13 anos de sorte!, Cultura, Jornalismo Cultural, Música, Texto de Quinta

Músicas que já nascem com status de “sucesso do verão” ou “hit” são bombas que não estouram

  “O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos”*

Foto: montagem feita a partir de captura de tela de story do Instagram.

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 

É muito comum, principalmente nesta época do ano, o público ser bombardeado com lançamentos musicais de artistas de diversos gêneros. Nada novo sob o sol. Isso é uma tônica da indústria fonográfica desde sempre. Cantores, cantoras e bandas querem emplacar o sucesso do verão e não medem esforços para isso. Nenhum mesmo! O que é, digamos, relativamente novo, é a forma como o marketing em torno desses lançamentos acontece. Tenho certeza de que você já viu um card (ou story) nas redes sociais ou um outdoor nas vias por onde circula anunciando a música do artista “X” ou “Y” como “o novo sucesso do verão” ou “o hit”. É nesse momento que você se pergunta: “Que música é essa que eu nunca ouvi? É hit mesmo?”. Tais questionamentos não têm a ver com arrogância, de se achar superior porque não escuta “esse tipo de música”. Na verdade, têm relação com uma consciência de entender que uma música se torna “o sucesso” de forma muito orgânica e não trazendo esse título previamente. É como se o artista invalidasse a importância da curadoria do público. Estranho demais. Afinal, “todo artista tem de ir aonde o povo está”, não é?

Antigamente, o marketing da “música de trabalho” era todo feito pelas gravadoras, que ditavam o mercado. Os artistas, obviamente, tinham que divulgá-la ao máximo. Em geral, a música era escolhida por mandachuvas das empresas, que pouco entendiam do riscado e não eram, necessariamente, artistas. Fazia parte do modus operandi. Hoje, o próprio artista tem essa autonomia para escolher a música que vai trabalhar em cada período do ano. Como o cenário está cada vez mais competitivo, muitas estratégias são utilizadas para fazer a música “hitar”. Uma delas é fingir que o lançamento é um sucesso retumbante. Nunca é, mas o artista faz parecer ser. Muitas vezes, até dentro da bolha dele (os fãs), a aposta não estoura. Os fãs toleram, mas sabem que a música não é aquilo tudo que o artista vende. E por que alguns artistas mantêm essa ilusão? Há várias razões, mas a principal delas é a presunção de que a música vai acontecer. Quase sempre, não acontece e flopa (para usar um termo da atualidade) de maneira não esperada pelos envolvidos. É uma bomba mesmo, que não estoura! No máximo, um traque junino, que não abala estrutura nenhuma.

Em recente entrevista para o BahiaCast, podcast de Salvador, o cantor e compositor Ricardo Chaves fez uma analogia que se aplica ao que está sendo discutido aqui. Ele falou que a música perdeu o efeito perfume, devido à velocidade de produção dos tempos de hoje: “O que é que eu chamo de efeito perfume? Quando você sente um perfume, ele lhe remete a alguma coisa de alguém que usou aquele perfume. Seja sua vó, seja sua mãe, seja seu pai, seu melhor amigo, sua primeira namorada, seu momento legal. E a música tinha esse efeito, hoje ela não tem mais”. A música marcava porque tinha uma identificação e conexão com o público. Apesar de toda a busca por lucro que está presente na indústria cultural, a impressão que dá é que antes as músicas não eram feitas, deliberadamente, para marcar. Elas, simplesmente, marcavam. Pode ser ingenuidade pensar assim, mas era o que parecia. Havia uma espontaneidade no ar. Hoje, há toda essa sanha de ter o sucesso do verão, de querer marcar goela abaixo. E não marca. Qual foi a grande música do verão passado? Ninguém sabe. O radicalismo é intencional!

Uma música só vira sucesso mesmo quando sai da bolha do artista, porque, para o fã, a música do seu ídolo sempre vai ser bem-sucedida. Alguns fãs não têm criticidade para discernir entre realidade e fantasia. Ou, simplesmente, não querem. Para ser didático: a música da cantora “X” só vira, de fato, um “hit” quando atinge quem não acompanha a moça, pessoas que estão alheias ao que acontece na carreira dela e que são atravessadas, involuntariamente, pela canção. Durante participação na Expo Carnaval Brazil, evento que aconteceu em Salvador em novembro do ano passado, o cantor e compositor Magary Lord criticou essa busca desenfreada para ser o artista dono da “Música do Carnaval”. “Essa necessidade de ser a Música do Carnaval acabou plastificando a nossa música, que perdeu a força de poesia”. E quando perde essa força, a música atende a outros propósitos. Por isso, alguns artistas induzem o público a achar que seus lançamentos são “hit” e “novo sucesso do verão”. Alguém já disse que a propaganda é a alma do negócio. De vez em quando, essa alma fica debilitada e produz “o maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos”. 
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"Adolescendo Solar", Cultura, Jornalismo Cultural, Texto de Quinta

Se o seu amigo comparece mais nos velórios dos seus entes queridos do que nas festas que você promove, enterre a “amizade”

  “Nem venha com piedade, porque piedade não é amor”*

Imagem: reprodução do site Morning Kids

 

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
O título deste texto brinca, metaforicamente, com o contraponto entre velório (situação triste) e festa (situação alegre) para falar sobre amizade e a sua forma de ser. A gente cresce ouvindo que os amigos de verdade são conhecidos nos momentos difíceis, mas essa afirmação deve ser questionada. Primeiro, a expressão “amigo de verdade”, por si só, é problemática. Ser amigo já pressupõe uma verdade inerente. Se não tem verdade na relação amistosa, esse vínculo deve ter outro nome. Segundo, os amigos devem estar presentes em todos os momentos, principalmente nos felizes. Essa história de que a gente conhece os amigos de verdade nos momentos difíceis é a maior cilada. Amigos vão querer celebrar as conquistas uns dos outros, dividir experiências positivas e felicidade. É muito estranho quem se diz amigo só aparecer em situações tristes, em que a outra parte da amizade está debilitada. É como se houvesse um prazer de ver a pessoa em cacos e uma indiferença quando o copo está perfeito e cheio. Urubus sempre estão atrás da carniça…
Claro que não podemos desconsiderar a força que os amigos dão quando não estamos bem. A fossa é um lugar que ninguém quer estar e que sempre é necessário um apoio para a gente se restabelecer. É fundamental a presença de amigos nessas ocasiões. O que discuto aqui é que se os amigos só se fazem presentes, exclusivamente, nessas horas, a amizade deve ser discutida e a relação posta na mesa. Entre a força e a fossa, há um caminho bem grande para trilhar. E por que, muitas vezes, a força não é demonstrada nas vitórias? Eu, hein!
No livro A Amizade, o filósofo romano Cícero traz um dossiê sobre o tema, abordando vários aspectos. No capítulo V, intitulado O que é amizade?, é categórico: “[…] tenho para mim que amizade só pode existir entre indivíduos bons”. Quando duas pessoas não estão na mesma sintonia, não tem como a amizade existir. Quando um se doa e o outro não, a amizade fica comprometida. No mesmo capítulo, o filósofo tangencia o assunto discutido neste texto: “[…] a amizade faz das  coisas prósperas algo mais esplendoroso, ao passo que as adversas, quando partilhadas, tornam-se mais suportáveis”. Bingo! No capítulo XX, Razões para romper amizades, afirma: “Muitas vezes, irrompem vícios entre amigos, seja em relação a eles mesmos, seja em relação a terceiros, mas que, sempre, redundam em infâmia. Devemos, então, relaxar os vínculos de amizade até que a separação ocorra”. Romper amizade é difícil, mas, muitas vezes, a única solução para não ter peso nas costas. O que pega é que um rompimento dessa natureza é bem cruel, pois a outra parte sabe tudo sobre você. Inclusive, os seus segredos. “De fato, nada mais vergonhoso do que entrar em conflito com quem se conviveu, familiarmente”, diz Cícero.
Amigos diferem de colegas. Amigos são amigos e colegas são colegas. São dois departamentos diferentes. Neste texto, me refiro especificamente ao primeiro. Se aquele amigo só está presente nos momentos de tristeza, esse é um bom sinal para você rever essa amizade. Amigos vibram na alegria, “porque piedade não é amor”. O dicionário diz, entre os muitos significados da palavra, que “piedade” é o “sentimento de compaixão pelo sofrimento dos outros”. Fique atento(a) aos sinais!
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*Vander Lee, em Seu Nome.
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Cultura, DEZde, Jornalismo Cultural, Texto de Quinta

A Bolha da Lacração: pessoas que usam “É sobre isso” e “Paz” como argumento e querem controlar como os outros administram as próprias redes sociais

  Se não for pra lacrar eu nem saio de casa/ Olha, aê/Olha, aê*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Este texto é um diálogo com um artigo de Djamila Ribeiro, publicado no site do jornal Folha de S. Paulo, em 4 de fevereiro de 2021, e intitulado Pessoas mimadas não respeitam quem veio antes em tempos de debates rasos. Nele, a filósofa, professora e escritora chama a atenção para a importância da escuta. Principalmente, o ato de escutar quem é mais velho ou mais experiente no assunto vida (ou quaisquer outros assuntos!). Djamila narra fatos de sua trajetória, mostrando como escutar foi importante para o seu crescimento e critica “uma galera mimada, que não respeita quem veio antes ou adere a um anti-intelectualismo absurdo que não passa das três linhas de Twitter”. No desfecho, traz, na minha opinião, a alma do artigo, quando diz: “Pessoas que não limpam os pés e pedem licença antes de entrar na casa dos outros; acreditam que um post de Instagram dá conta de responder a tudo. Pessoas com 20, 30 anos, e com todas as certezas do mundo, não escutam, agridem, se ofendem se é dito que precisam estudar. Que, sem ler ou conhecer os conceitos mobilizados para a escrita de um livro, julgam que dizer ‘esse livro é uma bosta’ é crítica. Ou que xingar a pessoa de ‘chata, boba e feia’ é argumento. Maldita doxa, diriam os gregos. É a morte do pensamento crítico, do respeito e da falta de humildade para ouvir uns puxões de orelha”.

Concordo com Djamila, embora ache que devemos ter cuidado para não tratar a questão com um viés maniqueísta, caindo no “é melhor”, “é pior”, “é bom”, “é mau”, mas tem, de fato, uma geração que reclama de tudo, que vive patrulhando a vida alheia, que nada está bom e que nada faz para mudar. O lugar dessa geração é o de reclamar. Só e somente só. Se sentem donos de todas as razões, apontam as bolhas e não percebem que eles próprios vivem na Bolha da Lacração. Se acham os maiorais no jardim das ilusões. Não erram! São os mais antenados! Perfeitos! Não têm defeitos! São um poço de simpatia! Sabem viver em comunidade e, quem não segue o padrão estabelecido por eles, é tachado de esquentado, problemático, pessoa que gosta de confusão. Rechaçam qualquer sinal de humanidade em humanos. Só a turma deles presta! Fingem ser do diálogo e progressistas, mas, a qualquer sinal de discordância ou de não atendimento às suas expectativas, cancelam tudo e todos. Inclusive, a cultura do cancelamento é o grande troféu de parte dessa geração, que não debate, não está aberta a debater (muitas vezes, por falta de argumento!) e, por isso, “cancelam”. É mais fácil, não é? É lacração pura!

É uma galera que, certamente, acha que inventou o mundo. O mundo surgiu quando eles nasceram. Nada existia antes. Em sua participação no podcast Podpax, no dia 29 de novembro de 2021, o cantor Pedro Mariano refletiu sobre isso, ao falar da postura das novas gerações no universo da música: “Eu falo sempre pra todas as novas gerações: mas de onde você quer chegar, aproveita a viagem, que a viagem é muito importante, mas não esqueça da onde ‘cê veio e não esqueça quem que deixou o bastão aqui pra você. Eu tenho repetido isso até um pouquinho demais, mas nunca é demais lembrar, que essa nova geração […], parece que o mundo aconteceu num estalo no dia seguinte que eles nasceram, né, que não tinha nada antes, que tudo que ‘tá aqui, ‘tava aqui já, não foi ninguém que fez, ninguém entregou isso aqui, essa parada pronta, entendeu? Se você usa um boné brilhante, ninguém teve a ideia antes, né. Tudo começou agora e eu sou um gênio porque eu inventei tudo. Isso é o lema da nova geração”. Concordo com Pedro. É um povo que acha que inventou a militância, por exemplo. Militância de todas as naturezas. Só a militância deles é a que vale. Ninguém mais milita! Só eles! Inauguraram isso. A militância surgiu com eles.

Em geral, pessoas que fazem graduação, mestrado e doutorado e, por isso, se acham acima de tudo e de todos. Que não têm apenas o rei na barriga, mas o Império todo, num esforço de se aproximar da arrogância de alguns docentes das universidades, que inoculam esse vírus a torto e a direito. É a turma que fala que quer botar o professor universitário no potinho, num puxa-saquismo de enojar qualquer cidadão que tem consciência do seu potencial, que abdica dessa postura para alcançar os seus objetivos. Pessoas que, numa estratégia de alimentar a própria mediocridade, silenciam os outros, não reconhecem a potencialidade alheia, não elogiam. Só criticam. São os bonecos Revoltadinhos da Estrela, que têm um discurso bem bonito de justiça social, mas, na primeira oportunidade, lideram conchavos e malandragens. O povo do “Para além…”, nos debates acadêmicos. Que vomita autores o tempo todo, porque essa é a demonstração máxima de sapiência nos corredores e salas de aula das instituições de ensino superior. E também nos simpósios, congressos e mesas redondas! No fundo, no fundo, pessoas vazias. Se a gente espreme, não cai nem suor. Imediatistas, querem tudo para agora. Não valorizam a caminhada. Iniciam projetos, alguns até superbacanas, mas, como a ação não atende às expectativas traçadas, encerram. Querem ser bem-sucedidos, mas não querem trabalho. Pessoas que acham bonito falar que fazem terapia, porque veem os personagens de suas séries e de suas novelas prediletas falando. Não têm noção do que isso implica, da importância desse tratamento para a saúde dos mais de 20 milhões de brasileiros que fazem consultas dessa natureza (de acordo com dados de uma pesquisa feita pelo Instituto FSB). Para essa bolha, “Eu faço terapia” é quase uma senha para o mundo deles, que são os mais descolados, os conscientes, os mais-mais, as pessoas que têm a solução para tudo no mundo.

A Lacração tem sempre uma diva, rebolativa ou não, para chamar de sua. Quando alguém não curte o que eles curtem, argumentam com o clichezaço propalado na internet: “Aceita que dói menos”. Aceitar o quê, criatura?! Oxe, oxe, oxe! Para aceitar, tem que fazer parte da nossa vida. Tem artistas que estão aí, fazendo o trabalho deles, e a gente não tem nem ideia do que eles estão realizando. Simplesmente porque a gente não acompanha a vida deles. Em outubro, continuando a minha estratégia de ler uma coisa mais leve sempre quando termino de fazer leituras mais densas, resolvi ler a biografia de uma dessas “divas” rebolativas com aspirações internacionais intergaláticas. Ao me deparar com a narrativa do autor, um jornalista que cobre o disse me disse de pessoas famosas, percebi que não sabia metade das coisas citadas. Não conhecia algumas músicas elencadas e classificadas como “hits”. Ficava entre o livro e os sites de busca na internet, para me familiarizar com os personagens citados. Isso não é problema da artista, mas, sim, meu. Como não a acompanhava, não sabia de nada. Então, não tinha como aceitar. Não se aceita aquilo que nem existe para você.

Uma característica comum aos integrantes da Bolha da Lacração é a covardia. Eles não falam nada PARA você, mas DE você. De preferência, em grupos de WhatsApp, onde todos falam para todos e não ultrapassam aquela bolha ilusória da justiça e do bem viver social. É chuva de prints o dia todo! “Olha o que Fulano postou!”, “Vocês viram isso?!”, “Menina, eu tô passada!”. Claro que inventam apelidos bem cruéis para se referir aos alvos de suas críticas! Essa é a geração que vive bradando aos quatros ventos na rede social do momento que quer mudança social. É sobre isso, sabe?!

“É sobre isso” e “Paz”: o máximo de argumentação

A Bolha da Lacração se acha tão original, tão fundadora de tudo, que, obviamente, não se percebe, mesmo quando vai na onda dos modismos de hoje em dia. A gente já está cansado de saber que a língua é viva mesmo, é dos falantes e quais, quais, quais. Isso é indiscutível. Contudo, tem expressões que as pessoas usam apenas porque todo mundo está usando. Elas não refletem sobre o uso. Nos anos 90, foi assim com “a nível de”. Será que o “é sobre isso” é o “a nível de” de agora? Pode ser. O fato é que essa geração que se acha a dona de todas as verdades usa tal expressão para argumentar tudo. Em tempos de objetividade, principalmente a exigida para bombar nas redes sociais digitais, é até compreensível, não é? “Paz” também faz parte do repertório, mas, digamos, está menos frequente nas telas. É sabido que quantidade não determina qualidade, mas argumentar com 13 (É sobre isso!) ou quatro (Paz!) caracteres, de fato, deve ser coisa de iluminados. Quando não se tem nada para falar, largam um “É sobre isso”, que quer dizer, absolutamente, nada. Eu acho fofo quando vem acompanhado do “sabe”: “É sobre isso, sabe?”. Fico imaginando alguém argumentando assim na redação do ENEM. O tema da edição de 2021 foi “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. Oxe! Tasca um “É sobre isso” e fica aliviado! 1000 pontos! Também pensei numa festa de camisa colorida reunindo essa galera da argumentação sintética: “É Sobre Isso Fest!”. Muito original! Ninguém criou algo parecido! Mais uma vez, eles vão inaugurar um filão. Inclusive, parte da Bolha da Lacração que lê este texto, porque eles não têm paciência para textos com mais de dez caracteres, vai desqualificá-lo. Vai dizer que é raso, sem argumento, que é clichê, que eu falo o que qualquer pessoa podia falar. Argumento, de verdade, é o “é sobre isso”, sabe? Paz.

Legisladores das redes sociais

A Bolha da Lacração também se acha no direito, porque eles podem tudo, de dar pitaco sobre como uma pessoa administra e se comporta nas redes sociais digitais. “Fulano posta demais”, “Beltrano não posta nada”, “Sicrano posta as mesmas coisas, em todos os lugares. Que saco!”. Pois é. A nossa liberdade é cerceada pelos lacradores de plantão. No jardim das ilusões em que eles se deitam em berço esplêndido, acham que podem controlar o que quiser, determinar o que pode e o que não pode ser feito. Certa vez, uma desavisada veio me dizer, por mensagem privada no Instagram, que eu não deveria ter feito um comentário (elogioso até!) num post do perfil de uma faculdade de comunicação que frequentei por seis anos. Tratava-se de uma publicação que informava sobre uma roda de conversa que discutiria racismo estrutural na cobertura jornalística. De acordo com “a dona da verdade”, eu não deveria parabenizar uma entidade por fazer algo que é obrigação. E o tom da mensagem era de carão. Imagina?! A sorte é que sou bem educado… Ela só desconsiderou a minha vontade de elogiar a iniciativa, porque quis fazê-lo e fiz. Sou dono da minha liberdade, não é? Inclusive, é bom frisar: eu tinha elogiado “a iniciativa”, não “a instituição”, o que é bem diferente. Mas poderia ter elogiado a instituição, se quisesse e se achasse pertinente. Além de sensatez, faltou à coleguinha (sim! Ela é jornalista, oriunda da mesma faculdade) capacidade de interpretação de texto. Os lacrativos são assim: acham que podem controlar tudo! Até os nossos comentários! Uma menina bem pretensiosa (como muita gente que frequenta e frequentou a referida faculdade!), que não acredita no conceito de antirracismo e que usa “escurecer”, em vez de “esclarecer”, achando, com isso, que milita pela causa negra mais do que todo mundo. Ô dó! Vai fazer carreira na militância…

Bizarro! (argumento 1)

É sobre isso! (argumento 2)

Paz! (argumento 3)

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*Karol K, em Lacrei.

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É Desde! É Dez! É DEZde!

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Saio do interior/Vou morar na capital/Esqueço as minhas raízes/E me acho o maioral: o ser humano e a sua grande pequenez

 Tem gente que vai pra nunca mais*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 

“Tem gente que é metido a besta”. Quem é interiorano, já deve ter ouvido essa frase. Os mais velhos costumam dizê-la para se referir às pessoas que mudam de comportamento, de postura e de personalidade quando se mudam, quando vão morar num lugar que é considerado mais desenvolvido do que aquele de origem. Será que a pessoa muda, de fato, ou apenas achou uma oportunidade para botar a asinha de fora? Para mostrar ser quem realmente é? Hum… Questionamentos que dão uma pesquisa de doutorado. De qualquer forma, se achar melhor que os outros a ponto de esquecer de onde veio é de uma pequenez tão grande. Tem gente que só se acha porque não se encontra. Aí, fica perdido.

Quantos exemplos que corroboram o que está sendo dito aqui você tem na cabeça? Não é difícil mesmo encontrar casos. É muito comum. A pergunta que fica é: por quê? Por que uma pessoa, bem-sucedida (e, talvez, seja até por isso!), renega o lugar que contribuiu para a sua formação cidadã e humanística? O lugar de sua base, de suas raízes? O lugar que formou parte de sua identidade? Por quê? Por quê? Por quê? Quem tiver a resposta, sinaliza. Eu não consigo entender.

Buscar uma vida melhor é um direito de todos. Ninguém está no mundo para estacionar, para ser sempre a mesma coisa. Migrar faz parte desse pacote. A gente não encontra mais sentido em continuar no nosso lugar de origem e vai atrás de novos ares, para manter o equilíbrio, a satisfação pessoal e alcançar os nossos objetivos. Legítimo e natural. Isso sempre tem que ser a nossa meta. Contudo, fazer disso um trampolim do esquecimento de onde você veio é tão esquisito que não tem nem o que pensar. É só lamentar.

A sociedade brasileira adora uma diferença, uma escala, uma dicotomia entre “ser melhor” e “ser pior”. Isso explica o comportamento das pessoas que saem do interior para morar na capital e, por isso, se acham superiores. Essa superioridade se configura no desprezo a tudo que se relaciona com a cidade onde nasceu e/ou viveu parte considerável da vida. Há um distanciamento consciente, um silêncio que faz barulho, por dizer muita coisa. Tem gente que, no fundo, acaba sendo de lugar nenhum.

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A inveja que adoece, que mata e que, no fundo, é sempre inveja mesmo

Quando o desprezo a gente muito preza/Na vera, o que despreza é o que se dá valor*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 

No seu dicionário, Caldas Aulete é categórico quando define inveja: “Misto de desgosto e ódio provocado pelo sucesso ou pelas posses de outrem”. Logo no início do seu livro Mal Secreto (Inveja),  publicado em 1998, pela Companhia das LetrasZuenir Ventura afirma que “inveja é não querer que o outro tenha”. Na Bíblia, em Provérbios, capítulo 27, versículo 4, lê-se a indagação: “O rancor é cruel e a fúria é destruidora, mas quem consegue suportar a inveja?”. Quem? Nem o invejoso nem o invejado. Esse pecado capital, que muita gente prefere dizer que não comete, faz mal para todo mundo.

A inveja está em todo lugar: nas instituições de educação, na família, nas praças, nas redes… Basta ter humano, para ter inveja. Ou basta ser humano para ter inveja? Talvez, seja um sentimento inerente a qualquer ser vivo, não só aos humanos. É como se a gente nascesse com um gene da inveja. Uns desenvolvem mais, outros desenvolvem menos. É possível que algumas pessoas nem desenvolvam, fiquem indiferentes. Porém, alguns autores que refletem sobre esse mal dizem que todo mundo tem ou já teve inveja. É só mais um pecado, como a luxúria, a soberba, a preguiça, a gula, a avareza e a raiva. Mais cedo ou mais tarde, a gente demonstra um deles em alguma situação da vida. Faz parte da nossa “ser humanidade”.

Não gostar de alguém, de algo ou de alguma coisa, é supernatural. Não reconhecer que uma pessoa é bem-sucedida naquilo que ela faz, não. Isso é inveja. Porque inveja também é a infelicidade ao ver a felicidade do outro. Então, ao ver o outro feliz, com sucesso (não vamos confundir com fama! É sucesso mesmo, no sentido de ter alcançado aquilo que queria!), nasce no invejoso um sentimento de repulsa, de negação, de não querer que aquilo, que é fato, continue acontecendo. Nesse sentido, ele busca subterfúgios, coisas para anular o invejado, para que esse não seja, mesmo sendo.

Quando alguém que se diz nosso amigo só se faz presente nos momentos difíceis da nossa vida, isso também é estranho e tem um pé lá na inveja. É como se houvesse um prazer de nos ver sofrendo, de ver que aquela nossa alegria foi abalada de alguma forma. Então, o ato que é visto como solidário, na verdade, esconde um prazer de não ver o outro feliz. Ou seja: é inveja. Em artigo intitulado O sistema mental determinante da inveja, publicado na Revista Brasileira de Psicanálise (RBP), em 2009, o professor Walter Trinca afirma que “o  invejoso sofre por aquilo que lhe falta, ainda quando se alegra com o sofrimento alheio”. Difícil constatar, mas é isso.

A mentira faz parte da inveja. Está contida nela. Sabe aquela pessoa que diz que torce por você? Fique atento(a) a essa torcida! Ela pode ser a favor, mas também pode ser contra. É a inveja. Inveja é querer que o outro não tenha. Se o sucesso de outra pessoa te incomoda, isso é inveja, porque inveja é querer que o outro não tenha. Se a alegria de outra pessoa te incomoda, isso é inveja, porque inveja é querer que o outro não tenha. Em Mal Secreto (Inveja), Zuenir reproduz a famosa afirmação atribuída a Tom Jobim: “Sucesso, no Brasil, é ofensa pessoal”. É isso mesmo! Duvida?! É inveja!

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Síndrome da projeção: as pessoas que acham que você quer aquilo que você nem quer

 Não é minha culpa a sua projeção*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 

Psicologia trata a projeção com um mecanismo de defesa e isso não é muito difícil de perceber nas relações humanas do dia a dia. Algumas pessoas projetam nas outras aquilo que está nelas e que, por alguma razão, elas não aceitam; tanto de bom quanto de ruim. Quando a característica é ruim, fica fácil de entender por que elas querem se livrar. Quando é boa, não, mas Freud explica: “Dentre as teorias psicológicas, a que mais utiliza a projeção no arcabouço teórico é a Psicanálise. Para explicitar a manifestação da projeção, a teoria psicanalítica ampliou o sentido e definição do conceito, concebendo-a como uma operação na qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro, pessoa ou coisa, as qualidades, os desejos, os afetos, os sentimentos e até mesmo os ‘objetos’ que estão internalizados e ele desdenha e/ou recusa aceitar e/ou admitir que lhe são pertencentes”. Esse trecho foi retirado do artigo Desvendando o Mecanismo da Projeção, escrito pelas professoras Ana Lucia Barreto da Fonsêca e Maria do Socorro Sales Mariano, e publicado em 2008, na Revista Psicologia em Foco. A reflexão feita aqui vai se concentrar nos desejos que, muitas vezes, pertencem a uma pessoa e ela sai por aí projetando nos outros. Eu, hein!

O ser humano é, como bem diz o clichê, uma caixinha de surpresa. Quando você menos espera, ele te surpreende. Afinal, o que é que faz uma pessoa supor o que a outra quer da vida? Ou deve se achar muito poderosa ou, e é o mais lógico, é uma forma de extravasar aquilo que se reprime. Só pode. Deve ter uma satisfação, algum prazer bem estranho, em achar que todo mundo quer aquilo que, provavelmente, quem projeta é quem deseja. Não é todo mundo. Nunca vai ser, por sinal. Isso também é problema de leitura. Ou seja: de como a gente lê o outro. Por puro preconceito, e não tem outro nome para isso, a leitura pode ser bastante equivocada. Nesse sentido, o dono da projeção perde um tempo supondo algo que acredita ser um desejo da vida alheia e abdica da própria vida e dos próprios sonhos. Evocando o poeta: eu não consigo entender essa lógica.

Uma pessoa sabe muito bem o que ela quer para si. Sempre sabe. Pode acontecer de ela ficar insegura, de não querer falar para o mundo de imediato, de protelar, mas sempre vai achar um caminho para se mostrar e outras pessoas que vão apoiá-la no sonho que ela tem. Agora, quem faz projeções achando que alguém quer ou deveria fazer isso ou aquilo, deve, numa boa, procurar ajuda, porque “alguma coisa está fora da ordem”**.

Às vezes, a pessoa está ali, na dela, fazendo as coisinhas dela, sendo bem-sucedida nos objetivos que ela traçou, e o que ela quer é, simplesmente, ter saúde para continuar fazendo o que ela faz. Qualquer projeção alheia é só uma projeção alheia mesmo. Fica para quem projetou. Principalmente, porque, com certeza, deve ser uma vontade dessa pessoa, não do projetado. “Perceba que não tem como saber/São só os seus palpites na sua mão“.

Então, e isso não é uma projeção, é apenas um exemplo, se você quer ser o novo digital influencer, seguido por 7 bilhões de pessoas, e quer participar do Encontro com Fátima Bernardes para discutir pautas que têm relação com o que você faz nas redes sociais digitais: vai lá, fio! Traça os seus objetivos, entra de cabeça e faz acontecer. Joga para o Universo! Lembre-se: esse é um desejo seu, não é de todo mundo. É verdade que muita gente quer isso, mas tem muita gente também que não quer! Eu não quero! Não considero que isso seja importante para a minha vida nem para os objetivos que traço para mim. Mas você quer? Se sim, vai, fio! Boa sorte! Arrebenta! Vou torcer por você! Pode acreditar!

Eu quero ser o que eu sou. Eu sempre quis ser jornalista. E sou. Sempre quis fazer atividades ligadas à produção cultural. E faço. Sempre gostei de cantar. E canto. Adoro dançar. E danço. Até ser professor, que foi algo que nunca almejei, aconteceu na minha vida e levo com paixão e responsabilidade, pois quero ser uma referência positiva na vida dos meus educandos e contribuir para um mundo melhor. Sou, exatamente, o que eu quero ser, não o que projetam. Sei muito bem o que quero para a minha vida. Desde o final da adolescência.

Portanto, não projete o que você quer para uma outra pessoa (a ambiguidade é de propósito!). Fique para você. Não reprima o seu id, considere o seu ego e não se importe tanto com o superego. Seja o que sente. Faça o que sente. Muitas vezes, o que a pessoa quer mesmo é só dançar o Tchan na frente do espelho (e postar, se ela quiser!), e você aí achando que ela quer “mitar” nas redes sociais digitais. Não, fio. Isso é próprio da sua geração. Quer? Vai lá e faz. Boa sorte! “Sou mais do que o seu olho pode ver“. “Lide com isso”, como diz Djamila Ribeiro.

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#Hashtag: #QualÉASua? (sobre o efeito manada.com)

Tomo sopa de letra pra não comer H*

Ou Hashtag Ativismo? Eis a questão.

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
“De repente, não mais que de repente”, parte da sociedade civil brasileira descobriu que o #racismo existe e que assassina pessoas. Contudo, essa descoberta só aconteceu depois do assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos. Por isso, as hashtags em inglês: #BlackLivesMatter e #BlackoutTuesday. Em 2 de junho, elas tomaram conta das redes sociais digitais. Parodiando os Titãs“uma hashtag em inglês é bem melhor do que eu e vocês”**. Só depois desse auê todo, e de #Mitar, é que #VidasNegrasImportam (em português do Brasil!). Essa comoção seletiva só evidencia que morar no Brasil não significa ter sentimento de Brasil. Talvez, tenhamos que voltar a ser #EstadosUnidosDoBrasil#VaiQueFunciona!
O ativismo intermediado pelas tecnologias digitais, conhecido como #Ciberativismo e conceituado por Vegh, de forma geral, como aquele que é realizado por grupos politicamente motivados com o auxílio dos recursos da internet, é uma das possibilidades mais interessantes de ampliar vozes e de mobilizar pessoas, e deve sempre ser considerado. Porém, o ativismo não nasce no ciberespaço. Ele é um processo anterior, de luta e de tomada de consciência dos problemas sociais. O #AtivistaRaiz usa as plataformas da web como extensão da sua causa. O contrário disso é só uma busca desenfreada para a #TrocaDeLikesSemFim, que é o que tanto se busca hoje em dia. #FalaSério! Isso não significa que você não possa entrar nas #LutasPontoCom. Pode. Mas é importante entrar com consciência, pela #Causa e não pelo #Efeito. Tipo: #PostarSóPorqueTodoMundoPostou. Isso é vazio. Não muda a realidade nem muda você. #FicarMudoÀsVezesÉMelhor. O silêncio ensina e pode ser a razão para a busca do aprendizado. Olha! #Filosofei!
#QualÉASua?
As hashtags são usadas para vincular assuntos da mesma natureza. É um medida inteligente nessa seara das redes sociais da internet, que vive abarrotada de conteúdos para tudo quanto é lado. Elas funcionam como um filtro e, quando bem usadas, são poderosas. Campanhas como #MexeuComUmaMexeuComTodas e #GordofobiaNãoÉPiada, só para citar algumas, conseguiram provocar mudanças na forma como a sociedade sempre lidou com práticas sociais condenáveis. Entretanto, antes disso, já existia uma consciência política e social de quem lutou por tal reparação. Ou seja: #NãoDáParaUsarSóPorUsar. Lembra da ideia de #ArtePelaArte do #Paranasianismo? Não queira defender a #HashtagPelaHashtag! Será que quem foi às ruas empunhando cartazes de #EleNão, no fundo, queria era #EleSim? Só estava na mobilização para ser um #MarioVaiComOsOutros#ÓVocêErrado!
Já parou para pensar e se perguntou: qual é a minha no mundo? Qual legado que eu quero deixar? Do que eu quero ter orgulho? Sim, você vive na era da revolução tecnológica e pode usar tudo isso a seu favor. Certamente, você não quer ser um amontoado de hashtags, não é? Eu tenho certeza que não. Acredito no ser humano e no mito do bom selvagem, de Rousseau. Tudo bem que, vez por outra, a gente pega uma hashtag para chamar de nossa. Nesse caso, o uso dela tem um vínculo com a gente, não está distanciado da nossa vida nem tem o propósito de seguir a manada. A coisa não fica bem quando a gente usa para, muitas vezes, ter uma #PopularidadePelaPopularidade. Qual é a sua? As minhas, da vez, são #RomânticoCondoreiro e #MalandragemNãoTemEtnia.
#EdiçãoHistórica?! 
Depois da descoberta do racismo em território nacional e depois de ser criticada nas redes sociais digitais por promover um debate sobre o assunto apenas com jornalistas brancos, a Globo News fez uma edição considerada histórica (?!) do telejornal Em Pauta. O auê se deu porque a emissora reuniu apenas os poucos jornalistas negros fichados no seu #RH para relatarem as suas experiências com o racismo. A atitude da #VênusPlatinada fez muita gente comemorar, inclusive parte da comunidade negra que se autodeclara #Militante#QualÉOMotivoDaComemoração? Porque se a gente ligar a TV agora nas emissoras afiliadas à Rede Globo, a gente vai perceber que aquilo foi uma ação pontual, de um dia. A página virou e o espírito de #VidasNegrasImportam da empresa vai ficar para…depois.
Toda e qualquer #AtitudeAntirracista é válida, mas tal atitude tem que estar presente todo dia. O racismo daqui é diário, é secular, sempre existiu. O negro no Brasil é tão desorientado que comemora qualquer migalha como sendo banquete, esquecendo-se que a festa continua acontecendo nos salões e ele só é convidado para servir. O que seria histórico mesmo era as emissoras garantirem a proporcionalidade entre os seus colaboradores. Era ver negros em todos os canais, mostrando a sua competência. Era o mercado de trabalho não subalternizar corpos negros. Isso não é favor, é direito. Aí, sim, teríamos motivos para comemorar. Um parêntese: TV é concessão pública! Enquanto a gente aplaudir o opressor porque ele fez o que tinha que ser feito sempre, as mudanças não vão acontecer. Ele vai continuar cheio de si, achando que já cumpriu o seu papel, e a gente cheio de nós. #NósPorNós?! #Kkkkkkkkkkk! #FiqueNessa! Tal qual George, a gente não consegue respirar um dia com tranquilidade neste país.
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*Kiko, Serginho, Zeca e Sandro em Sopa de Letra.
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Cultura, Jornalismo Cultural, Texto de Quinta

Na Era da Informação, ser informado é compartilhar sem ler

Quem lê tanta notícia?*
Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Vivemos numa época em que as informações estão por todos os lados, em todos os lugares, publicadas por todas as pessoas. Não há quem não seja bombardeado por notícias, reportagens, postagens, comentários. Independentemente do meio, a informação atinge todo mundo hoje em dia. Da pessoa mais cosmopolita àquela que, por vontade, fica ensimesmada no seu mundo. Vez por outra, aqui e ali, ela ouve uma informação de alguém ou no rádio, ou a informação de alguém no rádio. Enfim, o fato é que estamos na Era da Informação e ninguém duvida disso. Contudo, isso não significa que estejamos tão informados assim. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Parece absurdo, e é.
O barato, na sociedade atual, e falando especificamente do nosso comportamento em plataformas digitais, é parecer informado. É a última moda, não sei se em Paris também. No Brasil e na Bahia, é tão comum quanto andar para frente. A lógica é a seguinte: a pessoa vê um conteúdo na timeline da rede social digital dela, ou recebe no WhatsApp, julga que é importante e compartilha. A leitura mesmo, deixa para “depois, e depois, e depois de amanhã”**. Como ser competitivo é inerente à natureza humana, com gradações variáveis, a satisfação é ser o primeiro a anunciar que algo aconteceu, a compartilhar aquela notícia importante. É bom, faz bem para o ego e a pessoa fica bem vista diante de um monte de gente que tem comportamento semelhante. A responsabilidade como o que foi compartilhado fica para “depois, e depois, e depois de amanhã”. E assim a vida segue na Era da Informação da sociedade desinformada.
Perceba que não me refiro às fake news, falo das informações que são produzidas com responsabilidade e que, ainda assim, são compartilhadas pelas pessoas sem a devida leitura. Qual é o grau de nocividade disso? Porque a gente já sabe que as fake news trazem informações falsas. E as notícias com informações verdadeiras que não são lidas? Adianta o quê? Certa vez, recebi um conteúdo no WhatsApp, li (como de costume. Isso tem que ser enfatizado!) e percebi que o que fora compartilhado não tinha relação nenhuma com o contexto no qual eu e o “compartilhador” estávamos. Tratava-se de uma inscrição num concurso para professores da educação básica, voltado para pessoas de um determinado estado. Indaguei e recebi uma resposta amarela, do tipo: “Compartilhei para você saber, caso conheça alguém que more lá”. Além de não ter lido, a pessoa não foi capaz de assumir o erro nem de pedir desculpas. O retrato fiel de muita gente que vive essa Era da Informação de araque. Não lê e não dá o braço a torcer. Típico.
“Releasezação” do jornalismo
O mais absurdo é que os, digamos, produtores profissionais de informação também compartilham conteúdos sem ler (e isso vira notícia! Literalmente!). Os jornalistas, que deveriam dar exemplo de um comportamento mais responsável nesse sentido, caíram no poço sem fim de algumas práticas bastante questionáveis da profissão. Há uma “releasezação” do jornalismo e todo mundo sabe disso. Ou seja, a sugestão de pauta, agora, é publicada (em alguns casos, da mesma forma e até mantendo os mesmos erros ortográficos), virando notícia e congêneres.
Na sua dissertação, intitulada Jornalismo Control c/Control v: uso do release na comunicação da informação on-line, defendida em 2006, na Universidade de Brasília (UnB)Alexandre Zárate Maciel, que fez mestrado em Ciência da Informação, denunciou o costume: “A transformação do release se deu de tal forma que esse passou a se assemelhar à notícia completa, com todos os dados e informações necessárias. Como que poupando o jornalista envolvido em rotina tão atribulada, da necessidade intrínseca à sua profissão de reunir informações de diversas fontes, por vezes contrastantes, e mesmo apurar a veracidade da informação oficial”, p. 10. O que tem que ser feito pelo jornalista, afinal ele estudou para isso, é profissional da área, acaba sendo terceirizado. Leia-se: feito por assessores de imprensa. No final das contas, o jornalista faz o quê, então? Precisa ter diploma para copiar e colar aquilo que nem leu?
Essa prática infame da “releasezação” é citada também por Adriana Maria Andrade de Santana, que fez mestrado em Comunicação, na dissertação CTRL+ C CTRL+ V: o release nos jornais pernambucanos, defendida em 2005, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): “Foi na primeira metade do século passado que o release chegou ao Brasil (DUARTE, 2002), utilizado como meio de divulgação de ações governamentais. De elemento suporte aos profissionais de imprensa, a distribuição de releases se transformou, em muitos casos, em fonte única e – por vezes – até no material final publicado pelas redações”, p. 46.
Na época da faculdade de Jornalismo, alguns colegas de turma e de curso garantiam que uma cantora de Axé superfamosa, que mora em Salvador e que levanta poeira por onde passa, era viciada em cocaína. Eles falavam isso com uma certeza que me assustava. Ficava refletindo sobre o tipo de profissionais que seriam, uma vez que compartilhavam uma informação da qual não tinham prova alguma. Eu, que não sou fã da cantora nem nada, mas sempre acompanhei o trabalho por gostar de Axé Music, alertava que nós, como estudantes de comunicação e futuros profissionais, tínhamos que ter responsabilidade com aquilo que a gente passava adiante. Os colegas argumentavam assim: “Oxente! A irmã da amiga da tia de um amigo meu tem uma filha que trabalha no Hospital Aliança e falou isso, isso e isso para ela sobre a cantora”. Bela apuração! Digna de um Pulitzer.
Jornalista tem que ter responsabilidade do que informa. Alguns deles não fazem o básico da profissão, que é ler e apurar, e acham que isso é tão normal quanto respirar. Se a gente critica, alegam que sofrem muita pressão e que há falta de tempo para um trabalho mais responsável. Justificativa absurda e corporativista. Imagina se os professores fossem para a sala sem preparar aula, reproduzindo tudo que os livros didáticos dizem, sem nenhuma criticidade, e justificassem isso na “falta de tempo”? Imagina, por exemplo, os professores de História nesse contexto? Que história do Brasil seria levada adiante pela “falta de tempo” em ler e apurar? Deixemos de “mas, mas, mas”. Jornalista tem que ler (é um absurdo ter que reiterar isso!), porque é uma atividade inerente à profissão, além de ajudar no aprendizado de ortografia (é cada escorregada que a gente vê por aí! E aqui não se trata de preconceito linguístico, basta ler o que os linguistas dizem sobre a questão. Aviso prévio: para saber, vai ter que ler, viu!). Caso contrário, já era a informação de qualidade! Se não quiser fazer isso, que é básico, procure outra forma de contribuir para o mundo e siga em paz. A Responsabilidade agradece!
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Cultura, Discriminação, Jornalismo Cultural, Negritude, Preconceito, Racismo, Texto de Quinta

O negro em movimento fora (ou dentro?) do Movimento

Meus inimigos estão no poder*
Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Você é negro? Consciente de como se dá a sua presença na sociedade em que vive? Se respondeu sim para essas duas perguntas, saiba que você é um militante da causa. Todo negro consciente é um militante em potencial. Isso significa que você não precisa nem é obrigado a participar de nenhum coletivo em que a luta contra o racismo seja o propósito maior. Ninguém “tem que” nada. Ainda mais nos dias de hoje! Se a gente briga tanto por liberdade, por que tolher a do outro? Isso precisa ser levado em consideração pelos movimentos, não é? Afinal, respeitar subjetividades é uma das nossas bandeiras. Por falta de respeito a esse aspecto, muitas atrocidades aconteceram e vitimaram o povo negro em todo o mundo. Quem está do lado de fora também está em movimento. Afinal, a Terra gira e não é plana.

Claro que, desde que o mundo é mundo, a gente é bombardeado pelo clichê dos clichês: a união faz a força. E faz mesmo! Isso é um fato. Contudo, temos que arregalar bem os olhos para saber quem da união está obstinado a fazer a força, porque tem muita gente que vai no bando, com outros interesses. Atualmente, o lema “Nós por nós” vem sendo usado e abusado por movimentos que lutam por justiça social, mas, quando você se aproxima de quem está na arena de luta, percebe que o “Nós por nós”, na prática, é mais “eu” do que qualquer outra coisa. Qual é a lógica disso? Militância de araque? Vale a pena usar um episódio real para ilustrar o que foi dito: em 2017, um reconhecido ator de teatro de Salvador estreou um espetáculo no qual mostrava como a sociedade vê e trata os negros, estabelecendo “lugares” e “limites” para eles. Um monólogo superinteressante, que não trazia respostas, mas que fazia um convite à reflexão. Nas suas redes sociais digitais, o ator pediu que amigos e colegas colocassem seus respectivos nomes no que chamou de “lista negra” (numa boa sacada, pois tirava a expressão do lugar negativo que sempre esteve. No entanto, a ação foi de um autoboicote descabido, principalmente considerando o que é viver de arte no Brasil), um instrumento que possibilitava o pagamento de meia-entrada. A inteira custava R$ 20. Muita gente, em sua maioria da etnia negra, correu e colocou os nomes nos comentários a fim de pagar R$ 10 para assistir ao espetáculo. Aí vem a pergunta: e o “Nós por nós”?! Será que não daria para fazer um esforço e valorizar, também financeiramente, todo o esforço do ator para produzir a peça? Quando os nossos vão valorizar a arte feita pelos nossos? “Nós por nós” é uma verdade ou é apenas uma lema bonitinho? Vamos pensar sobre isso ou continuaremos a fomentar mais essa encruzilhada?

Outro exemplo muito emblemático a esse respeito é quando alguns negros reconhecem todo o talento e contribuição de Margareth Menezes para a nossa música. As conversas nos grupos são sempre falando o quanto a cantora é injustiçada e não está num patamar que merece. No final, o papo sempre descamba para o recorte de etnia, que é uma realidade e, obviamente, tem suas implicações na carreira de Margareth, uma artista marcada por várias interseccionalidades. Contudo, se a gente cavucar, a seguinte pergunta surge: quem movimenta o caixa de Margareth? Eu? Você? A quantos shows dela você foi, pagando ingresso? Nos eventos do Mercado Iaô, projeto da artista, que, das 10h às 14h, tinha entrada franca, em qual horário você ia? Pagava a tarifa social de R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira)? Quem movimenta o caixa de Margareth para que a cantora possa investir ainda mais na própria carreira? E o “Nós por nós” fica onde? Preciso ressaltar que, com tal afirmação [de que o “Nós por nós” é mais “eu” do que qualquer outra coisa], não estou querendo minar, esvaziar nem descredibilizar as práticas e objetivos dos grupos. Estou, apenas, registrando uma constatação.

Engraçado, para não dizer o contrário, é que, às vezes, tem gente que quer cobrar determinadas posturas de quem tem consciência do problema do racismo, mas que milita com outras ações, que não são menos importantes, é preciso pontuar. O mau mesmo é se achar mais militante que os outros. É como se houvesse uma gradação da militância, numa disputa interna que é ignorante e descabida. Mais um clichê: fala sério! Ninguém é obrigado a opinar sobre tudo sempre, porque, muitas vezes, isso só reflete a nossa superficialidade diante de temáticas tidas como polêmicas e mostra a nossa cultura de ir com o bando. Ninguém “tem que” nada!

Cada negro é um negro. Embora tenhamos narrativas comuns, cada um sabe a dor e a delícia de ser como é. O racismo que atravessa cada negro é repleto de subjetividades, oriundas de situações pelas quais a pessoa passou. Isso explica a forma como cada um reage a essa violência histórica de que, infelizmente, ainda é vítima. Uns comem a pressão “de com força”, outros não deixam essa pressão paralisar os seus anseios nem interferir na autoestima. É tudo muito subjetivo e a inteligência emocional é uma aliada e tanto! Entender isso contribui para, quando a pessoa quiser, se posicionar sobre a questão com mais equilíbrio, de acordo com a própria régua. Ninguém precisa, por exemplo, usar a rede social digital para falar o que todo mundo fala, só porque sofre uma pressão implícita para falar. A fala pela fala é vazia e carece de personalidade. Cada um milita da sua forma. Eu exerço a militância nas minhas atitudes, nas coisas que escrevo, nos posicionamentos que tomo. Não sou obrigado a nada e ninguém vai me fazer recuar disso. Quando eu quiser e achar pertinente, mudo.
Em abril de 2017, as redes sociais digitais foram tomadas com a campanha #MeuProfessorRacista, cujo objetivo era denunciar professores que praticaram o crime de racismo em alguma época da vida do denunciante. Vi tantos relatos, me identifiquei com muitos, mas vi muita hipocrisia também. Imediatamente, me lembrei de um episódio que aconteceu comigo durante a Bienal do Livro Bahia, em 2013. Até pensei em entrar na campanha e postar o meu relato, mas analisei, analisei e vi que aquele não era o momento. Não fui no bando, porque ninguém “tem que” nada. Hoje, com outra motivação, julgo importante divulgar o fato. #MeuProfessorRacista nunca foi meu professor, mas foi racista comigo. Na época, eu trabalhava num instituto considerado de prestígio na sociedade salvadorense e estava na Bienal para fazer alguma ação educativa. O #MeuProfessorRacista perguntou onde eu trabalhava e eu falei o nome do instituto. Mas, não satisfeito e mostrando explicitamente uma falta de crédito na informação que eu acabava de lhe dar, #MeuProfessorRacista fez um esforço para ler o crachá que eu carregava, a fim de verificar as informações e constatar se, de fato, eu trabalhava naquele lugar que havia dito. O choque maior, para mim, é que o #MeuProfessorRacista, além de ser um dos fundadores de um conglomerado de “mídia negra” de Salvador, é negro e militante. Logo, consciente. Ou não, né? Como disse, muitas vezes, quem vai de bando só defende a sua banda. Quando um de nós insiste em nos negar, nega todo o nosso povo.
O branco fica todo baratinado quando se depara com um negro que sofreu as violências oriundas do racismo, mas que não tem a autoestima abalada por causa disso. Ele não consegue lidar com esse fato. Estranha, porque é incomum. Por isso, persegue muito mais, tenta descredibilizar o adversário (sim! O campo é de luta!), usa a indiferença o tempo todo para anular a presença do outro. Isso é um fato e só quem sente na pele essa emoção sabe identificar. Por outro lado, e isso deve ser culpa do racismo estrutural que acomete o Brasil desde 1500, quem é negro também estranha quando encontra alguém assim entre os seus pares. Nesse caso, a postura é outra. É de achar que a militância é menor, frágil, sem sustentação. O negro que cria outras narrativas para si, que se coloca de igual para igual mesmo no jogo da vida, que não deixa o discurso do opressor lhe paralisar, é visto como exibido. O racismo é tão forte que tirou a nossa capacidade de nos admirar, de exibir as nossas qualidades. Por isso, o autocuidado hoje está tão em voga. Descobriram a pólvora! Claro que não é sair por aí sendo um outdoor ambulante, é fazer das suas ações o retrato de quem você é, sem se esconder. Parte da comunidade rechaça o “negro exibido” porque isso não é colocado como algo que a gente pode ser. Isso nos foi negado e o racismo faz a gente pensar que não é para nós. Quem destoa é visto como um à toa.

Lembra que disse que ninguém “tem que” nada? A única coisa que a gente tem que ser é livre para fazer as nossas escolhas. Seja seu próprio bando até o dia em que você quiser. Vão te acusar de egoísmo, mas o tempo é a melhor resposta para essa acusação. Outro clichê: o mundo dá voltas e a expectativa do outro em relação a você é problema do outro. Eu só não posso o que eu não quero e minha militância é por justiça, não por vingança. Ah! Não esqueça deste mantra: com poder, todo anarquista silencia e deixa a luta só para você, bebê.
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Frejat e Cazuza, em Ideologia.
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Cultura, Jornalismo Cultural, Texto de Quinta

Atenção é commodity (ou de como querer biscoito)

Eu preciso de carinho e atenção*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Atenção é a moeda dos tempos atuais. Obviamente, como toda moeda, todo mundo quer, mas nem todo mundo tem. Com a popularização dos smartphones, e, consequentemente, com todas as possibilidades de aparecer trazidas pelas redes sociais digitais, atenção virou commodity. Quem consegue ter, se sente um rei, mesmo sem posse de um capital tangível.  
 
A busca por atenção não é algo novo. Ninguém duvida disso. Contudo, agora, quem quer chamar a atenção de alguém tem que fazer um esforço descomunal. Pais, professores e artistas passam por isso diariamente. Quantas vezes já fomos assistir a um espetáculo artístico e nos deparamos com pessoas gravando alucinadamente o que está no palco? Isso é muito comum em shows musicais, por exemplo. A rede pela busca de atenção se configura assim: o artista que está no palco quer a atenção da plateia (digno. Afinal, os pagantes foram lá para isso.), essa, por sua vez, quer a atenção dos seus seguidores. Parafraseando o poeta: “Viver é melhor que filmar”. Hoje em dia, viver é filmar. Tempos atrás, artistas mineiros lançaram uma campanha cujo slogan era: “Desligue o celular e se ligue no espetáculo”. Perfeito!
Pais exigem atenção dos filhos, filhos exigem atenção dos pais e por aí vai. Algumas famílias estabeleceram regras de uso de celular em casa, a fim de resgatar o que deveria ser normal: a conversa tête-à-tête e não por aplicativos de mensagens. No ambiente escolar, professores não reclamam apenas da falta de estrutura ou dos baixos salários. A turma da pedagogia só quer uma coisa para poder realizar o seu trabalho com mais qualidade: atenção. Essa moeda cara é muito disputada. Os vendedores ambulantes que atuam nos ônibus sabem muito bem disso.
Há quem diga que exista um certo transtorno de personalidade em pessoas que vivem em busca de atenção o tempo todo. Pode ser. Nas redes sociais digitais, todo mundo se exibe. O que muda é a natureza de cada exibição. O que já faz parte do cotidiano do indivíduo nas relações que ele tem em casa, com familiares e amigos, apenas é transposto para o universo “ponto com”. Como nele tudo vira moda, a de agora é ser biscoiteiro. Você não sabe o que é isso? Também não sabia, mas alguns educandos me explicaram. Trata-se de alguém que quer atenção ou vive chamando atenção através de suas postagens (ou de suas ações no dia a dia mesmo). Para isso, vale tudo: foto de sunga ou de biquíni, mostrando o corpo matematicamente malhado, registro com pessoas famosas, publicação de indiretas, foto de um look novo. Tudo é matéria-prima para “biscoitar”. Tudo é commodity. O biscoiteiro também é visto como aquele que puxa o saco demasiadamente de qualquer pessoa ou coisa, a fim de receber elogio. Isso é dar biscoito. No fundo, ele quer atenção. A gíria, de acordo com alguns entendidos, surgiu na comunidade LGBTQIAP+, mas o mundo se apropriou. A origem vem da ação que o dono de um cachorro faz quando o animal pratica algo certo. Ou seja, dá um biscoito para agradar.
Somos todos biscoiteiros? Eis a questão. Mas que queremos atenção, queremos. Em todos os âmbitos da nossa vida: no amor, na amizade, nas redes. Isso é inerente à natureza humana. Por falta de atenção, muita gente tem desenvolvido distúrbios e doenças, principalmente aquelas ligadas à saúde mental. São os dois lados de uma mesma moeda. É preciso ter muito cuidado. Atenção/Tudo é perigoso/Tudo é divino maravilhoso**.
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* Ronaldo Jorge da Silva, em Depois do Amor.
** Caetano Veloso e Gilberto Gil, em Divino Maravilhoso.
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