Cultura, Discriminação, Jornalismo Cultural, Negritude, Preconceito, Racismo, Texto de Quinta

O negro em movimento fora (ou dentro?) do Movimento

Meus inimigos estão no poder*
Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Você é negro? Consciente de como se dá a sua presença na sociedade em que vive? Se respondeu sim para essas duas perguntas, saiba que você é um militante da causa. Todo negro consciente é um militante em potencial. Isso significa que você não precisa nem é obrigado a participar de nenhum coletivo em que a luta contra o racismo seja o propósito maior. Ninguém “tem que” nada. Ainda mais nos dias de hoje! Se a gente briga tanto por liberdade, por que tolher a do outro? Isso precisa ser levado em consideração pelos movimentos, não é? Afinal, respeitar subjetividades é uma das nossas bandeiras. Por falta de respeito a esse aspecto, muitas atrocidades aconteceram e vitimaram o povo negro em todo o mundo. Quem está do lado de fora também está em movimento. Afinal, a Terra gira e não é plana.

Claro que, desde que o mundo é mundo, a gente é bombardeado pelo clichê dos clichês: a união faz a força. E faz mesmo! Isso é um fato. Contudo, temos que arregalar bem os olhos para saber quem da união está obstinado a fazer a força, porque tem muita gente que vai no bando, com outros interesses. Atualmente, o lema “Nós por nós” vem sendo usado e abusado por movimentos que lutam por justiça social, mas, quando você se aproxima de quem está na arena de luta, percebe que o “Nós por nós”, na prática, é mais “eu” do que qualquer outra coisa. Qual é a lógica disso? Militância de araque? Vale a pena usar um episódio real para ilustrar o que foi dito: em 2017, um reconhecido ator de teatro de Salvador estreou um espetáculo no qual mostrava como a sociedade vê e trata os negros, estabelecendo “lugares” e “limites” para eles. Um monólogo superinteressante, que não trazia respostas, mas que fazia um convite à reflexão. Nas suas redes sociais digitais, o ator pediu que amigos e colegas colocassem seus respectivos nomes no que chamou de “lista negra” (numa boa sacada, pois tirava a expressão do lugar negativo que sempre esteve. No entanto, a ação foi de um autoboicote descabido, principalmente considerando o que é viver de arte no Brasil), um instrumento que possibilitava o pagamento de meia-entrada. A inteira custava R$ 20. Muita gente, em sua maioria da etnia negra, correu e colocou os nomes nos comentários a fim de pagar R$ 10 para assistir ao espetáculo. Aí vem a pergunta: e o “Nós por nós”?! Será que não daria para fazer um esforço e valorizar, também financeiramente, todo o esforço do ator para produzir a peça? Quando os nossos vão valorizar a arte feita pelos nossos? “Nós por nós” é uma verdade ou é apenas uma lema bonitinho? Vamos pensar sobre isso ou continuaremos a fomentar mais essa encruzilhada?

Outro exemplo muito emblemático a esse respeito é quando alguns negros reconhecem todo o talento e contribuição de Margareth Menezes para a nossa música. As conversas nos grupos são sempre falando o quanto a cantora é injustiçada e não está num patamar que merece. No final, o papo sempre descamba para o recorte de etnia, que é uma realidade e, obviamente, tem suas implicações na carreira de Margareth, uma artista marcada por várias interseccionalidades. Contudo, se a gente cavucar, a seguinte pergunta surge: quem movimenta o caixa de Margareth? Eu? Você? A quantos shows dela você foi, pagando ingresso? Nos eventos do Mercado Iaô, projeto da artista, que, das 10h às 14h, tinha entrada franca, em qual horário você ia? Pagava a tarifa social de R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira)? Quem movimenta o caixa de Margareth para que a cantora possa investir ainda mais na própria carreira? E o “Nós por nós” fica onde? Preciso ressaltar que, com tal afirmação [de que o “Nós por nós” é mais “eu” do que qualquer outra coisa], não estou querendo minar, esvaziar nem descredibilizar as práticas e objetivos dos grupos. Estou, apenas, registrando uma constatação.

Engraçado, para não dizer o contrário, é que, às vezes, tem gente que quer cobrar determinadas posturas de quem tem consciência do problema do racismo, mas que milita com outras ações, que não são menos importantes, é preciso pontuar. O mau mesmo é se achar mais militante que os outros. É como se houvesse uma gradação da militância, numa disputa interna que é ignorante e descabida. Mais um clichê: fala sério! Ninguém é obrigado a opinar sobre tudo sempre, porque, muitas vezes, isso só reflete a nossa superficialidade diante de temáticas tidas como polêmicas e mostra a nossa cultura de ir com o bando. Ninguém “tem que” nada!

Cada negro é um negro. Embora tenhamos narrativas comuns, cada um sabe a dor e a delícia de ser como é. O racismo que atravessa cada negro é repleto de subjetividades, oriundas de situações pelas quais a pessoa passou. Isso explica a forma como cada um reage a essa violência histórica de que, infelizmente, ainda é vítima. Uns comem a pressão “de com força”, outros não deixam essa pressão paralisar os seus anseios nem interferir na autoestima. É tudo muito subjetivo e a inteligência emocional é uma aliada e tanto! Entender isso contribui para, quando a pessoa quiser, se posicionar sobre a questão com mais equilíbrio, de acordo com a própria régua. Ninguém precisa, por exemplo, usar a rede social digital para falar o que todo mundo fala, só porque sofre uma pressão implícita para falar. A fala pela fala é vazia e carece de personalidade. Cada um milita da sua forma. Eu exerço a militância nas minhas atitudes, nas coisas que escrevo, nos posicionamentos que tomo. Não sou obrigado a nada e ninguém vai me fazer recuar disso. Quando eu quiser e achar pertinente, mudo.
Em abril de 2017, as redes sociais digitais foram tomadas com a campanha #MeuProfessorRacista, cujo objetivo era denunciar professores que praticaram o crime de racismo em alguma época da vida do denunciante. Vi tantos relatos, me identifiquei com muitos, mas vi muita hipocrisia também. Imediatamente, me lembrei de um episódio que aconteceu comigo durante a Bienal do Livro Bahia, em 2013. Até pensei em entrar na campanha e postar o meu relato, mas analisei, analisei e vi que aquele não era o momento. Não fui no bando, porque ninguém “tem que” nada. Hoje, com outra motivação, julgo importante divulgar o fato. #MeuProfessorRacista nunca foi meu professor, mas foi racista comigo. Na época, eu trabalhava num instituto considerado de prestígio na sociedade salvadorense e estava na Bienal para fazer alguma ação educativa. O #MeuProfessorRacista perguntou onde eu trabalhava e eu falei o nome do instituto. Mas, não satisfeito e mostrando explicitamente uma falta de crédito na informação que eu acabava de lhe dar, #MeuProfessorRacista fez um esforço para ler o crachá que eu carregava, a fim de verificar as informações e constatar se, de fato, eu trabalhava naquele lugar que havia dito. O choque maior, para mim, é que o #MeuProfessorRacista, além de ser um dos fundadores de um conglomerado de “mídia negra” de Salvador, é negro e militante. Logo, consciente. Ou não, né? Como disse, muitas vezes, quem vai de bando só defende a sua banda. Quando um de nós insiste em nos negar, nega todo o nosso povo.
O branco fica todo baratinado quando se depara com um negro que sofreu as violências oriundas do racismo, mas que não tem a autoestima abalada por causa disso. Ele não consegue lidar com esse fato. Estranha, porque é incomum. Por isso, persegue muito mais, tenta descredibilizar o adversário (sim! O campo é de luta!), usa a indiferença o tempo todo para anular a presença do outro. Isso é um fato e só quem sente na pele essa emoção sabe identificar. Por outro lado, e isso deve ser culpa do racismo estrutural que acomete o Brasil desde 1500, quem é negro também estranha quando encontra alguém assim entre os seus pares. Nesse caso, a postura é outra. É de achar que a militância é menor, frágil, sem sustentação. O negro que cria outras narrativas para si, que se coloca de igual para igual mesmo no jogo da vida, que não deixa o discurso do opressor lhe paralisar, é visto como exibido. O racismo é tão forte que tirou a nossa capacidade de nos admirar, de exibir as nossas qualidades. Por isso, o autocuidado hoje está tão em voga. Descobriram a pólvora! Claro que não é sair por aí sendo um outdoor ambulante, é fazer das suas ações o retrato de quem você é, sem se esconder. Parte da comunidade rechaça o “negro exibido” porque isso não é colocado como algo que a gente pode ser. Isso nos foi negado e o racismo faz a gente pensar que não é para nós. Quem destoa é visto como um à toa.

Lembra que disse que ninguém “tem que” nada? A única coisa que a gente tem que ser é livre para fazer as nossas escolhas. Seja seu próprio bando até o dia em que você quiser. Vão te acusar de egoísmo, mas o tempo é a melhor resposta para essa acusação. Outro clichê: o mundo dá voltas e a expectativa do outro em relação a você é problema do outro. Eu só não posso o que eu não quero e minha militância é por justiça, não por vingança. Ah! Não esqueça deste mantra: com poder, todo anarquista silencia e deixa a luta só para você, bebê.
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Frejat e Cazuza, em Ideologia.
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Preconceito, Racismo

Roda de conversa sobre o Dia da África destaca a pujança do continente

Evento promovido pelo Olodum reuniu lideranças negras de Salvador

Participantes da Roda de Conversa África Atual. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

Roda de Conversa África Atual, que aconteceu na tarde de ontem, na Casa do Olodum (Pelourinho), teve como objetivo propor uma reflexão acerca da África de hoje, bem como fazer um paralelo com a realidade brasileira. A reunião foi idealizada em comemoração pelo Dia da África, celebrado em 25 de maio, e contou com a participação de João Jorge Rodrigues (presidente do Olodum), Zulu Araújo (diretor da Fundação Pedro Calmon), Carla Pita (conselheira do Olodum e educadora), Luciane Reis (publicitária e idealizadora do MercAfro), Aquataluxe Rodrigues (administradora, produtora cultural e integrante da Comissão de Juventude do Olodum), Kátia de Melo (fundadora da Escola Olodum), Tonho Matéria (cantor, compositor, gestor cultural, publicitário e mestre da capoeira) e Abraão Macedo (empresário e palestrante motivacional). A Roda de Conversa foi a segunda da série de ações pensadas para comemorar o Dia da África no Centro Histórico de Salvador. A primeira foi um almoço no restaurante Cantina da Lua, em solidariedade a Clarindo Silva, empresário e agitador cultural que teve os bens do estabelecimento penhorados devido a uma dívida trabalhista.

Rafael Manga, mediador do encontro e um dos organizadores do evento, disse que a iniciativa nasceu para trazer outros diálogos, estrategicamente ausentes das pautas da mídia tradicional, para a internet, aproximando do público jovem. “O Olodum é um grupo cultural que tem diversas ramificações. Entre elas, a TV Olodum. Essa proposta inicial em Dia de África é da TV Olodum, a fim de abrir espaço para outros diálogos, uma nova forma de se comunicar com a sociedade, trazer essa temática para dentro da internet. Sobretudo, com essa juventude que está antenada nos blogs, os digital influencers. Às vezes, a gente fala que a juventude não tem interesse, talvez ela não tem acesso. Nós estamos entrando nesse processo, nesse meio de comunicação, para dialogar com as diversas formas de juventude e da sociedade civil em geral. O Dia de África é um dia muito importante para a sociedade brasileira, sobretudo pela colaboração que a África tem aqui. Esse momento de corrupção, esse momento de democracia é uma coisa muito atual”.

Rafael Manga: “O Dia de África é um dia muito importante para a sociedade brasileira”. Foto: Raulino Júnior

A Roda de Conversa foi aberta por João Jorge, que destacou a importância de pensar um pouco na África contemporânea: “Essa conversa é para pensar um pouco sobre os problemas atuais da África contemporânea, dos nossos problemas e começar abrir o caminho de uma discussão que não seja só da herança africana bem antiga. Os países africanos vivem aqui, ao lado da gente, que tal a gente saber um pouco mais de Angola, da África do Sul, de Gana, da Nigéria, do Benin, do Marrocos?”, provocou. Para Zulu Araújo, embora alguns países africanos apresentem problemas semelhantes aos do Brasil, é preciso avançar nesse olhar que se tem da África: “É surpreendente como alguns países africanos têm problemas tão semelhantes quanto os nossos. Eles não estão em 1500 como muitos de nós podemos pensar ou imaginar. Eles têm problema na área da agricultura, da violência, da saúde, do trabalho, do emprego, que é como também o Brasil vive, como boa parte do mundo vive. Então, não dá pra gente se relacionar com o continente africano com o olho em 1500. Não dá pra gente celebrar o Dia da África com o olho em 1500, porque, se a gente continuar fazendo isso, nós estaremos, na verdade, nos aprisionando no século 15, século 16. E esse seculo 15/século 16 é o século da colonização. São séculos onde o continente europeu, praticamente, aprisionou e quase destruiu o continente africano. Seja pela exploração predatória que fez naquele continente, levando grande parte dos seus minérios, do seu ouro, do seu diamante; mas, principalmente, levando o seu principal ativo, que foram os seres humanos. Mas concordo integralmente com a afirmação de João Jorge: não adianta a gente ficar se lamentando, não adianta a gente ficar remontando esse passado, sem entender que nós temos o presente para viver e para tocar. Essa iniciativa de a gente dialogar com a África atual significa a gente entender que a África atual, assim como o Brasil, precisa trilhar o caminho do desenvolvimento, o caminho do respeito à democracia, o caminho da diversidade, o caminho do respeito às religiosidades distintas, que brancos, negros, amarelos e indígenas possuem. Significa a gente, também, advogar e defender a cultura enquanto um elemento estratégico do desenvolvimento humano. O que nos faz seres humanos é a cultura, não é outra coisa”.

Carla Pita trouxe para a Roda o exemplo de duas mulheres de sucesso do continente africano: Carmen Pereira (primeira mulher a presidir um país africano: Guiné-Bissau) e Ellen Johnson (primeira mulher eleita no continente africano pelo voto). “É importante desconstruir falsas narrativas em relação ao continente africano no dia de hoje. No dia de hoje, nas redes sociais, tem muita gente compartilhando imagens, infelizmente, de uma África envolta pela fome, miséria, epidemias e existe uma África que nós conhecemos, que é uma África tecnológica, que é uma África inventiva. Se eu não me engano, a tecnologia 3G chegou ao Brasil em 2008. Em 2005, Angola já tinha tecnologia 3G. O Brasil ainda tem uma visão minimalista em relação à Africa”. A educadora ainda falou sobre os equívocos da imprensa brasileira na cobertura da epidemia do ebola. Kátia de Melo falou sobre a atuação da mulheres na gestão política, enfatizando o caráter empoderador disso: “As mulheres negras, as jovens principalmente, precisam entrar nesse espaço de disputa, porque é um espaço de empoderamento perfeito. É um espaço de empoderamento para o nosso modelo de sociedade, que é a democracia. Então, não tem outro caminho. A gente está em várias frentes de lutas, em vários caminhos, mas o espaço para o empoderamento, que vai produzir políticas públicas e definir as questões, é o do poder político”, pontuou.

Da esquerda para a direita: Carla Pita, Aquataluxe Rodrigues e Luciane Reis. Foto: Raulino Júnior

Aquataluxe Rodrigues direcionou o seu discurso para os aspectos ligados à mulher preta. Nesse sentido, questões como representatividade e protagonismo da juventude negra e das jovens negras foram destacadas. Aquataluxe mostrou uma projeção na qual trazia perfis de africanas que são referências para mulheres negras de todo o mundo, como a rainha Nzinga Mbandi NgolaWangari Maathai (primeira mulher africana a ganhar o prêmio Nobel da Paz, em 2004), Phiona Mutesi (campeã de xadrez, em Uganda, em 2013) e Leila Lopes (Miss Universo de 2011). “A África reconhece os seus e a gente tem que aprender também a reconhecer as nossas. Porque nós reconhecemos os nossos, mas, às vezes, a gente esquece das nossas mulheres guerreiras que fizeram história e que precisam ser reverenciadas e lembradas o tempo todo. Não só por uma questão de igualdade, mas por uma questão também da importância da representatividade”, reconheceu Aquataluxe. A administradora chamou a atenção também para a ideia ultrapassada que está no inconsciente das pessoas em relação à África: “A gente tem que tirar essa ideia de que esse continente, com esse grau de complexidade, com mais de cinquenta países, fala a mesma língua, tem a mesma moeda, tem o mesmo sotaque. Essa visão de uma juventude ou de uma população ou de um povo negro, sofrido, não é mais a África que a gente quer representar”. Como falou muito de representatividade, Aquataluxe Rodrigues fez uma crítica positiva ao evento: “Eu gostaria muito que, nesse debate como o de hoje, a gente tivesse realmente uma pessoa da África aqui ou que tivesse morando no Brasil, para que essa roda de conversa sobre essa África atual fosse, de fato, representada”, sugeriu.

Luciane Reis deu dicas e falou muito sobre empreendedorismo negro. “Nós empreendemos sozinhos. Diferente [sic] do empreendedor não negro, que vai ter um mentor dizendo a ele como é que o negócio caminha, como é que o negócio não caminha, que vai ter gente dando suporte psicológico, a gente constrói esse processo sozinho”. E completou: “Nós também precisamos parar com essa concepção de achar que a gente só empreende numa perspectiva financeira. A gente não empreende somente na perspectiva financeira. A gente empreende também na perspectiva de disputa política. A gente empreende no processo da disputa ideológica”. Tonho Matéria falou sobre a primeira vez que visitou o continente africano, quando ainda era cantor do Olodum, e fez o seguinte alerta: “Muitas vezes, os elementos africanistas são renegados por nós mesmos que fazemos parte até do Movimento Negro. Muitas vezes, a gente renega, não quer aceitar certos elementos, certos símbolos”. Já Abraão Macedo destacou a importância do uso de bitcoin (moeda digital) pela comunidade negra, para acompanhar os avanços da tecnologia financeira. “Eu acho que a comunidade negra, sobretudo a baiana, que é empreendedora, os blocos afro, que sempre foram modelos de empreendedorismo e organização, de resistência organizada, devem pensar nisso. Por que a gente não começa a falar em bitcoins, a investir em bitcoins? A África atual está bem moderna, está à frente do Brasil e, dos cincos países hoje que pesquisam, que quererem saber, que estão investindo em bitcoins, três são africanos: Nigéria, África do Sul e Gana”.

Dia da África

O Dia da África foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) depois que 32 chefes de estado se reuniram na Etiópia com o objetivo de tornar o continente independente do domínio europeu. Isso foi em 25 de maio de 1963 e, na ocasião, os líderes assinaram uma carta de fundação da Organização de Unidade Africana (OUA). A OUA foi a semente para a União Africana (UA), que a substituiu em 2002.

Card criado pela União Africana para comemorar o Dia da África em 2018. Imagem: divulgação

Em 2018, o tema escolhido pela União Africana para comemorar o Dia da África foi Ganhar a luta contra a corrupção: um caminho sustentável para a transformação de África. No final do debate, Zulu Araújo fez uma consideração muito pertinente para reforçar essa discussão: “Tem um elemento que deve estar presente na África atual, no Brasil atual, no mundo atual, que é um componente de ordem cidadã: chama-se democracia. Eu conheço, razoavelmente, alguns países africanos e temos que admitir que a democracia não se faz presente na maioria desses países. Isso faz com que a gente continue tendo, assim como no Brasil, uma elite extremamente desvinculada da maioria da sua população. A democracia possibilitará que avanços possam alcançar a maioria do nosso povo e, no continente africano, isso ainda não é uma realidade. A África hoje, apesar de ter lideranças políticas riquíssimas, representa apenas 1% da inserção na economia mundial”, concluiu.

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Preconceito, Racismo

Racismo institucional na mídia brasileira é tema de debate na OAB-BA

Racismo institucional foi pauta de debate na OAB-BA. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

Como enfrentar o racismo institucional na mídia brasileira? Essa problematização serviu de mote para uma audiência pública realizada hoje à tarde, na sede da Ordem dos Advogados da Brasil – Seção  do Estado da Bahia (OAB-BA), em Salvador. A iniciativa partiu de uma demanda da União de Negros e Negras pela Igualdade (UNEGRO) e teve apoio da OAB-BA e da Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial (CPIR). Além de discutir a ação civil pública ajuizada pela UNEGRO contra a Rede Globo, por reforçar práticas de racismo institucional na novela Segundo Sol (autoria: João Emanuel Carneiro/Direção: Denis Carvalho e Maria de Médicis), o encontro ampliou o debate para todo o histórico de negação da população negra na mídia, pauta sempre presente na agenda do Movimento Negro. “Essa ação nossa é motivada por uma discussão antiga e histórica do Movimento Negro brasileiro. As redes de televisão nos ignoram. Basta saber que estamos nesse estado, que todo mundo sabe que é de maioria negra, mas todas as seis redes familiares e empresariais (excluindo a televisão pública que responde a uma outra lógica) negam admitir nos seus quadros a representatividade desse estado”, afirmou Ângela Guimarães, presidenta da UNEGRO.

Da esquerda para a direita: Cássia Valle, Valdirene Assis e Ângela Guimarães. Foto: Raulino Júnior

O encontro, que foi mediado pela advogada Dandara Pinho (presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial da OAB-BA),  teve como foco o artigo 53, da Lei 13.182/2014, que institui o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa do Estado da Bahia e contou com a participação de representantes de organizações que lutam por direitos e inserção social do povo negro, como o Coletivo de Entidades Negras e o Bando de Teatro Olodum. A ênfase de todos os discursos foi acerca da proporcionalidade dos negros na mídia. “A demanda nossa é também por proporcionalidade. Quando a novela for do Sul, retratando as comunidades alemães, italianas, japonesas, a gente até topa ser 20%; mas passou do Sul, a gente é de 40% pra mais, a gente quer proporcionalidade. Nada menos!”, provocou Ângela. Valdirene Assis, procuradora-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), destacou como o órgão pretende enfrentar o problema do racismo institucional na mídia: “A situação da população negra é sempre desvantajosa. A reparação só é possível se a gente pensar num pacote de medidas. O MPT quer que uma instância formada por negros seja implementada dentro da Rede Globo”. A atriz, museóloga e escritora Cássia Valle, que integra o Bando de Teatro Olodum, foi bastante enfática no seu pronunciamento: “Tem dois atores do Bando na novela. Não é porque eles estão lá, que nós não vamos lutar. Eu me recusei a fazer o teste, porque, se a Rede Globo quisesse, ela sabia onde encontrar atores para contar aquela história. A gente pode continuar brigando, mas também podemos fazer uma coisa bem simples com o nosso dedo: não ligar a televisão. Vamos brincar de desligar a televisão!”, convocou.

Racismo Institucional

Em 2013, o Geledés – Instituto da Mulher Negra publicou o Guia de Enfrentamento ao Racismo Institucional. Na página 11, lê-se o seguinte: “O conceito de Racismo Institucional foi definido pelos ativistas integrantes do grupo Panteras Negras, Stokely Carmichael e Charles Hamilton em 1967, para especificar como se manifesta o racismo nas estruturas de organização da sociedade e nas instituições. Para os autores, ‘trata-se da falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica'”. No Brasil, o Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) implementado no Brasil [sic] em 2005, definiu o racismo institucional como ‘o fracasso das instituições e organizações em prover um serviço profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cultura, origem racial ou étnica. Ele se manifesta em normas, práticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho, os quais são resultantes do preconceito racial, uma atitude que combina estereótipos racistas, falta de atenção e ignorância. Em qualquer caso, o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações”.

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“Só eu sei/As esquinas por que passei/Só eu sei…”

Imagem: divulgação

Por Raulino Júnior

Obrigado, Antonio Olavo. Muito obrigado por Travessias Negras. Obrigado demais! Hoje, amanhã, sempre e para sempre! Só sendo negro para constatar a importância dessa série documental. Não adianta dizer que tem amigo negro e, por isso, tem consciência do racismo que está presente na nossa sociedade. Não adianta! É no coração de quem tem a pele negra que o documentário bate mais forte. A série, que estreou hoje, na TV Educativa da Bahia, “busca retratar a vivência de jovens negros e negras, morador de periferia [sic], que ingressaram na universidade através das políticas afirmativas; ou seja, através das cotas, em cursos considerados e tidos como nobres: medicina, comunicação, direito e letras…”, nas palavras do próprio Olavo, diretor do audiovisual.

Quem é negro e sofre o racismo diário, se identifica com os depoimentos dos personagens. As falas poderiam ser de qualquer um de nós. O histórico dos depoentes, as angústias, o sofrimento. Tudo isso é nosso também. Faz parte da gente. Lembro bem de uma professora medíocre da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA) que, diante de minha negativa em contribuir para a compra de um cabo para a câmera, esbravejou: “Você gasta dez reais com droga, com baseado, e não quer ajudar a comprar o cabo?”. Antes de qualquer atitude, a gente paralisa. Depois, pensa como agir. Falei para ela que não fazia uso daquelas porcarias que ela citou e que achava um absurdo uma professora concluir aquilo sobre mim. Ela tentou reconsiderar, disse que não estava falando só de mim e apenas reafirmou o preconceito. Claro: um estudante negro, rasta, fruto das políticas afirmativas, numa faculdade de comunicação, só podia ser usuário de droga, não é? Fala sério! Não tomei uma atitude mais séria, como abrir processo por calúnia e difamação, além de injúria racial, porque um familiar da professora estava doente. Doença séria. Fiz uso da empatia.

Numa outra ocasião, com outra professora da referida faculdade, propus uma pauta sobre a trajetória do pagode baiano e quase fui trucidado pelos discursos carregados de preconceitos, discriminações e racismo. Tanto da docente quanto dos coleguinhas que hoje vomitam consciência social nas redes sociais digitais. Ai, ai.

O racismo quer que a gente não seja. O grande barato é que ele só quer, não significa que vai conseguir. Se depender de mim, não vai. É muito difícil mesmo, para uma sociedade racista, aceitar um negro com a autoestima no céu, que sabe que é bonito, inteligente e capaz de chegar aonde quiser. Esse negro sou eu! Como escreveu o poeta: “… só fito os Andes…”. Obrigado, Travessias!

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De ser preterido, em 2016, por ser negro

Por Raulino Júnior

A coisa é seria. Mais séria do que você pensa. Só sendo negro para saber. É claro que não precisa ser negro para saber sobre a situação do negro no Brasil ou para lutar pelos ideais do povo negro. Precisa ser consciente. Mas, ser vítima de preconceito e de discriminação racial, só sendo negro para saber onde e como dói. A coisa é séria. Mais séria do que você pensa.

Qual é?! Foto: arquivo pessoal

Estamos em 2016, mas muitas pessoas agem como se tivéssemos no século XV, quando, ao meu ver, atitudes racistas e discriminatórias já eram um absurdo. É revoltante como o discurso de exclusão está naturalizado. É revoltante ver as desculpazinhas esfarrapadas que as pessoas usam para justificar o injustificável. É revoltante, muitas vezes, não agir de forma apropriada diante de tal situação. Há uma certa paralisia, um não acreditar que aquilo está acontecendo. É revoltante! A coisa é séria. Mais séria do que você pensa.

Estamos na era das seleções: de emprego, de estágio, de atores etc. Nessas seleções, o que deve ser levado em consideração? O que é mais importante: a habilidade para executar o trabalho proposto ou a cor da pele? Em condições normais de temperatura e pressão, seria a primeira opção; mas como vivemos numa sociedade racista, preconceituosa e discriminatória, a segunda prevalece. E prevalece na maior caradura! Com complementos, no final de uma pedrada, do tipo: “Eu adoro negro. Acho lindo esse tom de chocolate, mas…”. Eu não tenho tom de chocolate nem quero ser associado a tal. Não sou objeto. Sou negro. Sou pessoa. Sou humano. A coisa é séria. Mais séria do que você pensa.

Quando isso vai mudar? E vai mudar? Não sou pessimista e não gosto do pessimismo, mas, nesse caso, sou cético. Infelizmente. É duro ser preterido, apenas, por ser negro. É jogar toda a história de um povo no lixo e considerar que ela não valeu de nada. Mas ela valeu, sim! Mais do que nunca, é preciso ocupar, se apropriar, cavucar. A coisa é séria. Mais séria do que você pensa. O nosso enfrentamento também.

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sexo e as negas é um ATENTADO!


Pra começar, vou esclarecer: ao longo deste texto, vou utilizar o nome do seriado da Rede Globo sempre em minúsculas e sem destaque, como uma forma de demonstrar o meu tamanho desprezo por tal produção.

Anteontem, assisti pela primeira vez à propalada série daquele “autorzinho” que acha que está fazendo um bem para a humanidade engendrando uma teleficção descabida e cheia de propósitos! Fiz o meu papel como cidadão consciente e responsável: para não ser preconceituoso, assisti antes de julgar. Agora, é a hora do julgamento. sexo e as negas é um manifesto racista da Rede Globo! É uma forma de a emissora dizer: “Os negros são assim”. E, nesse “assim”, cabe tudo: estereótipos, desrespeitos, preconceitos. Uma série escrita por “estrangeiros”! Artur Xexéo é um dos colaboradores! Não precisa dizer mais nada, né? Enfim… É o olhar do outro sobre nós. E o pior: é como os outros querem nos ver! Para eles, somos limitados, desbocados, máquinas sexuais e defeituosos. No episódio de terça-feira, 23 de setembro, intitulado “O pente que te penteia”, a ideologia adotada pelos produtores da série foi a de que o cabelo do negro e da negra é um problema. Com personagens interpretados por atrizes negras reforçando isso! Tanto é que períodos como “Meu cabelo tá rebelde, cheio de vontade. Esta semana eu vou botar rédea no bicho [sic]”, “Cabelo é assim: ou a gente domina ele ou ele domina a gente”, “Nossa, o teu cabelo tá com cheiro de gordura! [da filha para a mãe]” eram constantes nas falas delas. Teve a história da menina negra cooptada, que mora na comunidade, e foi “fazer o cabelo” (essa foi a expressão usada!) na Zona Sul carioca (onde, de acordo com a fala de uma personagem branca, “só tem nega fina”). Teve a história da cabeleireira branca, do Sul do país, que ao ser indagada se tinha dado jeito no cabelo de umas das “protagonistas” negras, soltou: “O cabelo é ruim, mas eu sou pior do que ele. Eu sou bem pior!”. A sulista também falou: “Tô morta! Não consigo nem coar um café! O cabelo da Tilde [a “protagonista”] me deu uma surra! Já disse ao Vinagre: ‘Deus que me livre ter sobrinho com aquela carapinha!’”, “Foi graças à negra Verena que eu aprendi a lidar com cabelo ruim”.  sexo e as negas é um atentado! sexo e as negas tenta destruir toda a nossa luta! sexo e as negas é um absurdo!

Enquanto acompanhava o episódio, me senti envergonhado em várias ocasiões. O Brasil retrocedeu 500 anos com sexo e as negas. O país involuiu. A série é cheia de estereótipos! Tem o negro e a negra como objeto sexual. Tem a casa de patrões brancos que, na ausência da mulher, o marido aproveita para seduzir a empregada. Dessa vez, dando R$ 200 para ela “cuidar do cabelo”. Não precisa dizer que a empregada é negra, né? Estereótipos! Olha o que fazem com a gente! Aos negros que estão no elenco, de antemão, eu peço desculpas pelo que vou afirmar, mas vocês estão sendo usados. Tal qual um senhor abastado fazia com seus escravos numa colônia bem perto daqui… Aldri Anunciação (autor de Namíbia, Não!, uma sátira política, que considero um manifesto antirracista!), Karin Hils (aquela que foi do grupo Rouge e que tantas vezes falou de racismo na TV), Corina SabbasLilian ValeskaMaria BiaAdriana LessaRafael ZuluAline DiasRafael MachadoIzak DahoraBeltrano e Beltrana: vocês estão sendo usados! E eu sei que sabem disso. No presente, vão querer reconsiderar, mas no futuro… sexo e as negas é o novo Cinderela Baiana. Daqui a cinco, dez anos, quem participou vai se sentir desconfortável de falar que integrou o elenco da série.

Sinceramente, fui dormir com raiva após acompanhar esse triste episódio da história recente do Brasil. Mas o que esperar de uma TV que tenta vitimar racistas e que institucionaliza a “inveja branca” como aquela em que não há cobiça? sexo e as negas é uma série minúscula! sexo e as negas é desnecessária!

No rodapé da seção de “Créditos” do site oficial da série, a indicação de que a obra é de “livre criação artística e sem compromisso com a realidade”. Típico. Captura da tela: 25/9/2014.

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Discriminação, Entrevista, Jornalismo, Negritude, Negro, Preconceito, Racismo

ESTUDIOSOS DISCUTEM QUESTÕES LIGADAS À NEGRITUDE

 
Sabrina Gledhill e Jaime Nascimento

|Educação Os professores Sabrina Gledhill e Jaime Nascimento concederam entrevista exclusiva para o Desde que eu me entendo por gente. Na ocasião, eles falaram sobre negritude, preconceito e discriminação. A inglesa Sabrina Gledhill, 55 anos, é bacharel em Letras Inglesas e mestre em Estudos Latinoamericanos. Radicada na Bahia desde 1986, realiza pesquisas históricas e antropológicas. Jaime Nascimento tem 40 anos, é bacharel em História pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e mestrando em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
 
Desde que eu me entendo por gente: Negritude é algo que vai muito além da cor da pele? Por quê?
 
Sabrina Gledhill: É uma pergunta que, realmente, eu teria que pensar muito para responder, mas claro que negritude é uma filosofia. É uma questão de amor próprio, de visão de cultura, de história, de ancestralidade. Eu acho que têm muitas pessoas que são consideradas negras e que não têm negritude, no sentido de ter orgulho da cultura dos seus ancestrais negros. Aqui no Brasil se diz que todo mundo tem ancestralidade tripla, mas a ênfase é mais nos europeus. A parte indígena nem se fala. Existem muitos preconceitos e muita falta de informação sobre a África. Algumas pessoas acham até que a África é um país.
 
Jaime Nascimento: Sim. Isso pode ser mais ligado à questão do pertencimento, das pessoas se perceberem como negras ou não. Por exemplo, o nosso Rei do Futebol tem esse entendimento? Alguma vez ele se declarou? Eu não estou falando de ser militante, de carregar bandeira, não; mas de colocar “minha posição é essa”. Infelizmente, tem um monte de gente que não é negra; mas, felizmente, tem muita gente que é. Inclusive, não sendo fenotipicamente negra, mas considerando-se como tal. É questão de pertencimento, de percepção individual de cada um.
 
DQEMEPG: Muita gente costuma confundir preconceito e discriminação. Para esclarecer, diferencie cada conceito.
 
SG: Preconceito é uma questão muito pessoal. Discriminação é o que se faz no dia a dia para oprimir e excluir pessoas. O preconceito é a base de tudo isso. É uma coisa que, infelizmente, as pessoas aprendem no berço e com a televisão. Pode ser até inconsciente. O preconceito fere, mas é a discriminação que realmente perpetua as desigualdades.
 
JN: O preconceito é a sua opinião, positiva ou negativa, em relação à determinada coisa. A discriminação é a sua ação em função disso. Inclusive, o que a lei proíbe é a discriminação. Você não pode tratar as pessoas de forma diferente em função de uma característica física, psicológica, religiosa, sexual, o que for. A não ser que seja uma coisa da própria lei que vise, justamente, a promoção da igualdade. É o que se chama de discriminação positiva. O contrário não pode ser feito: discriminar prejudicando. Ninguém pode fazer isso e se fizer está passível de cumprir as penas que a lei impõe. A diferença básica é essa: a discriminação é a ação em função do preconceito.

# As péssimas fotos foram feitas por Raulino Júnior. Locação: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).

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