#6AnosDoDesde, Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Resenha, Teatro

Chico e seus mil e um sentimentos

Cena final de Todo Sentimento. Foto: Iure dos Santos Silva

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

O universo literário e musical de Chico Buarque ganhou mais uma versão para o teatro: o espetáculo Todo Sentimento, que estreou ontem, no Teatro Sesc Casa do Comércio, revelou todas as facetas do artista carioca. A mostra didática da turma de 2016, do Curso Livre de Teatro do Sesc, trouxe um elenco cheio de fôlego e, principalmente, de afinação. Em todos os sentidos. Tanto em cena quanto na parte em que o coro preenche a sala de apresentação. Inclusive, sempre que isso acontece, a peça cresce em dramaturgia.

Durante as ações, o espectador é convidado a pensar nas canções de Chico para além da musicalidade. Os sentimentos presentes em cada obra são evidenciados na encenação, dirigida pelo experiente Ramón Reverendo. Na mostra, é possível ver o Chico amante, malandro, trovador, cronista e, claro, político. Nesse sentido, a reflexão, o choro e o (pouco) riso são as reações que tomam conta da plateia. O espetáculo começa com a necessária (e atual!) Roda Viva e termina com O Meu Guri, uma crônica que denuncia um problema social ainda presente na realidade brasileira. Diante dos fatos que estão acontecendo no Brasil, a montagem serve para nos tirar do ostracismo, convidando a reagir e repetir os dias de luta de outrora.

Para quem conhece a obra de Chico Buarque e está a fim de revisitar e para quem não conhece, Todo Sentimento vale a pena. O drama segue em cartaz hoje e amanhã, às 19h. A entrada é gratuita.

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Artigo de Opinião, Opinião

Quando o buraco é mais embaixo e eu faço questão de empurrar

A indústria da cortesia. Foto: Raulino Júnior

A lista amiga não é amiga. Não vivo da renda de espetáculos artísticos, tampouco sou milionário, mas tenho consciência de que artistas precisam ser valorizados pela arte que produzem, e isso perpassa também pela valorização financeira. Todo mundo sabe que viver de arte, no Brasil, é um sonho que se torna real para poucos. Todo mundo sabe. Mas o que é que, sendo generalista, todo mundo faz? Nada. No menor sinal de “coloque o seu nome na lista e pague meia”, o que se vê é uma corrida desenfreada, tal qual formiga atrás de doce. É complicado. A indústria da cortesia está acabando com o fazer artístico de milhares de pessoas. Muitas vezes, os próprios artistas dão vazão para isso. Como combater esse mal? É o convite que eu faço: vamos pensar?
A Lei 12.933, de 29 de dezembro de 2013, que dispõe sobre “o benefício de pagamento da meia-entrada para estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes em espetáculos artísticos-culturais e esportivos”, é categórica ao dizer que apenas estudantes regularmente matriculados, que comprovem a sua condição de discente, têm direito ao benefício. Na prática, não é isso que acontece. Sem querer falar das ações fraudulentas que certamente pululam Brasil afora, há um instrumento ilegal que está tomando conta das casas de espetáculo há algum tempo: a tal da lista. “Ilegal” porque não existe legislação que embase tal procedimento. E o pior: a lista é, quase sempre, avalizada pelos próprios artistas, profissionais que não vivem da sua arte, por diversas razões, e que têm de se sujeitar a isso, para seduzir a audiência. É uma espécie de autoboicote. Ele existe e, talvez, o artista não perceba que está dando espaço para que isso aconteça. A criação de uma lista, que não tem legalidade alguma, não seria uma forma de desvalorizar a criação que já anda tão desvalorizada? Todos precisam pensar sobre isso. Principalmente, os fazedores de arte.
Como um artista de teatro, por exemplo, consegue manter a sua arte viva descambando para a lista amiga? Observe: eu sou um ator, faço das tripas coração para levantar um espetáculo, ensaio por horas a fio, perco noite, participo da produção e, quando estreio, percebo que as pessoas próximas, minhas amigas, só se sentem estimuladas a ir ao espetáculo se eu conceder uma cortesia ou colocar o nome dela na lista. Dessa forma, ela não paga nada ou paga a metade do valor do ingresso. No final, quem paga o meu trabalho? Eu mesmo?! Essa conta não fecha. Não tem que ser assim. Não pode ser assim.
O nome na lista no intuito de pagar meia causa um outro problema, que tem a ver com a legislação vigente. De acordo com a lei, “a concessão do direito ao benefício da meia-entrada é assegurada em 40% (quarenta por cento) do total dos ingressos disponíveis para cada evento”. Se há essa restrição, como é que um instrumento ilegal, como a lista, continua existindo, uma vez que ela passa a ser (ou deveria passar, para que não houvesse injustiças) um “benefício” à parte do 40% do total de ingressos disponíveis? Essa conta não fecha. Quem paga? Como ficam as pessoas que têm o direito legal de pagar meia-entrada nisso tudo? Como se sentem as pessoas que podem pagar, mas, ainda assim, colocam os seus nomes nas famigeradas listas?
A cota de meia deve ser destinada para quem realmente tem o direito de pagar meia. Caso contrário, mais uma encruzilhada será fomentada e os menos favorecidos serão sempre os atingidos. Você, que se vê como sujeito sensível a essa causa, nem perceberá que o buraco é mais embaixo e que você está fazendo questão de empurrar aquele artista que admira para lá.
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A nossa “ser humanidade” em Minha Irmã

Lorena Bastos (em pé) e Cássia Domingos, em cena de Minha Irmã. Foto: Eduardo Sena

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Duas irmãs descortinando a vida, num jogo de acusações no qual fica difícil saber quem é mocinha ou quem é vilã. Na verdade, isso não é importante. A força da dramaturgia do espetáculo Minha Irmã está exatamente no caráter realista da história encenada no palco do Teatro Gamboa Nova, pela Companhia Total de Teatro: fala de relação humana, mostrando que “não há nada só bom/nem ninguém é só mau”. Enfim, a peça mexe com os nossos sentidos, evidenciando as nossas imperfeições e fragilidades.

Com texto de Marcos Barbosa e direção de Marcos OliveiraMinha Irmã estreou no Gamboa no dia 5/7 e segue em cartaz até hoje, às 17h. As atrizes Cássia Domingos (Amália) e Lorena Bastos (Emília) estão na mesma altura e densidade em cena, o que não é comum de se ver. A direção de Oliveira fez com que as artistas brilhassem com equilíbrio, numa interpretação em que a naturalidade se faz presente o tempo todo. O espectador vê a relação de dominadora e dominada sem lugares marcados, porque há uma alternância no jogo teatral apresentado. É impossível não destacar o subtexto que grita através dos corpos das personagens. Cássia e Lorena, de fato, emprestaram a casa para que Amália e Emília fizessem morada.

O que é lamentável, e isso é uma realidade do teatro em Salvador, é a forçada curta temporada de que as companhias são vítimas. Para quem tem noção de todo o esforço feito para levar um espetáculo para o palco, é desanimador constatar que um trabalho produzido com até seis meses de antecedência (180 dias) fica, apenas, cinco dias em cartaz. Como diz uma das falas de Amália: “Quem sabe de você, sou eu”. Que Minha Irmã volte numa temporada mais longa.

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Cultura, Desde em Trânsito, Jornalismo Cultural

#DesdeEmTrânsito: Reunião Ampliada “Cultura e Desenvolvimento”

Imagem: divulgação

Por Raulino Júnior

Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia sediou a segunda Reunião Ampliada da Comissão de Cultura da Câmara Municipal de Salvador. Com o tema Cultura e Desenvolvimento, o evento, que aconteceu hoje, foi mediado pelo vereador Sílvio Humberto e teve a participação de Carol Barreto (designer de moda, professora e doutoranda em Cultura e Sociedade pela UFBA), Tiganá Santana (doutorando em Letras, cantor e compositor) e Albino Rubim (professor e pós-doutor em Políticas Culturais). O Desde esteve lá e fez uma cobertura via Twitter (@RaulinoJunior), para mais uma edição do especial #DesdeEmTrânsito. Veja o resultado.

Comissão de Cultura da Câmara Municipal de Salvador quer, segundo o vereador Sílvio Humberto, ouvir a sociedade civil para pensar políticas culturais para a cidade. As reuniões ampliadas são parte dessa ação.
O professor Henrique Tomé parabenizou a ação e salientou a importância de a Faculdade de Economia da UFBA sediar o evento.
Pois é! Es-tra-té-gi-ca!
Mais sobre o Modativismohttps://www.facebook.com/carolbarretodesigner
É isso aí!
Não é difícil de entender, não é?
Com certeza!
No tweet de correção, um erro na hashtag. Desculpa!
Faltou o hífen após o “pós”. Desculpa!
Ufa! Que bom! É raro de ver!
Infelizmente, não foi possível participar do encerramento do evento. Até a próxima edição do #DesdeEmTrânsito!

Todas as fotos foram feitas por Raulino Júnior.

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