"Adolescendo Solar", Cultura, Jornalismo Cultural

“Tá Pago!” e com dinheiro vivo!

Exposição convida público a refletir sobre uso de dinheiro em espécie nas feiras livres

Por Raulino Júnior 

Hoje, 25 de agosto, é o Dia do Feirante, e o Desde resolveu fazer uma exposição virtual digital para refletir sobre como o dinheiro em espécie, ou melhor, o dinheiro vivo, ainda é muito usado nas compras feitas pelo público nas feiras livres. Mesmo com todas as opções de pagamento existentes hoje em dia, como cartão e Pix, nas feiras quem reina é a cédula e a moeda. É um traço da nossa cultura. A edição mais recente do Relatório de Economia Bancária (REB), publicação anual do Banco Central do Brasil (BC), que “trata de um amplo espectro de questões atinentes ao Sistema Financeiro Nacional (SFN) e às relações entre instituições e seus clientes”, traz um estudo que constatou que os brasileiros estão usando cada vez menos o papel-moeda em suas transações financeiras. Na considerações finais do boxe Evolução de meios digitais para realização de transações de pagamento no Brasil, o BC informa: “Este boxe apresentou o expressivo crescimento das transações por meio digital (instrumentos de pagamento alternativos ao papel-moeda e ao cheque) durante a última década no Brasil. Essa transformação foi o resultado de inúmeros fatores conjunturais e principalmente estruturais. […] A introdução do Pix pelo BC, um arranjo de pagamento com infraestrutura pública, de baixo custo e acessível a todos os usuários de serviços financeiros, representou importante papel nesse processo. As restrições de mobilidade decorrentes da pandemia da Covid-19 também foram relevantes para a aceleração do processo de digitalização das transações financeiras em curso no país”. Contudo, a feira tem sua dinâmica própria. Por isso, é livre. No dia em que as fotos da exposição foram feitas, vimos apenas uma cliente usando cartão para efetuar o pagamento. Nem ela nem o feirante permitiram que fizéssemos a fotografia.

Dia do Feirante

O Dia do Feirante é comemorado hoje porque faz uma homenagem à primeira feira livre do Brasil, realizada em 25 de agosto de 1914, no Largo General Osório, no bairro Santa Efigênia, na cidade de São Paulo  (Fonte: site da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP)). O Desde entrou em contato com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), “autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras”, como consta no site oficial da instituição, para saber quais feiras do Brasil eram tombadas. Guilherme Gomes, assessor de comunicação do órgão, esclareceu que há feiras registradas como Patrimônio Cultural Brasileiro no Livro dos Lugares. São elas: a Feira de Caruaru (PE) e a Feira de Campina Grande (PB).

Tá Pago!

O título da exposição faz uma brincadeira com a expressão “Tá pago”, muito utilizada nas redes sociais digitais por adeptos de atividades físicas. Ao concluir o treino do dia, a pessoa informa que “pagou” o que estava “devendo” a si própria, que é o fato de ter a disciplina diária de se exercitar. Os treinos, obviamente, além da busca por um corpo socialmente considerado “bonito”, são sinônimos de vida saudável. A compra de alimentos nas feiras livres também tem o intuito de fazer com que a dieta seja mais saudável, evitando comer enlatados e outros itens industrializados. É na feira que compramos temperos hortaliças, frutas e verduras que são fundamentais para a nossa saúde. Tá pago lá e tá pago cá! E com dinheiro vivo!

Exposição Virtual

Fizemos algumas pesquisas para saber se poderíamos chamar a nossa exposição de “virtual”. Depois de muitas leituras, decidimos batizá-la assim. Em sua tese de doutorado, intitulada O museu que nunca fecha: a exposição virtual digital como um programa de ação educativa, a pesquisadora Alena Rizi Marmo Jahn afirma que “[…] a exposição virtual pode ser realizada sem precisar sair de casa, a qualquer hora do dia ou da noite, tendo facilmente ao alcance um universo inteiro para ser pesquisado e relacionado com o que está sendo exposto”, p.118. O trabalho foi apresentado à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 2016.

A seguir, a nossa exposição virtual digital Tá Pago! As fotos foram feitas no dia 26 de julho de 2023, na feira livre da Avenida Joana Angélica, no centro de Salvador-BA. Todas as fotos foram tiradas por Raulino Júnior.

10 é 2,00!

R$20 na mão!
Moeda de R$1 é batata de encontrar na feira!
Quatro dinheiros!
Onça verde!
Compra e venda!
A preço de banana!
Dinheiro disputado!
Dinheiro melado!
Uva paga!
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“Fulano ficou metido…”

Imagem: reprodução do site da Gazeta do Povo .

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Um dia desses, eu parei e fiquei pensando no que faz uma pessoa ficar metida. Levantei algumas hipóteses e concluí que nem sempre tem a ver com dinheiro. Ter muito dinheiro pode ser um dos motivos pelos quais as pessoas se acham melhor que as outras, acima do bem e do mal, mas não é determinante. Às vezes, a pessoa já é metida por natureza e o poder aquisitivo dela não potencializa nem diminui aquilo que é um traço imanente.

Mas, se o fato de ter muita grana não determina esse estado de putrefação humana, o que contribui para isso? São vários motivos! Ter poder (que, necessariamente, não significa ter dinheiro), ser famoso (e apenas isso! Dar entrevista para o telejornal local de maior audiência já é uma porta de entrada para a “metideza”), ser referência no que faz, ter feito viagens ao exterior (e também para lugares considerados de prestígio dentro do próprio país!), ser artista (e se estiver em ascensão, então! Os iniciantes, muitas vezes, são mais metidos que os consagrados!), conhecer artista renomado, trabalhar com artista conhecido, ter saído de uma cidade pequena para morar numa cidade grande, ir para um emprego prestigiado… A lista é infinita. Vai de usar roupa considerada “de marca” a passar em processos seletivos disputados. Não é todo mundo que fica metido por causa das razões elencadas, mas é muita gente.

As razões para ser metido muda de tempos em tempos. Sempre houve quem influenciasse pessoas, mas, ao que parece, esse poder nunca foi tão rentável quanto hoje. Então, quem faz sucesso nas redes sociais digitais tem um prato cheio para ser metido. E come com farinha! Antigamente, passar no vestibular dava um status de superpoder às pessoas que se iludiam com isso. Hoje, se tornou banal. Quase ninguém mais fica metido porque passou no vestibular. É que, graças a Deus, deixou de ser algo exclusivo, para poucos. As políticas públicas ampliaram o acesso e quase todo mundo agora pode sonhar em ingressar numa instituição de ensino superior. O metido não é muito afeito a inclusão. Só que isso é um caminho sem volta. Que bom!

Claro que dizer que alguém está ou é metido parte de uma visão muito subjetiva, não é? O que é estar metido? Questão filosófica. Às vezes, pode ser um equívoco dos olhos de quem vê. Ou não. Agora, a pergunta que não quer calar: a pessoa fica metida ou só aguarda uma oportunidade da vida para se mostrar como exatamente é? Difícil ter uma resposta exata, porque o homem é também “produto do meio”, mas acredito que o gene da “metideza” já habita o corpo que vai se revelar mais tarde. Tudo é questão de tempo.

Sigamos.
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