Cultura, DEZde, Entrevistona, Gramática, Jornalismo Cultural, Língua Portuguesa, Leitura, Literatura

“A Língua Portuguesa é cheia de Charme”

No Dia Nacional da Língua PortuguesaDesde entrevista professor gaúcho que difunde o idioma nas plataformas digitais

Thiago Charme: “Eu sou um defensor ferrenho das variantes da Língua”. Foto: autorretrato

Por Raulino Júnior 

É impossível ter contato com o professor, designer gráfico e escritor Thiago Charme e não brincar com o seu sobrenome, que, usando uma figura de linguagem muito comum na Língua Portuguesa, caiu como uma luva para ele. Inclusive, não foi por acaso que fizemos um trocadilho no título desta entrevista. Luis Thiago do Nascimento Charme tem 38 anos e é natural de Arroio dos Ratos, município do Rio Grande do Sul. Filho de Maria Cleusa do Nascimento Paiva e Gildo Ramires Charme (in memorian), ele é oriundo de uma família grande. Tem quatro irmãos cheios de Charme: RejaneVanderDaniela Willian. O sobrenome incomum é, ao que tudo indica, de origem francesa. “Na verdade, não é um erre ali no meio. O sobrenome mesmo, dos meus avós paternos, é Chalme, com ele”. De acordo com Thiago, há muitas variações do sobrenome. “Nós, irmãos, temos essa diferença também. Todo eles têm o esse no final, menos eu. Pra dizer a verdade, de todos os primos, parentes e tios de quem eu tenho notícia, de mais perto, o único que é realmente Charme sou eu”. O fato é que os Charmes não vieram ao mundo para seguir modelos e tradições. E Thiago personifica isso nas suas vivências e atitudes. Em 2009, quando começou a dar aula, já utilizava as tecnologias da informação e da comunicação como recurso pedagógico. Em 2011, isso se consolidou, participando de projetos de criação de canais de veideoaulas. Daí em diante, não parou mais. Em 2015, criou o TuboAulas. “Era um projeto que abrigava outros professores. Daqui e dali, as coisas foram mudando um pouco de visão. Não houve dedicação de alguns professores. A partir de 2019, comecei a pensar em algumas mudanças no meu formato. A primeira delas, voltar o meu material para Língua Portuguesa e Literatura, que sempre gostei bastante. Não queria que fosse um trabalho maçante, só focado em ENEM, porque o meu intuito sempre foi compartilhar conhecimento, democratizar o conhecimento”. No ano passado, em conversa com alguns amigos, um deles, Jean Azevedo, do canal Geografia com JeanGrafia, sugeriu um novo nome para o novo conceito do projeto: Português com Charme. No canal, Thiago promove processos de ensino e de aprendizagem de forma ampla, nada é à toa. Inclusive, as cores escolhidas para a arte da plataforma. “A cor amarela do canal foi quase que 100% inspirada no álbum AmarElo, de Emicida. Tanto a música quanto o álbum como um todo foi uma transformação para a minha vida. É como se eu estivesse ressurgindo de certa forma e me reconstruindo o tempo todo através de cada uma das músicas do álbum”, confidencia. Toda a identidade do canal foi pensada com a ajuda do namorado, Oliver Luys, que também é designer gráfico e empreendedor. Thiago é formado em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, Inglesa e Respectivas Literaturas, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS); e em Publicidade, curso pós-médio que fez na Escola Técnica Estadual Irmão Pedro. Nesta entrevistONA especial, feita por WhatsApp e comemorativa pelo Dia Nacional da Língua PortuguesaThiago Charme diz o que faz para não se tornar uma gramática ambulante, reflete sobre preconceito linguístico, linguagem neutra e pretoguês. Ainda fala de sua relação com Salvador e com o baianês e diz por que a Língua Portuguesa é cheia de charme: “Eu amo todo esse conceito de jogar com as palavras. De trabalhar as palavras em todo o seu sentido”. Leia e fique à vontade.

Desde que eu me entendo por gente – Desde 2011, você usa o YouTube para promover processos de ensino e de aprendizagem na área de Linguagens e seus Códigos. Qual contrapartida tem do público que te acompanha?  

Desde – Qual limite você coloca para não se tornar uma gramática ambulante? Ou seja, como evitar ser um consultor de gramática durante todo o tempo e por todas as pessoas?

Desde – No Behance, você diz que decidiu fazer Letras porque queria se comunicar e escrever bem. O curso, por si só, te trouxe isso? Por quê?

Desde – No livro Preconceito LinguísticoMarcos Bagno faz críticas a profissionais de Letras que dão curso com o objetivo de ensinar a falar e escrever bem a Língua Portuguesa. De acordo com o linguista, isso acontece porque a sociedade elege uma variante da língua como sendo de prestígio. Qual é a sua opinião sobre isso?

Desde – Você é designer gráfico. Se a Língua Portuguesa fosse uma imagem, qual seria?

Desde – Entre abril e junho de 2019, você morou em Salvador. O baianês te encantou? Incorporou algumas expressões ao seu vocabulário?

Desde – Qual poema da Língua Portuguesa mais te comove? Por quê? Declame para os leitores e para as leitoras.

Desde – A Língua Portuguesa, além de ser matriz da nossa cultura, contribui para a nossa atuação política no mundo. A  linguagem neutra é um exemplo disso. Para você, a resistência ao uso dela terá longevidade ou não tem mais jeito?

Desde – O Pretoguês, conceito cunhado por Lélia Gonzalez para falar sobre a  marca de africanização do português falado no Brasil, é também um ato político, porque evita um silenciamento que insiste em prevalecer. Como você incorpora tal discussão na sua prática pedagógica?

Desde – A Língua Portuguesa é cheia de charme? Por quê?

Da Calma e do Silêncio, de Conceição Evaristo, por Thiago Charme

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Canais de Thiago Charme nas redes sociais digitais:

Instagram:

@ThyagoCharme e @PortuguesComCharme

TikTok: @PortuguesComCharme

Twitter: @ThiagoCharme e @PortuguesCharme 

YouTube: @PortuguesComCharme

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É Desde! É Dez! É DEZde!

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Cultura, Gramática, Jornalismo Cultural, Língua Portuguesa, Leitura, Literatura

Carta aberta aos organizadores da 9ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica)

Imagem: captura de tela do site oficial da Flica

Salvador, Bahia, 26 de setembro de 2019
Prezados organizadores,
Escrevo esta carta no intuito de convidá-los a refletir criticamente sobre o nome dado a uma das mesas da edição de 2019 da Flica. Sou professor de Língua Portuguesa e Redação no Colégio Estadual Mário Augusto Teixeira de Freitas e, como tal, interessado em atividades que têm como principal objetivo estimular a prática da leitura. Obviamente, sempre tento criar situações de leitura e escrita em sala de aula, fora dela também. Assim que soube do lançamento da Flica deste ano, corri para o site a fim de conferir a programação. Confesso que fui surpreendido negativamente ao me deparar com o nome da mesa 03, intitulada A leitura não precisa ser essa coisa chata, que terá a participação de Thalita Rebouças e Saulo Dourado, com mediação de Ronaldo Jacobina. Uma mesa com essa temática, no evento literário mais importante do estado, corrobora o discurso muito presente entre alguns educandos, de que a leitura é chata. Sendo assim, penso o quanto que os esforços feitos cotidianamente no ambiente escolar, por mim e por outros professores, para estimular a leitura, vão para o beleléu quando isso é reforçado, mesmo sem intenção, por um evento da relevância e grandiosidade da Festa Literária Internacional de Cachoeira. O título da mesa reforça a ideia que muitos estudantes têm, e parte da sociedade, de que ler é chato. Então, todos os esforços para desconstruir esse estereótipo, na minha opinião, ficam comprometidos. É com se, de fato, ler fosse chato, mas que não precisa ser tanto. Como vocês trabalham com um evento de literatura, certamente, devem acompanhar pesquisas e iniciativas de institutos que levantam dados sobre hábitos de leitura dos brasileiros. A 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, que considera como “leitor” aquele que leu pelo menos um livro (inteiro ou em partes) nos últimos três meses, revelou que o brasileiro lê, em média, 2, 43 livros por ano. Sei que a Flica quer mobilizar também outras experiências culturais nos participantes, mas, tenho certeza, de que o estímulo à leitura é o que fundamenta a razão de ser do evento. O nome da mesa que critico traz um equívoco semântico que é lamentável. O não-dito do título, tomando como empréstimo um dispositivo da Análise do Discurso, fala mais do que aquilo que é dito. É preciso que seja revisto. Nesse sentido, gostaria de pedir para que vocês levassem em consideração isso que aponto como equívoco. A minha intenção é, apenas, fazer uma contribuição mesmo, para buscar a melhoria. Inclusive, postei alguns comentários nas redes sociais digitais da Flica, falando sobre o assunto que abordo nesta carta, e, no Facebook, o internauta Leandro Queiroz deu uma ótima sugestão de mudança para o nome da mesa, que eu espero que vocês acatem. Reproduzo na captura de tela abaixo.
Vou aguardar a resposta de vocês.
Atenciosamente,
Compositor, professor, jornalista e produtor cultural 
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#Desde8, Cultura, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura, RauLendo: leituras em pauta

O Caso Escola Base e a falta de uma regra básica do Jornalismo

Escola Base: caso marcou a história do jornalismo brasileiro. Imagem: site da Editora Casa Flutuante

Por Raulino Júnior ||RauLendo: leituras em pauta|| 

Não precisa fazer nenhuma pesquisa para afirmar que, de 1994 para cá, é quase impossível ter um estudante ou profissional de Jornalismo, no Brasil, que não conheça o Caso Escola Base. Se tem, as faculdades estão falhando. O emblemático episódio começou a figurar nas manchetes dos jornais, rádio e TV em março daquele ano e, por falta de um requisito básico da prática jornalística, a apuração, “matou” socialmente seis pessoas. Explico: Icushiro ShimadaMaria Aparecida Shimada e Paula Milhim, donos da Escola de Educação Infantil Base, localizada em São Paulo, foram acusados de abuso sexual por Cléa Parente e Lúcia Tanoue, mães de estudantes da instituição. Além deles, Maurício Alvarenga (marido de Paula e motorista do transporte escolar) e o casal Mara França e Saulo Nunes (pais de aluno da Escola Base) também foram acusados de fazer parte de um suposto esquema de pedofilia. O fato é que a imprensa, capitaneada pela Rede Globo, dona do furo jornalístico (Cléa e Lúcia entraram em contato com a emissora com o objetivo de que a denúncia não deixasse de ser investigada e, claro, buscando uma notoriedade para o caso), tomou a queixa das mães como verdade e uma série de reportagens que exploravam o episódio de forma sensacionalista foram veiculadas a partir de então. O estopim foi a reportagem da Globo, conduzida por Valmir Salaro, no Jornal Nacional, em 29 de março de 1994. A única “prova” sobre o “crime” que os jornalistas tinham era o depoimento das mães e as declarações de Edélcio Lemos, delegado do caso, que também deixou de cumprir a sua função com responsabilidade. Por falta de provas, o inquérito foi arquivado, mas os acusados ficaram com marcas que ressoam até hoje.

No intuito de descobrir como o caso marcou a vida dos envolvidos, o jornalista e editor-chefe do portal Casa dos FocasEmílio Coutinho, lançou, em 2016, o livro-reportagem Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira (Editora Casa Flutuante, 135 páginas). Com prefácio de Heródoto Barbeiro, a obra traz um significativo trabalho de investigação de Emílio. Em dez capítulos, o jornalista descortina a história e mostra para o leitor o que aconteceu com as pessoas que participaram diretamente dela. A narrativa é interessante e quem lê se coloca o tempo todo no lugar de Coutinho, na difícil jornada de busca dos personagens, uma vez que, na época de lançamento do livro, o episódio já tinha 22 anos de ocorrido. O casal Shimada, por exemplo, já morreu. E será que todo mundo quis falar sobre o caso ou, como alguns jornalistas que cobriram, na época, as pessoas preferiram o silêncio? No livro, Emílio Coutinho narra todas as aventuras para colher os depoimentos e consegue uma entrevista exclusiva com Valmir Salaro, um dos poucos profissionais que reconhecem o erro. A leitura vale a pena.

Em tempo: Emílio Coutinho está prestes a lançar mais um livro sobre o caso, mas com outra perspectiva. Trata-se de O Filho da Injustiça, parceria do jornalista com Ricardo Shimada, filho do casal Shimada. De acordo com uma postagem do próprio Emílio, no portal Casa dos Focas, o livro “mostrará outro aspecto dessa história e colocará o leitor na pele de umas das vítimas mais próximas da Escola Base”. Vamos aguardar.

Referência:

COUTINHO, Emílio. Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira. São Paulo: Editora Casa Flutuante, 2016.

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#Desde8, Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura, Resenha

Imersão Poética

Livro de estreia de Pedro Vale é repleto de poesias reflexivas. Imagem: captura de tela

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Na quarta-feira passada, 23 de julho, via Twitter, recebi o convite do escritor português Pedro Vale para resenhar o seu primeiro livro, intitulado Azul Instantâneo. Ele enviou o arquivo em PDF e, de imediato, embarquei na leitura. O livro, que reúne textos escritos entre março de 2016 e setembro de 2017, na página do Facebook de Pedro, é poético do início ao fim. E isso não é uma metáfora apenas, é fato. O leitor se depara, logo na segunda página da obra, com o verso “Ofereço”. Na sequência, vários poemas, predominantemente ligados à poesia concreta, desfilam nas mais de 60 páginas da antologia. Na última, o verso “lembro”. Então, o que se conclui é que Pedro oferece para o leitor as suas criações e faz questão de que ele lembre da leitura feita, de que perpetue e compartilhe aquilo que foi lido. Pedro quer ser lembrado.
Azul Instantâneo é repleto de poesias reflexivas, de tom filosófico. Na página 5 do livro, lê-se “Liberto a palavra e solto o pulso”. Na 34, “O rio não corre,/Só o pensamento”. Pedro fala de amizade, do fazer poético, de dificuldades da vida e toda a poética é costurada com muita introspecção. Em um dos poemas, o autor afirma:
“É preciso viver sem paixões.
Mergulhar  no absoluto anonimato,
Permanecer morto ou vivo até o fim.
[…]”
Será que é possível viver sem paixões? Fica a reflexão. Em alguns momentos, a própria poesia é o foco dos textos:
Porto
a poesia vai
pela rua,
esconde-se
nas manhãs mais
frias.
e é à noite que lhe foge
a voz.
lenta
e lenta,
lentamente,
até
desembainhar
na
f
 o
  z
A maioria dos textos não tem título e Pedro traz poemas escritos também em inglês. A instantaneidade da obra se dá, além dos temas abordados, pela leitura rápida. Lê-se de uma sentada só. Há um evidente talento do escritor, ele consegue cumprir o que se propõe a cumprir. Sem grandes pretensões, Azul Instantâneo quer capturar o leitor e consegue fazer isso. A leitura é envolvente. Principalmente, porque a vida está presente o tempo todo no livro, para o bem e para o mal:
Talvez um dia recordes
num qualquer espelho torto
quão simples fora a tua salva
e te lembres daquela vez
em que ceáramos apenas meia
laranja e nada de pão naquela casa cega
com o telhado a verter lágrimas
de fel.
Pedro tem 40 anos e nasceu em Guimarães, mas, há 17, está radicado na Ilha da Madeira. Além de escritor, é professor.
Referência:
VALE, Pedro. Azul Instantâneo. 1. ed. Portugal: edição do autor. 2018.

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Cultura, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura, Reportagem, Reportagem Especial

Colégio de Berimbau publica livros sobre memórias da cidade

Obras foram originadas de projetos pedagógicos desenvolvidos na comunidade escolar

Livros produzidos pela comunidade escolar do Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo, de Conceição do Jacuípe (Berimbau): resgate histórico, valorização da cultura e manutenção da memória. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Reportagem Especial|| 
Era uma vez um colégio, localizado no interior da Bahia, que realizou um projeto pedagógico cujo objetivo era fazer com que professores e estudantes conhecessem um pouco mais sobre a cidade em que ele estava situado. Esse projeto, além de trazer muito conhecimento para todos da comunidade escolar, rendeu um fruto que vai ficar marcado na história cultural do município: a publicação de dois livros. Alguém duvida de que o final foi feliz?! Esse conto não é de fadas, é de professoras. A instituição de ensino citada no texto existe, é o Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo (CEDBA). A cidade também: Conceição do Jacuípe (Berimbau). Ainda bem que essa história é real e tomara que ninguém se canse de contá-la.

Em 2017, incentivados pelo projeto “Berimbau, meu pedacinho de Brasil”, os estudantes do 6º ano do CEDBA fizeram entrevistas com moradores de Conceição do Jacuípe a fim de saber a origem dos nomes curiosos e esquisitos das ruas da cidade. A atividade de sala de aula extrapolou todos os muros possíveis e resultou na produção do livro Tem Nome Esquisito Minha Rua: descobrindo a história que há por trás dos nomes “esquisitos” das ruas de Conceição do Jacuípe, organizado pela professora Elizabeth de Jesus Silva. Através da publicação, os moradores e interessados ficaram sabendo por que, por exemplo, a “Rua Mela Rego” tem esse nome. E o que falar de Rua do Cacete, do Garrancho, do Fogo e a Toca do Sapo?! Tudo está explicado no livro. Assim como a origem do apelido “Berimbau”: “Tudo começou por causa de uma feira livre que surgiu na cidade, em 1914. Essa feira era frequentada por trovadores, violeiros, pandeiristas e tocadores de berimbau. Um certo dia, fizeram uma trova que se encerrava com o nome ‘Feira de Berimbau’, surgindo, assim, o segundo nome do município de Conceição do Jacuípe”.

Trecho do livro “Tem Nome Esquisito Minha Rua”: explicação dos apelidos das ruas de Conceição do Jacuípe. Foto: Raulino Júnior

A comunidade escolar gostou tanto da experiência que a repetiu em 2018. Do projeto “Como nosso Berimbau começou a tocar”, nasceu o livro Como esse Berimbau começou a tocar: um passeio pela história de Conceição do Jacuípe. O mote se manteve o mesmo, ou seja, possibilitar que as pessoas conhecessem mais sobre a origem e cultura da cidade. O que mudou é que, com o aprendizado do passado, as autoras da obra – Arali Ferreira de Aquino Oliveira, Elizabeth de Jesus Silva, Maria Paula Batista de Souza e Núbia Leticia Santos de Souza – ousaram ainda mais. O livro ficou com 54 páginas (mais que o dobro do primeiro, que tem 24) e um personagem foi criado para tornar a leitura ainda mais lúdica. Em Como esse Berimbau começou a tocar, João Vitor, o Berimba, tem que fazer uma pesquisa de História sobre o município onde ele mora. Para cumprir com a atividade, ele recorre a Dona Ana, sua avó, e a Seu Antonio, que conhecem Berimbau como ninguém. Ao conversar com eles, Berimba vai organizando o seu trabalho. Nessa viagem, ele aprende sobre aspectos históricos e culturais da cidade. O livro traz ainda a seção “Você Sabia?”, que tem a função de explicar mais a fundo alguns dados presentes na narrativa. No final, uma ótima sacada metalinguística: as autoras sugerem que a pesquisa de Berimba se transforme num livro sobre a cidade. Foi o que aconteceu. Veja o convite de Berimba no vídeo abaixo:

Comunidade escolar e moradores da cidade

Núbia Letícia de Souza, uma das responsáveis pelas produções das obras literárias, além de ter sido estudante do CEDBA, trabalha no colégio desde 2007. É professora de Língua Portuguesa, mas, atualmente, está na vice-direção da unidade de ensino. Em entrevista via WhatsApp, ela falou sobre o sentimento da própria comunidade escolar em relação aos livros publicados: “Enquanto alguns envolvem-se e procuram informações o tempo todo, querendo ajudar a fortalecer o projeto, outros mantêm-se mais desconfiados da utilidade, principalmente porque não é algo comum às escolas públicas a produção de material bibliográfico. Mas, para o grupo de trabalho, o desafio é justamente este: sair da mesmice e produzir conhecimento de um jeito realmente eficaz e útil, não apenas para adquirir uma nota numa avaliação, mas para viver com mais consciência de nós mesmos e de tudo que nos cerca. Conhecer a nossa cidade proporciona isso”.

Para a professora Maria Paula Batista, que está no CEDBA desde a fundação, em 1991, e ensina Matemática para as turmas do 7º e do 9º anos, houve um envolvimento maior da comunidade escolar no segundo livro. Em resposta também enviada pelo WhatsApp, ela afirmou: “Embora tenhamos uma parcela de pais e alunos que ainda não perceberam a importância deste projeto, muitos têm reconhecido e demonstrado interesse. Sabemos que é um trabalho de formiguinha. No desenvolvimento dos trabalhos para o segundo livro, o envolvimento da comunidade escolar foi bem maior que o primeiro. Quase cem por cento”. Maria, que também faz parte da equipe responsável pelas publicações, diz ainda que os moradores da cidade receberam bem a edição dos livros. “Os moradores têm valorizado o nosso trabalho. Isso nos alegra e nos dá incentivo para continuarmos pesquisando e escrevendo sobre a nossa cidade. Percebemos que eles têm sede de conhecimento sobre a terra natal”. Núbia endossa isso: “Diante da confiança que a sociedade conjacuipense já consolidou ao Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo, boa parte dos moradores recebeu muito bem os dois livros publicados. Muitos se surpreendem com a qualidade do material e com o fato de uma escola pública conseguir fazer esse tipo de coisa. Muitos nos sugerem outros temas para fazer novos livros ou reclamam porque não falamos ainda de assuntos que acham importantes. Mas onde temos a chance de explicar a natureza e o propósito dos nossos livros, sempre colhemos elogios, palavras de apoio e o interesse pela aquisição dos materiais. Além da satisfação pessoal e do amadurecimento profissional, o reconhecimento dos munícipes que leem os nossos livros é muito importante para a continuidade do trabalho da escola”, reconhece. As duas produções estão à venda na própria escola e custam R$ 10 (Tem Nome Esquisito Minha Rua) e R$ 25 (Como esse Berimbau começou a tocar).

literatura infantil foi adotada nos dois livros porque “as novas gerações serão multiplicadoras das histórias contadas pelos mais velhos”, como diz um dos textos presentes no preâmbulo de Como esse Berimbau começou a tocar. Falando de nova geração, os estudantes contribuíram bastante com a produção de cada volume. Além de auxiliar no trabalho de pesquisa, alguns deles ilustraram os dois exemplares. As obras valorizam a história oral, algo muito forte na nossa cultura, principalmente pela herança africana; e trabalham com a memória, elemento importante para manter os nossos costumes e tradições sempre vivos. O desafio que fica para a comunidade escolar do CEDBA agora é o seguinte: escrever uma biografia sobre Domingos Barros de Azevedo. Um livro falando sobre quem foi ele, por que o colégio foi batizado com esse nome e qual a relação de Domingos com a cidade. Vamos lá?!

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Esta reportagem foi produzida no período de 30 de dezembro de 2018 a 12 de janeiro de 2019.
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#5AnosDoDesde, Cultura, Desde Então: análise de produtos culturais de outrora, Jornalismo Cultural, Literatura

A saga de Zé-do-Burro

Foto: reprodução da internet

Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||
Intolerância religiosa, machismo, casamento por interesse, traição, subserviência feminina, fanatismo religioso, imprensa sensacionalista, sincretismo, prostituição, crítica social e política. Todos esses elementos compõem a narrativa da peça O Pagador de Promessas, escrita em 1959 pelo baiano Dias Gomes. O drama em três atos conta a saga de Zé-do-Burro, que faz uma promessa para Santa Bárbara e resolve pagá-la após o burro Nicolau, seu melhor amigo, se restabelecer de um ferimento.

Zé e Rosa, sua mulher, andam sessenta léguas para chegar até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. Zé faz todo o percurso carregando uma cruz “tão pesada quanto a de Cristo” nos ombros. Ao chegar no destino, ele se depara com preconceito, aproveitadores de todo tipo e a resistência do Padre Olavo. A atitude do padre é provocada por que, ao contar toda a história que lhe levou até ali, Zé afirma ter ido a um terreiro de candomblé, apelar para Iansã. Aí começa todo o conflito religioso, que é a base do texto de Dias Gomes.

A peça estreou no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em São Paulo, no mesmo ano em que foi escrita. Flávio Rangel assinou a direção e o ator Leonardo Villar fez o protagonista. O texto foi adaptado para o cinema (1962), para a TV (1988), traduzido para mais de dez idiomas e vencedor de prêmios importantes, como o Prêmio Melhor Peça Brasileira, em 1960, pela Associação Paulista de Críticos Teatrais.

Dias Gomes consegue reproduzir com propriedade os costumes baianos em O Pagador de Promessas. Há personagens caricatos na obra, mas isso não tira o seu brilho. O clímax é constante na narrativa, repleta de reviravolta. A trama prende o leitor do início ao fim e o convida a refletir sobre a sociedade brasileira da época, e sobre a atual também. Conheça a saga de Zé!

Referência:

GOMES, Dias. O pagador de promessas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

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Cultura, Entrevista, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura

Em entrevista, coordenador da Biblioteca Abdias Nascimento, Eduardo Pereira Odùdúwa, fala sobre os projetos e desafios da instituição

Eduardo Pereira Odùdúwa, na sede da Biblioteca Abdias Nascimento, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Foto: Raulino Júnior. Edicão de imagem: Josymar Alves

Por Raulino Júnior

O arte-educador Eduardo Pereira Odùdúwa, 34 anos,é um representante fiel do cidadão que contribui para transformar a sociedade na qual está inserido: engajado, consciente e mobilizador. Há sete anos, fundou e coordena, junto com a sua mulher, Isis Sacramento, a Biblioteca Abdias Nascimento (BAN), que fica na Avenida Afrânio Peixoto, a famosa “Avenida Suburbana”. A instituição é a primeira biblioteca independente, em Salvador, especializada em cultura afro-brasileira e africana. Em 2012, o espaço virou Ponto de Leitura, através do Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura. Nesta entrevista, Eduardo fala sobre as ações e perspectivas futuras da BAN.” Nosso grande desafio, agora, é ter a sede própria. Isso vai viabilizar muita coisa”, aposta.
Desde que eu me entendo por gente: O nome da biblioteca é Abdias Nascimento, que faz referência a um ícone do povo negro e da nossa cultura. O que motivou a homenagem?
Eduardo Pereira Odùdúwa: Na época, eu, minha esposa e mais cinco pessoas, todos arte-educadores, resolvemos criar esse projeto porque a Lei 10.639/03, que obriga as escolas a ensinarem a história e cultura afro-brasileira e africana, tinha sido recentemente criada, mas a gente percebeu que não havia uma acessibilidade ao material que era produzido sobre essa cultura.  Coincidentemente, em 2008, Abdias veio a Salvador para receber o título de doutor honoris causa, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), e nós o conhecemos. Tanto ele quanto Elisa Larkin Nascimento [viúva de Abdias]. Resolvemos fazer essa homenagem porque Abdias é uma figura que tem tudo a ver com a nossa proposta, tanto na literatura, no teatro e nas artes plásticas. Aqui, apesar de ser uma biblioteca, tem uma atuação bem ampla.
Desde: Há algum diálogo com as outras bibliotecas de Salvador?
 
EPO: A gente é cadastrado na Fundação Pedro Calmon, a fundação que gerencia as bibliotecas aqui na Bahia, e na Fundação Biblioteca Nacional também. Já fizemos parte de algumas redes de bibliotecas, mas o nosso vínculo é via Pedro Calmon mesmo.
Desde: Como ocorre o sistema de empréstimo de livros?
EPO: A gente faz um cadastro. As pessoas interessadas vêm aqui, preenchem a ficha e trazem a documentação básica (comprovante de residência e xérox da identidade). O empréstimo é gratuito, por sete dias, e pode ser renovado.
Desde: A visitação é grande?
EPO: Hoje, estamos atendendo, praticamente, por visita agendada, porque aqui não tem um fluxo tão constante. Isso, na realidade, é um problema de todas as bibliotecas de Salvador. Como a gente faz muitas atividades externas, nas escolas, nos terreiros, em algumas Organizações Não Governamentais (ONGs) que são parceiras, as pessoas conhecem o nosso trabalho e quando têm interesse de visitar e até mesmo fazer empréstimo de algum livro, entram em contato, por telefone ou pelo e-mail, a gente marca o dia da visita e ela acontece.
Desde: O que essa experiência de sete anos de estrada trouxe? Quais foram os desafios? [A BAN foi fundada em 30 de maio de 2008].
 
EPO: Essa é a nossa quarta sede provisória. Nós estamos, agora, começando a construir a nossa sede própria, em Periperi. Eu acredito que, em novembro, nós estejamos inaugurando a sede definitiva. Essa foi uma experiência que a gente teve, de estar mudando, mas sempre mantendo esse eixo entre Periperi e Praia Grande. Nós começamos em Escada, depois fomos para Itacaranha, em seguida para Periperi e viemos para cá. Daqui, a gente só sai com o nosso espaço próprio.

Eduardo posa ao lado do acervo da BAN: mais de 1000 títulos. Foto: Raulino Júnior

Desde: Qual foi a razão para implementar o projeto da biblioteca?
EPO: Na realidade, o Subúrbio, e isso já é uma coisa comprovada hoje, é a região de Salvador que tem o maior número de população negra e a maior quantidade de terreiros de candomblé. Então, a questão da negritude é muito forte aqui, apesar de a consciência ainda não ser muito grande. As pessoas ainda não têm essa consciência racial, ainda é uma briga que a gente está travando, mas a cultura negra aqui é muito forte. Há muitos grupos culturais de capoeira, de música, de dança. Esse foi o motivo.
Desde: Você é leitor? Qual livro você está lendo no momento?
EPO: Sou. No momento, eu estou lendo um livro sobre Abdias Nascimento, da coleção Grandes Vultos que Honraram o Senado. Aqui na Bahia, só existem dois exemplares desse livro. Foi lançado recentemente e um dos exemplares, que é o que está aqui em Salvador, ficou conosco. Recebemos das mãos de Elisa Larkin. [Eduardo não lembra onde Elisa deixou o segundo exemplar, mas tem certeza de que não foi em Salvador. O livro que fala sobre Abdias é de autoria de Elisa Larkin Nascimento. A coleção é uma iniciativa do Senado Federal].
Desde: Você, como arte-educador, o que acha sobre a prática da leitura no Brasil e na Bahia? 
EPO: A gente já não tinha uma cultura muito forte de leitura, né? Neste momento, a gente vive uma crise, por  causa da questão da internet, dos meios eletrônicos. Eu acho, na realidade, que é um momento de mudança. Estão sendo criadas outras possibilidades de leitura, que a gente precisa saber como acompanhar, para não perder o hábito do livro impresso, do livro físico. Como arte-educador, como eu faço um trabalho de contação de história também, eu estimulo. Sempre que vou contar história, eu levo o livro impresso, para que as crianças vejam, tenham contato, e aquelas que já sabem ler, possam ler, recontar a história. Então, eu acho que essa é uma estratégia.
Desde: Quais serão as próximas ações da BAN?

EPO: Tem várias outras atividades que a gente tem interesse de fazer, mas a gente não tem braço, não tem espaço. Nosso grande desafio, agora, é a sede própria. Isso vai viabilizar muita coisa. A gente quer fazer um trabalho mais específico com as crianças, inclusive nessa questão de formação de leitores, e é muito mais complicado a gente ir até às escolas e em outras instituições. Com a sede, a gente tem essa possibilidade de trazer as crianças e fazer um trabalho mais específico.

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A seguir, Eduardo Pereira Odùdúwa descreve, de forma específica, cada atividade realizada pela Biblioteca Abdias Nascimento. Todas as ações são gratuitas.

Sede da BAN, na Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana). Foto: Raulino Júnior

Curso de Língua e Cultura Yorubá: “Eu sou professor de língua iorubá, formado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO). O curso, que dura de três a seis meses, existe desde o primeiro ano da BAN. A cada semestre, nós temos uma nova turma”.
Oficina de Percussão e de Atabaques: “Nós fizemos nos dois primeiros anos, paramos e retomamos neste ano. Estamos com uma turma numa academia, em Águas Claras”.
Coral Afro nkorin Yorùbá: “É um coral de língua iorubá, formado por ex-alunos do curso. Ao longo do curso de iorubá, as pessoas sentiram essa necessidade de expressar, mostrar essa cultura, os diversos valores culturais. Aí, em 2013, alguns alunos resolveram se organizar e formar esse grupo”.
JAM da BAN: “É uma jam session e sarau poético que acontece uma vez por mês, no Parque São Bartolomeu. Reúne a juventude, os músicos locais e a gente leva o nosso acervo de poesia africana e afro-brasileira. A gente tem uma coleção de literatura angolana muito rica”.
NaEncruza: “É um encontro que a gente faz, especificamente, com os povos de terreiro ou para discutir questões relacionadas a esses povos. Nós vamos até o terreiro, fazemos uma discussão ou trazemos alguns representantes aqui para nossa sede”.
Acervo Itinerante: “Há uma resistência muito grande, hoje em dia, de as pessoas virem até o espaço da biblioteca. Sendo assim, nós levamos o nosso acervo, uma vez por mês, para as escolas públicas daqui da região. É justamente o momento que a gente faz a aproximação e, a partir daí, as pessoas entram em contato pra vir aqui e conhecer, de fato, todo o acervo e as atividades”.
Omodé Griô: “É uma contação de história. Neste momento, nós não estamos fazendo. Fizemos até o ano passado, no Centro de Referência de Assitência Social (CRAS) da Barroquinha, com as crianças ali do Centro Histórico e do entorno”.
Agbá Griô: “É um projeto com os mais velhos, que começamos no ano passado. A gente trabalha com o pessoal do grupo de idosos Conviver Vó Maria, daqui de Periperi. A gente faz um trabalho de resgate da memória, comparando as histórias que eles conhecem com as histórias africanas”.
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“Amor” é tema de concurso literário da Litteris Editora

Por Raulino Júnior

Se você tem um texto guardado no computador, cujo tema é o amor, já pode participar do Concurso Literário Amor, Paixão ou Loucura, promovido pela Litteris Editora. As inscrições seguem até o dia 15 de agosto de 2015 e cada participante pode inscrever, no máximo, duas obras, de qualquer gênero literário, com até 60 linhas cada uma. Os textos deverão ser enviados em língua portuguesa, por e-mail (concursos@litteris.com.br) ou pelo correio (Av. Presidente Vargas, 962/1411, Centro, CEP.: 20071-002, Rio de Janeiro-RJ). Em qualquer uma das modalidades de envio, o autor deve informar nome completo (ou pseudônimo), endereço e telefone de contato. Há também a possibilidade de enviar os textos por um formulário eletrônico, indicado no site da Litteris.
Premiação
Os vencedores terão os textos incluídos no livro Amor, Paixão ou Loucura e ganharão alguns exemplares dele. Além disso, troféu e certificado (1º lugar), medalha e certificado (2º e 3º lugares). O resultado sai dia 30 de setembro de 2015. Para saber mais informações sobre o regulamento do concurso, basta acessar o site www.livrarialitteris.com.br.
A editora
Litteris Editora foi fundada em 1988 e já tem mais de 5.000 títulos editados. O grupo editorial é formado por mais dois parceiros: a Quártica Editora e a Quártica Premium. A missão é a de publicar obras de novos escritores. Quem sabe não é a sua vez?
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Felipe Ferreira lança “Griphos Meus” na Livraria Cultura do Salvador Shopping

Felipe Ferreira e o seu Griphos Meus: “Agora, posso dizer que sou escritor”. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

Às 19h, desta sexta-feira, 12 de dezembro, o coração de Felipe Ferreira estará batendo ainda mais forte: o escritor lançará seu primeiro livro, Griphos Meus: cinema, literatura, música, cultura, política & outros gozos crônicos, na Livraria Cultura, do Salvador Shopping. A obra é uma produção independente e reúne textos do autor publicados nos sites Cinem(ação)Ambrosia e Publikador, dos quais é colunista. Além disso, o livro traz textos inéditos, como poemas, crônicas e alguns de cunho erótico. Em julho, ao participar da série Perfis do DesdeFelipe revelou o plano de publicar um livro até o final de 2014. Agora, que a ideia virou realidade, ele fala com exclusividade para o Desde. Leia a entrevista!

Desde que eu me entendo por gente: Por que “Griphos”?

Felipe Ferreira: Quando comecei a pensar num nome, para poder criar uma identificação e tentando ver o que resumiria bem essa questão de escrever, de se dedicar à palavra, à escrita, fui caçando por sinônimos, pela etimologia da palavra “grafia”. “Grifo” tem a ver com grafia, escrita. Para diferenciar, ter originalidade e ser o meu grifo, não qualquer grifo, coloquei com “ph”.

Desde que eu me entendo por gente: Os textos do livro têm temáticas predominantes ou falam de tudo?

Felipe Ferreira: Falam de tudo: cotidiano, daquela fadiga do homem moderno e de saudade, de sentir falta do que você não tem mais. Todo mundo tem esse momento saudosista.

O livro como extensão do corpo. Foto: Raulino Júnior

Desde que eu me entendo por gente: Griphos Meus tem prateleira?

Felipe Ferreira: Quando fui fazer o registro do ISBN (International Standard Book Number), eles perguntaram qual era o gênero, para poder catalogar. Eu me questionei: “Qual é o gênero?”. Fui analisando cada segmento e encaixei como ensaios brasileiros. Foi o que mais acolheu a ideia da multifuncionalidade do livro.

Desde que eu me entendo por gente: Quando você escreve, pensa num leitor como foco?

Felipe Ferreira: Pode ser aquela coisa meio segmentada. Uma crítica de cinema pode atingir mais o pessoal de cinema; mas, ao mesmo tempo que atinge o pessoal de cinema, vai atingir quem não é crítico, quem não é da área, quem não produz, mas quem gosta, quem curte, quem assiste sem compromisso. Acho que o ideal é você ter uma abrangência de abordagem e a mensagem passar por várias pessoas, sem ter apartheid. A leitura é universal.

Desde que eu me entendo por gente: Com o livro, você acaba perpetuando as suas ideias. Aonde é que você quer que ele chegue?

Felipe Ferreira: Quanto mais longe você pensar, mais perto do que pensou, você chega. Ao lançá-lo em Salvador, penso em criar um público para a obra em livrarias e pontos culturais. Depois, quem sabe, partir para outros estados: Rio, São Paulo. É um trabalho de formiga. Aos poucos, vou criando um público. Não só no meu estado, mas no Brasil todo. É um trabalho árduo, de formiga, mas tem que ser feito.

Desde que eu me entendo por gente:  Você já pensou nos possíveis desdobramentos dessa obra? Por exemplo: um diretor de teatro se interessar em montar um espetáculo que tenha como base o seu livro?

Felipe Ferreira: É uma coisa que eu penso, mas não fico com isso na cabeça.  É uma coisa natural. Se tiver de acontecer, vai acontecer e será muito bem-vindo. Só teria que avaliar o projeto,  se realmente teria a ver com o perfil  e o objetivo do livro. Seria interessante fazer essa transferência de linguagem das páginas para o palco.

Desde que eu me entendo por gente: Felipe: antes e depois do Griphos. Agora, com o livro impresso. Qual a diferença?

Identidade Griphos. Foto: Raulino Júnior

Felipe Ferreira: Acho que, agora, eu posso dizer que sou escritor. Porque se você é ator, você atua; se é cineasta, você produz cinema. Hoje, eu posso afirmar com todas as letras que sou escritor. É sacramentar o seu ofício. É você concretizar aquilo que está na sua alma, no seu dom, na sua persona.

Desde que eu me entendo por gente: Fazendo um trocadilho com o título do livro: quais são os seus “griphos” para o futuro?

Felipe Ferreira: Escrever sempre. Disso eu não tenho dúvida. Focar bem na venda, na divulgação e fazer reverberar muito o Griphos Meus, meu primeiro livro; e , claro,  já tendo ideias, estímulos  e insights para um próximo livro.

Para colocar na agenda…

Felipe Ferreira. Foto: Raulino Júnior

Lançamento do livro Griphos Meus, de Felipe Ferreira, com sessão de autógrafo

Livraria Cultura, do Salvador Shopping
12 de dezembro, às 19h

O livro custa R$ 29 e vai ser vendido pela internet, no InstagramTwitter ou através do e-mail felipe.grifosmeus@outlook.com.

Felipe Ferreira tem 23 anos e é formado em Letras com Inglês pela Universidade Católica do Salvador. Além de escritor, é roteirista.

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