“O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos”*
Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta||
É muito comum, principalmente nesta época do ano, o público ser bombardeado com lançamentos musicais de artistas de diversos gêneros. Nada novo sob o sol. Isso é uma tônica da indústria fonográfica desde sempre. Cantores, cantoras e bandas querem emplacar o sucesso do verão e não medem esforços para isso. Nenhum mesmo! O que é, digamos, relativamente novo, é a forma como o marketing em torno desses lançamentos acontece. Tenho certeza de que você já viu um card (ou story) nas redes sociais ou um outdoor nas vias por onde circula anunciando a música do artista “X” ou “Y” como “o novo sucesso do verão” ou “o hit”. É nesse momento que você se pergunta: “Que música é essa que eu nunca ouvi? É hit mesmo?”. Tais questionamentos não têm a ver com arrogância, de se achar superior porque não escuta “esse tipo de música”. Na verdade, têm relação com uma consciência de entender que uma música se torna “o sucesso” de forma muito orgânica e não trazendo esse título previamente. É como se o artista invalidasse a importância da curadoria do público. Estranho demais. Afinal, “todo artista tem de ir aonde o povo está”, não é?
Antigamente, o marketing da “música de trabalho” era todo feito pelas gravadoras, que ditavam o mercado. Os artistas, obviamente, tinham que divulgá-la ao máximo. Em geral, a música era escolhida por mandachuvas das empresas, que pouco entendiam do riscado e não eram, necessariamente, artistas. Fazia parte do modus operandi. Hoje, o próprio artista tem essa autonomia para escolher a música que vai trabalhar em cada período do ano. Como o cenário está cada vez mais competitivo, muitas estratégias são utilizadas para fazer a música “hitar”. Uma delas é fingir que o lançamento é um sucesso retumbante. Nunca é, mas o artista faz parecer ser. Muitas vezes, até dentro da bolha dele (os fãs), a aposta não estoura. Os fãs toleram, mas sabem que a música não é aquilo tudo que o artista vende. E por que alguns artistas mantêm essa ilusão? Há várias razões, mas a principal delas é a presunção de que a música vai acontecer. Quase sempre, não acontece e flopa (para usar um termo da atualidade) de maneira não esperada pelos envolvidos. É uma bomba mesmo, que não estoura! No máximo, um traque junino, que não abala estrutura nenhuma.
Em recente entrevista para o BahiaCast, podcast de Salvador, o cantor e compositor Ricardo Chaves fez uma analogia que se aplica ao que está sendo discutido aqui. Ele falou que a música perdeu o efeito perfume, devido à velocidade de produção dos tempos de hoje: “O que é que eu chamo de efeito perfume? Quando você sente um perfume, ele lhe remete a alguma coisa de alguém que usou aquele perfume. Seja sua vó, seja sua mãe, seja seu pai, seu melhor amigo, sua primeira namorada, seu momento legal. E a música tinha esse efeito, hoje ela não tem mais”. A música marcava porque tinha uma identificação e conexão com o público. Apesar de toda a busca por lucro que está presente na indústria cultural, a impressão que dá é que antes as músicas não eram feitas, deliberadamente, para marcar. Elas, simplesmente, marcavam. Pode ser ingenuidade pensar assim, mas era o que parecia. Havia uma espontaneidade no ar. Hoje, há toda essa sanha de ter o sucesso do verão, de querer marcar goela abaixo. E não marca. Qual foi a grande música do verão passado? Ninguém sabe. O radicalismo é intencional!