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Antonio Cozido, Dança e Swing Afro-Baiano

Em entrevista exclusiva para o Desde, dançarino fala sobre carreira, cultura e realidade da dança na Bahia

Antonio Cozido: de jogador de futebol a criador do Swing Afro-Baiano. Foto: Raulino Júnior

O blog Desde que eu me entendo por gente completou seis anos em atividade no dia 1º de janeiro de 2017. Para comemorar a caminhada até aqui, estamos publicando uma série de entrevistas com pessoas que fazem Salvador acontecer. Homens e mulheres que dão a sua contribuição para a nossa cultura. Na última entrevista da série, o convidado é Antonio Cozido, dançarino, coreógrafo, ator, diretor e produtor cultural.

Antonio Cozido é o último entrevistado da série em comemoração pelos seis anos do Desde. Imagem: reprodução do vídeo

Antonio Cozido é formado em dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pós-graduado em coreografia, pela mesma instituição. Com mais de 30 anos de carreira, ele já foi dançarino de Daniela Mercury e trabalhou com artistas de todas as gerações da Axé Music. Nesta entrevista exclusiva que concedeu para o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, Cozido fala sobre o início de sua carreira, o seu processo criativo e de como elementos da cultura afro estão, naturalmente, nas coreografias que cria. Opina sobre o caráter midiático que a dança ganhou e sobre o fenômeno FitDance. O artista fala ainda de Swing Afro-Baiano, modalidade que criou, e reflete sobre a realidade da dança na Bahia. A sua participação no filme Cinderela Baiana, a origem do seu apelido e a dança como adereço também figuram na conversa: “As pessoas usam mais como pano de fundo, colocando bailarino para preencher o palco, para dar uma roupagem diferenciada na música, no trabalho, no show”.
Assista, no vídeo abaixo, à entrevista com Antonio Cozido, no Sem Edição:

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Oficina de Butoh na Escola de Belas Artes da UFBA

Por Raulino Júnior

Já ouviu falar em butoh? Se sim, ótimo; se não, tem uma boa oportunidade para saber do que se trata: a Oficina de Butoh com Calé Miranda: dançando com o espírito ancestral. A atividade, que é dirigida a atores, dançarinos e interessados, vai acontecer de 15 a 19 de junho, das 18h às 22h, em Salvador. A maior parte das aulas será na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. No dia 19, todo mundo vai dançar na área verde da Escola de Dança, dessa mesma instituição.
Butoh é uma dança-teatro de origem japonesa que se caracteriza por ser bastante performática. De acordo com estudiosos, os movimentos da dança são resultado de uma ação interior, que é fundamental para a técnica. Em 2012, ao estrear , o Bando de Teatro Olodum se debruçou nos conhecimentos de butoh para montar o espetáculo. Para Cláudio Antônio, aluno da pós-graduação em Artes Cênicas da Escola de Teatro da UFBA e um dos organizadores da oficina, o butoh “é uma expressão que vem modificando a maneira de se pensar e fazer dança nos dias atuais. Sua proposta é a busca da expressividade individual de cada artista”. A justificativa de trazer a arte para solo baiano é convincente: “A Bahia sempre foi polo de difusão e formação em dança, com a primeira escola de nível superior. Além de ter grupos e artistas que produzem, fazem dança contemporânea e se interessam pela linguagem”, eslcarece.
A oficina terá um total de 20h e dará certificado ao participante. O valor do investimento é de R$ 150, para estudantes; e R$ 200, para profissionais. Pesado? Claúdio explica: “O artista [Calé Miranda] vem por conta própria, sem nenhum patrocínio. O valor da oficina é seu pró-labore e servirá também para pagar as despesas com a produção”. Para se inscrever, os interessados devem acessar www.ebaextensaobutoh.wix.com/extensao-butoh. Se quiser esclarecer algumas dúvidas sobre a inscrição, envie e-mail para ebaextensaobutoh@gmail.com. São apenas 20 vagas! Corre!
Quem é Calé Miranda

Calé Miranda. Foto: Marco Netto

Calé Miranda nasceu no Rio de Janeiro, é diretor de teatro e pesquisador das relações da dança butoh com a mitologia afro-brasileira. Integra o grupo Cia. da Ação!, do qual é diretor artístico. 

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Mostra Bonfim em Cena movimenta Senhor do Bonfim

Arte: Mariana de Paula

Por Raulino Júnior ||Reportagem Especial|| 
“Cidade cultural/Primor da educação/Fator fundamental/Da sua evolução”Esses versos fazem parte de uma música cantada por Del Feliz, que tem Bonfim como temática, e se encaixam muito bem às razões de existir da Mostra Bonfim em Cena. O evento cultural que está movimentando a cidade de Senhor do Bonfim, localizada no centro-norte do estado da Bahia, a 376 Km de Salvador, tem como intuito potencializar as manifestações culturais da Capital Baiana do Forró e apresentar outras linguagens artísticas para a sociedade bonfinense. Concebida pela produtora cultural Adriana Santana, a Mostra foi contemplada pelo edital de Dinamização de Espaços Culturais, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). Desde dezembro de 2014, espetáculos de dança, teatro, música e circo entraram em cena no palco do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. A programação segue até o final de maio.
Música e dança

Em cena, a Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses e os bailarinos do Ballet Sacramentinas. Foto: Darlan Barreto

No último domingo, 5 de abril, os músicos da Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses voltaram a se apresentar na Mostra Bonfim em Cena. Em dezembro, eles inauguraram o evento, com um concerto especial em tributo a Ceciliano de Carvalho (músico, compositor, maestro, pintor, fotógrafo), artista bonfinense homenageado no nome do Centro Cultural.
Na recente apresentação, que abriu o quinto mês de atividades da Mostra, a Filarmônica fez um concerto popular e prestou homenagem a compositores de Senhor do Bonfim e região. Lúcio Barbosa (autor da música Cidadão, gravada pela primeira vez por Zé Geraldo, em 1979), Zecrinha (que interpretou Cidadão, acompanhado pela Filarmônica, contribuindo para um dos momentos mais marcantes da noite), Daniel GomezTargino Gondim e Tércio Guimarães foram alguns dos homenageados.

Zecrinha canta Cidadão, de Lúcio Barbosa. Ao seu lado, o maestro Tenison Santana. Foto: Gislene Barreto

Zecrinha, de 62 anos, na música há 49, ficou feliz com o convite feito por José Egnaldo Silva, o Miranda, um dos maestros da Filarmônica. “Foi muito legal! Não é, assim, o gênero de música que eu faço; eu faço MPB até mais estudada, mas foi bom. Uma canção de um bonfinense, eu me comprometi a vir aqui e cantar. Eu cantei com a letra, porque não sabia decorada. Mas o convite foi feito por Mirandinha, eu achei legal e vim aqui e dei meu recado. Se vocês gostaram, eu fico muito lisonjeado”.
Ballet Sacramentinas, formado pelos bailarinos Alexandre MagalhãesCleideanne CezárioNara Junqueira e Rafaela Bonfim, fez uma participação especial durante o concerto, apresentando três coreografias. “O Ballet Sacramentinas tem uma história muito bonita, no decorrer desses 16 anos de existência aqui na cidade. Quando eu recebi o convite para trazer o Ballet como representanção de dança, na Mostra Bonfim em Cena, foi uma expectativa tamanha”, declarou Alexandre, 25 anos, ao ser indagado sobre a importância de partcipar do evento.
Quem também reconheceu a Mostra como uma ação importante para a cidade, foi o autônomo Marco Antonio, de 60 anos. “A cultura aqui em Bonfim estava morta, devido aos políticos, que não estavam dando apoio, principalmente o nosso PT, que eliminou a cultura bonfinense. Agora, com esse movimento, está sendo resgatada”, pontuou. Marco também elogiou a apresentação da Filarmônica. “Ela é um espetáculo. Várias gerações, da década de 60 pra cá, não acompanharam isso, não tiveram a oportunidade e, hoje, estão tendo essa oprotunidade de ouvir, aqui na cidade, ao vivo, a música clássica; que poucos jovens estão ouvindo”.

Marco Antonio: “A Mostra resgatou a cultura”. Foto: Raulino Júnior

A Filarmônica

Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses fará 62 anos de atividade, no mês de junho, e vai continuar comemorando o fato de ser uma das mais renomadas do ramo. Na trajetória, coleciona apresentações em lugares emblemáticos da Bahia, como o palco do Teatro Castro Alves (TCA).

Sede da Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses, em Senhor do Bonfim. Foto: Raulino Júnior

De acordo com o presidente da sociedade, Rafael Ribeiro, de 29 anos, que está há quase 14 no grupo, a tônica da Filarmônica é, principalmente, formar músicos cidadãos. “A Filarmônica é uma instituição da comunidade. Ela está inserida na sociedade bonfinense para instruir, para formar, para educar; não só musicalmente, mas educar na formação cidadã do jovem bonfinense. Então, tem esse foco, tem esse objetivo. A banda da Filarmônica é só uma parte, mas ela também tem uma escola; e a escola é que é o importante. O objetivo principal é educar através da música”, esclarece. Rafael toca saxofone (alto, barítono, tenor e soprano) e está no início de sua gestão na Filarmônica, para um mandato de dois anos. “Eu só espero contribuir”, fala com confiança.

Rafael Ribeiro: “A Filarmônica é da comunidade”. Foto: Raulino Júnior

A formação cidadã a que Rafael se refere fica evidente quando se escuta o discurso de Lara Camila, 15 anos, que toca clarinete. “A Filarmônica é crucial na vida de todos os adolescentes e jovens, porque ela prega a educação em primeiro lugar. Faz mais de quatro anos que eu estou aqui e é a minha segunda família, meu segundo lar. É como se eu tivesse vários irmãos em um só lugar. A sensação é maravilhosa”, reconhece. Contudo, a adolescente não pretende seguir carreira na música. Eu quero ser médica, só que eu vou ter um hobby“.  A estudante faz questão de destacar que todo o ensinamento que recebe é de graça, bem como os instrumentos e as roupas.

Lara Camila: “Aqui é meu segundo lar, minha segunda família”. Foto: Raulino Júnior

O maestro Tenison Santana, 26 anos, afirma ter sentido “uma satisfação muito grande” ao se apresentar novamente na Mostra Bonfim em Cena. “Poder replicar os conhecimentos que a gente aprende fora daqui de Bonfim com os nossos colegas, como o nosso professor, que é o Miranda, é uma satisfação porque a gente pôde, além de fazer esse trabalho com o pessoal da Filarmônica, citar compositores vivos daqui da cidade, que são nomes bastante conhecidos; com canções bastante conhecidas e poder homenageá-los presentes aqui na plateia. É uma emoção até muito grande para a gente que faz parte da Filarmônica, que está acostumado a tocar peças de compositores que já faleceram. Além de tudo, peças populares, para mostrar que a Filarmônica tem uma grande versatilidade. Tanto toca peças eruditas como toca peças populares também, principalmente o forró, já que estamos tratando da Capital Baiana do Forró”. Tenison é graduado em trombone pela Escola de Música (EMUS) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e está prestes a concluir o mestrado em Educação Musical, também pela EMUS.

E quais serão os pŕoximos acordes da Filarmônica? Rafael Ribeiro responde: “Temos muitos projetos na cabeça e alguns até no papel também. Participamos, agora, de um edital lançado pelo Fórum daqui para rodar a região de Senhor do Bonfim e distritos, levando música para os bairros, para a população mais carente e áreas de maior vulnerabilidade social e maior criminalidade. A gente espera também firmar uma parceria com a ferrovia. Somos uma Filarmônica oriunda dos ferroviários e a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) começou, agora, a despertar para a área social. Então, esperamos nos unir como parceiros para desenvolvermos trabalhos na área de música e de formação de jovens. Esses são os  passos para 2015″.

Com a palavra, Adriana Santana

Foto: Raulino Júnior

Adriana Santana tem 23 anos e é autora do projeto que deu origem à Mostra Bonfim em Cena. Formada em Produção em Comunicação e Cultura, pela Faculdade de Comunicação (FACOM) da UFBA, a bonfinense realizou uma vasta pesquisa, em 2013, sobre gestão e uso de equipamento cultural no interior, tendo o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho como objeto. Da apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso à aprovação no edital de Dinamização de Espaços Culturais, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), foi um pulo. Em entrevista exclusiva para o Desde, ela conta um pouco sobre a realização da iniciativa.

Desde que eu me entendo por gente: Na sua opinião, como idealizadora do projeto, qual é a importância dele para a cultura de Bonfim?

Adriana Santana: Ele é muito importante para movimentar um espaço cultural da cidade, da região, o único centro de cultura do Território Piemonte Norte do Itapicuru que não tem atividades permanentes de cultura. Tem esse nome de espaço cultural, mas recebe mais atividades de outra natureza do que da natureza artístico-cultural. Então, é muito importante movimentar este espaço. É muito importante promover entretenimento e lazer para o público da cidade, da região. E tem sido muito bacana fazer isso. A gente chegou, agora, à oitava edição neste domingo [dia 5 de abril], aí vamos até maio realizando um monte de coisa.

Desde: O projeto tem atendido às suas expectativas iniciais?

AS: Sim. Acho que a gente tem conseguido trazer programação de muita qualidade, tem sido uma surpresa a cada noite. Porque, quem vê de fora, acha que não tem tanta gente boa fazendo arte aqui na cidade e a gente mostra que não; que é o contrário.

Desde: E qual o legado você quer que a Mostra Bonfim em Cena deixe para a cidade, para a região?

AS: Eu quero que, após seis meses de programação contínua, o Centro Cultural consiga receber atividades contínuas daqui pra frente. Que as pessoas entendam a importância de ter atividades aqui, de realizar atividades, que o poder público entenda a importância disso e continue realizando, não deixe esse espaço parado, como estava antes da Mostra Bonfim em Cena.

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Esta reportagem foi produzida nos dias 05, 06, 07 e 08 de abril de 2015
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