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João Marcello Bôscoli arrebata leitor em livro de memórias sobre convívio com a sua Mãe

Relato do filho mais velho de Elis Regina destaca a pessoa por trás da artista

Imagem: reprodução do site da editora Planeta

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Em 1994, a editora Nova Fronteira lançou o livro Eles e Eu: Memórias de Ronaldo Bôscoli. Na obra, o compositor, produtor musical e jornalista, em depoimento a Luiz Carlos Maciel e Ângela Chaves, fala sobre os bastidores e a sua convivência com artistas da Música Popular Brasileira. Ainda não li esse livro, mas imagino o quão interessante deve ser. 25 anos depois, em 2019, o filho de Bôscoli, João Marcello, publicou o seu Elis e Eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe, pela editora Planeta. Esse eu li, é objeto desta resenha e não me contive em fazer a associação das duas obras. Certamente, sagaz e criativo como é, João Marcello quis fazer essa referência ao livro do pai. Certeiro. A obra do filho é excelente e, de cara, traz um subtítulo que intriga. Explico: João nasceu em 17 de junho de 1970. Então, no fatídico 19 de janeiro de 1982, dia da morte de Elis, o produtor tinha 11 anos, 7 meses e 2 dias de convivência com a mãe. Ou seja: o subtítulo do livro não é tão exato, não corresponde aos fatos. Estratégia editorial para ficar mais impactante?! Vai saber… O fato é que Elis e Eu nos arrebata desde a primeira linha.

João divide as suas memórias com os leitores e a nossa vontade é sempre de querer saber mais e mais. Isso acontece porque o autor não está falando de Elis “figura pública”. Ele fala da Mãe dele (assim mesmo, com inicial maiúscula, como ele registra no livro!), da pessoa por trás da artista. “Elis Regina é a parte pública da minha Mãe, uma de suas faces”, afirma na página 15. No relato, mostra a Elis preocupada com o repertório e com a excelência dos shows, a Elis que fazia questão de levar os filhos na escola e cuidar da casa, a Elis solidária e a Elis que se metia em briga de marido e mulher, sim! João não se poupa. Fala de suas muitas travessuras feitas quando criança e dos castigos impostos por Elis, quase sempre humilhantes, para ele aprender sobre a vida.

As lembranças de João fazem rir e fazem chorar. É impossível não se colocar no lugar dele durante a narrativa. Principalmente, quando fala sobre o dia da morte da artista e sobre os dias seguintes. Bôscoli conta que no mesmo dia 19 de janeiro de 1982, um jornalista ligou para a casa dele e perguntou se Elis tinha morrido, “…indiferente ao fato de estar falando com um garoto”, p. 23. Ele negou e desligou. “O mundo, alheio às tragédias e tristezas, seguia sua rotação”, critica na p. 24. Ele também faz crítica aos aproveitadores, pessoas que o bajulavam porque ele era filho de quem era. Depois da morte, todo mundo sumiu. A avó materna ganha o adjetivo de “tóxica” por ele. João escancara tudo.

É fascinante quando narra os dias vividos na casa da serra da Cantareira, ambiente de alegria e de muita simplicidade. João testemunhou muitos ensaios da mãe, a relação dela com os músicos, as gravações de algumas músicas, a sua fúria. Ele foi para algumas viagens com ela e teve acesso às tecnologias de última hora daquele tempo, como o videocassete e o walkman. Nem tudo são flores. Os anos de chumbo estavam a todo vapor e o menino vivenciou tudo com a mãe. Inclusive, foi com ela visitar Rita Lee na cadeia. E é Rita quem assina o prefácio da obra. Um luxo. Num país em que não se preserva a memória, é importante repercutir a escrita de João.

Referência:

BÔSCOLI, João Marcello. Elis e eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019. Disponível em: <https://visionvox.net/biblioteca/j/Jo%C3%A3o_Marcello_B%C3%B4scoli_Elis_E_Eu.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2022.

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Guia traz recomendações para a dieta de crianças menores de dois anos

Documento aposta em alimentos in natura e despreza os ultraprocessados

Imagem: reprodução do PDF

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Quem tem criança pequena em casa, sabe que a fase da introdução alimentar é umas das mais desafiadoras. Como é repleta de novidades, tanto para a criança quanto para os seus responsáveis, é natural ter inseguranças e medos. Por isso, o caminho mais indicado para ter tranquilidade é a informação. Nesse sentido, o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, publicado pelo Ministério da Saúde, em 2019, é, com perdão do trocadilho, um prato cheio. Com linguagem simples e didática, o guia reforça a importância de sempre colocar alimentos in natura na dieta e rechaça com veemência a ingestão de ultraprocessados (biscoitos, sucos artificiais, refrigerantes, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo, guloseimas etc.).

“Uma alimentação adequada e saudável deve ser feita com ‘comida de verdade’ e começa com o aleitamento materno”, diz o texto do Guia na página 12. Quem lê o documento, constata o quanto o leite materno é fundamental para a nutrição e desenvolvimento da criança. Tanto é que a publicação destina um grande espaço para falar sobre ele e sobre como armazená-lo, dica necessária para quando a mulher volta a trabalhar após a licença-maternidade. Até os seis meses de idade, o único alimento do bebê deve ser o leite materno. O texto justifica: “Produzido naturalmente pelo corpo da mulher, o leite materno é o único que contém anticorpos e outras substâncias que protegem a criança de infecções comuns enquanto ela estiver sendo amamentada, como diarreias, infecções respiratórias, infecções de ouvidos (otites) e outras”, p. 22. Uma curiosidade sobre este tema que é abordada no Guia é a possibilidade de amamentação por mulheres que adotam: “É possível uma mãe adotiva amamentar, mesmo que não tenha tido uma gestação. Para tal, é necessário que ela procure ajuda de profissional de saúde com experiência em lactação adotiva para receber as orientações e apoio”, p. 53.

O Guia afirma que a chegada de uma criança abre espaço para melhorar a alimentação de toda a família. Não é adequado fazer uma comida para a criança diferente da comida dos adultos. A comida deve ser a mesma. O que muda é a forma de ofertar, pois, para as crianças, é necessário fazer algumas adaptações. Outra coisa que é bastante enfatizada no documento é a importância do exemplo: “A aceitação de legumes e verduras pela criança tem relação direta com o consumo desses alimentos pela família. Muitas vezes, eles são comprados somente para a criança, não sendo consumidos por irmãs e irmãos mais velhos ou adultos. Com o tempo, a criança percebe que o restante da família não os consome e começa a rejeitá-los”, p. 81. O suco de fruta, que já foi o queridinho da nutrição, não é recomendado pelo Guia: “[…] recomenda-se que não sejam oferecidos sucos de frutas à criança menor de 1 ano, mesmo aqueles feitos somente com fruta. Entre 1 e 3 anos de idade, eles continuam não sendo necessários”, p. 85. Os responsáveis devem optar pelas frutas, pois ajudam a criança a exercitar a musculatura da boca e do rosto e não têm açúcar refinado. Além disso, a criança pode, ao ingerir o suco, deixar de beber água. Após os seis meses, a água pode e deve ser oferecida à criança.

É desaconselhável fazer chantagens ou prometer recompensas para a criança comer determinado alimento. Isso faz com que ela fique dependente e não cria uma consciência da importância da alimentação saudável para o seu desenvolvimento. Alguns alimentos devem ser oferecidos até dez vezes à criança. Por desconhecer o sabor, ela não aceita bem na primeira oferta.

O Guia é bem completo. Fala da importância de cozinhar em casa e envolver a criança nisso, de como comprar e armazenar os alimentos e dos direitos relacionados à alimentação infantil. No final, apresenta doze passos para uma alimentação saudável: 1) Amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somente o leite materno até 6 meses; 2) Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite materno, a partir dos 6 meses; 3) Oferecer água própria para o consumo à criança em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas; 4) Oferecer a comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do leite materno; 5) Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contenham açúcar à criança até 2 anos e idade; 6) Não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança; 7) Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família; 8) Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto junto da família; 9) Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição; 10) Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família; 11) Oferecer à criança alimentação adequada e saudável também fora de casa; 12) Proteger a criança da publicidade de alimentos. Vale a pena ler e seguir as recomendações. O documento é um material de consulta que a família deve sempre ter por perto.

Referência:

BRASIL. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primaria à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2022.

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Um livro para aprender brincando

Catálogo reúne jogos, brincadeiras e informações sobre países africanos e o Brasil

Imagem: reprodução do livro

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Brincar na rua, com os amigos, usando os materiais disponíveis e colocando muita criatividade nisso tudo: essa realidade foi muito comum na infância da maioria da população negra. Do Brasil e de alguns países africanos. O Catálogo de Jogos e Brincadeiras Africanas e Afro-Brasileiras (Aziza Editora, 2022), organizado pelas professoras Helen Pinto, Luciana Soares da Silva e Míghian Danae, ilustrado por Rodrigo Andrade, deixa isso muito evidente. O livro, que foi contemplado pelo edital Equidade Racial, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), em 2020, partiu de uma pesquisa que fez “escuta de mulheres e homens do Brasil e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPs), com idade entre 40 e 60 anos, sobre quais os jogos e as brincadeiras que conheciam”, p. 3. Entre outubro de 2020 e março de 2021, estudantes bolsistas, oriundos de sete países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe), entrevistaram familiares e conhecidos de seus países de origem. Exceto José Maye (catalogou brincadeiras da Guiné Equatorial), que estuda na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), todos os outros pesquisadores são da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), campus Malês, que fica em São Francisco do Conde, na Bahia. São eles: Pedro Nguvu (Angola), Luliane Sousa (Brasil), Jacica Fernandes (Cabo Verde), Yacine Tavares (Guiné-Bissau), Hercinia Wasse (Moçambique) e Quezia Miranda (São Tomé e Príncipe).

O catálogo apresenta algumas brincadeiras e jogos interessantes, outros nem tanto.  Fita e Melancia, do Brasil, justificam o que digo. Muita atividade relatada tem semelhança com outras, de países diferentes. Por exemplo, Bica Bidom, brincadeira da Angola, tem a mesma dinâmica de Esconde-Esconde, daqui do Brasil. Assim como Escondida, de São Tomé e Príncipe. O Jogo da Carambola, de Cabo Verde, pela descrição presente no livro, é igual ao Jogo da Bola de Gude daqui. Por sinal, não está catalogado na obra. Curioso. Os países que têm mais brincadeiras e jogos catalogados são Angola e Brasil. Apesar de não ter sido o objetivo da pesquisa, faz falta a informação sobre a origem dos nomes das atividades listadas. Por que a brincadeira se chama AmarelinhaNeguri? O leitor fica muito curioso para saber. Na página 36, por exemplo, a obra explica o que é “bater foguinho”, na brincadeira Pula Corda (Brasil): “Na brincadeira, ‘bater foguinho’ é bater a corda em um ritmo acelerado, a fim de desafiar ainda mais quem está pulando – remete à sensação de quentura do atrito da corda com a pele de quem pula, por isso, deve-se ter cuidado com essa variação, para não haver machucados e queimaduras”. A explicação de alguns nomes de jogos e brincadeiras enriqueceria muito o catálogo.

É impossível ler o livro e não lembrar das brincadeiras e jogos que já participamos e daqueles que, pela descrição, a gente fica com vontade de participar. Mocho (Moçambique) é um bom exemplo: “Entre os participantes da brincadeira, um deve ser escolhido para ser o mocho, aquele que vai se esconder. Os demais integrantes devem ficar de costas, esperando que o mocho se esconda. Em seguida, o grupo sai à procura do mocho. A primeira pessoa a encontrá-lo não deve avisar a ninguém da sua descoberta. Em vez disso, deve se juntar ao mocho, escondendo-se também, enquanto os demais continuam a busca”, p. 56. Terra-Mar, também de Moçambique, é simples, mas deve ser muito divertida, porque exige atenção redobrada: “Uma longa reta deve ser riscada no chão. De um lado, escreve-se ‘terra’ e do outro, ‘mar’. No início, todas as crianças podem ficar do lado da terra. Ao ouvirem ‘mar!’, todas devem pular para o lado do mar. Ao ouvirem ‘terra!’, pulam para o lado da terra. Quem pular para o lado errado é eliminado da rodada. O último a permanecer sem errar, vence”, p. 58. Lembra muito o Morto-Vivo, que, curiosamente, também não foi catalogada. Achei a brincadeira Banho no Rio – Plantar Bananeira (Brasil) um pouco perigosa. Principalmente, pela sugestão de ser feita dentro d’água, mesmo com o alerta de ter um adulto supervisionando.

Na Apresentação da obra, a gente lê:

“Este catálogo foi produzido com base nessa recolha de dados e esperamos que seja utilizado em redes municipais de educação básica – em especial na etapa da educação infantil – dos países envolvidos.

Objetivamos que este material possa colaborar, no Brasil, para a aplicação, nas escolas, da Lei 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (nº 9.394/96), além de auxiliar nas reflexões sobre processos curriculares e abordagens pedagógicas inovadoras e na produção de propostas pedagógicas de mediação estética e lúdica”, p. 3.

O objetivo é cumprido. O catálogo deve ser usado pelas instituições de ensino, numa forma de implementar o que preconiza a Lei 10.639/2003. O fato de pesquisadores terem se debruçado sobre a temática das brincadeiras e jogos africanos e afro-brasileiros é de um ganho enorme para a nossa cultura, que é alicerçada pelas contribuições do povo negro. Além disso, o livro estimula o brincar, ação importante para toda e qualquer criança. A vontade de quem lê é sair brincando, seguindo o que está descrito. É para aprender brincando mesmo!

Referência:

PINTO, Helen Santos; SILVA, Luciana Soares da; NUNES, Míghian Danae Ferreira (Orgs.). Catálogo de jogos e brincadeiras africanas e afro-brasileiras. São Paulo: Aziza Editora, 2022. Disponível em: <https://anansi.ceert.org.br/biblioteca-pdf/catalogo-jogos.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2022.

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“A Língua Portuguesa é cheia de Charme”

No Dia Nacional da Língua PortuguesaDesde entrevista professor gaúcho que difunde o idioma nas plataformas digitais

Thiago Charme: “Eu sou um defensor ferrenho das variantes da Língua”. Foto: autorretrato

Por Raulino Júnior 

É impossível ter contato com o professor, designer gráfico e escritor Thiago Charme e não brincar com o seu sobrenome, que, usando uma figura de linguagem muito comum na Língua Portuguesa, caiu como uma luva para ele. Inclusive, não foi por acaso que fizemos um trocadilho no título desta entrevista. Luis Thiago do Nascimento Charme tem 38 anos e é natural de Arroio dos Ratos, município do Rio Grande do Sul. Filho de Maria Cleusa do Nascimento Paiva e Gildo Ramires Charme (in memorian), ele é oriundo de uma família grande. Tem quatro irmãos cheios de Charme: RejaneVanderDaniela Willian. O sobrenome incomum é, ao que tudo indica, de origem francesa. “Na verdade, não é um erre ali no meio. O sobrenome mesmo, dos meus avós paternos, é Chalme, com ele”. De acordo com Thiago, há muitas variações do sobrenome. “Nós, irmãos, temos essa diferença também. Todo eles têm o esse no final, menos eu. Pra dizer a verdade, de todos os primos, parentes e tios de quem eu tenho notícia, de mais perto, o único que é realmente Charme sou eu”. O fato é que os Charmes não vieram ao mundo para seguir modelos e tradições. E Thiago personifica isso nas suas vivências e atitudes. Em 2009, quando começou a dar aula, já utilizava as tecnologias da informação e da comunicação como recurso pedagógico. Em 2011, isso se consolidou, participando de projetos de criação de canais de veideoaulas. Daí em diante, não parou mais. Em 2015, criou o TuboAulas. “Era um projeto que abrigava outros professores. Daqui e dali, as coisas foram mudando um pouco de visão. Não houve dedicação de alguns professores. A partir de 2019, comecei a pensar em algumas mudanças no meu formato. A primeira delas, voltar o meu material para Língua Portuguesa e Literatura, que sempre gostei bastante. Não queria que fosse um trabalho maçante, só focado em ENEM, porque o meu intuito sempre foi compartilhar conhecimento, democratizar o conhecimento”. No ano passado, em conversa com alguns amigos, um deles, Jean Azevedo, do canal Geografia com JeanGrafia, sugeriu um novo nome para o novo conceito do projeto: Português com Charme. No canal, Thiago promove processos de ensino e de aprendizagem de forma ampla, nada é à toa. Inclusive, as cores escolhidas para a arte da plataforma. “A cor amarela do canal foi quase que 100% inspirada no álbum AmarElo, de Emicida. Tanto a música quanto o álbum como um todo foi uma transformação para a minha vida. É como se eu estivesse ressurgindo de certa forma e me reconstruindo o tempo todo através de cada uma das músicas do álbum”, confidencia. Toda a identidade do canal foi pensada com a ajuda do namorado, Oliver Luys, que também é designer gráfico e empreendedor. Thiago é formado em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, Inglesa e Respectivas Literaturas, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS); e em Publicidade, curso pós-médio que fez na Escola Técnica Estadual Irmão Pedro. Nesta entrevistONA especial, feita por WhatsApp e comemorativa pelo Dia Nacional da Língua PortuguesaThiago Charme diz o que faz para não se tornar uma gramática ambulante, reflete sobre preconceito linguístico, linguagem neutra e pretoguês. Ainda fala de sua relação com Salvador e com o baianês e diz por que a Língua Portuguesa é cheia de charme: “Eu amo todo esse conceito de jogar com as palavras. De trabalhar as palavras em todo o seu sentido”. Leia e fique à vontade.

Desde que eu me entendo por gente – Desde 2011, você usa o YouTube para promover processos de ensino e de aprendizagem na área de Linguagens e seus Códigos. Qual contrapartida tem do público que te acompanha?  

Desde – Qual limite você coloca para não se tornar uma gramática ambulante? Ou seja, como evitar ser um consultor de gramática durante todo o tempo e por todas as pessoas?

Desde – No Behance, você diz que decidiu fazer Letras porque queria se comunicar e escrever bem. O curso, por si só, te trouxe isso? Por quê?

Desde – No livro Preconceito LinguísticoMarcos Bagno faz críticas a profissionais de Letras que dão curso com o objetivo de ensinar a falar e escrever bem a Língua Portuguesa. De acordo com o linguista, isso acontece porque a sociedade elege uma variante da língua como sendo de prestígio. Qual é a sua opinião sobre isso?

Desde – Você é designer gráfico. Se a Língua Portuguesa fosse uma imagem, qual seria?

Desde – Entre abril e junho de 2019, você morou em Salvador. O baianês te encantou? Incorporou algumas expressões ao seu vocabulário?

Desde – Qual poema da Língua Portuguesa mais te comove? Por quê? Declame para os leitores e para as leitoras.

Desde – A Língua Portuguesa, além de ser matriz da nossa cultura, contribui para a nossa atuação política no mundo. A  linguagem neutra é um exemplo disso. Para você, a resistência ao uso dela terá longevidade ou não tem mais jeito?

Desde – O Pretoguês, conceito cunhado por Lélia Gonzalez para falar sobre a  marca de africanização do português falado no Brasil, é também um ato político, porque evita um silenciamento que insiste em prevalecer. Como você incorpora tal discussão na sua prática pedagógica?

Desde – A Língua Portuguesa é cheia de charme? Por quê?

Da Calma e do Silêncio, de Conceição Evaristo, por Thiago Charme

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YouTube: @PortuguesComCharme

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É Desde! É Dez! É DEZde!

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Carta aberta aos organizadores da 9ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica)

Imagem: captura de tela do site oficial da Flica

Salvador, Bahia, 26 de setembro de 2019
Prezados organizadores,
Escrevo esta carta no intuito de convidá-los a refletir criticamente sobre o nome dado a uma das mesas da edição de 2019 da Flica. Sou professor de Língua Portuguesa e Redação no Colégio Estadual Mário Augusto Teixeira de Freitas e, como tal, interessado em atividades que têm como principal objetivo estimular a prática da leitura. Obviamente, sempre tento criar situações de leitura e escrita em sala de aula, fora dela também. Assim que soube do lançamento da Flica deste ano, corri para o site a fim de conferir a programação. Confesso que fui surpreendido negativamente ao me deparar com o nome da mesa 03, intitulada A leitura não precisa ser essa coisa chata, que terá a participação de Thalita Rebouças e Saulo Dourado, com mediação de Ronaldo Jacobina. Uma mesa com essa temática, no evento literário mais importante do estado, corrobora o discurso muito presente entre alguns educandos, de que a leitura é chata. Sendo assim, penso o quanto que os esforços feitos cotidianamente no ambiente escolar, por mim e por outros professores, para estimular a leitura, vão para o beleléu quando isso é reforçado, mesmo sem intenção, por um evento da relevância e grandiosidade da Festa Literária Internacional de Cachoeira. O título da mesa reforça a ideia que muitos estudantes têm, e parte da sociedade, de que ler é chato. Então, todos os esforços para desconstruir esse estereótipo, na minha opinião, ficam comprometidos. É com se, de fato, ler fosse chato, mas que não precisa ser tanto. Como vocês trabalham com um evento de literatura, certamente, devem acompanhar pesquisas e iniciativas de institutos que levantam dados sobre hábitos de leitura dos brasileiros. A 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, que considera como “leitor” aquele que leu pelo menos um livro (inteiro ou em partes) nos últimos três meses, revelou que o brasileiro lê, em média, 2, 43 livros por ano. Sei que a Flica quer mobilizar também outras experiências culturais nos participantes, mas, tenho certeza, de que o estímulo à leitura é o que fundamenta a razão de ser do evento. O nome da mesa que critico traz um equívoco semântico que é lamentável. O não-dito do título, tomando como empréstimo um dispositivo da Análise do Discurso, fala mais do que aquilo que é dito. É preciso que seja revisto. Nesse sentido, gostaria de pedir para que vocês levassem em consideração isso que aponto como equívoco. A minha intenção é, apenas, fazer uma contribuição mesmo, para buscar a melhoria. Inclusive, postei alguns comentários nas redes sociais digitais da Flica, falando sobre o assunto que abordo nesta carta, e, no Facebook, o internauta Leandro Queiroz deu uma ótima sugestão de mudança para o nome da mesa, que eu espero que vocês acatem. Reproduzo na captura de tela abaixo.
Vou aguardar a resposta de vocês.
Atenciosamente,
Compositor, professor, jornalista e produtor cultural 
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O Caso Escola Base e a falta de uma regra básica do Jornalismo

Escola Base: caso marcou a história do jornalismo brasileiro. Imagem: site da Editora Casa Flutuante

Por Raulino Júnior ||RauLendo: leituras em pauta|| 

Não precisa fazer nenhuma pesquisa para afirmar que, de 1994 para cá, é quase impossível ter um estudante ou profissional de Jornalismo, no Brasil, que não conheça o Caso Escola Base. Se tem, as faculdades estão falhando. O emblemático episódio começou a figurar nas manchetes dos jornais, rádio e TV em março daquele ano e, por falta de um requisito básico da prática jornalística, a apuração, “matou” socialmente seis pessoas. Explico: Icushiro ShimadaMaria Aparecida Shimada e Paula Milhim, donos da Escola de Educação Infantil Base, localizada em São Paulo, foram acusados de abuso sexual por Cléa Parente e Lúcia Tanoue, mães de estudantes da instituição. Além deles, Maurício Alvarenga (marido de Paula e motorista do transporte escolar) e o casal Mara França e Saulo Nunes (pais de aluno da Escola Base) também foram acusados de fazer parte de um suposto esquema de pedofilia. O fato é que a imprensa, capitaneada pela Rede Globo, dona do furo jornalístico (Cléa e Lúcia entraram em contato com a emissora com o objetivo de que a denúncia não deixasse de ser investigada e, claro, buscando uma notoriedade para o caso), tomou a queixa das mães como verdade e uma série de reportagens que exploravam o episódio de forma sensacionalista foram veiculadas a partir de então. O estopim foi a reportagem da Globo, conduzida por Valmir Salaro, no Jornal Nacional, em 29 de março de 1994. A única “prova” sobre o “crime” que os jornalistas tinham era o depoimento das mães e as declarações de Edélcio Lemos, delegado do caso, que também deixou de cumprir a sua função com responsabilidade. Por falta de provas, o inquérito foi arquivado, mas os acusados ficaram com marcas que ressoam até hoje.

No intuito de descobrir como o caso marcou a vida dos envolvidos, o jornalista e editor-chefe do portal Casa dos FocasEmílio Coutinho, lançou, em 2016, o livro-reportagem Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira (Editora Casa Flutuante, 135 páginas). Com prefácio de Heródoto Barbeiro, a obra traz um significativo trabalho de investigação de Emílio. Em dez capítulos, o jornalista descortina a história e mostra para o leitor o que aconteceu com as pessoas que participaram diretamente dela. A narrativa é interessante e quem lê se coloca o tempo todo no lugar de Coutinho, na difícil jornada de busca dos personagens, uma vez que, na época de lançamento do livro, o episódio já tinha 22 anos de ocorrido. O casal Shimada, por exemplo, já morreu. E será que todo mundo quis falar sobre o caso ou, como alguns jornalistas que cobriram, na época, as pessoas preferiram o silêncio? No livro, Emílio Coutinho narra todas as aventuras para colher os depoimentos e consegue uma entrevista exclusiva com Valmir Salaro, um dos poucos profissionais que reconhecem o erro. A leitura vale a pena.

Em tempo: Emílio Coutinho está prestes a lançar mais um livro sobre o caso, mas com outra perspectiva. Trata-se de O Filho da Injustiça, parceria do jornalista com Ricardo Shimada, filho do casal Shimada. De acordo com uma postagem do próprio Emílio, no portal Casa dos Focas, o livro “mostrará outro aspecto dessa história e colocará o leitor na pele de umas das vítimas mais próximas da Escola Base”. Vamos aguardar.

Referência:

COUTINHO, Emílio. Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira. São Paulo: Editora Casa Flutuante, 2016.

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Imersão Poética

Livro de estreia de Pedro Vale é repleto de poesias reflexivas. Imagem: captura de tela

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Na quarta-feira passada, 23 de julho, via Twitter, recebi o convite do escritor português Pedro Vale para resenhar o seu primeiro livro, intitulado Azul Instantâneo. Ele enviou o arquivo em PDF e, de imediato, embarquei na leitura. O livro, que reúne textos escritos entre março de 2016 e setembro de 2017, na página do Facebook de Pedro, é poético do início ao fim. E isso não é uma metáfora apenas, é fato. O leitor se depara, logo na segunda página da obra, com o verso “Ofereço”. Na sequência, vários poemas, predominantemente ligados à poesia concreta, desfilam nas mais de 60 páginas da antologia. Na última, o verso “lembro”. Então, o que se conclui é que Pedro oferece para o leitor as suas criações e faz questão de que ele lembre da leitura feita, de que perpetue e compartilhe aquilo que foi lido. Pedro quer ser lembrado.
Azul Instantâneo é repleto de poesias reflexivas, de tom filosófico. Na página 5 do livro, lê-se “Liberto a palavra e solto o pulso”. Na 34, “O rio não corre,/Só o pensamento”. Pedro fala de amizade, do fazer poético, de dificuldades da vida e toda a poética é costurada com muita introspecção. Em um dos poemas, o autor afirma:
“É preciso viver sem paixões.
Mergulhar  no absoluto anonimato,
Permanecer morto ou vivo até o fim.
[…]”
Será que é possível viver sem paixões? Fica a reflexão. Em alguns momentos, a própria poesia é o foco dos textos:
Porto
a poesia vai
pela rua,
esconde-se
nas manhãs mais
frias.
e é à noite que lhe foge
a voz.
lenta
e lenta,
lentamente,
até
desembainhar
na
f
 o
  z
A maioria dos textos não tem título e Pedro traz poemas escritos também em inglês. A instantaneidade da obra se dá, além dos temas abordados, pela leitura rápida. Lê-se de uma sentada só. Há um evidente talento do escritor, ele consegue cumprir o que se propõe a cumprir. Sem grandes pretensões, Azul Instantâneo quer capturar o leitor e consegue fazer isso. A leitura é envolvente. Principalmente, porque a vida está presente o tempo todo no livro, para o bem e para o mal:
Talvez um dia recordes
num qualquer espelho torto
quão simples fora a tua salva
e te lembres daquela vez
em que ceáramos apenas meia
laranja e nada de pão naquela casa cega
com o telhado a verter lágrimas
de fel.
Pedro tem 40 anos e nasceu em Guimarães, mas, há 17, está radicado na Ilha da Madeira. Além de escritor, é professor.
Referência:
VALE, Pedro. Azul Instantâneo. 1. ed. Portugal: edição do autor. 2018.

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Colégio de Berimbau publica livros sobre memórias da cidade

Obras foram originadas de projetos pedagógicos desenvolvidos na comunidade escolar

Livros produzidos pela comunidade escolar do Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo, de Conceição do Jacuípe (Berimbau): resgate histórico, valorização da cultura e manutenção da memória. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Reportagem Especial|| 
Era uma vez um colégio, localizado no interior da Bahia, que realizou um projeto pedagógico cujo objetivo era fazer com que professores e estudantes conhecessem um pouco mais sobre a cidade em que ele estava situado. Esse projeto, além de trazer muito conhecimento para todos da comunidade escolar, rendeu um fruto que vai ficar marcado na história cultural do município: a publicação de dois livros. Alguém duvida de que o final foi feliz?! Esse conto não é de fadas, é de professoras. A instituição de ensino citada no texto existe, é o Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo (CEDBA). A cidade também: Conceição do Jacuípe (Berimbau). Ainda bem que essa história é real e tomara que ninguém se canse de contá-la.

Em 2017, incentivados pelo projeto “Berimbau, meu pedacinho de Brasil”, os estudantes do 6º ano do CEDBA fizeram entrevistas com moradores de Conceição do Jacuípe a fim de saber a origem dos nomes curiosos e esquisitos das ruas da cidade. A atividade de sala de aula extrapolou todos os muros possíveis e resultou na produção do livro Tem Nome Esquisito Minha Rua: descobrindo a história que há por trás dos nomes “esquisitos” das ruas de Conceição do Jacuípe, organizado pela professora Elizabeth de Jesus Silva. Através da publicação, os moradores e interessados ficaram sabendo por que, por exemplo, a “Rua Mela Rego” tem esse nome. E o que falar de Rua do Cacete, do Garrancho, do Fogo e a Toca do Sapo?! Tudo está explicado no livro. Assim como a origem do apelido “Berimbau”: “Tudo começou por causa de uma feira livre que surgiu na cidade, em 1914. Essa feira era frequentada por trovadores, violeiros, pandeiristas e tocadores de berimbau. Um certo dia, fizeram uma trova que se encerrava com o nome ‘Feira de Berimbau’, surgindo, assim, o segundo nome do município de Conceição do Jacuípe”.

Trecho do livro “Tem Nome Esquisito Minha Rua”: explicação dos apelidos das ruas de Conceição do Jacuípe. Foto: Raulino Júnior

A comunidade escolar gostou tanto da experiência que a repetiu em 2018. Do projeto “Como nosso Berimbau começou a tocar”, nasceu o livro Como esse Berimbau começou a tocar: um passeio pela história de Conceição do Jacuípe. O mote se manteve o mesmo, ou seja, possibilitar que as pessoas conhecessem mais sobre a origem e cultura da cidade. O que mudou é que, com o aprendizado do passado, as autoras da obra – Arali Ferreira de Aquino Oliveira, Elizabeth de Jesus Silva, Maria Paula Batista de Souza e Núbia Leticia Santos de Souza – ousaram ainda mais. O livro ficou com 54 páginas (mais que o dobro do primeiro, que tem 24) e um personagem foi criado para tornar a leitura ainda mais lúdica. Em Como esse Berimbau começou a tocar, João Vitor, o Berimba, tem que fazer uma pesquisa de História sobre o município onde ele mora. Para cumprir com a atividade, ele recorre a Dona Ana, sua avó, e a Seu Antonio, que conhecem Berimbau como ninguém. Ao conversar com eles, Berimba vai organizando o seu trabalho. Nessa viagem, ele aprende sobre aspectos históricos e culturais da cidade. O livro traz ainda a seção “Você Sabia?”, que tem a função de explicar mais a fundo alguns dados presentes na narrativa. No final, uma ótima sacada metalinguística: as autoras sugerem que a pesquisa de Berimba se transforme num livro sobre a cidade. Foi o que aconteceu. Veja o convite de Berimba no vídeo abaixo:

Comunidade escolar e moradores da cidade

Núbia Letícia de Souza, uma das responsáveis pelas produções das obras literárias, além de ter sido estudante do CEDBA, trabalha no colégio desde 2007. É professora de Língua Portuguesa, mas, atualmente, está na vice-direção da unidade de ensino. Em entrevista via WhatsApp, ela falou sobre o sentimento da própria comunidade escolar em relação aos livros publicados: “Enquanto alguns envolvem-se e procuram informações o tempo todo, querendo ajudar a fortalecer o projeto, outros mantêm-se mais desconfiados da utilidade, principalmente porque não é algo comum às escolas públicas a produção de material bibliográfico. Mas, para o grupo de trabalho, o desafio é justamente este: sair da mesmice e produzir conhecimento de um jeito realmente eficaz e útil, não apenas para adquirir uma nota numa avaliação, mas para viver com mais consciência de nós mesmos e de tudo que nos cerca. Conhecer a nossa cidade proporciona isso”.

Para a professora Maria Paula Batista, que está no CEDBA desde a fundação, em 1991, e ensina Matemática para as turmas do 7º e do 9º anos, houve um envolvimento maior da comunidade escolar no segundo livro. Em resposta também enviada pelo WhatsApp, ela afirmou: “Embora tenhamos uma parcela de pais e alunos que ainda não perceberam a importância deste projeto, muitos têm reconhecido e demonstrado interesse. Sabemos que é um trabalho de formiguinha. No desenvolvimento dos trabalhos para o segundo livro, o envolvimento da comunidade escolar foi bem maior que o primeiro. Quase cem por cento”. Maria, que também faz parte da equipe responsável pelas publicações, diz ainda que os moradores da cidade receberam bem a edição dos livros. “Os moradores têm valorizado o nosso trabalho. Isso nos alegra e nos dá incentivo para continuarmos pesquisando e escrevendo sobre a nossa cidade. Percebemos que eles têm sede de conhecimento sobre a terra natal”. Núbia endossa isso: “Diante da confiança que a sociedade conjacuipense já consolidou ao Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo, boa parte dos moradores recebeu muito bem os dois livros publicados. Muitos se surpreendem com a qualidade do material e com o fato de uma escola pública conseguir fazer esse tipo de coisa. Muitos nos sugerem outros temas para fazer novos livros ou reclamam porque não falamos ainda de assuntos que acham importantes. Mas onde temos a chance de explicar a natureza e o propósito dos nossos livros, sempre colhemos elogios, palavras de apoio e o interesse pela aquisição dos materiais. Além da satisfação pessoal e do amadurecimento profissional, o reconhecimento dos munícipes que leem os nossos livros é muito importante para a continuidade do trabalho da escola”, reconhece. As duas produções estão à venda na própria escola e custam R$ 10 (Tem Nome Esquisito Minha Rua) e R$ 25 (Como esse Berimbau começou a tocar).

literatura infantil foi adotada nos dois livros porque “as novas gerações serão multiplicadoras das histórias contadas pelos mais velhos”, como diz um dos textos presentes no preâmbulo de Como esse Berimbau começou a tocar. Falando de nova geração, os estudantes contribuíram bastante com a produção de cada volume. Além de auxiliar no trabalho de pesquisa, alguns deles ilustraram os dois exemplares. As obras valorizam a história oral, algo muito forte na nossa cultura, principalmente pela herança africana; e trabalham com a memória, elemento importante para manter os nossos costumes e tradições sempre vivos. O desafio que fica para a comunidade escolar do CEDBA agora é o seguinte: escrever uma biografia sobre Domingos Barros de Azevedo. Um livro falando sobre quem foi ele, por que o colégio foi batizado com esse nome e qual a relação de Domingos com a cidade. Vamos lá?!

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Esta reportagem foi produzida no período de 30 de dezembro de 2018 a 12 de janeiro de 2019.
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Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Leitura, Resenha

Jornalismo de Revista: a força da imagem

Foto: captura de tela do site da Editora Contexto.

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Numa revista, as ilustrações, fotografias e infográficos são elementos fundamentais. Isso fica evidente para quem lê o livro Jornalismo de Revista, da escritora e jornalista Marília Scalzo. A obra traz informações históricas bem interessantes. Por exemplo, você sabe quando e onde surgiu a primeira revista do Brasil?
No primeiro capítulo do livro, Por que as revistas existem, abrem e fecham?, Marília Scalzo fala sobre a importância das revistas para o jornalismo e para o entretenimento. Segundo a autora, as revistas são verdadeiras prestadoras de serviço porque englobam todo tipo de assunto. Nesse sentido, a grande vantagem delas é a de aprofundar os assuntos que estiveram na pauta de outros meios de comunicação.
O próprio sucesso das publicações, de acordo com Scalzo, é o motivo para que muitas revistas deixem de existir. O espaço para os anúncios começa a ficar muito caro, igualando-se ao da televisão. Dessa forma, os anunciantes se desinteressam em fazer a publicidade, uma vez que o custo/benefício passa a não compensar.
O capítulo 2, Um pouco de história, trata do itinerário do gênero “revista” no mundo. A autora faz um excelente apanhado histórico e cita algumas características das primeiras publicações. Do nascimento, na Alemanha, até os dias atuais, as revistas sempre tiveram como objetivo atingir públicos específicos e tratar os assuntos com profundidade. Mas foi em Londres, em 1731, que apareceu, pela primeira vez, uma revista mais parecida com as que são publicadas hoje. O nome do periódico era The Gentleman’s Magazine. Outra curiosidade apresentada por Marília é que, nos seus primórdios, as revistas tratavam de um único assunto.
No início do século XX, surge a Time, primeira revista semanal de notícias. Seu lançamento influenciou a linha editorial de muitas publicações no mundo. No Brasil, a Veja é um dos principais exemplos.
 
A evolução das revistas no Brasil é o tema abordado no 3º capítulo do livro. Nele, Marília Scalzo traça o perfil e o histórico das publicações brasileiras. A primeira revista nacional surgiu em Salvador, em 1812, com o nome de As Variedades ou Ensaios de Literatura. O periódico tratava de diferentes assuntos, como os costumes sociais, história, literatura, ciência e filosofia. Daí em diante, foram surgindo revistas com os mais diferentes enfoques. Por exemplo, O Patriota tinha como objetivo divulgar autores e temas próprios da cultura brasileira. O Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura mostrava as mudanças ocorridas no Brasil devido à evolução do conhecimento humano. A Semana Ilustrada, de 1864, foi pioneira por ser a primeira revista do Brasil a utilizar fotos. Nesse período, começa a profissionalização da imprensa nacional e a necessidade de unir técnica e capital para produzir as publicações.
Muitas revistas fizeram história e se tornaram fenômenos editoriais. Nessa lista, destacam-se O Cruzeiro (1928), Manchete (1952), Realidade (1966), Veja (1968), Visão (1952), Capricho (1952), Senhor (1959) e O Bondinho (1970 a 1972).
O que diferencia uma revista dos outros meios? é a pergunta-título do capítulo 4. A tese defendida é a de que a revista, em relação aos outros segmentos da imprensa e da mídia, fala de maneira mais íntima com o leitor. Marília Scalzo cita o formato das revistas como sendo uma das características mais importantes para fidelizar leitores. Elas são fáceis de carregar e de colecionar, não sujam as mãos, são atraentes (pelo uso de papel especial, fotografias e infográficos). A periodicidade é outro elemento importante dentro desse debate, porque está diretamente ligada ao trabalho dos jornalistas. Um tempo maior para elaboração das reportagens implica, quase sempre, num melhor produto a ser apresentado ao público.

O capítulo 5, Como anda o mercado para as revistas?, só constata uma realidade vivida e acompanhada pelas pessoas interessadas em comunicação impressa. Para não perder espaço e tentar consolidar uma fatia de mercado, as revistas segmentam cada vez mais os seus conteúdos. Muita gente pode pensar que a crise das  publicações é resultado do impacto dos meios eletrônicos. Contudo, Marília ratifica o que muitos estudiosos de comunicação defendem há muito tempo: um meio de comunicação, por mais poderoso que possa parecer, nunca vai acabar com os demais. Há, na verdade, uma complementação daquilo que se fazia anteriormente.

O 6º capítulo, O que é um bom jornalista de revista?, é o melhor dentro da temática abordada por Marília em sua obra. A autora fala sobre a importância da leitura no cotidiano do jornalista e a necessidade de o profissional desenvolver uma razoável cultura geral. A isenção na hora de produzir as matérias é um dos pontos enfatizados por Scalzo. Para escrever bem, ela é categórica: deve-se fazer muitas leituras e escrever bastante. Sendo assim, o jornalista terá mais elementos para contar as histórias que já foram divulgadas em outros meios de comunicação, dando ênfase a outros aspectos.

No capítulo 7, O que é uma boa revista?, Marília destaca a importância de as revistas se renovarem constantemente. Nesse sentido, ter um bom plano editorial contribui para isso. A capa é uma das partes mais importantes nesse mercado, porque, como a imagem numa revista é indispensável, é ela quem vai despertar no leitor o interesse imediato para comprar o periódico. O posicionamento das fotografias, as legendas que as acompanham e a escolha dos infográficos são elementos que, num primeiro momento, podem parecer irrelevantes, mas, na produção editorial de uma revista, fazem toda a diferença. Nesse capítulo, faltou Marília abordar questões mais técnicas relacionadas à produção das revistas.

Ética no jornalismo em revista é o assunto em destaque no 8º capítulo do livro. Nele, obviamente, a jornalista aborda questões como qualidade da informação, precisão, objetividade e isenção. Para quem trabalha na área ou é pesquisador de jornalismo, o capítulo não acrescenta muita coisa. Muito daquilo que é colocado por Scalzo soa como teoriazinha ineficaz. Na verdade, ética na profissão não se aprende lendo compêndios de “como agir corretamente”; mas, sim, agindo de tal forma.

No último capítulo do livro, Revista na prática – ou como acertar o foco no leitor, Marília Scalzo narra sua experiência como redatora-chefe da revista Capricho, de 1990 a 1992. A autora fala sobre as dificuldades e estratégias criadas para fazer a publicação se reposicionar no mercado e ser uma das líderes de venda.

Jornalismo de Revista traz informações relevantes para quem quer conhecer a história, consolidação e crise do mercado de revistas no Brasil e no mundo. A autora apresenta uma pesquisa cronológica abrangente. Porém, deixa algumas lacunas quando se pensa na produção técnica do jornalismo de revista. O leitor com poucas referências de jornalismo, se satisfaz com o texto de Scalzo, e isso é louvável. Contudo, aquele que já tem certo conhecimento sobre a prática jornalística, pede um pouco mais da obra.

Referência:

SCALZO, Marília.  Jornalismo de revista. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2009 (Coleção Comunicação).

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Cultura, Entrevista, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura

Em entrevista, coordenador da Biblioteca Abdias Nascimento, Eduardo Pereira Odùdúwa, fala sobre os projetos e desafios da instituição

Eduardo Pereira Odùdúwa, na sede da Biblioteca Abdias Nascimento, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Foto: Raulino Júnior. Edicão de imagem: Josymar Alves

Por Raulino Júnior

O arte-educador Eduardo Pereira Odùdúwa, 34 anos,é um representante fiel do cidadão que contribui para transformar a sociedade na qual está inserido: engajado, consciente e mobilizador. Há sete anos, fundou e coordena, junto com a sua mulher, Isis Sacramento, a Biblioteca Abdias Nascimento (BAN), que fica na Avenida Afrânio Peixoto, a famosa “Avenida Suburbana”. A instituição é a primeira biblioteca independente, em Salvador, especializada em cultura afro-brasileira e africana. Em 2012, o espaço virou Ponto de Leitura, através do Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura. Nesta entrevista, Eduardo fala sobre as ações e perspectivas futuras da BAN.” Nosso grande desafio, agora, é ter a sede própria. Isso vai viabilizar muita coisa”, aposta.
Desde que eu me entendo por gente: O nome da biblioteca é Abdias Nascimento, que faz referência a um ícone do povo negro e da nossa cultura. O que motivou a homenagem?
Eduardo Pereira Odùdúwa: Na época, eu, minha esposa e mais cinco pessoas, todos arte-educadores, resolvemos criar esse projeto porque a Lei 10.639/03, que obriga as escolas a ensinarem a história e cultura afro-brasileira e africana, tinha sido recentemente criada, mas a gente percebeu que não havia uma acessibilidade ao material que era produzido sobre essa cultura.  Coincidentemente, em 2008, Abdias veio a Salvador para receber o título de doutor honoris causa, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), e nós o conhecemos. Tanto ele quanto Elisa Larkin Nascimento [viúva de Abdias]. Resolvemos fazer essa homenagem porque Abdias é uma figura que tem tudo a ver com a nossa proposta, tanto na literatura, no teatro e nas artes plásticas. Aqui, apesar de ser uma biblioteca, tem uma atuação bem ampla.
Desde: Há algum diálogo com as outras bibliotecas de Salvador?
 
EPO: A gente é cadastrado na Fundação Pedro Calmon, a fundação que gerencia as bibliotecas aqui na Bahia, e na Fundação Biblioteca Nacional também. Já fizemos parte de algumas redes de bibliotecas, mas o nosso vínculo é via Pedro Calmon mesmo.
Desde: Como ocorre o sistema de empréstimo de livros?
EPO: A gente faz um cadastro. As pessoas interessadas vêm aqui, preenchem a ficha e trazem a documentação básica (comprovante de residência e xérox da identidade). O empréstimo é gratuito, por sete dias, e pode ser renovado.
Desde: A visitação é grande?
EPO: Hoje, estamos atendendo, praticamente, por visita agendada, porque aqui não tem um fluxo tão constante. Isso, na realidade, é um problema de todas as bibliotecas de Salvador. Como a gente faz muitas atividades externas, nas escolas, nos terreiros, em algumas Organizações Não Governamentais (ONGs) que são parceiras, as pessoas conhecem o nosso trabalho e quando têm interesse de visitar e até mesmo fazer empréstimo de algum livro, entram em contato, por telefone ou pelo e-mail, a gente marca o dia da visita e ela acontece.
Desde: O que essa experiência de sete anos de estrada trouxe? Quais foram os desafios? [A BAN foi fundada em 30 de maio de 2008].
 
EPO: Essa é a nossa quarta sede provisória. Nós estamos, agora, começando a construir a nossa sede própria, em Periperi. Eu acredito que, em novembro, nós estejamos inaugurando a sede definitiva. Essa foi uma experiência que a gente teve, de estar mudando, mas sempre mantendo esse eixo entre Periperi e Praia Grande. Nós começamos em Escada, depois fomos para Itacaranha, em seguida para Periperi e viemos para cá. Daqui, a gente só sai com o nosso espaço próprio.

Eduardo posa ao lado do acervo da BAN: mais de 1000 títulos. Foto: Raulino Júnior

Desde: Qual foi a razão para implementar o projeto da biblioteca?
EPO: Na realidade, o Subúrbio, e isso já é uma coisa comprovada hoje, é a região de Salvador que tem o maior número de população negra e a maior quantidade de terreiros de candomblé. Então, a questão da negritude é muito forte aqui, apesar de a consciência ainda não ser muito grande. As pessoas ainda não têm essa consciência racial, ainda é uma briga que a gente está travando, mas a cultura negra aqui é muito forte. Há muitos grupos culturais de capoeira, de música, de dança. Esse foi o motivo.
Desde: Você é leitor? Qual livro você está lendo no momento?
EPO: Sou. No momento, eu estou lendo um livro sobre Abdias Nascimento, da coleção Grandes Vultos que Honraram o Senado. Aqui na Bahia, só existem dois exemplares desse livro. Foi lançado recentemente e um dos exemplares, que é o que está aqui em Salvador, ficou conosco. Recebemos das mãos de Elisa Larkin. [Eduardo não lembra onde Elisa deixou o segundo exemplar, mas tem certeza de que não foi em Salvador. O livro que fala sobre Abdias é de autoria de Elisa Larkin Nascimento. A coleção é uma iniciativa do Senado Federal].
Desde: Você, como arte-educador, o que acha sobre a prática da leitura no Brasil e na Bahia? 
EPO: A gente já não tinha uma cultura muito forte de leitura, né? Neste momento, a gente vive uma crise, por  causa da questão da internet, dos meios eletrônicos. Eu acho, na realidade, que é um momento de mudança. Estão sendo criadas outras possibilidades de leitura, que a gente precisa saber como acompanhar, para não perder o hábito do livro impresso, do livro físico. Como arte-educador, como eu faço um trabalho de contação de história também, eu estimulo. Sempre que vou contar história, eu levo o livro impresso, para que as crianças vejam, tenham contato, e aquelas que já sabem ler, possam ler, recontar a história. Então, eu acho que essa é uma estratégia.
Desde: Quais serão as próximas ações da BAN?

EPO: Tem várias outras atividades que a gente tem interesse de fazer, mas a gente não tem braço, não tem espaço. Nosso grande desafio, agora, é a sede própria. Isso vai viabilizar muita coisa. A gente quer fazer um trabalho mais específico com as crianças, inclusive nessa questão de formação de leitores, e é muito mais complicado a gente ir até às escolas e em outras instituições. Com a sede, a gente tem essa possibilidade de trazer as crianças e fazer um trabalho mais específico.

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A seguir, Eduardo Pereira Odùdúwa descreve, de forma específica, cada atividade realizada pela Biblioteca Abdias Nascimento. Todas as ações são gratuitas.

Sede da BAN, na Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana). Foto: Raulino Júnior

Curso de Língua e Cultura Yorubá: “Eu sou professor de língua iorubá, formado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO). O curso, que dura de três a seis meses, existe desde o primeiro ano da BAN. A cada semestre, nós temos uma nova turma”.
Oficina de Percussão e de Atabaques: “Nós fizemos nos dois primeiros anos, paramos e retomamos neste ano. Estamos com uma turma numa academia, em Águas Claras”.
Coral Afro nkorin Yorùbá: “É um coral de língua iorubá, formado por ex-alunos do curso. Ao longo do curso de iorubá, as pessoas sentiram essa necessidade de expressar, mostrar essa cultura, os diversos valores culturais. Aí, em 2013, alguns alunos resolveram se organizar e formar esse grupo”.
JAM da BAN: “É uma jam session e sarau poético que acontece uma vez por mês, no Parque São Bartolomeu. Reúne a juventude, os músicos locais e a gente leva o nosso acervo de poesia africana e afro-brasileira. A gente tem uma coleção de literatura angolana muito rica”.
NaEncruza: “É um encontro que a gente faz, especificamente, com os povos de terreiro ou para discutir questões relacionadas a esses povos. Nós vamos até o terreiro, fazemos uma discussão ou trazemos alguns representantes aqui para nossa sede”.
Acervo Itinerante: “Há uma resistência muito grande, hoje em dia, de as pessoas virem até o espaço da biblioteca. Sendo assim, nós levamos o nosso acervo, uma vez por mês, para as escolas públicas daqui da região. É justamente o momento que a gente faz a aproximação e, a partir daí, as pessoas entram em contato pra vir aqui e conhecer, de fato, todo o acervo e as atividades”.
Omodé Griô: “É uma contação de história. Neste momento, nós não estamos fazendo. Fizemos até o ano passado, no Centro de Referência de Assitência Social (CRAS) da Barroquinha, com as crianças ali do Centro Histórico e do entorno”.
Agbá Griô: “É um projeto com os mais velhos, que começamos no ano passado. A gente trabalha com o pessoal do grupo de idosos Conviver Vó Maria, daqui de Periperi. A gente faz um trabalho de resgate da memória, comparando as histórias que eles conhecem com as histórias africanas”.
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