#5AnosDoDesde, Crônica, Cultura, Desde Já, Jornalismo Cultural

“Quando você sai com as suas amigas, eu também fico superenciumado. Você pensa que eu gosto?!”

Imagem: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Salvador, 1º de dezembro de 2016, um cara falando ao telefone numa das avenidas mais movimentadas da cidade: “Quando você sai com as suas amigas, eu também fico superenciumado. Você pensa que eu gosto?!”. Pois é. Parece mentira, mas foi verdade. E isso abre espaço para a gente pensar sobre como as pessoas se comportam numa relação amorosa. A era da dominação ainda não passou e o respeito parece ser um elemento dispensável no convívio a dois.

Já ouvimos dizer por aí que ninguém é de ninguém, tem até livro com esse título. O fato é que ninguém é de ninguém mesmo e isso tem que ficar bem pontuado numa relação. A sociedade estimula essa coisa violenta da posse e isso não é legal não. Nem um pouco. Antes de a gente entrar na vida da outra pessoa, a outra pessoa já tinha a vida dela. Ponto. Isso não pode ser desrespeitado em troca de “prova de amor” ou coisas correlatas. Respeito, sempre! Privação da liberdade, nunca!

É estranho saber que uma pessoa se limita para não desagradar quem está ao seu lado e que, ironicamente, diz que a ama. Que amor é esse? Quem ama, não coíbe. Quando o amor convive com a repressão, é sinal de que alguma coisa não está caminhando bem. Isso evidencia falta de confiança, falta de empatia, falta de amor ao próximo.

Opinar sobre a liberdade do outro não passa de intromissão. Por trás de um “Você pensa que eu gosto?!”, tem um bocado de coisa que não presta: machismo, egoísmo, intimidação… A nossa vida é nossa. Não pertence a ninguém. Isso precisa ser respeitado.

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#5AnosDoDesde, Cultura, Desde Então, Jornalismo Cultural, Música

Só Pra Contrariar Só Para Curtir. E muito!

Capa do CD Depois do Prazer, um clássico na discografia do grupo Só Pra Contrariar. Imagem: reprodução do site da banda

Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora|| 

Em 1997, o grupo Só Pra Contrariar (SPC) lançou um CD que ficaria marcado por toda a sua trajetória: Depois do Prazer (BMG). O disco foi produzido pelo então vocalista Alexandre Pires e por Romeu Giosa. A direção artística teve a assinatura de Sérgio de Carvalho. Para quem é romântico e gosta de música que fala de amor e de relacionamento, Depois do Prazer é uma excelente referência.

O CD é repleto de sucessos e, de acordo com informações do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, vendeu mais de três milhões de cópias no Brasil. A obra tem músicas com boas letras e arranjos muito bem executados. A começar pela faixa que dá título ao CD. Composta por Chico Roque e Sérgio Caetano, a música Depois do Prazer mostra a complexidade humana no âmbito dos sentimentos. A letra traz versos que, aparentemente, soariam controversos; mas, no fundo, todo mundo sabe que eles revelam uma verdade muito possível: “Tô fazendo amor com outra pessoa/Mas meu coração vai ser pra sempre teu/[…]/Posso até gostar de alguém/Mas é você que eu amo”. Na faixa seguinte, Tá por Fora (Adalto Magalha/Lourenço), o mote é o desgaste de uma relação, embora o eu lírico não queira dar o ponto final no enlace: “Amor, nosso amor anda meio doente/Dando a impressão que está tudo acabado/Nossa felicidade já não anda contente/E não nos olhamos tão apaixonados/[…]/Dizer adeus a quem se ama/Tá por fora”.

Com Mineirinho (Alexandre Pires/Lourenço), o SPC mostra que o samba é a base do som da banda. Isso se repete em Doido Varrido e Artilheiro do Amor, que também são composições de Alexandre Pires e de Lourenço. Mineirinho tem uma malandragem comum ao universo do samba e a letra reforça o estereótipo do mineiro “come-quieto”: “Eu não tenho culpa de comer quietinho/No meu cantinho, boto pra quebrar/Levo a minha vida, bem do meu jeitinho/Sou de fazer, não sou de falar”Doido Varrido, como o próprio título já entrega, fala de alguém que está amando de forma exacerbada, que está doido de amor. Para encerrar a trilogia de letras divertidas do CD, eis que surge Artilheiro do Amor. A música usa uma metáfora simples, mas a letra criativa a enriquece: “A galera me disse que nunca viu ela tão empolgada/Mas eles querem saber qual será a minha jogada/Eu sei que esse gol não será fácil de marcar…”.

Quando é Amor (Carla Morais/Chico Roque) apresenta sentimentos típicos de quem está apaixonado e é o retrato de um romantismo próprio do SPC: “A gente sente, é pra valer/O corpo treme todo, a voz não quer sair/Não dá pra disfarçar, os olhos não conseguem mentir”Minha Metade é uma versão da música Take Me Now, de David Gates, feita pelo compositor Luiz Cláudio. A letra reflexiva mostra um eu lírico em busca de sua metade, com a esperança de não mais sofrer por amor. O arranjo e a melodia são primorosos. Assim como os de Você de Volta (Alexandre Pires/Marquinhos). Contudo, nessa, o mote é outro. O personagem quer ser perdoado porque menosprezou um alguém que vivia aos seus pés: “Amor, não dá pra te esquecer/Tô sem razão, só te fiz sofrer/O teu perdão, pra mim, tem gosto de prazer…”. Em Tem Tudo a Ver (Peninha), o SPC descreve a sensação de quem, sem aviso, é fisgado pelo amor: “[…] Foi, quem sabe, o teu sorriso/Quando esbarrou comigo/Esse amor foi me pegando/Sem aviso”. Com Amor Verdadeiro (Luiz Cláudio/Regis Danese), o CD chega ao ápice do romantismo. É uma declaração de amor daquelas que pouca gente resistiria. Os primeiros versos dizem: “Olhe dentro de mim/Você pode se ver/A todo momento”. Demais, não é?

Caminhando para a parte final do disco, o ouvinte é brindado com Mistérios do Coração (Luiz Cláudio/Regis Danese). O tema é um término de relacionamento: “Só o tempo pra dizer/O que vai acontecer/Minha vida, sem você, como será?”. O arranjo, como o da maioria das músicas, é muito bem feito. A propósito, essa é uma qualidade presente em todo o CD. Pura Verdade (Alexandre Pires/Lourenço) e Nosso Amor (Luiz Barbosa/Reinaldo Barriga) não são propriamente ruins, mas destoam das outras canções da obra. Caí na Real (Luiz Cláudio/Regis Danese), uma das melhores músicas de Depois do Prazer, é outra declaração de amor extremamente romântica; basta apenas um verso para comprovar isso: “Te amo além do que o amor é capaz de amar”Menina Mulher (Alexandre Pires/Marquinhos) conta a história de alguém que não percebia que era o objeto do desejo de uma menina. Porém, quando ela vira mulher, o amor é notado e correspondido: “Me dá todo amor que sempre escondeu no peito/Foi surpresa, fiquei tão sem jeito/Eu que não via nem o seu olhar/Que sonhava um dia, quem sabe, me amar”. A música é boa e narra algo que, certamente, acontece com frequência no cotidiano.

Depois do Prazer é um clássico na discografia da banda Só Pra Contrariar. Vale a pena escutar as músicas. Se for a dois, é melhor ainda. Depois, você nos confidencia se foi ou não um prazer.

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Não larga O DOCE, pIVETE!

Ivete Sangalo, acompanhada pelo instrumentista Hugo Sanbone, em trecho do vídeo da música O Doce: gênese da Axé Music. Imagem: reprodução do vídeo

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

A produção da cantora Ivete Sangalo publicou, ontem, na Vevo, portal de clipes musicais, o vídeo oficial da música O Doce. O registro é parte do projeto Ivete Sangalo – Acústico em Trancoso, lançado pela baiana em julho deste ano. Assim como Bora Amar, da Banda Avenida Sete, lançada no ano passado, O Doce é um bom respiro dentro da vertente da música baiana classificada como Axé Music. Isso porque a canção não segue a linha ditada pelo atual momento do universo musical mais popular: não fala de balada, de marca de bebida, não traz o nome da cantora na letra, não enaltece partes físicas dos seres humanos e não deixa o eletrônico sobrepujar o aspecto percussivo da nossa musicalidade.

Composta por Gigi e Filipe EscandurrasO Doce carrega muitos elementos embrionários da Axé Music. Faz a gente lembrar do fricote, do merengue e da lambada. Nesse sentido, há trechos que pedem uma dança a dois, há trechos em que o melhor é dançar sozinho e atender ao famoso pedido de “tira o pé do chão”. E, como fala de amor, um tema universal, a letra é certeira, repleta de simplicidade e de metáforas modestas (como as presentes nas canções de Luiz Gonzaga, por exemplo), o que é muito bom.

Neste período do ano, os artistas de Axé se movimentam para lançar as músicas que estarão na boca do povo durante o verão. Esse, talvez, tenha sido um dos fatores que contribuíram para a pobreza de nossa música nesses últimos anos. Há uma luta desenfreada para ser o artista dono da “música do Carnaval”. Sendo assim, muitos cantores e bandas lançam músicas que são feitas, apenas, para ganhar o título. Se um curioso fizer uma rápida pesquisa na discografia recente dos artistas de Axé, vai perceber que muitas das canções lançadas para o verão não integravam projetos de CD e DVD de carreira. Ou seja, a canção foi gravada somente para disputar o título de “música do Carnaval”. A própria Ivete caiu nessa esparrela: O Farol (Ramon Cruz), aposta da cantora no ano passado, foi lançada seguindo essa gramática e não brilhou.

Até nisso O Doce é diferente. A música não caiu de paraquedas em lugar nenhum. É fruto do projeto de Trancoso e, pelo que se percebe das interações nas redes sociais da internet, está ganhando o público de forma espontânea, sem lobbycomo deve ser. No vídeo citado no início desta resenha, vê-se uma Ivete Sangalo feliz, comprometida com a música e certa de que marcou um golaço. Uma pivete, que largou o doce, mas agora o traz de volta.

O Doce
(Gigi/Filipe Escandurras)
Não se vá
Que a gente é par
Nós somos céu e mar
Não deixe o nosso amor fugir
Vem tomar
Um guaraná
Bater um papo já
Na rua pra se distrair
Não invente compromisso
Acho bom parar com isso
Tem alguém que te quer
(Tem alguém que te quer)
Não me responsabilizo
Tudo a ver você comigo
Sem você tudo é pequeno
Tudo fica mais ou menos
Ah! Vem cá!
Não tira o doce da boca
Da sua criança
Ah! Vem cá!
Não tira o doce da boca
De quem te ama

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A coletiva de imprensa e as vaidades miúdas

ACM Neto faz coletiva para lançar a campanha “Salvador, capital oficial do Verão”. Imagem: reprodução de vídeo

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Hoje, a equipe de Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Neto (ACM Neto), prefeito de Salvador, realizou uma coletiva de imprensa, em São Paulo, para lançar a campanha Salvador, capital oficial do Verão. O evento teve como intuito falar das novidades da cidade para a estação das férias e, claro, atrair turistas daquelas bandas para cá. Normal. Afinal, a equipe de marketing de ACM Neto é sempre infalível. A coletiva foi transmitida, ao vivo, na página oficial do Facebook do chefe do executivo municipal. Outra ação certeira. Contudo, e é algo que parece ser absurdo de questionar, qual deve ser a postura dos profissionais da imprensa nessas ocasiões? A resposta parece óbvia, mas não é.

Chega a ser vexatória a forma como alguns profissionais atuam nesses eventos. Numa coletiva, em condições normais de temperatura e pressão, jornalistas e outros produtores de mídia devem fazer perguntas que, de fato, esclareçam o assunto que motivou a reunião, não é? Hoje em dia, não. A vaidade não deixa. Para eles [jornalistas e produtores de mídia], principalmente “os mais chegados” com os responsáveis pela coletiva, o importante é mostrar o quanto eles são chegados. Quem deveria noticiar, quer ser parte da notícia. Ou, sendo um pouco mais realista, quer ser a própria notícia. É uma autorreferência de lá, um questionamento mal planejado de cá, e assim o laço amistoso se mantém.

Na coletiva de hoje, ACM Neto ouviu, de um famoso apresentador de Salvador, a seguinte questão: “Prefeito, comenta-se muito nos bastidores que o jingle da sua campanha é uma [sic] forte candidata a ser música do Carnaval. Eu não sabia se o senhor já sabe disso [sic], já chegou pra você? Já sabe disso? Dessa informação?”. Ao que o prefeito respondeu, sorrindo: “Não. Fora de cogitação. Gostei da repercussão que teve. Foi muito bacana! Enfim… de fato, foi um hit que pegou, mas política, política; Carnaval, Carnaval. Andam separados”.

Enfim, de fato, muitas outras coisas deveriam andar separadas, mas a vaidade não deixa. “Bota os pés no chão, Salvador!”.

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Ironias Profissionais

Celular: um objeto tão pequeno diante da vida. Foto: reprodução do site da Samsung

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Hoje, é dia de agradecer a dois ladrões profissionais. Obrigado, queridos! A vida precisa de uma emoçãozinha de vez em quando, não é? Não bastam as estripulias dos nossos políticos. É preciso algo que faça o nosso coração acelerar, para comprovar que estamos vivos. É bacana demais!

Só sendo muito profissional mesmo para poupar mais uma vida, mesmo tendo todo o cenário para transformar um roteiro sem graça numa bela tragédia brasileira. Diga aí: qual bandido vai entender a reação da sua vítima? Quase nenhum! Tem que ser profissional.

O cara vai andando, de boa (expressão da moda por aqui), e é abordado por dois profissionais desprovidos de algumas oportunidades na vida. Aí, esses profissionais, que estão numa motocicleta (provavelmente, emprestada por algum outro profissional bróder. Porque, coitados, eles não têm condições de ter uma moto. Eu superentendo!), emitem expressões rápidas, com rispidez, e pedem para o carinha passar o celular. O carinha passa, imediatamente (ele adora viver!). Só que, na agonia, a vítima joga o celular com um pouco de força. O objeto passa por cima da moto e cai no chão. Um dos ladrões, tão sensato o menino, que estava com uma arma de fogo na mão, não faz uso dela. Olha que legal! Ele não poderia ter apertado o gatilho? Poderia, mas ele era profissional. Que bala!

No final, os dois profissionais vão embora levando o celular, um objeto tão pequeno diante da vida, não é? Eles estão felizes. Mais um dia cumprido!

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Vivendo em outro mundo

Nem Mesmo Todo o Oceano: drama, política e alienação. Foto: Elisa Mendes

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

É possível uma pessoa ficar totalmente alheia à situação de um país em plena Ditadura Militar? O espetáculo Nem Mesmo Todo o Oceano, que esteve em cartaz de 3 a 6 de novembro, na Caixa Cultural, em Salvador, mostra que sim, apesar de deixar evidente que a falta de engajamento já é uma ação e, como qualquer outra, tem as suas consequências. A peça faz parte do repertório da Cia OmondÉ, do Rio de Janeiro, e é uma adaptação de Inez Viana (que também assina a direção) para o romance homônimo do escritor mineiro Alcione Araújo (1945-2012).

Nem Mesmo Todo o Oceano narra a história de um jovem que sai do interior de Minas Gerais para estudar medicina no Rio de Janeiro nas vésperas do golpe militar. Quando o golpe se estabelece, o então estudante de medicina parece viver em outro mundo, evidenciando uma alienação e uma estupidez sem tamanho. Todas as suas ações nos “anos de chumbo” são egoístas, contrariando o espírito de um país, principalmente da maioria dos estudantes universitários, que lutava de forma coletiva para a transformação social.

Depois de formado, torna-se médico legista do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), um órgão repressor criado pelo Regime Militar. Lá, percebe a real situação do país e vê-se envolvido em tramas tão torturantes quanto a própria repressão.

Em cena, seis excelentes atores da Companhia  Iano SalomãoJefferson SchroederJúnior DantasLeonardo BricioLuis Antônio Fortes e Zé Wendell  se revezam no papel do jovem e de outros interessantes personagens do texto. O espetáculo é muito bom e merece ser visto. Numa entrevista para uma emissora de rádio de Salvador, Inez afirmou que a OmondÉ retorna aos palcos da capital em 2017. Vamos torcer.

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O “serto” é ser “falço”?

Foto: Eduardo Dantas

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Viver não é fácil. Isso já foi amplamente dito por aí. Viver e lidar com pessoas é algo mais difícil ainda. E olha que eu adoro gente! Adoro mesmo! Quando passo por locais em que há muitas pessoas reunidas, a vontade que tenho é de falar com todo mundo, saber das histórias, dos rumos da vida. Sou um curioso nato. Gente me estimula. Não é por acaso que o nome do blog é Desde que eu me entendo por GENTE. Contudo, como diz uma famosa música do nosso cancioneiro, “não está sendo fácil/não está sendo fácil viver assim…”. Nesse “assim”, cabe um monte de coisa. Inclusive, ter que fazer tipo para viver. Definitivamente, não é a minha. Não dá. E ponto.

Basta observar algumas relações interpessoais para ter asco. Pelo menos, essa é a minha sensação. Há situações em que, nitidamente, a falsidade serve de mola propulsora para se conseguir algo. Essa, na verdade, é a regra atual. É um elogio aqui, uma adulação ali, um bajulamento acolá. Dessa forma, a vida segue e os objetivos são alcançados. Tudo na base do sorrisinho, abracinho e tapinha nas costas. Enfim, estamos perdidos.

Às vezes, chego a pensar que o certo é ser falso. Dá menos dor de cabeça. Não que eu concorde com isso, mas muita gente já percebeu que esse é o caminho das pedras. Ou melhor: o caminho mais fácil. O das pedras é feito por quem está do outro lado, do embate. Ser combativo não é e nunca vai ser a forma mais agradável de viver em sociedade, mas, apesar de tudo, vale muito a pena. De verdade. É mais honesto. Em todos os sentidos.

Da falsidade e dos conchavos nascem os nossos piores líderes e representantes, e as nossas referências também. Parece que quase ninguém faz essa associação. Inconscientemente (ou com consciência mesmo!), a sociedade perpetua muita coisa que, para manter um discurso bonitinho e apropriado, diz que rechaça. É a vida…

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Tradição nordestina no palco do Teatro Martim Gonçalves

Flávia Gaudêncio na pele de Frô: aula-espetáculo sobre tradição nordestina. Foto: Alessandra Nohvais

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

No mês em que se comemora o Dia do Nordestino (8 de outubro), uma boa forma de homenagear e conhecer um pouco mais as manifestações culturais oriundas do Nordeste é prestigiando a aula-espetáculo Trançados de Memória de uma Atriz-Brincante, em cartaz no Teatro Martim Gonçalves (Av. Araújo Pinho, Canela, Salvador-BA), até amanhã. A peça é dirigida por Érico José e foi concebida pela atriz e pesquisadora Flávia Gaudêncio, que atua na montagem. O espetáculo é fruto da pesquisa de mestrado da atriz.

Embora Flávia esteja sozinha no palco, Trançados está muito longe de ser um monólogo. A atriz propõe uma participação efetiva da plateia, que interage com frequência e também contribui para a tessitura da história. Trata-se de um “monólogo dialogado”, com todas as contradições que a expressão carrega. A aula é o encontro do trabalho de atriz de Flávia e a cultura brasileira, principalmente a manifestação do Cavalo-Marinho, tradição popular da Zona da Mata de Pernambuco e do sul da Paraíba. O folguedo recebeu o título da Patrimônio Imaterial do Brasil, em dezembro de 2014.

Ao dar vida a três personagens (AmbrósioVéia do Bambu e Mané Taião), a talentosa Flávia mostra as características e costumes do Cavalo-Marinho. O espetáculo tem um humor no ponto e conta com projeções de vídeo para auxiliar na narrativa. Impressiona a forma como a atriz empresta o corpo para assumir cada identidade no palco. É um trabalho de entrega bem preciso. No desfecho, Flávia brinda a plateia com a carismática Frô, que traz as características mais marcantes dos três personagens citados anteriormente. O único senão diz respeito à sonoplastia, que interferiu, muitas vezes, no momento em que a atriz estava dando o texto. O som e a fala de Flávia ficaram sobrepostos em alguns momentos, prejudicando a escuta do texto falado.

O espetáculo é valido (assim mesmo, sem acento, para brincar com um dos trechos da peça) e terá a última apresentação da temporada amanhã, às 18h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Quem estuda na Universidade Federal da Bahia (UFBA), não paga. Para isso, basta levar o comprovante de matrícula e um documento oficial com foto.

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Para a peça “A Incelença”, só não vai quem já morreu

A Incelença: humor, drama e um elenco afinado. Foto: Thainá Oliveira

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Foi necessário adaptar os versos da famosa música Atrás do Trio Elétrico (1969), de Caetano Veloso, para intitular esta resenha, cujo propósito é falar do espetáculo A Incelença, que está em cartaz no Teatro Sesc Casa do Comércio, até amanhã, 31 de agosto, às 20h, com entrada franca. Assim como a música, a comédia é dinâmica, cheia de ritmo e tem um elenco que “bota pra rachar”.

O texto de 1962, de autoria do pernambucano Luiz Marinho, ganhou uma montagem dirigida por Ramón Reverendo para finalizar mais uma turma do curso de teatro oferecido pelo Sesc. Ou seja, o espetáculo é feito por artistas que não têm muita experiência, mas que encheram o palco com o talento e a vontade de fazer o melhor. Todo o elenco estava afinado. A única ressalva diz mais respeito a um aspecto técnico do que artístico: é preciso que os atores projetem mais a voz, para que a famosa “velhinha da última fileira” escute melhor o que eles dizem. Essa falha ficou evidente nos primeiros momentos e em algumas outras poucas ocasiões do espetáculo, que dura cerca de 40 minutos.

A história de A Incelença gira em torno da morte de Quirino. No velório, D. Sindá, a viúva, descobre que o marido tinha uma amante e o enredo se desenrola a partir daí. Personagens caricatos (a beata, as carpideiras, o coronel, o guarda etc.) entram em cena e tudo que costuma acontecer num velório é colocado no palco com toques de humor e de drama: maledicências, conversas aleatórias, piadas, fofocas, comilança e, claro, as incelenças (cantigas executadas em virtude de falecimento). O universo da peça remete o espectador aos textos de Ariano Suassuna e Dias Gomes. É impossível não fazer essa associação. A atmosfera nordestina foi bem criada pelo diretor e pelos atores, tanto no cenário quanto no figurino e nas interpretações.

A Incelença é imperdível. Se você está vivo, vá!

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“O novo sempre vem”

Imagem: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Já percebeu que quando você está começando um novo projeto, com aquela expectativa danada, cheio de ideias e concentrando as suas energias para que tudo dê certo, alguns sinais aparecem? Do nada, tudo começa a se conectar. Uma coisa puxa outra e, num dado momento, tudo que você planejou começa a acontecer. Isso é incrível! E animador.

Novidades nos enchem de vida. É muito bom ter coisas novas para contar, poder dividir, ter os olhos brilhando. A gente enche o saco de familiares e amigos, falando sobre aquilo que está nos motivando. É uma necessidade maior de compartilhar, de ter o aval, de ser abraçado (metafórica e fisicamente).

O engraçado é que a gente coloca o assunto na roda até mesmo quando não tem contexto para tal. Por estarmos tão imbuídos naquilo, toda conversa de que participamos, e achamos uma brecha, é motivo para falar daquilo que não sai da nossa cabeça. Isso acontece no dia a dia. Na fila do banco, no ônibus, no trabalho. Quantas vezes você foi vítima disso? Ou seja: quantas vezes alguém dividiu uma novidade com você? Falando com aquele entusiasmo peculiar e querendo a sua opinião sobre tudo que foi dito? Tenho certeza de que já passou por isso. Ou como emissor ou como receptor.

As redes sociais da internet fizeram com que tudo se potencializasse. Nelas, todo mundo faz os dois papéis. Todo mundo tem algo para contar, para dividir e, quase sempre, espera o retorno de quem está do outro lado da tela. “O novo sempre vem” e quer ter audiência. Muitas vezes, tem. Os emissores das novidades agradecem.

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