Artigo de Opinião, Opinião

A beleza como meta

A busca desesperada pela beleza física transforma as pessoas em doentes sem consciência e inconsequentes. Para os adeptos da ditadura da beleza, vale qualquer coisa para se tornar belo. Contudo, será que esse “belo” agrada mesmo ou é apenas uma invenção social? Por trás disso, está a ideia da eterna juventude, que faz todo mundo ficar parecido, mesmo se achando diferente. Paradoxal, não?

Aceitar as marcas do tempo tem se tornado um desafio para os seres humanos que querem permanecer com a cútis de quando tinham dez anos de idade. Algumas pessoas resistem às mudanças impostas pelo dia após dia. Diante disso, surge uma busca desenfreada por uma beleza que não é mais a mesma de outrora, se é que havia antes. Nesse sentido, o uso de recursos “milagrosos” e as exageradas intervenções cirúrgicas para alcançar o belo fazem com que as pessoas não percebam que, muitas vezes, acabam ficando pior do que eram. Um caso emblemático é o de Scheila Carvalho, que foi uma das mulheres mais bonitas do universo midiático. Eu disse “foi”, porque hoje parece irmã gêmea da Gretchen. A equação é simples: Scheila + ditadura da beleza = Gretchen. Ou melhor: qualquer mulher + ditadura da beleza = Gretchen.

A morena que se acostumou a ouvir comentários de “linda, maravilhosa” na época do É o Tchan, virou alvo, principalmente na internet, de comentários desagradáveis. Isso se deu porque Scheila se tornou vítima da própria beleza. Por ter sido considerada uma beldade por muitos anos (ela foi eleita, por três vezes consecutivas, a mulher mais sexy do mundo, na votação promovida pela revista VIP), Scheila luta para manter-se no topo das “mais-mais”, esquecendo-se de que o tempo está sempre em movimento. O que Scheila fez para tentar manter-se jovem, não dá para afirmar com segurança. O fato é que ela não tem consciência da autodeformação que promoveu. Ninguém que convive com ela dá um toque. Ela se vê bonita, mesmo esticando daqui e injetando dali. Certamente, sofre de algum distúrbio.

Pode ser a síndrome do “‘senhora’, não, pode me chamar de ‘você’”. Explico: constantemente, mulheres que já têm certa idade, quando tratadas por “senhoras”, fazem questão de pedir ao interlocutor que as trate por “você”. Citei as mulheres porque vejo isso com mais frequência entre elas, antes que alguém questione e cause polêmica por besteira. Na cabeça delas, o termo “você” pesa menos. Nas entrelinhas desse pedido aparentemente simples, está a vontade de permanecer jovem a todo custo. Oh, my God!

Entre os homens, a beleza se resume na busca em ficar fortinho. É incrível como isso é importante para eles. Dessa forma, no intuito de se diferenciar dos demais e de se tornar o mais forte da galera, eles não percebem o quanto estão cada vez mais parecidos. Os meninos estão tão iguais que, mesmo se houvesse uma festa “sem camisa”, em contraposição às populares festas “de camisa”, ainda assim estariam todos padronizados. É uma espécie de globalização comportamental. Cuidar de si é saudável, faz bem para a autoestima e é recomendado pelos especialistas; fazer disso o único objetivo da vida é que é danoso.

Finalizo este artigo ainda pensando em Scheila. Uma sensação de medo e pena aparece ao pensar que uma mulher, de apenas 39 anos, pode ser mais uma vítima de agulhas, bisturis e toxinas botulínicas (botox). A cantora Ana Carolina, numa de suas músicas, diz: “De que vale seu cabelo liso/E as ideias enroladas dentro da sua cabeça?”. Pouca gente pensa nisso.

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