Cultura, Desde Então: análise de produtos culturais de outrora, Jornalismo Cultural, Música, MPB

Cazuza: só as mães (e os fãs) são felizes

Foto: reprodução do site oficial de Cazuza

Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||

Um livro emocionante, cheio de histórias curiosas e com uma narrativa que não deixa o leitor desgrudar das páginas. Assim é Cazuza: só as mẽs são felizes, biografia lançada em 1997, pela Editora Globo. A jornalista Regina Echeverria foi quem teve a missão de transpor para o papel as 20 horas de depoimento de Lucinha Araujo, mãe do cantor. O trabalho foi tão bem-sucedido que, em 2004, serviu de base para o filme Cazuza: o tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho.

O subtítulo da obra [só as mães são felizes] se refere a uma canção homônima composta por Frejat e Cazuza, lançada por este em 1985, no álbum que ficou conhecido como Exagerado, o primeiro após a saída do Barão Vermelho. No prefácio, Lucinha mostra que as mães não são tão felizes assim: “Lamento não ter tido a chance de conviver mais, muito mais, do que os poucos 32 anos de Cazuza. Sinto não ter tido mais tempo para aprender a compreendê-lo e fazer com que perdoasse os erros do passado: o excesso de zelo, a cegueira que me impedia ver o poeta que ele era, e aproveitar um pouco mais do artista inconformado em que se revelou. Queria que me perdoasse, por ter dado tanta importância a coisas tão pequenas, nas quais eu acreditava como verdade suprema. Que me perdoasse por tê-lo sonhado à minha imagem e semelhança e a forçar que ele pautasse sua vida, que apenas começava, em convenções inúteis“.

Quem lê o livro, conhece um pouco da intimidade da família Araujo, descobre que Cazuza sempre fora chamado pelo apelido, mesmo antes de nascer, e que o cantor só passou a gostar do seu nome de batismo (Agenor) após descobrir que Cartola também tinha sido batizado com tal antropônimo. Mas, na verdade, o nome de Cartola era Angenor. Será que Cazuza morreu sem saber disso?

Em 21 capítulos, Lucinha revela detalhes da convivência com o seu Agenor de Miranda Araujo Neto. A vontade do leitor é a de não chegar naquele fatídico 7 de julho de 1990, data da morte de Cazuza. Três meses depois, em 17 de outubro, Lucinha, com o auxílio de alguns amigos, fundou a Sociedade Viva Cazuza, que dá assistência a crianças e adolescentes carentes portadoras do vírus da Aids. Assim, muitas mães são felizes. Viva Lucinha!

Referência:

ARAUJO, Lucinha. Cazuza: só as mães são felizes. Lucinha Araujo em depoimento a Regina Echeverria. 2.ed. São Paulo: Globo, 2004.

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Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Resenha, Televisão

Dendê na Mochila: um programa de passeios

Matheus Boa Sorte, apresentador do Dendê na Mochila. Imagem reproduzida do site do programa

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
No sábado passado, 16 de maio, a TV Aratu (SBT/Bahia) estreou um novo programa na sua grade: o Dendê na Mochila. Apresentado por Matheus Boa Sorte, a atração vai ao ar às 13h45 e surge com o objetivo de mostrar e indicar lugares para as pessoas conhecerem e também de encontrar baianos que foram viver em outros estados e em outros países. O formato não é novo, mas o conteúdo apresentado é muito interessante.
Na estreia, Matheus e sua equipe convidaram o telespectador para conhecer a Serra do Tepequém, que fica no município de Amajari, em Roraima; e Santa Helena do Uairén, na Venezuela. Nesses locais, Boa Sorte fez trilhas, mostrou belezas naturais e contou histórias. Pelo que se vê, a lógica vai ser sempre esta: viagens para um lugar do Brasil e para um lugar qualquer em outro país. O segundo episódio vai continuar em Roraima e mostrar curiosidades da Guiana.

Matheus Boa Sorte, no topo da Serra da Rainha, em Tepequém. Captura de tela do YouTube feita em 22 de maio de 2015.

O programa já começou se destacando pelo fato de falar sobre o estado de Roraima, pouco mostrado na TV. Matheus é seguro quando passa as informações sobre os aspectos culturais dos lugares e sabe costurar bem as narrativas. Na Serra do Tepequém, ao encontrar “Seu Miranda”, um garimpeiro baiano que mora lá há 20 anos, Matheus conduziu a entrevista como um bom contador de causos.

Em contrapartida, num dos trechos do programa de estreia, em que a equipe encontra um cachorro no caminho, Matheus destaca o fato e diz ao telespectador que “resolveu até colocar um nome no animal, batizando-o de ‘Dendezinho'”. Destoou. Bem como a trilha sonora, que foi, predominantemente, formada por músicas internacionais. Outra falha do apresentador, foi, com insistência, falar de forma incorreta o nome da cidade venezualana que visitou: em vez de “Santa Elena do Uairén” ele falava “Santa Rita do Uiarén“. Um problema pouco grave, mas significativo para quem trabalha com informação.

Dendê na Mochila tem todos os predicados para continuar no ar por muito tempo. É dinâmico e informativo. Inova, quando, no final, mostra o que vai ser exibido no programa seguinte. Uma espécie de “cenas dos próximos capítulos”. Isso gera curiosidade e funciona para fidelizar um público. Quem perdeu a estreia do programa, que tem 30 minutos de duração, pode assistir à íntegra no YouTube.

Quem é Matheus Boa Sorte

Matheus Boa Sorte. Captura de tela do YouTube feita em 22 de maio de 2015.

Matheus Boa Sorte tem 22 anos e é natural de Guanambi, na Bahia. É apresentador, publicitário e compositor. Veio do rádio, onde começou aos 12 anos de idade. Cantou e já lançou CD, de “arrocha sertanejo”. No canal oficial no YouTube, é possível ouvir algumas de suas músicas e conferir a sua performance artística. Há três anos, não está mais no ramo musical. Ele, que tem um quê de padre Fábio de Mello e Fiuk (e até de Fábio Jr., quando este era mais novo!), se sai melhor apresentando programas. Matheus, boa sorte na nova empreitada!

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Cultura, Fotografia, Jornalismo Cultural, Reportagem

E se a gente vivesse numa caixa?

Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

É, certamente, essa indagação do título que vem à cabeça de quem visita a exposição fotográfica 1×1, que pode ser vista de graça no Foyer do Teatro Castro Alves (TCA), até o dia 24 de maio, das 12h às 18h. Quem provoca tal reflexão são os artistas Saulo Kainuma (autor das fotos) e Belmiro Neto (autor das interferências gráficas). Eles colocaram 35 pessoas (cada uma de uma vez, é óbvio!) dentro de um espaço de um metro de altura por um de largura a fim de discutir  “a carência e escassez de espaço físico nas grandes cidades e tudo o que isso pode acarretar em nosso cotidiano”, como afirma o texto presente na orelha do catálogo oficial. Entre os convidados, os jornalistas Casemiro NetoRita Batista e Nadja Vladi; os atores Jackson CostaCarlos Betão e Marcelo Prado; e os diretores de teatro e dramaturgos Fernando GuerreiroAninha Franco e Gil Vicente Tavares.

Ana Lúcia Ferreira: “Encaixotado, cada um mostra um pouco de si”. Foto: Raulino Júnior

Exigências

Para a publicitária e revisora de textos Ana Lúcia Pereira, de 62 anos, a exposição se destaca pela criatividade. “A exposição é muito criativa, principalmente pelo fato de colocar cada um encaixotado. Cada pessoa mostra um pouco de si nessa composição”.  Ana, que é amiga dos dois artistas, participou de uma exposição feita pela dupla há 12 anos, intitulada Alma Nua.

Belmiro Neto (à esquerda) e Saulo Kainuma: os autores da obra. Foto: divulgação.

Numa entrevista feita pelo Facebook, o publicitário e designer Belmiro Neto, 53 anos, revelou ao Desde que fez as interferências gráficas pensando na personalidade de cada um dos fotografados. “Mas, claro, que foi uma interpretação muito subjetiva”, fez questão de ressaltar. E se ele tivesse que viver numa caixa, o que priorizaria fazer? “Eu priorizaria o CONFORTO [ele escreveu assim, em caixa alta] e, depois de confortavelmente estabelecido, pensaria nas outras coisas que teria que fazer”. Já para o gaúcho Saulo Kainuma, de 62 anos, que também concedeu entrevista pelo Facebook, as prioridades seriam outras. “Minha prioridade seria ter algo que me desse algum prazer para fazer. Talvez, ler, escutar música, ver um bom filme; pois, pelo menos hoje, temos monitores extremamente finos [risos]”.

De acordo com Saulo, o conceito da exposição tinha sido pensado há algum tempo. “Nossa ideia era captar as reações das pessoas confinadas a um espaço limitado, fazendo uma analogia aos espaços extremamente exíguos que as pessoas atualmente vivem, a despeito da grande extensão territorial de nosso país. Espaços tão apertados que, muitas vezes, não comportam uma cama um pouco maior. Nossa surpresa foi grande, pois as reações foram bastantes diversas e não definimos nenhuma regra que os retratados deveriam fazer. A única recomendação era fazer exatamente o que eles quisessem fazer”. Para você que está lendo esta matéria, segue abaixo um aperitivo da exposição. Obviamente, nada substitui a experiência presencial. Então, saia da caixa e vá conferir!

||Galeria||

1. Maria Angélica Andrade
2. Victor Mascarenhas
3. Eugênio Afonso
4. Nadja Vladi
5. Gil Vicente Tavares
6. Marcio Mello
7. Thiala Duarte
8. Marlon Gama
9. Carlos Sarno
10. Rita Assemany
11. Carlos Betão
12. Karina Pinkus
13. Sfat Auermann
14. Gustavo Batinga e Rodrigo Batinga
15. Lut Cerqueira
16. Tânia Pessanha
17. Vadinha Moura
18. Cau Gomez
  
19. Eliana Pedroso
 
20. Jackson Costa
 
21. Fatinha Santos e Rogério Lot
 
22. Fernando Guerreiro
 
23. Valéria Kaveski
 
24. Marcelo Praddo
 
25. Leo Cavalcanti
 
26. Aninha Franco
 
27. Jacqueline Rocha
 
28. Lúcia de Fátima
 
29. Eliane Pinho
 
30. Amélia Duarte
 
31. Casemiro Neto
 
32. João Telles
 
33. Karina Terso
 
34. Rita Batista
 
35. Thais Bandeira
 
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Cultura, Jornalismo Cultural, Notícia

5º Concurso “Nossa Gente, Nossa Arte” está com inscrições abertas até 30 de junho

Foto: reprodução do site da Pague Menos

Por Raulino Júnior

Com o intuito de divulgar a arte de pintores nacionais, a Rede de Farmácias Pague Menos está promovendo o 5º Concurso Nossa Gente, Nossa Arte. As inscrições começaram no dia 1º de maio e vão até 30 de junho. Para participar, os interessados devem pintar um quadro em tela horizontal, na dimensão de 90 cm x 50 cm, com o tema “Quem ama, faz história”. O candidato deve fotografar a tela e enviar o registro para o hotsite oficial. O concurso exige que o artista tenha 18 anos completos até a data final de inscrição. No caso de pintores que têm menos de 18 anos, a inscrição deverá ser feita por um responsável.

Exigências

Quem quiser enviar um trabalho, deve ler e ficar bem atento às recomendações do regulamento. No item 7, por exemplo, a organizadora do concurso dá uma dica sobre quais características a pintura tem que ter: “O trabalho deve apresentar, preferencialmente, cores primárias, contornos nítidos e propostas chapadas…”. Vale ressaltar que a obra deverá ser feita à mão, sem o uso de ferramentas digitais ou computadorizadas. As imagens também não poderão ser obtidas de sites da internet. Caso isso aconteça, o participante será desclassificado e deverá responder pelas penalidades constantes na Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1988, que trata sobre os Direitos Autorais.

Foto: reprodução do hotsite do concurso

Premiação

A pré-seleção das 30 telas será feita por uma curadoria designada pela Pague Menos. Elas serão disponibilizadas no hotsite do concurso para que o júri da internet (ou seja, os internautas) escolha oito. Haverá uma exposição num espaço público para os transeuntes (júri popular) votarem em mais oito telas. O júri oficial — artistas e representantes de entidades de classe da cidade de Fortaleza, cidade onde fica a sede da empresa organizadora —  completa o corpo de jurados. Os trabalhos serão classificados com base nas três votações e pertencerão ao acervo artístico da rede de farmácias. A premiação varia de R$ 3.300 (1º lugar) a R$ 1.000 (8º lugar). Os artistas poderão ainda ter suas telas reproduzidas na frota de caminhões da empresa. As 22 telas não vencedoras também vão pertencer ao acervo da Pague Menos e os autores receberão a quantia simbólica de R$ 300. O resultado será divulgado nas lojas das Farmácias Pague Menos, no hotsite  e nas redes sociais.

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Quando a fila é o ombro amigo

Ilustração: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Hoje, infelizmente, ninguém mais conversa. Vizinhos não se conhecem. A poltrona do lado não quer interagir. Às vezes, nem um cumprimento é dado. A interação tem mediador: o aparato tecnológico. Estranho esse tempo atual. Tanto que, quando a “regra” é quebrada, o estranhamento também aparece.
Fila é um ótimo lugar para conhecer pessoas e conversar. Mas, hoje em dia, em que cada pessoa tem um mundo portátil nas mãos, a fila perdeu essa potencialidade. Ainda assim, o milagre acontece.
O milagre, para mim, tem nome: Yolanda (nem sei se o seu “Yolanda” começa com “Y”, mas ela tinha cara de Yolanda com “Y”). Dona Yolanda, porque, certamente, ela já deve ter mais de 60 anos. Mas não aparentava. Não sei por qual razão, começou a conversar comigo, contando detalhes da sua vida. Inspiro confiança. Isso me envaidece.
Soube de sua filha que mora na Inglaterra e é fisiculturista; do neto, filho do filho de 37 anos, que vai nascer em junho; do seu afeto pelo genro, mas nem tanto pela nora; até conheci um pouco de seus preconceitos. Foi Dona Yolanda quem me contou sobre o assassinato de um transformista, ocorrido na noite de sexta, no Tororó. Enfim. Uma experiência simples, mas pouco comum na atualidade.
Dona Yolanda estava sedenta por conversar, contar suas histórias. Eu, apenas, me dispus a ouvi-la. Fui seu “amigo”, por poucos instantes, numa era de amizades virtuais sem substância. Me senti bem.
Sigamos.
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