Artigo de Opinião, Opinião

O voto, a estupidez e o futuro de um país

Ordem?! Progresso?! Imagem: Gazeta do Cerrado

Desde muito novo, ouço dizer que “brasileiro tem memória curta”, e essa afirmativa nunca fez tanto sentido quanto agora. Estamos às vésperas das Eleições Gerais de 2018, ocasião em que os cidadãos vão escolher o presidente e vice-presidente da República, governador e vice-governador do estado e do Distrito Federal, senador, deputado federal, estadual e distrital, e, pelo que se vê, parece que houve um esquecimento dos tempos sombrios de outrora e a cidadania está dando lugar a um retrocesso voluntário, radical e inconsequente, como se o voto fosse brincadeira de criança. Só que, no contexto em que estamos, o peso da perda é muito maior. Na verdade, todo o país pode sair prejudicado por um ato que, na sua origem, não tem nada de consciente. É estupidez pura.
Muita gente ainda não sabe qual a importância e a razão do voto numa democracia. Obviamente, cada pessoa tem o direito de escolher em quem vai votar, mas essa escolha não deve ser feita de forma irresponsável, sem pensar numa coletividade. Deixar de olhar para o próprio umbigo é o primeiro passo para votar bem, independentemente do candidato que você vai escolher. Contudo, tem candidaturas que surgem para testar a ignorância do eleitor diante da História e o resultado é sempre positivo: somos ignorantes e estúpidos nesse aspecto. Caso contrário, não assistiríamos ao nascimento de um Hitler brasileiro de forma tão passiva e sob aplausos.

Ninguém devia duvidar de que ditaduras deixam um legado negativo para qualquer sociedade. Ninguém devia, mas isso não corresponde à realidade. No Brasil, por exemplo, quem viveu aquele período histórico deve, certamente, lamentar com mais veemência. Por outro lado, quem conheceu a Ditadura pelos livros e tem noção do que ela representou, sabe que esse regime de supressão de direitos não faz nenhuma sociedade resolver os seus problemas. É o oposto: os problemas se potencializam. Por aqui, o período ditatorial durou 21 anos (de 1964 a 1985) e fez a população conviver com censura de toda e qualquer natureza, perseguição política, falta de liberdade de expressão, supressão de direitos constitucionais e repressão a toda ideia que contrariava o que estava estabelecido. Dá para esquecer isso? Não! É triste e revoltante constatar que, em 2018, tem pessoas que concordam com ideias de candidatos que têm como principal bandeira política perpetuar esse legado. É cuspir na nossa Constituição. É menosprezar e jogar no lixo as poucas conquistas da luta dos negros, das feministas e do público LGBTI+, por exemplo. Isso é nazi-fascismo em pó! Isso é sério! Isso é um absurdo!

O momento atual do país exige uma reflexão profunda sobre onde ele está e para aonde ele vai. Não dá para ficar na timeline brincando de polêmica e de busca por “likes”, corroborando com ideais que visam descartar direitos conquistados depois de séculos de luta. Há muita diferença entre um projeto de governo e um projeto desgovernado de extermínio. Votar não é escolher quem é melhor para você. É escolher quem é melhor para todo um país. Senão, num futuro bem próximo, seu candidato vai te botar no bolso, mané, e decretar o AI-5.2 no primeiro dia de janeiro.

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Quem conhece, aprova!

Camisa do Grandes Mestres sem a pontuação adequada. Imagem: divulgação

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Voltando da aula, metrô lotado. Avisto um casal. Eles aparentam ter a mesma idade. Uns 17, 18 anos. A menina sentou. O menino ficou em pé. Pelo visto, eles estão indo para o cursinho, porque, além de a menina carregar os cadernos, o menino usa uma camiseta onde se vê a marca de um famoso cursinho da cidade. Na camisa, o slogan: “Quem conhece aprova”. De imediato, identifiquei a falta da vírgula no período, que é composto por coordenação. Não me contive. Fui até o rapaz.
  Você estuda no “Grandes Mestres”?
  Estudo.
  Vai ter aula de Língua Portuguesa hoje?
  Não.
  Eu estava reparando o slogan que está na sua camisa, tem um erro aí. Deveria ser “Quem conhece, aprova”, com a vírgula. É um período composto por coordenação, tem duas orações: “conhece” e “aprova”.
  Mas o professor lá até falou sobre isso. Ele disse que está certo.
  Qual foi a justificativa que ele usou para dizer que estava certo?
  Você lembra? (para a menina, que faz um gesto negativo com a cabeça). Ele disse… (tentando encontrar uma resposta). É porque eu não sei explicar.
  Beleza! Falo no intuito de ajudar, uma vez que é um cursinho, não é? (o menino fica meio que assustado, meio que agradecido). Desculpa a abordagem assim.
  Tranquilo.
O metrô chegou na estação de desembarque obrigatório e nos despedimos. Fui para casa pensando naquela oração coordenada assindética e de como uma vírgula muda tudo.
Sigamos.
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