Cultura, Jornalismo Cultural, Sem Edição, Sem Edição - Da Boca pra Fora

Sem Edição| Paz, Justiça e Instituições Eficazes ⇨ Série “Da Boca pra Fora”

Por Raulino Júnior 

A série Sem Edição – Da Boca pra Fora, que integra o Pacotão do DEZde, projeto que comemora os dez anos do blog Desde que eu me entendo por gente, reflete sobre dez dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), na Agenda 2030.

Neste décimo e último vídeo, o jornalista e professor Raulino Júnior limita-se a falar sobre as metas da ONU para o objetivo em destaque. Nesse sentido, fala da promoção de sociedades pacíficas e inclusivas, da redução da violência e da mortalidade, da corrupção e do suborno, enfatiza o papel da imprensa no cumprimento das ações propostas pela ONU e reforça a importância de judicializar as violências sofridas. Não deixe de ver!

Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou um plano de ação para “pôr o mundo em um caminho sustentável”. O plano resultou na Agenda 2030, que é uma “lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas até 2030”. Essas tarefas têm como objetivo “erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade”. A Agenda 2030 tem um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)1. Erradicação da Pobreza2. Fome Zero e Agricultura Sustentável3. Saúde e Bem-Estar4. Educação de Qualidade5. Igualdade de Gênero6. Água Potável e Saneamento7. Energia Limpa e Acessível8. Trabalho Decente e Crescimento Econômico9. Indústria, Inovação e Infraestrutura10. Redução das Desigualdades11. Cidades e Comunidades Sustentáveis12. Consumo e Produção Responsáveis13. Ação Contra a Mudança Global do Clima14. Vida na Água15. Vida Terrestre16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes17. Parcerias e Meios de Implementação.

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2021: Paulo Freire é 100!, Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Resenha

Em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire convida o leitor a se olhar no espelho

     Livro foi lançado em 1968 e é considerado o mais famoso do educador pernambucano

Imagem: reprodução do site Martins Fontes Paulista

Por Raulino Júnior||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Para encerrar a série 2021: Paulo Freire é 100!, que teve como objetivo fazer resenhas e refletir sobre algumas obras do educador pernambucano, o destaque vai para o livro Pedagogia do Oprimido, lançado em 1968, quando Freire estava exilado no Chile. É uma das obras mais conhecidas do autor e leitura recomendada em cursos de licenciatura do Brasil e do exterior. Nela, Paulo Freire faz uma analogia entre a sociedade que está fora da escola e a que faz parte do cotidiano escolar, enfatizando os papéis de cada pessoa nesse universo. Nesse sentido, mostra como o oprimido e o opressor estão, a todo tempo, num campo de disputa e como um assume o lugar do outro, a depender das circunstâncias.
No 1º capítulo, Justificativa da Pedagogia do Oprimido, Freire fala das contradições entre opressores e oprimidos e mostra como o opressor passa a ser oprimido e como o oprimido passa a ser opressor. Chega a dizer que os oprimidos hospedam o opressor em si. Isso, infelizmente, está presente nas relações sociais, dentro e fora da escola. Alguns professores reproduzem opressões que sofreram e os estudantes, por sua vez, tomam aquilo como uma manifestação de poder e, de vítimas da opressão, passam a oprimir. Tal fato pode acontecer de imediato, no presente, ou no futuro, já na vida profissional. Assim, há uma infinita permanência da opressão. “O  ‘homem novo’, em tal caso, para os oprimidos, não é o homem a nascer da superação da contradição, com a transformação da velha situação concreta opressora, que cede seu lugar a uma nova, de libertação. Para eles, o novo homem são eles mesmos, tornando-se opressores de outros. A sua visão do homem novo é uma visão individualista. A sua aderência ao opressor não lhes possibilita a consciência de si como pessoa, nem a consciência de classe oprimida”, p. 18.
Na publicação, Freire fala do opressor, mas a sua investigação é no papel do oprimido. Fica evidente a chamada de atenção do Patrono da Educação Brasileira para esse agente, vítima e algoz no processo de relação humana. “Há, por outro lado, em certo momento da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor. Pelos seus padrões de vida. Participar destes padrões constitui uma incontida aspiração. Na sua alienação querem, a todo custo, parecer com o opressor. Imitá-lo. Segui-lo. Isto se verifica, sobretudo, nos oprimidos de ‘classe média’, cujo anseio é serem iguais ao ‘homem ilustre’ da chamada classe ‘superior'”, p. 28.
Numa parte do capítulo, Paulo Freire diz que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. Significa que, para superar os problemas, sociais e escolares, deve haver cumplicidade, ajuda mútua. O oprimido só se reconhece como tal quando existe um opressor. “Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua ‘conivência’ com o regime opressor”, p. 29. Ou seja, o problema deve ser identificado e reconhecido. Só assim, uma intervenção pode ser pensada.
O capítulo 2, A Concepção Bancária da Educação como Instrumento da Opressão, é uma análise crítica de Freire sobre as práticas pedagógicas muito comuns nas escolas brasileiras. O desafio ainda é superá-las. O educador mostra como essas práticas perpetuam a opressão, pois são punitivas, e fazem parecer que só o professor sabe; o estudante é visto como um ser vazio, sem conhecimento. “Na visão ‘bancária’ da educação, o ‘saber’ é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro”, p. 33. É a prática de depositar, guardar e arquivar os conhecimentos.
O ideal, de acordo com Freire, é pensar numa escola em que os educadores sejam humanistas (e pratiquem uma educação problematizadora), em detrimento do educador bancário. Nesse cenário, o educador passa a educando e o educando a educador. Há uma troca de conhecimento, superando a dicotomia “sabe/não sabe” para “todos sabem”.
A dialogicidade – Essência da Educação como Prática da Liberdade é o título do capítulo 3. Nele, Freire destaca a importância do diálogo na prática pedagógica e na emancipação do ser. A educação libertadora pressupõe o diálogo, porque mostra como o educador e o educando podem contribuir para a a produção do conhecimento de forma conjunta. “A autossuficiência é incompatível com o diálogo”, p. 46. A educação dialógica se faz em rede. “O importante, do ponto de vista de uma educação libertadora, e não ‘bancária’, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros”, p. 69. Ou seja, não há espaço para sabichões de rodapé de livros, que acham que são os donos da verdade e, como isso, oprimem as pessoas.
No último capítulo, A Teoria da Ação Antidialógica, Freire retoma muito do que foi discutido nos capítulos anteriores. Só que aqui ele dá as coordenadas para uma práxis libertadora. “Na práxis revolucionária há uma unidade, em que a liderança – sem que isto signifique diminuição de sua responsabilidade coordenadora e, em certos momentos, diretora – não pode ter nas massas oprimidas o objeto de sua posse”. p 71. A revolução exige o diálogo. Não existe revolução com imposição. “A nossa convicção é a de que, quanto mais cedo comece o diálogo, mais revolução será”, p. 72. Isso não pode ficar só no discurso. Freire afirma que tem que ter uma prática. A teroia antidialógica é opressora, de dominação. Já a dialógica é libertadora e revolucionária. A primeira manipula; a segunda, convida para pensar junto. Paulo Freire afirma que “a manipulação, na teoria da ação antidialógica, tal como a conquista a que serve, tem de anestesiar as massas populares para que não pensem”. A educação não pode prescindir deste objetivo: fazer as pessoas pensarem.
O pernambucano fala também sobre invasão cultural, que caracteriza como sendo “a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão”, p. 86. Uma discussão sempre relevante. Principalmente, se a gente considerar o contexto da escola. Nessa seara, dá para discutir racismo, sexismo, etarismo, feminismo, homofobia e tantos outros temas que devem estar na sala de aula.
Pedagogia do Oprimido é uma obra que faz a gente se olhar no espelho. É, muitas vezes, doloroso, mas tem que ser feito.
Referência:
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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Sem Edição| Salete Maria da Silva, Assédio Moral na UFBA, Feminismos e Literatura de Cordel

Salete Maria da Silva: “O assédio moral é um uso exacerbado do poder”. Foto: Felipe Fernandes

Por Raulino Júnior 

Salete Maria da Silva se formou em Direito, na Universidade Regional do Cariri (URCA), tem mestrado em Direito, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), e é doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, da Universidade Federal da Bahia (PPGNEIM/UFBA). É docente do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA (FFCH/UFBA), cordelista feminista e compositora. É uma das coordenadoras do JUSFEMINA, grupo de pesquisa e ação em gênero, direito e políticas para a igualdade.

Na primeira parte da entrevista exclusiva que concedeu para o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, a professora fala sobre a pesquisa que vem desenvolvendo na UFBA acerca de assédio moral. Ela traz dados, comenta casos e caracteriza a prática: “É um exercício do autoritarismo”.  Para saber mais sobre o estudo, as pessoas interessadas podem entrar em contato pelos e-mails salete.maria@ufba.br e salete.maria.silva@gmail.com. Além de trazer o assédio moral para o centro do debate, a professora reflete sobre a presença de mulheres no universo da Literatura de Cordel. Ela foi considerada a autora que escreveu o primeiro cordel feminista da história do Brasil. Foi produzido em 1994. Durante o bate-papo, Salete aborda também os feminismos.

Na segunda parte, a professora fala sobre feminismo raiz, feminismo hegemônico e como ela começou a lutar pela causa, comenta sobre as eleições na Ordem dos Advogados do Brasil -Seção Bahia (OAB-BA) e diz como é feita a gestão de pessoas no JUSFEMINA. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais a Salete Maria da Silva! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Salete! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos ao professor Felipe Fernandes, que ajudou na produção e fez as fotos da entrevista. Muito obrigado!

OBSERVAÇÃO: por causa de um problema técnico, a entrevista foi interrompida. Desde já, pedimos desculpas pelo inconveniente.

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Cultura, DEZde, Jornalismo Cultural, Texto de Quinta

A Bolha da Lacração: pessoas que usam “É sobre isso” e “Paz” como argumento e querem controlar como os outros administram as próprias redes sociais

  Se não for pra lacrar eu nem saio de casa/ Olha, aê/Olha, aê*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Este texto é um diálogo com um artigo de Djamila Ribeiro, publicado no site do jornal Folha de S. Paulo, em 4 de fevereiro de 2021, e intitulado Pessoas mimadas não respeitam quem veio antes em tempos de debates rasos. Nele, a filósofa, professora e escritora chama a atenção para a importância da escuta. Principalmente, o ato de escutar quem é mais velho ou mais experiente no assunto vida (ou quaisquer outros assuntos!). Djamila narra fatos de sua trajetória, mostrando como escutar foi importante para o seu crescimento e critica “uma galera mimada, que não respeita quem veio antes ou adere a um anti-intelectualismo absurdo que não passa das três linhas de Twitter”. No desfecho, traz, na minha opinião, a alma do artigo, quando diz: “Pessoas que não limpam os pés e pedem licença antes de entrar na casa dos outros; acreditam que um post de Instagram dá conta de responder a tudo. Pessoas com 20, 30 anos, e com todas as certezas do mundo, não escutam, agridem, se ofendem se é dito que precisam estudar. Que, sem ler ou conhecer os conceitos mobilizados para a escrita de um livro, julgam que dizer ‘esse livro é uma bosta’ é crítica. Ou que xingar a pessoa de ‘chata, boba e feia’ é argumento. Maldita doxa, diriam os gregos. É a morte do pensamento crítico, do respeito e da falta de humildade para ouvir uns puxões de orelha”.

Concordo com Djamila, embora ache que devemos ter cuidado para não tratar a questão com um viés maniqueísta, caindo no “é melhor”, “é pior”, “é bom”, “é mau”, mas tem, de fato, uma geração que reclama de tudo, que vive patrulhando a vida alheia, que nada está bom e que nada faz para mudar. O lugar dessa geração é o de reclamar. Só e somente só. Se sentem donos de todas as razões, apontam as bolhas e não percebem que eles próprios vivem na Bolha da Lacração. Se acham os maiorais no jardim das ilusões. Não erram! São os mais antenados! Perfeitos! Não têm defeitos! São um poço de simpatia! Sabem viver em comunidade e, quem não segue o padrão estabelecido por eles, é tachado de esquentado, problemático, pessoa que gosta de confusão. Rechaçam qualquer sinal de humanidade em humanos. Só a turma deles presta! Fingem ser do diálogo e progressistas, mas, a qualquer sinal de discordância ou de não atendimento às suas expectativas, cancelam tudo e todos. Inclusive, a cultura do cancelamento é o grande troféu de parte dessa geração, que não debate, não está aberta a debater (muitas vezes, por falta de argumento!) e, por isso, “cancelam”. É mais fácil, não é? É lacração pura!

É uma galera que, certamente, acha que inventou o mundo. O mundo surgiu quando eles nasceram. Nada existia antes. Em sua participação no podcast Podpax, no dia 29 de novembro de 2021, o cantor Pedro Mariano refletiu sobre isso, ao falar da postura das novas gerações no universo da música: “Eu falo sempre pra todas as novas gerações: mas de onde você quer chegar, aproveita a viagem, que a viagem é muito importante, mas não esqueça da onde ‘cê veio e não esqueça quem que deixou o bastão aqui pra você. Eu tenho repetido isso até um pouquinho demais, mas nunca é demais lembrar, que essa nova geração […], parece que o mundo aconteceu num estalo no dia seguinte que eles nasceram, né, que não tinha nada antes, que tudo que ‘tá aqui, ‘tava aqui já, não foi ninguém que fez, ninguém entregou isso aqui, essa parada pronta, entendeu? Se você usa um boné brilhante, ninguém teve a ideia antes, né. Tudo começou agora e eu sou um gênio porque eu inventei tudo. Isso é o lema da nova geração”. Concordo com Pedro. É um povo que acha que inventou a militância, por exemplo. Militância de todas as naturezas. Só a militância deles é a que vale. Ninguém mais milita! Só eles! Inauguraram isso. A militância surgiu com eles.

Em geral, pessoas que fazem graduação, mestrado e doutorado e, por isso, se acham acima de tudo e de todos. Que não têm apenas o rei na barriga, mas o Império todo, num esforço de se aproximar da arrogância de alguns docentes das universidades, que inoculam esse vírus a torto e a direito. É a turma que fala que quer botar o professor universitário no potinho, num puxa-saquismo de enojar qualquer cidadão que tem consciência do seu potencial, que abdica dessa postura para alcançar os seus objetivos. Pessoas que, numa estratégia de alimentar a própria mediocridade, silenciam os outros, não reconhecem a potencialidade alheia, não elogiam. Só criticam. São os bonecos Revoltadinhos da Estrela, que têm um discurso bem bonito de justiça social, mas, na primeira oportunidade, lideram conchavos e malandragens. O povo do “Para além…”, nos debates acadêmicos. Que vomita autores o tempo todo, porque essa é a demonstração máxima de sapiência nos corredores e salas de aula das instituições de ensino superior. E também nos simpósios, congressos e mesas redondas! No fundo, no fundo, pessoas vazias. Se a gente espreme, não cai nem suor. Imediatistas, querem tudo para agora. Não valorizam a caminhada. Iniciam projetos, alguns até superbacanas, mas, como a ação não atende às expectativas traçadas, encerram. Querem ser bem-sucedidos, mas não querem trabalho. Pessoas que acham bonito falar que fazem terapia, porque veem os personagens de suas séries e de suas novelas prediletas falando. Não têm noção do que isso implica, da importância desse tratamento para a saúde dos mais de 20 milhões de brasileiros que fazem consultas dessa natureza (de acordo com dados de uma pesquisa feita pelo Instituto FSB). Para essa bolha, “Eu faço terapia” é quase uma senha para o mundo deles, que são os mais descolados, os conscientes, os mais-mais, as pessoas que têm a solução para tudo no mundo.

A Lacração tem sempre uma diva, rebolativa ou não, para chamar de sua. Quando alguém não curte o que eles curtem, argumentam com o clichezaço propalado na internet: “Aceita que dói menos”. Aceitar o quê, criatura?! Oxe, oxe, oxe! Para aceitar, tem que fazer parte da nossa vida. Tem artistas que estão aí, fazendo o trabalho deles, e a gente não tem nem ideia do que eles estão realizando. Simplesmente porque a gente não acompanha a vida deles. Em outubro, continuando a minha estratégia de ler uma coisa mais leve sempre quando termino de fazer leituras mais densas, resolvi ler a biografia de uma dessas “divas” rebolativas com aspirações internacionais intergaláticas. Ao me deparar com a narrativa do autor, um jornalista que cobre o disse me disse de pessoas famosas, percebi que não sabia metade das coisas citadas. Não conhecia algumas músicas elencadas e classificadas como “hits”. Ficava entre o livro e os sites de busca na internet, para me familiarizar com os personagens citados. Isso não é problema da artista, mas, sim, meu. Como não a acompanhava, não sabia de nada. Então, não tinha como aceitar. Não se aceita aquilo que nem existe para você.

Uma característica comum aos integrantes da Bolha da Lacração é a covardia. Eles não falam nada PARA você, mas DE você. De preferência, em grupos de WhatsApp, onde todos falam para todos e não ultrapassam aquela bolha ilusória da justiça e do bem viver social. É chuva de prints o dia todo! “Olha o que Fulano postou!”, “Vocês viram isso?!”, “Menina, eu tô passada!”. Claro que inventam apelidos bem cruéis para se referir aos alvos de suas críticas! Essa é a geração que vive bradando aos quatros ventos na rede social do momento que quer mudança social. É sobre isso, sabe?!

“É sobre isso” e “Paz”: o máximo de argumentação

A Bolha da Lacração se acha tão original, tão fundadora de tudo, que, obviamente, não se percebe, mesmo quando vai na onda dos modismos de hoje em dia. A gente já está cansado de saber que a língua é viva mesmo, é dos falantes e quais, quais, quais. Isso é indiscutível. Contudo, tem expressões que as pessoas usam apenas porque todo mundo está usando. Elas não refletem sobre o uso. Nos anos 90, foi assim com “a nível de”. Será que o “é sobre isso” é o “a nível de” de agora? Pode ser. O fato é que essa geração que se acha a dona de todas as verdades usa tal expressão para argumentar tudo. Em tempos de objetividade, principalmente a exigida para bombar nas redes sociais digitais, é até compreensível, não é? “Paz” também faz parte do repertório, mas, digamos, está menos frequente nas telas. É sabido que quantidade não determina qualidade, mas argumentar com 13 (É sobre isso!) ou quatro (Paz!) caracteres, de fato, deve ser coisa de iluminados. Quando não se tem nada para falar, largam um “É sobre isso”, que quer dizer, absolutamente, nada. Eu acho fofo quando vem acompanhado do “sabe”: “É sobre isso, sabe?”. Fico imaginando alguém argumentando assim na redação do ENEM. O tema da edição de 2021 foi “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. Oxe! Tasca um “É sobre isso” e fica aliviado! 1000 pontos! Também pensei numa festa de camisa colorida reunindo essa galera da argumentação sintética: “É Sobre Isso Fest!”. Muito original! Ninguém criou algo parecido! Mais uma vez, eles vão inaugurar um filão. Inclusive, parte da Bolha da Lacração que lê este texto, porque eles não têm paciência para textos com mais de dez caracteres, vai desqualificá-lo. Vai dizer que é raso, sem argumento, que é clichê, que eu falo o que qualquer pessoa podia falar. Argumento, de verdade, é o “é sobre isso”, sabe? Paz.

Legisladores das redes sociais

A Bolha da Lacração também se acha no direito, porque eles podem tudo, de dar pitaco sobre como uma pessoa administra e se comporta nas redes sociais digitais. “Fulano posta demais”, “Beltrano não posta nada”, “Sicrano posta as mesmas coisas, em todos os lugares. Que saco!”. Pois é. A nossa liberdade é cerceada pelos lacradores de plantão. No jardim das ilusões em que eles se deitam em berço esplêndido, acham que podem controlar o que quiser, determinar o que pode e o que não pode ser feito. Certa vez, uma desavisada veio me dizer, por mensagem privada no Instagram, que eu não deveria ter feito um comentário (elogioso até!) num post do perfil de uma faculdade de comunicação que frequentei por seis anos. Tratava-se de uma publicação que informava sobre uma roda de conversa que discutiria racismo estrutural na cobertura jornalística. De acordo com “a dona da verdade”, eu não deveria parabenizar uma entidade por fazer algo que é obrigação. E o tom da mensagem era de carão. Imagina?! A sorte é que sou bem educado… Ela só desconsiderou a minha vontade de elogiar a iniciativa, porque quis fazê-lo e fiz. Sou dono da minha liberdade, não é? Inclusive, é bom frisar: eu tinha elogiado “a iniciativa”, não “a instituição”, o que é bem diferente. Mas poderia ter elogiado a instituição, se quisesse e se achasse pertinente. Além de sensatez, faltou à coleguinha (sim! Ela é jornalista, oriunda da mesma faculdade) capacidade de interpretação de texto. Os lacrativos são assim: acham que podem controlar tudo! Até os nossos comentários! Uma menina bem pretensiosa (como muita gente que frequenta e frequentou a referida faculdade!), que não acredita no conceito de antirracismo e que usa “escurecer”, em vez de “esclarecer”, achando, com isso, que milita pela causa negra mais do que todo mundo. Ô dó! Vai fazer carreira na militância…

Bizarro! (argumento 1)

É sobre isso! (argumento 2)

Paz! (argumento 3)

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*Karol K, em Lacrei.

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