Artigo de Opinião, Opinião, Televisão

A TV que cansa

A falta de criatividade e a disposição para fazer o mais do mesmo são dois males que acometem a TV brasileira desde o final do século passado. A doença crônica desse meio de comunicação justifica-se pela acomodação do campo social, que subestima o telespectador e calca seus produtos na indústria de massa. A inovação é uma prática temida por quem faz TV. Quem perde com tudo isso?

Ligar a TV é, sem exageros, um transtorno anunciado. E para quem gosta de passar o tempo através desse veículo, um bom convite à tortura. Sim, o que se vê na programação das emissoras abertas de televisão pode se assemelhar a uma tortura. Guardadas as devidas proporções. Programas sem criatividade e insossos tomam conta da grade.

Pela manhã, temos um show de esquisitices e chateações. A começar pela Ana Maria BrEga, cujo programa está tão desgastado quanto a sua cara de pato “botoxizada”. O programa, inicialmente de culinária, perdeu totalmente o seu foco e hoje se sustenta em muletas como entrevistas com ex-BBBs, artistas e protagonistas de situações polêmicas e bizarras e com casos jornalísticos sensacionalistas. Um horror! E os pensamentos que Aninha lê na abertura do seu Mais Você (menos eu, pô!)? Não fazem sentido nem para ela própria. Vexatório!

Bem Estaruma revista eletrônica especializada em saúde, surgiu tendo o Hoje em Dia como modelo. Mas a Globo não quis arriscar muito, tanto é que a atração é bem curtinha. Funciona. Apesar de dar dicas que poucas pessoas seguirão, por causa da falta de praticidade. Só para lembrar: dona Globo, bem-estar é com hífen, viu?! Hum! A palavra não sofreu alteração nenhuma com o Novo Acordo Ortográfico. Voltemos.

A Record, depois de deslocar Britto Jr. para apresentar A Fazenda (que vai ter mais uma edição. Ave!), viu o seu Hoje em Dia perder a identidade e a audiência também. O programa, que inicia repetindo quase todas as notícias que foram veiculadas no telejornal Fala Brasil (que o antecede), não apresenta nada mais de interessante e já cometeu vários erros de apuração (o programa divulgou a suposta morte de Amin Khader como verdade verdadeira, com direito a choro torrencial de Chris Flores; e a gravidez de quadrigêmeos da “louquinha” de Taubaté, Maria Verônica Vieira, como verdade mais verdadeira ainda, com arrecadação de fraldas e presentes ao vivo). Oxente.

  
Será que vale a pena ver de novo?_ À tarde, o melhor mesmo seria tirar uma soneca. Ou você prefere ver o Muito Mais da Band? O programa, capitaneado pela falsidade personificada, Adriane Galisteu, fala de famosos de todas as castas. Questões do tipo “Por que Ana Paula Arósio está reclusa?” e “Será que MC Naldo voltou com a Mulher Moranguinho?” fazem parte das preocupações dos apresentadores (sim, “Falsiane” divide o programa com outros coleguinhas. Entre eles, a baiana Rita Batista, que saiu do Boa Tarde Bahia, da Band Bahia, para refletir sobre o cabelo de Neymar, a coxa de Viviane Araújo e coisas afins). Além disso, o texto das matérias é fraquíssimo. Cheio de clichês. O nome do programa deveria ser Muito Menosnão é não?

Globo insiste em manter no ar o Vídeo Showque de show não tem nada. O vespertino mostra os bastidores das produções globais e, muitas vezes, repete cenas de novelas e trechos de programas da emissora. Falta conteúdo. Em seguida, a rede nos presenteia com o Vale a Pena Ver De Novo. Que, às vezes, nem vale tanto a pena assim. Para fechar com chave de ouro, a emissora apresenta a Sessão da Tarde e Malhação. Sem comentários.        

SBT arma um verdadeiro circo durante a tarde com o seu Casos de Família. É o mau teatro na TV. Sugiro que a emissora mude o nome da atração para Casos de Mentira.

O Melhor do Brasil_ No final de semana, tudo que é ruim se potencializa. Não precisa nem falar de Faustão e Gugu, não é? O Caldeirão do Huck, de Luciano, é um ótimo exemplo da mesmice na TV. O programa que perdeu o DNA eclético e inovador de seu apresentador (quem não lembra quando ele comandava o H, na Band? Criativo, com debates interessantes e entretenimento tosco, mas original), traz quadros de sensacionalismo em pó. O Lar Doce Lar não me deixa mentir. Tudo bem, o quadro ajuda famílias, mas o caráter assistencialista e a cara de comiseração que Huck faz quando da entrega de um imóvel é de dar raiva. Incomoda. A cada duas palavras ditas pelo apresentador aos presenteados, cinco merchandisings são feitos. Sônia Abrão perde. Argh!

O Melhor do Brasil, liderado por Rodrigo Faro, além de ser muito longo, é o símbolo maior do mais do mesmo televisivo. O programa ainda exibe o quadro Vai Dar Namoro, da época em que Márcio Garcia apresentava. O quadro é um convite à idiotia. A propósito, quem prestar bem atenção, vai perceber que alguns participantes do programa da Record frequentam também quadro similar no programa Eliana, do SBT. São pessoas agenciadas? Duvido não. O Dança, Gatinho, que no início inovou e era interessante, hoje está esgotado. Às vezes, sem ter um nome de artista para Faro homenagear, a produção tasca o ator-cantor-apresentador-dançarino de bailarina, por exemplo. Essa falta de pesquisa me faz lembrar a coluna de música que Nelson Motta tem no Jornal da Globo, às sextas-feiras. Numa certa edição, a pauta foi “os baixinhos que fizeram história”. Será que houve reunião de pauta para escolher isso? Sei não, viu! Mais uma vez, falta conteúdo.

“Quem era o Fantástico!” _ No domingo, Ana Hickmann mostra que, no Brasil, tudo é possível mesmo. Inclusive, uma pessoa despreparada e com dicção duvidosa cair de paraquedas e apresentar um programa numa grande emissora. Pode?! A Turma do Didi, da Globo, assim como A Praça é Nossa (exibido às quintas), do SBT, só está no ar pela tradição. São dois produtos ruins. Quem conhece alguma criança que assiste à Turma do “Chati”, levanta a mão. E o que falar d’Os Caras de Pau? O nome da atração já explica muita coisa. Para completar a derrocada da TV brasileira, o Fantástico, que podia muito bem mudar o nome para “Dramático”, para fazer jus às atuais histórias que conta, já está cansado e pedindo arrego. O programa está cheio de reportagens e enquetes irrelevantes. Observo as pessoas assistindo ao dominical e sempre escuto a frase: “Quem era o Fantástico, hein?!”. Não precisa dizer mais nada.

# Este texto foi publicado no blog Cidadão Repórter, do Portal A Tarde, em 17 de maio de 2012. Link: cidadaoreporter.atarde.uol.com.br/?p=15075.

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