Cultura, Entrevista, Fotografia, Fotojornalismo, Jornalismo Cultural

“Falta à FUNCEB a criação de uma política cultural para a fotografia” | Aristides Alves é um empreendedor da fotografia. Com mais de 30 anos de carreira, o fotógrafo usa as influências de sua formação acadêmica, a cultura e o sincretismo religioso da Bahia para realizar seus trabalhos

| Entrevista

O fotógrafo Aristides Alves é baiano por opção. Nascido em Belo Horizonte, em 1949, ele se radicou em Salvador em 1972. Na capital baiana, cursou biologia (1977) e jornalismo (1983), ambos na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Aristides foi um dos fundadores do grupo FotoBahia e sócio-fundador da ASA, primeira agência baiana de fotografia. Também atuou como coordenador do Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB). Com mais de 30 anos de carreira, já publicou seus trabalhos em revistas como VejaISTOÉElle e Bravo. Lançou diversos livros de fotografia, dentre eles Fotografia (1988), Orixás (1994), Fotografia na Bahia, 1839-2006 (2006) e Garimpo de Imagens (2008). As manifestações culturais, a natureza, o teatro, a dança, os shows e a arquitetura são temáticas frequentes nas imagens de Aristides Alves. O fotógrafo participou de diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Hoje, dedica-se a projetos editoriais com temáticas religiosas e documentação de natureza antropológica, que valoriza as tradições culturais da Bahia. 

 1) Comunicação e biologia são áreas, aparentemente , distantes. Você acha que conseguiu conciliá-las no seu trabalho de fotógrafo?

Editei uma coleção de cinco volumes chamada Áreas de Proteção Ambiental da Bahia e também o livro Biomas da Bahia. Ter estudado biologia me ajudou a formatar e planejar a produção desses e de outros projetos nesta área. Informações técnicas e conhecimento da flora, da fauna, da formação geológica, do ecossistema, da importância da biodiversidade e a sua relação com o homem são essenciais para elaborar uma linha de pensamento na qual você irá construir a identidade visual do ensaio fotográfico. O domínio da técnica fotográfica aliado ao conhecimento do objeto fotografado e à abordagem estética estabelecida pelo fotógrafo irão definir a qualidade e a relevância do seu trabalho.
2) Para você, o fotojornalismo baiano mudou muito desde a época da criação da agência ASA?

O fotojornalismo baiano teve seu grande momento na década de 80. Nesta época, havia as sucursais dos jornais O Estado de São PauloJornal do BrasilO Globo, das revistas VejaISTOÉ etc. Para cada uma dessas sucursais, um fotógrafo. Os profissionais que se destacaram neste período foram Agliberto Lima, Oldemar Victor, Artur Ikíssima e Rino Marconi.  Nos últimos anos, as mudanças ocorridas no eixo econômico-político, depois no formato analógico-digital e nos meios de comunicação contribuíram para o empobrecimento de conteúdo que, associado à baixa renumeração dos profissionais, resultou num fotojornalismo sem grandes perspectivas. As exceções são os trabalhos de fotógrafos como Xando Pereira , Marco Aurélio Martins e Arestides Baptista.

3) A experiência como Coordenador do Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia lhe possibilitou fotografar diferentes manifestações culturais. Quais foram os desafios desse trabalho?

Quando estive no Núcleo de Fotografia o objetivo era incentivar a produção e a divulgação da fotografia baiana, promover cursos, oficinas e etc. Então, não me possibilitou muita coisa. O maior desafio daquela época, que perdura até hoje, é a criação efetiva de uma política cultural para a fotografia.

4) O que você faz para dinamizar o seu trabalho? Para não mostrar o mais do mesmo?

Gosto de encarar desafios. Quando comecei, fotografar com filme P&B era diferente de Filme Cor e Filme Cromo. O formato 35mm diferente do 6×6, fotografia de rua diferente da técnica de estúdio. Então, eu me dispunha a realizar ensaios fotográficos em cada forma. Isso foi muito bom para aprender a dominar as diferentes técnicas e relacioná-las com a forma e conteúdo dos temas fotografados. Também gosto dos deslocamentos geográficos. Em março de 2012, vou lançar o meu 13º livro, sobre a cidade de São Luís do Maranhão, e que tem texto de apresentação do poeta Ferreira Gullar. Tenho duas exposições para fazer e novos trabalhos.
# Todas as imagens foram copiadas do perfil de Aristides Alves no Facebook (https://www.facebook.com/Aristides.Selva?fref=ts), com autorização do artista.
# A entrevista foi feita por e-mail.
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