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Axé Music feito no México: o Samba Mestiço da banda Caboclo

Prestes a lançar o primeiro álbum, intitulado Alegría, banda mexicana de Axé Music difunde gênero baiano na América do Norte

Banda Caboclo: Axé Music feito no México. Da esquerda para a direita: Katy Barbosa, Santiago Buck, Omar Diupotex, Lu-Yang Lee, Alfredo Galván, Adrián Sánchez, Hugo Mendoza e José Carlos “Pepillo” de la Rosa. Imagem: montagem feita a partir de fotos de Elizabeth Martínez

Por Raulino Júnior ||Reportagem Especial|| 
Nesta quinta-feira, 30 de novembro, terá festa com música baiana na Cidade do México. A responsável por isso é a banda Caboclo, que vai lançar, no espaço cultural Multiforo 246, o seu primeiro álbum, Alegría, uma síntese das pesquisas feitas acerca do gênero Axé Music. Fundada em 2013, por Santiago Buck e Héctor González, com o intuito de integrar o Axé à cena musical do México, atualmente, a Caboclo é formada por Santiago Buck (direção musical e percussão), Katy Barbosa (voz), Omar Diupotex (guitarra), Lu-Yang Lee (teclado), Alfredo Galván (baixo), Adrián Sánchez (surdos), Hugo Mendoza (bateria) e José Carlos “Pepillo” de la Rosa (percussão). Tendo Carlinhos Brown e Ivete Sangalo como as principais influências do Axé Music, a banda bebe na fonte da musicalidade brasileira e extrapola o gênero criado por Luiz Caldas, em 1985. “Minhas influências de música brasileira não são só de Axé Music. Na verdade, sou amante do samba, MPB, rock, pagode, forró. Apenas para citar alguns artistas que eu considero como fonte de inspiração, temos Gilberto GilCaetano VelosoFundo de QuintalArlindo CruzO RappaLuiz Gonzaga e Seu Jorge“, afirma Santiago Buck, que pesquisa música brasileira há mais de dez anos. “Tenho onze anos fazendo música brasileira profissionalmente. Estudei vendo vídeos de Carlinhos Brown, Olodum, Ilê Aiyê etc. Fui ao Brasil, em 2015, com a única intenção de estudar ritmos tradicionais. Comecei a viagem por Recife. Lá, estudei maracatu, afoxé e um pouco de forró. Depois, fui a Salvador, onde estudei com Kinho Santos. Aprendi música de raiz, samba de cabula, samba-duro, samba-reggae. A última parte da viagem foi no Rio de Janeiro, onde estudei samba-enredo”, narra, em entrevista feita por e-mail. O músico cita ainda Chiclete com Banana e Banda Eva como bandas que influenciam o som da Caboclo.

Axé Music feito no México

Santiago conheceu o Axé Music em 2004, quando começou a praticar capoeira no grupo mexicano Capoeira Longe do Mar. Durante as aulas, escutou pela primeira vez as músicas de Caetano Veloso, Daniela MercuryTimbalada etc. “Naquela época, eu não sabia o que era o Axé Music nem tampouco que ele ia definir a minha vida. Foi lá que comecei com a música brasileira, fazendo batucadas. Graças a isso, conheci alguns brasileiros, que me convidaram para tocar com eles. Em 2010, foi criado o Axé Pracatum, com a ideia de ser o primeiro grupo de Axé Music do país, mas acabou por ser um bloco de rua. Em 2013, saí do Axé Pracatum junto com Héctor. Nesse momento, decidimos formar a Caboclo”. Héctor não está mais na banda, mas continua amigo de Santiago e acompanha as ações do grupo.

Arte: Proyecto Patuá Capoeira

Fazer Axé Music no México, de acordo com Buck, é difícil. “Axé Music não existe aqui. Na verdade, as pessoas gostam de ouvir, embora não saibam o que é Axé. Elas não sabem o que fazer com o ritmo. Alguns dançam como se fosse ska ou merengue. Para que seja aceito aqui, temos que fazer adaptações com músicas e ritmos conhecidos”, explica. Ainda assim, o gênero baiano consegue coexistir com a música ranchera e os mariachi, tão comuns e tradicionais na cultura musical mexicana. “O Axé Music é considerado como world music. Isso faz com que não façamos parte de uma cena musical específica e é mais difícil de nos posicionarmos em festivais importantes. Somos considerados músicos exóticos, mas o mexicano escuta de tudo e dança de tudo. Quando ouvem novas músicas tão enérgicas quanto o Axé, curtem demais”.

Samba Mestiço da banda Caboclo

O lançamento do EP Alegría, que se concretizará na próxima quinta-feira, chega para cumprir a meta estabelecida pela Caboclo para 2017. O disco é composto por seis faixas, nas quais fica evidente a qualidade musical e o trabalho de pesquisa que há por trás de cada canção. Caboclo/Besar Tu Boca (Luis Noa Pluma), a primeira do álbum, tem arranjo que lembra as músicas do início do Axé Music, antes de o gênero se tornar amplamente comercial e quando flertava de forma intensa com a lambada. A introdução, intitulada de Caboclo (Santiago Buck), de acordo com Santiago, foi composta “para dar uma visão geral da nossa música e está ligada com Besar Tu Boca, uma mistura de samba-merengue e comparsa cubana”. A faixa Como Te Explico (Juan Alberto Otero Lara) é uma balada romântica, com percussão bem marcada e letra que fala de amor, de relacionamento. Tem Que Diz (Santiago Buck/David Contreras), a terceira, é um forró com letra engajada e cheia de metáforas. “É a primeira composição do grupo e a única música composta em português. Fala dos problemas da gente, do governo e da manipulação da mídia”, pontua Santiago. Alegría de Vivir (Luis Noa Pluma), a música de trabalho, é uma das melhores do EP. A batida, o arranjo e a letra estão em sintonia e lembram muito o que se fazia por aqui, nos áureos tempos do Axé. Tambor (Luis Noa Pluma) é “uma das músicas que mais representam nosso jeito de fazer Axé Music”, destaca Buck. Para fechar o EP, a banda traz uma regravação da música Pata de Perro, da banda Maldita Vecindad y Los Hijos del 5º Patio.

Capa do EP Alegría, da banda Caboclo. Arte: Proyecto Patuá Capoeira

De acordo com Santiago Buck, o processo de produção do álbum foi divertido. “Um experimento do início ao fim”, revela. Cinco músicos foram convidados para colaborar na gravação do disco: Enrique Nativitas (bateria na música Tambor), Saúl Chávez (pandeiro em Alegría de Vivir), Gillo Telo (congas em Tambor e Pata de Perro), Luis Noa Pluma (voz em Alegría de Vivir) e Guilherme Milagres (viola caipira em Tem Que Diz). Guilherme é considerado por Santiago um dos melhores músicos brasileiros presentes no México. O baterista Hugo Mendoza trabalhou de forma intensa para o disco sair com a sonoridade que a banda aspirava, pois, como confidencia Buck, no México não há engenheiro de som que conheça timbaus, surdos, repiques etc. A música Alegría de Vivir mostra o resultado de tanto esforço:

Questionado sobre o que o público mexicano pode esperar do disco, o diretor musical da Caboclo aposta na alegria. “O público mexicano pode esperar músicas com um ritmo novo para eles, mas com um toquezinho de “candela”, que eles já conhecem. Eles poderão dançar, cantar e curtir o Axé Music, o samba mestiza“. E o povo brasileiro? “Nós fizemos uma nova maneira de compor Axé Music, mas com o máximo de respeito. O povo brasileiro pode esperar uma mistura gostosa da sua música, com um toque picante do México”. Quanto ao legado que banda quer deixar com o primeiro álbum, Santiago Buck é categórico: “Todos temos sangue africano, indígena e europeu. O legado é este: aproximar nossos irmãos da música de nossos irmãos”. E essa aproximação pode chegar até aqui, literalmente. Há planos de uma turnê da banda em solo brasileiro: “Quando fundei a banda, tinha o sonho de levar a nossa música para o Brasil, mas isso é complicado, pela falta de recursos. Agora, com o disco pronto, houve muito interesse da comunidade brasileira no México para que isso acontecesse. Graças a isso, a nossa agência de promoção está fazendo contato com a embaixada brasileira e pesquisando meios para que a viagem aconteça”. A gente fica na torcida.

Com a palavra, Katy Barbosa

Foto: Elizabeth Martínez

A atual vocalista da banda CabocloKaty Barbosa, é brasileira e baiana (nascida em Salvador). Santiago a conheceu trabalhando num carnaval. “Ela fazia parte do grupo de dançarinas. No caminho de volta para casa, começou a cantar e, nesse momento, vi que ela poderia ser a voz que precisávamos. O principal aporte que ela deu para o grupo foi a sua energia e presença de palco. Também fez arranjos na voz e nos coros, ensinou novas canções e propôs ritmos para as músicas”, reconhece o diretor.

Katy tem 26 anos, é nascida e criada no bairro Beiru/Tancredo Neves, em Salvador. A música sempre esteve presente em sua casa, pois a mãe é cantora. Começou a cantar aos seis anos, numa comunidade evangélica e, desde então, nunca mais parou. Além de cantar, compõe: “Tenho algumas canções em parceria com duas amigas, mas o mercado é pesado”, avalia. Na capital baiana, teve uma breve experiência na banda Samba Comunidade, da Federação. “Cheguei a gravar DVD com eles, mas somente como vocal”. Aos 19 anos, saiu de Salvador com destino a Fortaleza (Ceará). Em setembro de 2015, deixa Fortaleza e vai para o México. Nesta entrevista exclusiva que concedeu para o Desde, via Instagram, Katy fala sobre o que motivou a ida para o México, como conheceu a Caboclo, quais artistas da Axé Music admira e sobre o apoio que recebe de familiares e amigos para seguir a carreira.

Desde que eu me entendo por gente: o que a fez tentar a carreira no México?

Katy Barbosa: A vontade de crescer e ser independente foi fundamental. Apareceu a oportunidade de mudar para Fortaleza e eu agarrei com unhas e dentes. Lá, vivi por quatro anos e trabalhei em várias bandas de forró. Até então, o México não era um destino. Não foi nada planejado. Quando aconteceu, eu me permiti. Agarrei também a oportunidade e vim sem medo.

Desde: Como conheceu a Caboclo?

KB: A comunidade brasileira no México é muito grande. Na maioria das vezes, todos trabalhamos juntos, brasileiros e mexicanos. Conheci Santiago Buck, fundador e coordenador da Caboclo, numa dessas situações. Ele é uma pessoa maravilhosa.

Desde: Quando e como foi o convite para entrar na banda?

KB: A ex-cantora da Caboclo [Kika Sinatra], que é mexicana e muito minha amiga, decidiu se dedicar à sua vida pessoal. Com isso, a banda precisava de uma cantora para seguir com o projeto. Santiago, como já conhecia o meu trabalho, me convidou e eu logo aceitei.

Desde: Como as pessoas do México recebem o Axé Music?

KB: Os mexicanos são curiosos. Adoram o Brasil e tudo que vem de lá. Não conhecem muito a cultura, é tudo muito novo, mas eles amam. Escutam os tambores e se emocionam. É bonito de ver.

Desde: Quais artistas do Axé Music você admira e tem como referência?

KB: Obviamente, os maiores nomes e referências da nossa música baiana são Ivete Sangalo, Margareth Menezes e Daniela Mercury. Eu não me prendo a um só estilo. Escuto de tudo, aprendo de tudo um pouco, porque música é diversidade.

Desde: Visita o Brasil com frequência?

KB: Estou fora do país há apenas dois anos. Não vou com frequência e a saudade está equilibrada.

Desde: Você recebe apoio de familiares e amigos para continuar na carreira?

KB: Sou filha única. Minha mãe é supercoruja. Tenho primos e amigos que são como irmãos, todos torcem pelo meu sucesso. Eu sou grata a Deus e à vida por ter pessoas assim pertinho, mesmo estando longe.

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Lucas Deluti traz simplicidade e poesia em “Meiga e Grossa”

Lucas Deluti em cena do clipe de Meia e Grossa: temática amorosa e poesia. Imagem: captura de tela

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Você/Tem cheiro de mar de rosa/É minha princesa meiga, grossa/Me enrola e me desdobra/Você/Me deixa estranho, mudo/Parece que gela tudo/É só você chegar/Que eu te adoro, eu te gosto e só você não vê/Meus amigos debocham, minha crush é você/Mesmo se der PT ou não quiser me ver/É certo: eu nunca vou te esquecer“. Esses versos são da música Meiga e Grossa, de autoria de Lucas Deluti, que foi lançada por ele no último sábado, 18 de novembro, com clipe no YouTube. Uma letra simples, que fala de amor não correspondido e que é coerente com as coisas da idade do artista: 15 anos.

É muito bom ver um menino novo, que sofre todas as influências atuais e negativas que tomam conta das letras de algumas músicas populares, fazendo um som que não fala de ostentação, disputa, vingança, baixaria. Em Meiga e Grossa, Lucas fala de amor. Simplesmente. A música tem uma ótima base de reggae, que convida quem ouve a gingar, deixar o corpo seguir na melodia bem marcada do ukulele. A produção musical e o arranjo foram feitos por Luciano Pinto, pai de Lucas e conhecido músico da cena baiana. O clipe segue à risca o que a letra da música diz. É um filmezinho muito bem rodado, simples e poético. Nele, a gente vê o personagem (Lucas) levar o “gelo” da crush e ser zoado pelos amigos. A direção e o roteiro do vídeo foram assinados por Tina Oliveira (mãe de Lucas), Luciano Pinto e Fábio Bahia. Assista ao clipe:

A música gruda, sem usar a tática do refrão fácil e curto. Muito pelo contrário. Meiga e Grossa, para uma música do universo pop, tem refrão incomum, grande. A canção é redondinha e meiga. A prova de que não é preciso partir para a grosseria para ter espaço no campo musical. Um golaço!

Curiosidade

Lucas Deluti, na verdade, é Lucas Oliveira Santos. O “Deluti” do nome artístico é a junção da preposição “de” com as sílabas iniciais dos nomes dos seus genitores. “Lu”, de Luciano; e “Ti”, de Tina. Ele é o Lucas de Lu e Tina. Logo, Deluti. O garoto canta desde a infância.

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