhores, no que diz respeito à técnica vocal. Carla mostrou muita versatilidade no palco, além de brindar o público com a sua voz, ela declamou poesia e cantou em francês e inglês. Destaque também para o excelente jeito de corpo e jogo cênico da intérprete.

Convidados

O espetáculo contou com as participações de J. VellosoClifton Davis e o cantor e compositor Antonio VilleroyJ. Velloso cantou a sua mais famosa composição, Santo Antônio, segundo ele, para abrir os caminhos da anfitriã. O americano Clifton Davis tocou um jazz e impressionou os espectadores com sua potente voz. O gaúcho Antonio Villeroy, que é um dos mais importantes compositores do atual cenário da MPB, com composições gravadas por Ana Carolina (GargantaEla é bambaTô saindoUma louca tempestadePra rua me levar e Rosas, só para citar algumas), e por outras cantoras, cantou uma “milonga”, gênero musical típico de sua região.

Cantora com “C” maiúsculo

A apresentação de Carla Visi foi totalmente apaixonada e apaixonante. A desenvoltura da artista deixa muito claro o seu amor pela música. Há uma autêntica entrega à arte musical em sua identidade. Carla brinca com a voz e até um proposital suspiro da cantora soa bem aos ouvidos de quem a assiste. O ponto alto do show se deu quando ela cantou o sucesso Geladeira, música composta por Taís Nader, e que num dos trechos diz: “Como eu vou ser geladeira/Se eu tô me queimando inteira”. Na plateia, além de um público bem diversificado, as presenças das cantoras Márcia Short e Laurinha (primeira vocalista da Banda Cheiro de Amor e que se considera a primeira mulher a comandar um trio elétrico no Carnaval de Salvador) chamaram a atenção.No final do show, Carla chamou todos os seus convidados de volta ao palco e juntos cantaram uma canção que homenageava os Filhos de Gandhy. Mas, assim que a cantora deixou o espaço, o público entoou gritos de “Mais um! Mais um!”. Ela não resistiu, atendeu ao pedido e cantou novamente a música Geladeira. Durante todo o espetáculo, Carla Visi fez questão de esclarecer para a plateia que o show En*canto Mestiço é uma vertente diferenciada do seu trabalho musical e, mesmo diante de alguns pedidos, se recusou a cantar músicas da época da Banda Cheiro de Amor. Quem ficou feliz com tal decisão foi a estudante Daiane Taís, 27 anos, fã da cantora. “O show foi maravilhoso porque conseguiu reunir músicas dos três CDs da carreira solo e ela nunca teve a oportunidade de mostrar isso” desabafou.Na verdade, Carla Visi é uma artista determinada e que sabe muito o que quer. Oriunda de uma família com vasta experiência musical, a cantora herdou uma apurada vontade de fazer música, independentemente de rótulos. Carla não precisa e nem se encaixa em rótulos. Ela é Cantora e só isso basta para traduzi-la.

# Acesse o site www.carlavisi.com.br e escute a música Geladeira.

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SÔNIO E O CARNAVAL DE SALVADOR

ICrônica
Sônio acordou, na manhã do dia 3 de março, disposto a curtir o Carnaval de Salvador. Ele decidiu que faria tudo que nunca fez na vida durante a festa. Na verdade, Sônio queria se moldar e acompanhar um modelo de jovem, como aqueles que ele via nos programas de TV. Jovem que é jovem curte tudo, se esbalda, perde noite, beija 100 e não é politicamente correto. Essa era a meta de nosso personagem.
A precaução era uma das qualidades de Sônio e, antes de “carnavalizar”, ele foi conhecer o circuito da folia. Chegando num dos principais pontos turísticos da capital baiana, ele parou e perguntou a um senhor que estava por perto: “Boa tarde, moço, a Barra fica perto da Ondina?”. O senhor, achando a pergunta um pouco descabida, deu uma risada de leve e confirmou: “Fica, sim, meu filho. É cada uma!”. Percebendo uma certa ironia por parte do senhor, Sônio, que sempre fora muito pacífico, lembrou da máxima cheia de metáfora que criou para si mesmo para enfrentar a cidade grande: “Se alguém pisar no meu pé, eu que devo pedir desculpas”. No rol das lembranças, recordou também a música Cartomante, interpretada por Elis Regina. Depois desses devaneios, voltou-se ao senhor e, tentando criar intimidade, soltou essa: “O senhor já percebeu que as duas músicas mais tocadas atualmente nas rádios do Brasil têm o verbo fugir no refrão?”. O senhor, de forma ríspida, respondeu: “Não reparo nessas coisas”. Sônio insistiu: “A música do Michel Teló diz ‘O jeito é dar uma fugidinha com você…’; já a do LevaNóiz fala ‘Fogefoge, Mulher Maravilha. Fogefoge com o Superman…’”. O senhor encarou Sônio com uma cara muito feia e o jovem entendeu a mensagem.
 

Em casa, Sônio pensou no que tinha acontecido durante a tarde. Mas não ficou preso a isso. Resolveu que não ia mais se perder de si. Sendo assim, continuaria a acompanhar o Carnaval pela TV. Sônio não gostou do seu dia e começou a entender melhor quem ele próprio era. Sônio mudou as suas metas.

# Escute a música Cartomante, composta por Ivan Lins e Vitor Martins, interpretada por Elis Regina em: https://www.youtube.com/watch?v=3ulC3U_5NvI.

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