Atriz brilhou no teatro, no cinema e deixou a sua marca na televisão brasileira
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Atriz brilhou no teatro, no cinema e deixou a sua marca na televisão brasileira
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Considerada a Rainha do Rock Brasileiro, artista também merece a coroa de Rainha do Deboche
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Rita Lee: uma autobiografia (Globo Livros, 2016) é uma daquelas obras que interessam a quem gosta de música, de cultura brasileira e de rir. Pois é. Se você gosta de rir, a leitura do livro da paulistana Rita Lee Jones de Carvalho é um ótimo mote. Quem lê o exemplar, ri o tempo todo. E não é exagero. A forma como madame Lee relata os fatos de sua vida arranca o riso de qualquer mal-humorado. Até nas passagens mais dramáticas, como no trecho em que ela narra o estupro que sofreu na infância: “Se meu pai ficasse sabendo, provavelmente iria atrás do sujeito para matá-lo e não seria bom para ninguém o chefe da família ir pra cadeia. Portanto, as mulheres seriam as únicas guardiãs do meu ‘tesourinho’ arrombado. […] Acredito que foi a partir daquele momento que las mujeres passaram a relevar meus desajustes comportamentais”, p. 17. O sujeito citado por Rita foi um técnico que tinha ido ao casarão onde a família morava para consertar a máquina Singer da mãe, dona Chesa. É importante dizer que o riso vem, obviamente, da forma como Rita narra, não da violência sofrida, que deve, a qualquer tempo, ser rechaçada e denunciada.
No livro, a cantora parece fazer questão de mostrar tudo que fez na vida, inclusive o que é reprovado socialmente. A lista é grande: o avô que lhe dava cerveja preta com açúcar, quando ela era criança, sem que os adultos da casa soubessem; o roubo do vestido de noiva usado por Leila Diniz na novela O sheik de Agadir, que pertencia ao acervo da Rede Globo e que Rita guarda até hoje; outro roubo: um par de botas de uma famosa butique de Londres, que a roqueira ainda tem também; as “viagens” de ácido (a cantora chega a usar a expressão “o pó nosso de cada dia”, no capítulo Bad in Rio); a única overdose que teve; a curtição de fileira de pó a convite de Nelson Gonçalves; as inúmeras vezes que foi internada para tratar do alcoolismo. Como resposta a tudo isso, Rita sugere, no capítulo intitulado Profecia, o seu epitáfio: “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”, p. 278. “Nossa Senhora da Malandragem”, que a cantora cita no capítulo Malandragem, que o diga. Não deixa de citar também as polêmicas nas quais se envolveu durante a carreira, como a confusão no Festival Verão Sergipe, em 2012.
Mesmo publicada em 2016, quando algumas questões sociais, como o racismo, já estavam sendo discutidas com mais afinco, a filha caçula de Charles e Chesa traz um desfile de expressões preconceituosas na sua narrativa. Ao descrever a irmã mais velha, Mary, ela diz: “Seu grande complexo era o cabelo pixaim (de onde vinha aquilo?), usava tudo quanto era produto químico para alisar, até ferro de passar roupa, além da mania de fazer nozinhos e arrancá-los”. p 21. No meio do caminho, os leitores também encontram “uma ex-escrava da família do meu bisavô…” (p. 36), “lista negra” (p. 107), com sentido negativo, e “mulata peituda/bunduda” (p. 151).
Rita conta sobre os casinhos amorosos que teve, com Paulo Coelho e André Midani, por exemplo; que, dos ícones da Jovem Guarda, seus preferidos eram Erasmo (pela atitude) e Wanderléa (pelo encanto); explica a sua rusga com Ezequiel Neves, a quem chamava de “Abominável das Neves”: “[…] foi quem plantou na imprensa o boato de que eu estava com leucemia”, p. 179; critica os críticos de música: “Críticos de música adoravam me crucificar, não importava o que eu fazia ou deixava de fazer, um ranço que durou por todos os meus cinquenta anos de estrada. Até hoje é quase impossível encontrar matérias falando bem de um trabalho meu. Os caras não escondiam que eram membros do bocejante time ‘Pra fazer rock tem que ter culhão'”, p. 215. Contudo, na mesma página, para não ser injusta, diz que dois jornalistas a achavam bacana e aproveita para criticar o jornalismo cultural da atualidade: “Dois que hoje fazem a maior falta nessa mesmice tediosa do panorama jornalístico rabo-preso: Telmo Martino e Paulo Francis, gênios rebeldes para os quais tiro meu chapéu e lhes faço cortesia. Com esses dois do meu lado, quem precisava de ‘amiguinhos’ na imprensa?”. Ainda nessa seara, a ex-apresentadora do TVLeezão (MTV, 1991) e do Madame Lee (GNT, 2005) critica dois apresentadores de TV: “Entre as poucas apresentações de tv de que participei para divulgar o Acústico, fiz questão de incluir o Programa do Ratinho, algo considerado vulgar por artistas de calibre, onde cantei ‘Alô, alô marciano’ com orelhinhas de et e recebi um tratamento muito melhor do que naqueles dois programas onde os apresentadores falam mais do que o convidado e o interrompem quando você está cantando”, p. 251. Ela também não deixa de falar o quanto era uma estudante que dava trabalho: “Fui uma ginasiana medíocre, sempre passando de ano raspando, sempre me sentando no fundão, sempre conversando muito e sempre sendo expulsa da classe. Tinha que manter a minha fama de mau”, p. 57.
Quem lê a autobiografia, fica sabendo que a mulher de Roberto de Carvalho teve uma experiência homossexual: “Bêbados adoram o tema ‘tem que comer quiabo para saber que não gosta’ e nessas troquei uma figurinha íntima com uma mocinha bonitinha que encontrei num bar e levei para casa. Ficou lá meia hora, tempo suficiente para tirar a prova de que eu não gostava mesmo de quiabo, momento minissaia”, p. 237; que foi presa e o motivo disso, e que fez um aborto, do qual se arrependeu. Inclusive, ao tratar do tema, é a primeira vez que a gente sente seriedade na narrativa. Vale a pena reproduzir aqui o depoimento forte e contundente de Rita:
“Nenhuma mulher faz aborto sorrindo. Cabe a elas, e somente a elas, a decisão de interromper uma gravidez, assim como de segurar sozinhas as consequências moral, espiritual e oskimbau. Me refiro ao ‘sagrado feminino’, de nós meninas que temos um buraco a mais no corpo para administrar, do nosso universo complexo demais para machos, religiosos e políticos meterem o bico, esses para os quais prevalecem mais o direito do feto que ainda nem nasceu ao da mãe que não deseja pari-lo por motivos que não nos cabe julgar, psicológicos, econômicos, neurológicos, até mesmo espirituais.
Aborto não é uma mutilação no corpo da mulher. Há em suas entranhas um ser indesejado advindo de estupro, acefalia e de tantas deformações irreversíveis já detectadas nas primeiras semanas de gestação. Parir e abandonar o bebezinho numa lata de lixo é criminoso. Parir e pôr para adoção é irresponsavelmente confortável. Parir e criar em condições sub-humanas é indigno. Parir para ganhar bolsa família é humilhante”, p. 174.
Exibição
Claro que o relato autobiográfico de Rita Lee é, obviamente, um espaço para ela exibir as suas conquistas. E não há nada de errado nisso. É legítimo. Se ela não fizer, quem vai fazer, não é? De acordo com o texto, ela é a mulher brasileira que mais vendeu discos no país, a artista com mais músicas em aberturas de novelas e a pioneira no formato acústico. Inclusive, o seu pioneirismo aparece várias vezes no texto: “Enquanto a crítica vinha com a farinha, minha antena futurista já comia o bolo. Ser pioneira tem um preço”, p. 198; “O disco vendeu bacana, algumas faixas bem executadas nas rádios. Tanto agradou que o formato acústico virou tendência entre roqueiros brazucas. Ser pioneiro tem um preço, mas também faz escola”, ao falar do álbum Rita Lee em Bossa N’Roll. Quando fala de Os Mutantes, grupo que fundou com os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, e do qual foi expulsa, tira onda:
“Alguns podem achar que deprecio a fatia que cabe aos Mutantes dentro da cena musical daquela época. Ao contrário, sei da importância das modernidades eletrônicas que levaram ao movimento tropicalista contribuindo com a proposta, entre outras audácias, de proibir o proibido dentro da mpb. Hoje, os Mutantes são considerados cult, especialmente a fase da qual fiz parte, o que muito me orgulha. Estávamos sim anos-luz à frente do nosso tempo, pena a nossa alegria espontânea ter perdido para a falsa ilusão da glória passageira.
Eu aqui apenas conto o lado da minha moeda com o distanciamento inverso ao dos críticos-viúvos que teimam interpretar a história como se soubessem mais do que quem, como eu, fez parte dela”, p. 118.
Na obra, a cantora faz duras críticas aos irmãos, apontando desvios de caráter e falta de higiene. Ela teve um relacionamento com Arnaldo e até casou com ele, para não envergonhar a mãe diante da sociedade conservadora da época.
A compositora orgulhosa fala das diversas músicas que fez e que foram gravadas por notórios intérpretes da Música Popular Brasileira, como Alô, alô marciano (Rita Lee/Roberto de Carvalho), gravada por Elis Regina; e Balada do Louco (Rita Lee/Lucio Eduardo Antonio Baptista), que, mesmo já tendo sido gravada antes pelos Mutantes, ganhou notoriedade na gravação de Ney Matogrosso. Cita também algumas canções feitas por encomenda: Cor de rosa choque (para o programa TV Mulher, da Rede Globo) e Flagra (para a abertura de uma novela. No livro, Rita não cita nem a emissora nem a novela). Obviamente, todos os marcos da época do Tutti Frutti também estão contidos nas páginas do livro. Algo bacana também é que muita coisa que é narrada pode ser vista no YouTube, como o encontro dela com Elis Regina e João Gilberto.
Deboche, autozoação e curiosidades
Rita Lee por Rita Lee? Debochada! Isso fica perceptível a cada página lida da autobiografia. Além de Rainha do Rock Brasileiro, ela pode carregar o título de Rainha do Deboche sem nenhuma dúvida. Ao elencar as qualidades dos integrantes dos Mutantes, fala assim de si própria: “Quanto a mim, não tocava nem cantava porra nenhuma, fazia a ‘bonitária, mas orditinha’, contribuindo com 80% das letras, 40% das músicas, 30% dos arranjos e 100% dos figurinos. O lance é que na hora de mostrar serviço, nós três juntos desempenhávamos bonito”. A propósito, Rita brinca com expressões ao longo do texto, além de “bonitária, mas orditinha”, usa “Gente coisa é outra fina”, p. 177. Ao falar de uma prima dos Baptistas que tinha muito apetite sexual e que, hoje, é uma monja radical, solta (com ironia): “Adoro ex-vedetes convertidas”. Diz que o sonho de dez entre dez jovens tolinho da época dela era montar uma comunidade hippie e implica com a própria voz em várias passagens: “De tanto berrar nos shows, minha voz, sempre micra, competia corajosamente com os eletrônicos no volume máximo…”, “Realmente perdi os agudos, mas para quem também não tinha nem médios nem graves na voz, não fez diferença. Cantora fake tinha suas vantagens”, p. 142; “Ah, se eu tivesse um nono daquela voz!”, exclama na página 182, referindo-se à voz de Elis, de quem ficou muito amiga; “Cantar com João Gilberto e orquestra sem ter ensaiado uma só vez era missão impossível para uma roqueira porra-louca e desafinada feito eu”, p. 189. No capítulo batizado de Autocrítica, decreta: “Sempre soube da minha voz fraquinha e meio desafinada, sem potência alguma. Cantar nunca foi natural pra mim, dos passarinhos eu sou o pardal”, p. 255.
Rita, como muitos outros artistas da música, teve canções censuradas pelo governo ditatorial. Contudo, num trecho do livro, ela diz que, às vezes, até torcia para que isso acontecesse: “Confesso que às vezes até torcia para uma composição preguiçosa minha ser censurada por imbecilidade”. Essa autozoação toda tem justificativa? A autora responde: “Debochar de mim mesma é uma estratégia que sempre dá resultado positivo. Uma das coisas que mais me dão prazer é fazer o que não devo, tipo fumar na frente de quem faz campanha anticigarro. Não é tarde para ser o que eu deveria ter sido. Eis-me aqui, uma pós-famosa anônima observando os macro e micro-omniversos dentro e fora de mim”, p. 281.
O relato de Rita é dinâmico, divertido, debochado e tem ótimas tiradas. A cantora se despe, se olha de fora e consegue se distanciar dela. Fala de sua paixão por animais, única bandeira que carrega, e confidencia que o “Lee” não é sobrenome de família. O pai acrescentou ao nome das três filhas em homenagem ao general Robert E. Lee e outros membros da família adotaram também. A ironia está presente o tempo todo nas histórias contadas. Para criticar artistas que usam ghost writers em autobiografias, Rita dá vida a um fantasma chamado Phantom, que a auxilia nas suas falhas de memória. Também faz críticas a filhos que pegam carona na fama de pais: “Meus meninos nunca usaram meu nome para conseguir uma boquinha onde quer que fossem, não rolou ‘mãetrocínio’, falo isso com admiração e orgulho”, p. 271. Alguns capítulos são insossos, desnecessários, mas, em geral, a autobiografia é convidativa, interessante. Vale a pena conhecer um pouco mais de perto essa filha do “roque enrow”, que foi umas das pioneiras em tratar, na MPB, da liberdade da mulher e do prazer feminino.
Não é minha culpa a sua projeção*
A Psicologia trata a projeção com um mecanismo de defesa e isso não é muito difícil de perceber nas relações humanas do dia a dia. Algumas pessoas projetam nas outras aquilo que está nelas e que, por alguma razão, elas não aceitam; tanto de bom quanto de ruim. Quando a característica é ruim, fica fácil de entender por que elas querem se livrar. Quando é boa, não, mas Freud explica: “Dentre as teorias psicológicas, a que mais utiliza a projeção no arcabouço teórico é a Psicanálise. Para explicitar a manifestação da projeção, a teoria psicanalítica ampliou o sentido e definição do conceito, concebendo-a como uma operação na qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro, pessoa ou coisa, as qualidades, os desejos, os afetos, os sentimentos e até mesmo os ‘objetos’ que estão internalizados e ele desdenha e/ou recusa aceitar e/ou admitir que lhe são pertencentes”. Esse trecho foi retirado do artigo Desvendando o Mecanismo da Projeção, escrito pelas professoras Ana Lucia Barreto da Fonsêca e Maria do Socorro Sales Mariano, e publicado em 2008, na Revista Psicologia em Foco. A reflexão feita aqui vai se concentrar nos desejos que, muitas vezes, pertencem a uma pessoa e ela sai por aí projetando nos outros. Eu, hein!
O ser humano é, como bem diz o clichê, uma caixinha de surpresa. Quando você menos espera, ele te surpreende. Afinal, o que é que faz uma pessoa supor o que a outra quer da vida? Ou deve se achar muito poderosa ou, e é o mais lógico, é uma forma de extravasar aquilo que se reprime. Só pode. Deve ter uma satisfação, algum prazer bem estranho, em achar que todo mundo quer aquilo que, provavelmente, quem projeta é quem deseja. Não é todo mundo. Nunca vai ser, por sinal. Isso também é problema de leitura. Ou seja: de como a gente lê o outro. Por puro preconceito, e não tem outro nome para isso, a leitura pode ser bastante equivocada. Nesse sentido, o dono da projeção perde um tempo supondo algo que acredita ser um desejo da vida alheia e abdica da própria vida e dos próprios sonhos. Evocando o poeta: eu não consigo entender essa lógica.
Uma pessoa sabe muito bem o que ela quer para si. Sempre sabe. Pode acontecer de ela ficar insegura, de não querer falar para o mundo de imediato, de protelar, mas sempre vai achar um caminho para se mostrar e outras pessoas que vão apoiá-la no sonho que ela tem. Agora, quem faz projeções achando que alguém quer ou deveria fazer isso ou aquilo, deve, numa boa, procurar ajuda, porque “alguma coisa está fora da ordem”**.
Às vezes, a pessoa está ali, na dela, fazendo as coisinhas dela, sendo bem-sucedida nos objetivos que ela traçou, e o que ela quer é, simplesmente, ter saúde para continuar fazendo o que ela faz. Qualquer projeção alheia é só uma projeção alheia mesmo. Fica para quem projetou. Principalmente, porque, com certeza, deve ser uma vontade dessa pessoa, não do projetado. “Perceba que não tem como saber/São só os seus palpites na sua mão“.
Então, e isso não é uma projeção, é apenas um exemplo, se você quer ser o novo digital influencer, seguido por 7 bilhões de pessoas, e quer participar do Encontro com Fátima Bernardes para discutir pautas que têm relação com o que você faz nas redes sociais digitais: vai lá, fio! Traça os seus objetivos, entra de cabeça e faz acontecer. Joga para o Universo! Lembre-se: esse é um desejo seu, não é de todo mundo. É verdade que muita gente quer isso, mas tem muita gente também que não quer! Eu não quero! Não considero que isso seja importante para a minha vida nem para os objetivos que traço para mim. Mas você quer? Se sim, vai, fio! Boa sorte! Arrebenta! Vou torcer por você! Pode acreditar!
Eu quero ser o que eu sou. Eu sempre quis ser jornalista. E sou. Sempre quis fazer atividades ligadas à produção cultural. E faço. Sempre gostei de cantar. E canto. Adoro dançar. E danço. Até ser professor, que foi algo que nunca almejei, aconteceu na minha vida e levo com paixão e responsabilidade, pois quero ser uma referência positiva na vida dos meus educandos e contribuir para um mundo melhor. Sou, exatamente, o que eu quero ser, não o que projetam. Sei muito bem o que quero para a minha vida. Desde o final da adolescência.
Portanto, não projete o que você quer para uma outra pessoa (a ambiguidade é de propósito!). Fique para você. Não reprima o seu id, considere o seu ego e não se importe tanto com o superego. Seja o que sente. Faça o que sente. Muitas vezes, o que a pessoa quer mesmo é só dançar o Tchan na frente do espelho (e postar, se ela quiser!), e você aí achando que ela quer “mitar” nas redes sociais digitais. Não, fio. Isso é próprio da sua geração. Quer? Vai lá e faz. Boa sorte! “Sou mais do que o seu olho pode ver“. “Lide com isso”, como diz Djamila Ribeiro.
Curtas mostram como a televisão provocou mudanças nos hábitos das famílias
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Por Raulino Júnior
Quantas pessoas da sua órbita têm domicílio eleitoral diferente do domicílio civil? O que você acha disso? Eu acho bem problemático. Morar numa cidade e votar em outra, para mim, é contribuir para o Brasil ser do jeito que é: um país com democracia representativa frágil, cheio de trambiques e, claro, de conchavos. Isso causa problemas no âmbito municipal, estadual e federal. Para o Executivo, Legislativo e Judiciário. É a Lei do Menor Esforço prevalecendo sobre a vontade, de fato, de transformar o país num lugar melhor. Ou seja: o nosso discurso é, quase sempre, uma eterna fantasia. Típico.
O Brasil é um país em que as migrações internas sempre foram muito constantes. As pessoas mudavam de cidade em busca de uma vida melhor, de seus sonhos. Nos últimos anos, de acordo com os dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a migração mais intensa foi aquela entre municípios de um mesmo estado, em vez de região para região. E isso é percebido sem lupa. Quantas pessoas, nos últimos dez, quinze anos, saíram de suas casas e deixaram as suas famílias porque precisavam/queriam trabalhar ou estudar? Inúmeras! Eu conheço algumas. Você também deve conhecer.
Tais mudanças trazem impactos individuais e coletivos. E um que é, podemos dizer, um misto dessas duas esferas, é o ato de votar. Quem se muda, quer mudança, e isso não pode ficar apenas no plano pessoal, pois denota um egoísmo daqueles. Fazer a transferência do título do eleitor para o município em que fixou residência deveria ser uma obrigação consciente de todo e qualquer cidadão, mas não é. Vale destacar que essa ação é bastante simples e pode ser feita em qualquer cartório eleitoral. Quer dizer: não há dificuldade nenhuma. Quem não o faz, não faz porque não quer e por achar que não é importante. Mas é. Quando você passa a exercer a sua cidadania num outro lugar, você passa a ser cidadão desse lugar. É para ele que vai todas as taxas tributárias dos impostos que você paga.
Os municípios têm algumas fontes de receita, entre elas, os impostos: IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana), ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) e ISS (Imposto Sobre Serviços). Quem paga qualquer um deles, contribui para o orçamento da cidade em que mora. Isso significa que escolas e postos de saúde, por exemplo, são beneficiados com esse aporte financeiro. Você ajuda nisso. No município que mora, não no que vota.
Quem ainda vota na cidade em que não mora mais, só atrapalha o desenvolvimento dela. Como não vive mais lá, não sabe dos problemas e não tem como escolher de forma consciente quem vai atuar no Executivo e na Câmara Municipal. Não tem como. Não adianta alegar que trabalha lá, que vai com frequência, que conhece todo mundo. Não adianta. Você não vive mais a cidade, não sabe o que ela precisa, quais são as principais demandas, quais os planos dos candidatos, se são coerentes e viáveis.
Ir à cidade de origem de vez em quando é ter contato apenas com as coisas boas dela. É rever parentes, amigos e tomar o seu sorvete predileto, que lembra os melhores gostos da infância e da adolescência. Quem tem compromisso com o país, e não vive de discursos cheios de pompa nas redes sociais digitais, age de outra forma. Sabe que as funções de prefeitos e vereadores são fundamentais para o crescimento e cidadania de um lugar, e que é preciso escolher com muita consciência esses representantes. Caso contrário, não vai poder criticar os faltosos do Congresso Nacional que não vivem o dia a dia do Senado e da Câmara dos Deputados. No fundo, é a mesma coisa. Vale tudo.
Criado por mãe, por vó, pela dança e pela UNILAB, Weslei Machado Cazaes celebra as suas raízes
Por Raulino Júnior
Santiago do Iguape, Brasil e a Lua
⭐ Que gente é você?
Por que você brilha? ⭐
Por Raulino Júnior ||Opinião de Segunda||
Eleição que é eleição tem que ter enganação. Isso poderia ser um slogan, mas não é. É só uma percepção mesmo. No próximo dia 15 de novembro, mais de 147 milhões de brasileiros vão escolher prefeitos e vereadores, em 5.569 municípios, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para isso acontecer de forma responsável, é preciso ficar bem atento a várias questões, inclusive ao marketing político de cada candidato. Gente que nunca foi favela está usando tal discurso para se eleger. Você não vai cair nessa, não é? Estamos em 2020 e não podemos mais aceitar práticas eleitoreiras de 1500.
Pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a favela, ou para ser mais fiel ao termo que é utilizado pelo órgão desde 2010, o aglomerado subnormal “é uma forma de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia – públicos ou privados – para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição à ocupação”. Dizer que é favela é bem diferente de ser favela. Se o candidato não vive essa realidade, não pode dizer que é favela, porque não é. O uso adjetivado do termo, já incorporado pela linguística, é passarela de oportunismo em período de eleição. Muita gente desfila, busca os flashes e quer associação com o lugar que carece de políticas públicas adequadas. Além disso, a visão retratada pelo marketing político é sempre estereotipada, como se toda favela fosse igual. E não é.
Coisa que político entende é de fazer promessas. As desse ano, são mais monumentais ainda. Por exemplo: como alguém vai gerar 50 mil empregos em pleno período de recessão da economia, que, ao que parece, vai se estender? Essa é uma promessa descabida, que não precisa ser cientista político ou economista para concluir o quanto será difícil colocá-la em prática nos próximos quatro anos. Não por maldade, mas por falta de condições mesmo. Isso tem que ser avaliado criticamente pelos eleitores. Afinal de contas, não dá para acreditar em quem promete o mar e não tem nem água para isso. É sempre muita promessa e pouca proposta.
Nos debates, o que se vê é a política infinita do ataque. Todos os candidatos seguindo a mesma gramática. É bem primária a forma como a política partidária se configurou no Brasil. Tem sempre os mesmos tipos: o candidato ridículo, o que apela para o emocional, o que se apega aos clichês, o engomadinho, robótico e leitor de “teleprompter”. Para piorar, não superam a argumentação de quem está brigando pela bola. Difícil…
Para que isso mude, é necessário ter uma sociedade mais instruída, que saiba os seus direitos e deveres. Lima Barreto afirmou: “O Brasil não tem povo, tem público”. Quando isso, de fato, vai deixar de ser uma verdade? É preciso ler, investigar, comparar e cobrar. Caso contrário, os discursos falsos vão se perpetuar e a política do Brasil vai continuar sendo a do “vou fazer” sem nunca ter feito.
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Em 1985, com três anos de vida, foi a vez da banda Titãs criticar a televisão. Contudo, a crítica do grupo paulistano foi muito mais ácida que a de Chico. Tanto que Lulu Santos, um dos produtores do disco Televisão (o segundo da carreira do grupo), que traz a canção homônima, ponderou a presença dela no álbum. “Dizia-se atingido pela canção de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, cujos versos não poderiam ser mais diretos: ‘É que a televisão me deixou burro, muito burro demais/E agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais‘. Lulu alegava que também dependia da TV e que a música poderia abortar o sucesso do LP na mídia. Mas os Titãs estavam decididos a não abrir mão da faixa”, afirma Natan Barros Pereira, em seu Trabalho de Conclusão de Curso defendido em 2010, na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e intitulado “Ó, Cride! Fala pra mãe que o discurso anticonsumismo dos Titãs os capturam [sic]: Análise do álbum Televisão. O fato é que o receio de Lulu não se confirmou. A música fez bastante sucesso e a banda se apresentou em diversos programas de TV.
As duas músicas são pontos de vistas que, obviamente, devem ser considerados. “Assim caminha a humanidade”: com percepções diferentes sobre as coisas. A crítica é sempre importante e faz crescer. Que a TV dos próximos setenta anos não repita os erros do passado e seja ainda mais interessante.
Por Raulino Júnior
Jornalista, escritor e mestre em educação que caminha entre a Bahia, São Paulo e o mundo
Por Raulino Júnior
O filho mais velho de Osmilda e Valmir, irmão de Wadila, Ueslen, Daniel e Daniele, nasceu em Vitória da Conquista, cresceu no povoado Cavada II, em Barra do Choça, e morou por mais de dez anos em Paraisópolis, considerado o maior bairro favelizado da cidade de São Paulo. Já foi para os Estados Unidos, Colômbia e Argentina. Contudo, questionado sobre qual é o seu lugar no mundo, não titubeia: “Meu lugar no mundo acho que é o mundo, ainda quero desbravá-lo mais e mais. Mas meu porto seguro sempre será o povoado na Bahia, onde cresci”. Vagner de Alencar Silva (“Embora eu raramente use o Silva”) é um ariano determinado e perseverante. Aos 33 anos, o baiano é escritor, jornalista (formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie), mestre e doutorando em Educação: História, Política, Sociedade (pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP), cofundador e diretor de jornalismo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias (AMJP), projeto pioneiro que tem como missão “minimizar as lacunas de informação e contribuir para a desconstrução de estereótipos sobre as periferias da Grande São Paulo”, que completa uma década em novembro deste ano. Em 2011, com a pauta Educação para quê? Universos educativos desperdiçados em Paraisópolis, feita em parceria com Bruna Belazi, foi um dos vencedores do 3º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão. Em 2013, em outra parceria com Bruna, lançou o livro-reportagem Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo, fruto do TCC do curso de Jornalismo. Ler e contar histórias sempre esteve presente na vida de Vagner. O ingresso no curso de Jornalismo potencializou ainda mais isso. “Eu sempre gostei de histórias, mas não imaginei que pudesse ser jornalistas, e sim professor. Como já fui e ainda quero. O Jornalismo meio que surgiu por acaso, quase como um devaneio. Eu já estava estudando Letras quando, com a mesma nota do Enem, tentei outros cursos por meio do Prouni. Jornalismo foi a primeira opção, fui aprovado no Mackenzie, então decidi migrar. A melhor decisão”, explica. O amor pelas letras pode ser lido nas crônicas que escreve no Medium. “Ainda vou escrever um livro de crônicas com histórias da Bahia chamado ‘O pé de angelim’, que é a árvore na qual minha mãe foi sepultada. O valor simbólico por si só já diz tudo”. No texto, Vagner narra parte da história da família e a morada de três vida no pé de angelim, que fica no quintal da casa de seu avô, em Barra do Choça. “É o texto mais bonito que já escrevi”
O pesquisador e o cidadão do mundo
⭐ Que gente é você?
Por que você brilha? ⭐