Cinema, Cultura, Desde Então: análise de produtos culturais de outrora, Jornalismo Cultural

A realidade brasileira em “Eles não usam black-tie”

Cena do filme Eles não usam black-tie, de 1981. No registro, Francisco Milani (no centro, de camisa branca), o Sartini; e Milton Gonçalves (na frente, de calça cinza), que interpretou Bráulio. Foto: arquivo da TV Brasil.

Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||
Em 1956, Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) escreveu a peça Eles não usam black-tie. Em 1958, o Teatro de Arena fez a primeira montagem do texto. Em 1981, Leon Hirszman (1937-1987) levou a obra para o cinema. A transposição do livro para a tela não deixou nada a desejar. O filme retrata um Brasil conflituoso, formado por um povo que luta pelo seu ideal.
O drama, que tem pouco mais de duas horas de duração, mostra o cotidiano de uma típica família de classe média brasileira. O pai e o filho mais velho são operários e convivem com o fantasma da instabilidade do emprego, que se dá, principalmente, pela a ameaça de greve e as consequências que ela pode trazer.
Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), o pai, representa o cidadão progressista, que integra o comando de greve porque busca melhoria para todos. Tião (Carlos Alberto Riccelli), o filho, fica concentrado nos seus problemas particulares e não participa do movimento, alegando, de forma não muito convincente, que não pode ser precipitado, uma vez que está prestes a ser pai. Maria (Bete Mendes), a namorada, discorda da postura do futuro marido. Inclusive, a cena que mostra o embate dos dois é tão emblemática quanto a do final do filme, com Romana (Fernanda Montenegro) e Otávio na mesa.
Leon Hirszman fez uma adaptação que conseguiu manter a alma do antológico texto de Guarnieri. O filme é direto, irônico e cheio de alfinetadas à realidade brasileira da época.
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Crônica, Cultura, Desde Já, Jornalismo Cultural

“Eu sempre quis ser artista”

Imagem: Karla Kristyane

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Outro dia, assistindo a um programa de TV, vi um artista da nova geração afirmar que sempre quis ser artista. Achei tal afirmação um pouco estranha. Esse estranhamento acontece de forma recorrente, quando ouço alguém dizer isso. Imediatamente, me perguntei: “Artista é uma questão de ‘querer ser’ ou é uma questão de ‘ser'”? Pois é. Fiquei com esse nó na cabeça.

Antes de desfazê-lo, se é que isso vai ser possível, é importante pensar no conceito de arte. Outro nó. Mas, e acho que todo mundo concorda, arte pressupõe criação. É uma necessidade daquele ser humano criador. Não é só uma busca pelo reconhecimento ou uma iniciativa preocupada com questões financeiras. É, como já disse, necessidade de expressão. E essa expressão pode ser feita em qualquer lugar, para um público diminuto, amplo ou, inicialmente, para ninguém. A satisfação é a mesma.

É bem verdade que, hoje em dia, tudo está muito confuso. Já ouvi jornalista, que trabalha em TV, iniciar uma frase assim: “Nós, artistas que trabalhamos na TV, temos que nos acostumar com o assédio”. What?! Basta aparecer na TV para ser artista? Calma, pessoal! Muita calma! Vamos, todos, colocar os pés no chão.

Às vezes, as pessoas confundem (será?! Hum…) e acham que ser famoso é sinônimo de ser artista. Não é. Nem todo artista é famoso. Nem todo famoso é artista.

Para mim, o artista é, não quer ser. E ponto. Claro que, ao longo do seu caminho, ele vai se podando, melhorando. Contudo, “querer ser artista” me remete a algo que tem tendência a ser produzido. Não nasce. Transforma-se. Pode dar muito certo por um tempo. Por um tempo…
Sigamos.
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Cultura, Exposição, Jornalismo Cultural

O retrato da diversidade

Exposição mostra miscigenação comum às famílias brasileiras

Família Kimbuende Alphonse: a brasileira Kimberly Futi Bispo Kimbuende e o seu pai, o congolês Tuzizila Kimbuende Alphonse. Foto da foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

“O meu pai é descendente de africanos”, “Eu tenho ascendência chinesa”. Nem é preciso fazer uma pesquisa para ter certeza de que afirmações como essas são bem recorrentes em nosso território nacional. Quem comprovou isso foi a fotógrafa gaúcha Fifi Tong, na exposição Origem – Retratos de Família no Brasil. A própria artista é o retrato da miscigenação tão comum às famílias brasileiras: é descendente de chineses e nasceu em Passo Fundo, interior do Rio Grande do Sul.

O livro da exposição: histórias de imigração e de origens. Foto: Raulino Júnior

A exposição foi lançada em 2009, no Memorial do Imigrante (atual Museu da Imigração), em São Paulo, e é resultado de quinze anos de trabalho realizado por Fifi. Tudo começou a partir de uma fotografia envolvendo quatro gerações de mulheres de sua família. O registro despretensioso foi o insight para o nascimento do livro e, consequentemente, da exposição, que tem curadoria de Diógenes Moura.

O retrato que deu origem a tudo. Da esquerda para a direita: Ting Heng Feng, Vivian Ting Tong, Fifi Tong e Valentina Tong. Foto da foto: Raulino Júnior

Origem – Retratos de Família no Brasil, além das fotografias, traz depoimentos de um dos membros de cada família, contando um pouco da  própria história e da relação com o Brasil. Ao todo, são 30 telas, com famílias oriundas de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Grécia, Portugal, Rússia, Congo, Itália, Estados Unidos, Japão, China, Espanha, Argentina e Índia. Durante o passeio pelas fotos, o visitante reforça o quanto o Brasil é diverso e formado por pessoas de todos os cantos do mundo.

Diversidade em retratos. Foto: Raulino Júnior

Em Salvador, a exposição pode ser vista até o dia 8 de setembro (de segunda a sexta, das 10h às 18h; sábados, das 9h às 13h), no Centro Cultural Correios, que fica no Largo do Cruzeiro do São Francisco, no Pelourinho. Passe lá!

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Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Música, Rap, Resenha

O hip-hop suingado de Mr. Armeng

Capa do CD de Mr. Armeng, lançado em 2014. Foto: reprodução da página oficial do artista no Facebook

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Você quer levar uma balada para a sua casa? Se respondeu “sim”, a dica é comprar o CD de Mr. Armeng e botar para tocar. A festa está garantida! Brincadeiras à parte, essa é a sensação de quem escuta o bom disco do cantor e compositor oriundo do Nordeste de Amaralina, bairro soteropolitano com forte inclinação artística. Lançado em agosto de 2014, o álbum tem o selo da Sony Music e é  fruto da vitória de Armeng no programa Breakout Brasil, do Canal Sony, em 2013.

Quem está acostumado com o rap que põe o dedo na ferida e fala das mazelas do povo, vai se surpreender com o trabalho de Mr. Armeng. A música dele não trata disso, mas também não prescinde do ritmo e da poesia. Quer dizer, não trata disso o tempo todo, aposta na leveza. Isso é evidenciado na primeira faixa do CD, Música Popular (Mr. Armeng/Dudu Marote). Num dos trechos, o rapper entoa: “Não vou cantar o sofrimento do povo/Muitos já falaram disso e eu não vou falar de novo“. Recado dado. A música que Armeng se predispõe a fazer é popular, “música pro povo se identificar”.

Claro que, com tal escolha, muitas lacunas surgem. Muito mais no que diz respeito às letras do que às sonoridades. Sendo assim, com Embalos de Sábado (Mr. Armeng/Fall Clássico/Zegon/André Laudz) o CD tem a primeira baixa. A música é desnecessária diante do bom repertório apresentado por Armeng. Nesse sentido, Pele Bronzeada (Mr. Armeng/Dudu Marote), que tem a insossa participação de Saulo Fernandes, acaba indo no mesmo embalo, embora tenha uma linha melódica e uma narrativa romântica mais interessantes.

Em Pra Dominar (Mr Armeng/Dudu Marote/DJ Leandro), Armeng volta a ser o Armeng que todo mundo conhece e apresenta uma música com forte batida de funk, percussão bem marcada e elementos de música eletrônica. Além disso, uma letra encorajadora: “Arregaça as mangas, corre, anda/Não tá satisfeito, busca a mudança/Nada vem fácil, disso eu já sei/Você não imagina quanta coisa eu já passei/Mas fiz disso combustível, vitória é o meu hino/O tempo vai passando e sigo evoluindo“. Nessa faixa, Mr. Armeng divide os vocais com a paraense Gaby Amarantos.

Na sequência, o CD brinda o ouvinte com A Flor e a Fera (Mr. Armeng/Dudu Marote), que surpreende por ser um samba típico, cheio de cuícas, pandeiros e tamborins. Dessa forma, fica bem evidente o caráter eclético da música de Armeng. Isso também é um reflexo de sua formação musical e, certamente, das contribuições do seu famoso pai, Guiguio “do Ilê”.
Com A Noite é Nossa (Mr. Armeng), Armeng traz uma crônica simples, que fala de festa e azaração. Em Vai Viver (Mr.Armeng), faz um golaço, ao misturar rap e soul music. Vale destacar a luxuosa participação de Beto Black e o “empréstimo” que Armeng faz do seguinte verso de Gil: “A Bahia já me deu régua e compasso“. “Faça a sua parte, deixa que vem/O importante é nós aqui, junto no que vem” é a mensagem principal de Faça a Sua Parte (Mr. Armeng/Dudu Marote), a oitava faixa.

Cena do clipe ofcial da música Eu Vim de Lá. Foto: captura de tela do YouTube feita em 20 de agosto de 2015

A penúltima música, Vem Cá (Mr. Armeng/Fred Beats), tem um balanço que contagia e ficou muito rica ao contar com a participação de Adriana Drê nos vocais. Mas com Eu Vim de Lá (Mr. Armeng), a última faixa, Armeng faz a gente descambar no clichê “fechou com chave de ouro”. De fato, é a melhor música do CD. Em todos os sentidos. Nela, vê-se um Armeng cronista de sua própria realidade e de seu tempo. A canção foi especialmente composta para o documentário Menino Joel, dirigido pelo cineasta Max Gaggino. Na letra, orgulho e pertencimento: “Eu vim de lá e sei o meu valor/Eu sou Nordeste, sim, e honro aonde eu vou/Vim pra vencer, e não ser sofredor/Na busca pela vitória é nos que tá, nego“. A música é digna de todos os prêmios; o CD, de todos os aplausos.

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Cultura, Desde em Trânsito, Fotografia, Jornalismo Cultural

#DesdeEmTrânsito: mesa de abertura do XI Enecult

Por Raulino Júnior

A 11ª edição do Enecult (Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura) começou hoje, em Salvador. Até sexta-feira, 14 de agosto, estudantes, pesquisadores e interressados em cultura vão participar de simpósios, minicursos e relatos de experiência. A mesa de abertura do encontro teve a participação de pessoas reconhecidas na área cultural, como Juca Ferreira, ministro da Cultura; Margareth Menezes, cantora e compositora; e Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM). O Desde esteve lá e fez uma cobertura via Twitter (@RaulinoJunior), na estreia do #DesdeEmTrânsito. Veja o resultado.

O atraso faz parte da cultura salvadorense.
O evento estava marcado para começar às 18h. Teve início às 18h54.
As homenagens…
Componentes da mesa I
Componentes da mesa II
O “Saron” dele não é acentuado. O Desde pede desculpa pelo erro.
@PosCultura não é o perfil do Pós-Cultura (UFBA) no Twitter. O Desde pede desculpa pelo erro.
Messias Bandeira é diretor do IHAC. O Desde pede desculpa pelo erro.
Emocionante!
De fato, preocupante…
Pois é.
Fim dos trabalhos.
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Cultura, Jornalismo Cultural, Notícia

Passo a passo sobre os editais do Fundo Nacional da Cultura

Representação Regional do MinC promove oficina de editais em Salvador

Foto: Divulgação

Por Raulino Júnior

Quem estiver interessado em se inscrever nos editais Pontos de Mídia LivrePontos de Cultura Indígena ou no Cultura de Redes e tem alguma dúvida ou travou em alguma parte dos formulários, pode esclarecer todos os questionamentos nas oficinas de editais que estão acontecendo em Salvador. Depois do bairro da Barra, cujo encontro foi no dia 31 de julho, agora é a vez de Plataforma (Centro Cultural Plataforma, amanhã, de 9h às 12h), Uruguai (Espaço Cultural Alagados, 13 de agosto, às 19h) e Barbalho (Incubadora Bahia Criativa, 14 de agosto, de 13h30 às 16h)  sediarem a atividade. A ação é uma parceria da Representação Regional do Ministério da Cultura (MinC) nos estados da Bahia e Sergipe, a Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBA) e a sociedade civil.

Agenda
Plataforma – 12/8

Uruguai – 13/8

Barbalho – 14/8
Para esta oficina, é necessário fazer inscrição. E-mail: bahia.criativa@cultura.ba.gov.br.

Os editais em questão foram lançados em 2 de julho de 2015 e estão com as inscrições abertas até o dia 18 de agosto. Eles fazem parte do Fundo Nacional da Cultura (FNC), que foi criado pela Lei 8.313/1991.

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Cultura, Entrevista, Jornalismo Cultural

“O novo artista do mercado de hoje precisa ser um artista muito mais preparado do que o novo artista do mercado de antes”, afirma jornalista

 Em oficina, jornalista dá dicas sobre como novos artistas da música podem se destacar no mercado

O jornalista Bruno Nogueira, durante a oficina: dicas para novos artistas da música. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

“Como é que eu, novo artista, chamo a atenção das pessoas”? Certamente, muitos profissionais que têm a arte como ofício já se fizeram essa pergunta. A indagação também foi feita pelo jornalista pernambucano Bruno Nogueira, na manhã de ontem, durante a oficina Divulgação e Promoção para Novos Artistas, que integrou o primeiro dia de programação do I Festival Radioca. Com o questionamento, Bruno quis provocar as pessoas que compareceram ao Trapiche Pequeno, no bairro do Comércio, local da oficina. Mas, e você, já pensou sobre isso?

Conceito

Na oficina, que teve como ênfase dar dicas para quem está envolvido com música, Nogueira abordou aspectos relacionados ao início de carreira de um artista. “O novo artista precisa ter um conceito de artista. A pior coisa que um artista faz é dizer que toca de tudo. Tem que ter um conceito bem definido”. O jornalista afirmou também que é importante para o novo artista ter consciência da realidade do mercado, para saber como é possível chegar lá. “Olhar para quem está no entorno é importante, principalmente para saber como essa galera [os outros artistas] conseguiu chegar. O iniciante deve tentar trilhar um caminho similar”.

Quem trilhou o seu caminho há algum tempo foi o cantor, compositor e produtor musical Tenison Del Rey, que, apesar de não ser um iniciante, se interessou pela temática da oficina. “Eu sou gestor de carreira, tenho uma produtora chamada Faro Fino Produções Artísticas e sempre tenho interesse de renovar as ideias, trocar informação, se aproximar do novo. Para mim, isso é fundamental”.  Questionado sobre como vai utilizar os conhecimentos adquiridos na oficina para a carreira do filho, o cantor e compositor Peu Del Rey, de 25 anos, Tenison explicou: “A gente vai juntar a expertise do Bruno, tudo que ele trouxe nesta oficina, com a nossa experiência profissional também. A gente já faz um trabalho focado, muito profissional. Peu tem, aproximadamente, seis anos de carreira e está morando em São Paulo agora. A gente vai juntar essas experiências para chegar num lugar sempre mais profissional na carreira dele”.

Tenison Del Rey: cantor, compositor e gestor de carreira. Foto: Raulino Júnior

Crise da mídia

Um dos pontos mais interessantes da oficina foi quando Bruno abordou aspectos relacionados à divulgação do trabalho de um novo artista. Ao contrário do que muitos pensam e fazem até questão, ser pautado na TV, no rádio e nos sites já não é mais tão importante assim. “O artista deve se preocupar em divulgar o seu trabalho para o público e não para a imprensa. Hoje, a gente vive muito mais uma crise da mídia do que da música. A única utilidade da mídia para o novo artista é quando ele se inscreve em editais”.

Nesse sentido, Bruno deu um conselho fundamental em relação ao uso dos recursos da internet, principalmente das redes sociais em evidência, pelo novo artista. Às vezes, o artista sai criando perfis em tudo que aparece e esquece de fazer um trabalho mais segmentado, potencializado o seu alcance e usando a internet a seu favor. “Ele não precisa chegar a muitas pessoas, mas nas pessoas que importam”, decretou.

Dicas

Ao longo da oficina, Bruno deu dicas sobre a produção e uso de releases, a importância de regsitrar tudo que pode se transformar em “conteúdo propágavel” (fotos de ensaio, vídeos das viagens e etc.) e a necessidade de o novo artista ter alguém que o dirija artisticamente. “Ter um olhar externo é muito importante”, pontuou. Outra dica diz respeito a algo que todo mundo está cansado de saber: investimento financeiro. “Se você é um novo artista e quer se lançar, vai ter que gastar dinheiro. A primeira forma de gastar dinheiro é investir num bom estúdio. Tem que ter uma música boa e bem gravada”.

Com a palavra, Bruno Nogueira

Foto: Raulino Júnior

Bruno Nogueira tem 33 anos e é jornalista, formado pelas Faculdades Integradas Barros Melo: AESO. Estagiou no tradicional Jornal do Commercio e integrou também a equipe dos jornais Folha de PernambucoDiário de Pernambuco e A Tarde. Escreveu para as revistas Rolling StoneBillboard e OUTRACOISA, do cantor e compositor Lobão. Tem mestrado em Comunicação Social, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente, é professor adjunto da UFPE, no curso de Jornalismo e mantém o blog Quarenta e Dois. Interessado por música desde que nasceu, pois o pai era cantor e diretor de rádio, nesta entrevista exclusiva que concedeu ao Desde, Bruno fala sobre o perfil do novo artista e os erros que ele comete na gestão da própria carreira.

Desde que eu me entendo por gente: Quem é esse novo artista ao qual você se refere?

Bruno Nogueira: Isso foi uma provocação que eu fiz logo no começo: a gente precisa repensar o que significa ser um novo artista. Eu não gosto de fazer falas em que eu traga respostas, mas uma das coisas que eu direcionei é de que o novo artista do mercado de hoje precisa ser um artista muito mais preparado do que o novo artista do mercado de antes, em que a gente conseguia ter um espaço para pessoas que não estavam preparadas para entrar no mercado, que hoje a gente já não tem tanto, quando se pensa em programação de festival, edital, essas coisas. A gente tem uma demanda de novo artista, agora tem que ser um artista que já tem um trabalho, com um público, que já esteja pensando na sua divulgação, que já esteja minimamente focado e não seja um bando de doido fazendo música porque não conseguiu arrumar emprego.

Desde: Nesse sentido, qual novo artista brasileiro, na sua opinião, consegue gerir bem a própria carreira?

BN: É tão difícil responder essa pergunta. Eu consigo dizer não um novo artista, mas um médio artista, que até seis anos atrás era um novo artista e hoje já deu uma crescida. A Maglore, daqui de Salvador, é um novo artista; Selvagens à Procura de Lei, de Fortaleza, é um novo artista. Um artista que tem uma trajetória muito curta, mas eles deram sorte: entraram em gravadora, arrumaram gente para distribuir o disco. Isso não os transformam num artista médio, acelera um pouco o processo. O Apanhador Só é um artista relativamente novo, mas a gente já coloca numa classe média. Então, são artistas que se enquadram um pouco dentro desse perfil. Artistas que são menos dependentes de sair em jornal, menos dependentes de sair num blog de música.

Desde: Quais os principais erros que, no intuito de se promover, um novo artista acaba cometendo?

BN: Os principais erros são: a) não saber se conceituar como artista. Eu estou conversando com você, você tem uma banda e eu te pergunto de quê e você começa a falar que é uma banda que mistura todos os ritmos, que tem referência de coisas que não batem e você não consegue simplesmente falar: “É uma banda de rock”. Às vezes, falar que é uma banda de rock ajuda muito a entender do que se trata. Não saber se delimitar é um erro que boa parte dos novos artistas comete. Porque não é fácil também. No começo, você está experimentando muito, tem caminhos para seguir. Você não quer já começar colocando limites; b) um outro erro comum é você se preocupar demais em estar em contato com produtor, com jornalista, com  a cadeia produtiva da música e não entender que o público é a parte fundamental dessa cadeia. Você faz show sem banda, mas não faz sem público. Se uma banda toca num lugar que não tem ninguém assistindo, esse show não aconteceu. Então, um outro erro grande é este: não entender a importância que tem de estar em contato com o público, de você conseguir conversar com o seu público, de você fazer o seu público olhar para outras pessoas e falar: “Seja fã dessa banda também”. Isso é uma coisa que move a música.

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