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Sobre rompimentos e afins…

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Romper não é fácil para ninguém. Independentemente da relação que foi rompida. Não é fácil. A impressão, por exemplo, é de que o ano de 2020 rompeu com a Humanidade e, como cantou Kátia, “não está sendo fácil”. Porém, romper também não é tão difícil assim. Principalmente, quando o rompimento contribui para a nossa sanidade física e emocional. Para viver, temos que ter saúde. Por isso, a ruptura é bem-vinda quando a gente opta pela gente. Não é egoísmo, é amor próprio. Romper dói, mas, muitas vezes, tem que ser feito.

No início do ano, vi uma postagem de um talentoso comunicador de Salvador, em seu perfil no Instagram, que me fez refletir bastante. O texto dizia: “Botando a cara pra trocar toda energia positiva do mundo. Os sugadores, e aproveitadores, eu já dispenso há muito tempo”. Na foto, ele aparecia em pé, de olhos fechados, tomando um banho de sol. A mensagem, que soou como uma indireta, e isso é uma interpretação minha, me levou a pensar em quem são os “aproveitadores” e “sugadores” na minha vida. Porque, muitas vezes, a gente é usado e nem nota. Quando a ficha cai, a gente percebe o quanto a nossa ingenuidade não nos fez enxergar algo que estava ali, nítido, na nossa cara. O que (ou para quem) o comunicador queria falar, é uma incógnita. O fato é que aquelas palavras remeteram a um rompimento. E, na real, é preciso muita energia positiva para se reerguer de um. Isso é sério.

De todos os rompimentos, para mim, o de uma amizade é o mais danoso. Talvez, porque me abale mais pensar que o íntimo virou um estranho. Afinal, é complicado saber que alguém que se diz seu amigo prefere falar DE você a falar PARA você. Aí, no meu caso, é rompimento na certa. Sem espaço para diálogo. Porque perde toda a irmandade que, na minha cabeça, é imanente numa relação amistosa. É que sou adepto de falar a verdade para os meus amigos, de opinar com sinceridade, de elogiar quando devo elogiar e de criticar quando acho que devo criticar. Tenho amizades longevas. Só não aceito sacanagem. Isso é também um defeito. Isso faz parte da minha “ser humanidade”, da minha imperfeição. Na canção Bola de Meia, Bola de Gude, Milton Nascimento e Fernando Brant escreveram: “Pois não posso, não devo, não quero viver/Como toda essa gente insiste em viver/E não posso aceitar sossegado/Qualquer sacanagem/Ser coisa normal”. É bem por aí.

O rompimento é fruto da decepção. Quando você se decepciona com alguém que você tinha estima, fica difícil manter a relação como era. Você não quer o mal da pessoa, você torce por ela, você quer vê-la feliz, mas longe de você. Não tem como emanar energia boa para quem não vibra na mesma sintonia. Em Me Adora, Pitty diz: “Tantas decepções eu já vivi/Aquela foi, de longe, a mais cruel”. É cruel quando “aquela” é de uma pessoa que você (ainda) ama e para quem sempre se doou, atendeu aos pedidos e fez esforços. Difícil. Por isso, a traição não pode virar tradição. A gente tem que romper com isso.

Sigamos.

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