Cultura, Entrevista, Jornalismo Cultural, Música, Sem Edição, Toca o Desde

Sem Edição| Carla Lis, Música, Poder Feminino e Samba-Reggae

Carla Lis: música na alma. Foto: reprodução do vídeo

No mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, traz uma entrevista especial e exclusiva com Carla Lis, cantora e musicista. Dona de uma voz suave e marcante, Carla tem a arte na sua vida desde a infância. Aos 13, começou a fazer shows em Salvador. Nesta entrevista, ela fala desse início de carreira e dos 25 anos que passou na banda Didá, referência em percussão comandada por mulheres. Durante a conversa, conta como foi conviver com Neguinho do Samba, ícone da cultura baiana e criador do samba-reggae: “Eu achava Neguinho muito completo”.

No bate-papo, fica evidente o amor de Carla em relação àquilo que faz, que é cantar: “A música me cura, me salva”. E completa: “Eu sou música o tempo todo”. Nesse sentido, reflete sobre a indústria da música em Salvador, que não dá espaço para artistas como ela: “Eu acho, sem nenhuma falsa modéstia, que eu poderia estar ocupando outros espaços, poderia ter uma projeção melhor na minha carreira, mas ser mulher, ser gorda, ser negra, ser nordestina, é muito complicado. A mídia é cruel em relação a essas coisas”.

A cantora conta como foi a experiência de participar do documentário Salvador, Mulheres e Histórias, produzido pelo Shopping Piedade, e fala da emoção em cantar no Carnaval de Salvador.  Responde sobre como nasceu o primeiro e único CD de sua carreira, intitulado Pedidos, de 2011. No final, fala da Yayá Muxima, banda de samba-reggae da qual faz parte atualmente, e canta Perto de Ti, sua única composição até hoje, faixa que abre o disco citado anteriormente. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais à Carla Lis! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Carla! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos aos profissionais (Lázaro Gomes, Irlane Lopes, Ana Lúcia e José Paulino) da Faculdade de Medicina da UFBA, que autorizaram o uso da Bibliotheca Gonçalo Moniz como locação. Obrigado!

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Cinema, Cultura, DESDEnhas, Documentário, Jornalismo Cultural, Resenha, Toca o Desde

Documentário que debate jornalismo cultural em Mato Grosso reflete cenário da prática em quase todo o Brasil

Jornalistas, artistas e agentes culturais debatem sobre jornalismo e cultura em curta documentário

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Que o jornalismo cultural precisa se repensar e se renovar, não é dúvida para ninguém. Tanto parte do público quanto parte do pessoal que integra a engrenagem (empresas jornalísticas, jornalistas, produtores culturais, artistas etc.) têm consciência disso. O fato é que muito pouco é feito para que a prática se oxigene e supere a divulgação de eventos e a reprodução de releases. Nesse sentido, o Com_Texto, coletivo mato-grossense de jornalismo independente, deu uma passo já importante: juntou todo mundo no documentário Cultura é Contexto!, que tem roteiro e direção de Beatriz Passos e Marcos Salesse, para refletir sobre o jornalismo cultural feito em Mato Grosso. O curioso é que o resultado da produção reflete o cenário da prática em muitos lugares do Brasil. São as mesmas queixas!

Lançado no dia 5 de julho, no canal do YouTube do coletivo, o curta documentário foi aprovado no Edital Movimentar, da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso. O filme traz pontuais reflexões sobre o que é cultura e sobre como os profissionais do jornalismo podem ampliar esse entendimento, pensando em pautas que contemplem manifestações que fujam do óbvio, que ultrapassem o mais o mesmo.  Inclusive, isso foi uma tônica na fala dos depoentes. O posicionamento da equipe do Com_Texto fica nítido para quem assiste ao audiovisual. Ou seja, é um grito do coletivo mostrando que as coisas não estão boas e que é preciso melhorar. Para isso, convida todo mundo que faz para uma autorreflexão. Esse é o caminho mais importante para a mudança acontecer.

No vídeo, a jornalista Priscila Mendes diz que o jornalismo tem o papel de informar, formar e entreter, mas que, muitas vezes, a produção jornalística para no informar. “O papel de formar é uma das bases, pilares do jornalismo. Permitir a reflexão, permitir que a sociedade pense além do fato”. Para ela, o jornalismo cultural tem que se apropriar disso. José Lucas Salvani, que também é jornalista, levantou um ponto importante ao falar das redações dos jornais tradicionais e do jornalismo independente. Ele lembrou da falta de recursos nos dois universos, mas destacou que, ainda assim, alguns veículos da cena independente conseguem fazer um bom trabalho. “Se o jornalismo independente dá conta, por que uma redação com recursos não dá? É por que ela não quer? É por que ela não quer gastar? E eu acho que o que falta é investimento”. Como o documentário traz, falta mais atenção à editoria de cultura, diversidade nas pautas e na composição das redações, investimento do governo em promoção cultural, uma vivência e domínio de temas culturais por parte do jornalista. “O papel do repórter de cultura também é ser ponte e ser filtro”, enfatiza Priscila Mendes num trecho do curta.

Cultura é Contexto! é um documento necessário para quem se especializou em fazer jornalismo cultural. O filme é um convite à reflexão sobre o que está posto e sobre o que precisa ser feito para mudar. Obviamente, nada do que é dito pelos depoentes é novidade. Em 2007, por exemplo, durante o Colóquio Rumos Jornalismo Cultural, do Itaú Cultural, algumas questões postas no audiovisual foram abordadas. A discussão já tem um tempo e o reforço é sempre bom. Fez falta não ter os depoimentos de donos de empresas jornalísticas e de editores-chefes lá do Mato Grosso, para que trouxessem a visão deles sobre a questão. Para quem quiser sair da mesmice, Cultura é Contexto! indica bons caminhos.

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Artigo de Opinião, Cultura, Jornalismo Cultural, Opinião de Segunda, Toca o Desde

Ser fã não é ser babaca

Imagem: reprodução do site GratisPNG.

Por Raulino Júnior ||Opinião de Segunda||

Nos bastidores do evento São João da Bahia, Claudia Leitte foi questionada por um jornalista sobre se era a favor da polêmica proposta da prefeitura de Salvador de criar um novo circuito Dodô (orla da Boca do Rio) para desafogar o atual (Barra-Ondina), mantendo nele apenas atrações de pequeno porte. Esse circuito surgiu como alternativo, mas se tornou principal e mais midiático. Diante da pergunta que exigia um posicionamento firme, uma vez que os artistas têm um papel bem importante na dinâmica da festa, Claudia Leitte respondeu assim: “Rapaz, sou a favor de Carnaval em qualquer lugar do mundo! Tem que ter é Carnaval! Carnaval! Pro meu povo!”. Nos comentários da postagem na rede social do site de notícias, uma fã esbravejou: “Ela não foi questionada!!! Ela foi perguntada somente do que acha. Questionamento seria, se fosse perguntando ‘Claudia Leite, carnaval entre farol da barra e boca do rio, qual a sua opção ? Gente, nós poupem com esse jornalismo tendencioso.” [sic]. Esse preâmbulo todo foi só para mostrar o grau de alienação de alguns fãs. A pergunta que não quer calar: o que é ser fã?

Ser fã não é ser babaca. Certamente. Quem é fã tem que ter consciência de que aquele ídolo é um ser humano como ele, cheio de defeitos e de qualidades. É muito cruel endeusar essas pessoas, colocar num pedestal, tirar a humanidade. O ídolo erra (e o fã não tem nada a ver com isso! Cada um com seus problemas! Cada pessoa é responsável pelos seus próprios atos! O erro do ídolo é do ídolo! Digo isso porque é comum algumas pessoas exigirem do fã um posicionamento sobre uma derrapada do ídolo. É possível?! É cada uma…), escolhe não ser relevante para o seu tempo, fica em cima do muro, fala bobagens, não se desafia, não se reinventa, não se coloca como o cidadão que é, e o fã tem que reconhecer isso. O reconhecimento, em muitos casos, não invalida a admiração. Muitas vezes, até potencializa, o que é bem estranho. Tem fã que escolhe ser babaca…

Nisso, se aliena, se limita, fica no mesmo lugar, não aceita opiniões contrárias em relação à pessoa que admira. Prefere insistir numa defesa doentia, de não querer enxergar os deslizes, a falta de noção e de responsabilidade de famosos e não famosos que ele nutre um carinho especial.

Sempre achei bonito o amor de fã, que é um amor como qualquer outro, mas que idealiza o ser amado à décima potência. A doação, o carinho, a torcida, o cuidado, as loucuras que são feitas: tudo vale a pena, se o sentimento é de verdade e consciente. Tem uma música, intitulada , da cantora e compositora Mônica San Galo, que diz assim num dos trechos: “Não durmo direito, não como, não bebo/Só vivo de te ver passar/Você realiza o meu sonho/É a minha razão de sonhar”. Considerando a hipérbole da compositora (em muitos casos, não é só figura de linguagem! A gente sabe!), o que não vale é fazer tudo isso e achar que o ídolo é perfeito. Não é. Nunca vai ser.

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