#Desde8, Cultura, Jornalismo Cultural, Perfil, Perfis do Desde

5ª história: a série “Perfis do Desde”

Série de perfis revelou as histórias por trás das pessoas

Personagens da série Perfis do Desde (da esquerda para a direita, de cima para baixo): Felipe Soares, Leonardo Gama, Adriana Lisboa, Felipe Ferreira, Shirlei Sanjeva, Sandra Moreira, Josymar Alves, Peterson Azevedo e Nalini Vasconcelos. Todas as fotos foram feitas por Raulino Júnior, exceto a de Peterson (autorretrato) e a de Nalini (Bruno Ruas).

Por Raulino Júnior

Em 2014, o Desde se lançou num grande desafio: produzir uma série de perfis. A ação foi implementada para comemorar o aniversário de três anos do blog. O intuito era “mostrar a identidade da pessoa através do texto”, como dizia a postagem de divulgação. E acho que foi alcançado, viu! A série foi um sucesso! Muita gente elogiou os perfis publicados. Ela foi anunciada em janeiro e começou a ser publicada em abril daquele ano. Antes disso, como uma forma de preparar o leitor e exercitar ainda mais o jornalismo cultural, que é uma tônica do blog, duas resenhas foram publicadas: a primeira, do livro Jornalismo Cultural, de Daniel Piza; a segunda, do 1º capítulo do livro Perfis e Como Escrevê-los, de Sergio Vilas-Boas. Jornalisticamente falando, foi um dos momentos mais interessantes do Desde. Houve muito trabalho de pesquisa, apuração e criação. Afinal, para escrever um perfil, a criatividade deve ser uma bússola. O texto tem que ficar atraente para quem escreve, para quem lê e para quem é personagem do perfil. Clique na imagem abaixo e veja a postagem anunciando a série Perfis do Desde.

Captura de tela do post de anúncio da série Perfis do Desde, em janeiro de 2014.

Você deve estar se perguntando: cadê as histórias? Clique aqui e veja os nove perfis que foram publicados. São de pessoas ligadas a arte, cultura, esporte, educação e tecnologia. Para cada entrevistado, quase duas horas de entrevistas. Haja decupagem! Era preciso colher muita informação para produzir os perfis. Principalmente, para o trabalho sair bem feito. É sempre isso que a gente quer. Até a próxima!
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Nalini Vasconcelos é cheia de arte

Cantora, compositora, escritora, poetisa e videomaker: as várias facetas de Nalini Vasconcelos

Nalini Vasconcelos: artista por natureza. Crédito: Bruno Ruas


Você conhece alguma pessoa que faz várias coisas e não consegue dizer, com precisão, qual é aquela que mais gosta? Nalini Vergasta de Vasconcelos é essa pessoa. Nalini compõe, canta, escreve, faz produção de vídeos e tem dificuldade para escolher qual atividade ela gosta mais. “Eu não consigo escolher. Talvez a música puxe uma coisa mais interna de mim. Mas eu não consigo viver sem escrever e adoro fazer vídeos, porque puxa toda a minha criatividade e minha linguagem videográfica das coisas. Então, eu gosto de tudo!”. Esse “gostar de tudo” tem a arte como alicerce. Tanto é que Nalini afirma que a sua vida não existiria sem ela: “A arte é, realmente, uma coisa libertadora. Contemplar a arte é a coisa mais gostosa que tem, fazer arte é melhor ainda. Não viveria sem arte”. E Nalini tem poesia no próprio nome, fruto da filosofia indiana seguida pelos seus pais. “Nalini é a tradução de ‘flor de lótus’, no sânscrito. Essa flor nasce nas aǵuas lamacentas, onde as sementes ficam. Isso, no hinduísmo, mostra que a beleza pode brotar de qualquer circunstância. No início, eu não gostava muito do nome, porque é diferente e ninguém acertava falar. Depois, percebi que me diferencia um pouco do comum, dando um destaque natural”.
Desde pequena

Nalini convive com a arte desde pequena. Crédito: Bruno Ruas

Quem pensa que toda essa inclinação de Nalini para as artes teve influência familiar, engana-se. Os pais são acadêmicos da área de exatas. A mãe, Elinalva Vergasta, é matemática; e o pai, Dionicarlos Vasconcelos, PhD em física. Os irmãos Larriri e Rajasí são, respectivamente, designer gráfico e profissional de marketing. Embora eles atuem como músicos (Larriri, inclusive, é baixista da banda Radiola e faz parte da banda da cantora Marcela Bellas), Nalini diz que caiu na arte por conta própria. “Meu pai tinha um harmônico indiano e comecei a tocar sozinha, quando era muito pequena. Tinha também uns vinis dos Beatles lá e eu ficava vidrada, sem entender o que era aquilo. Não tive nenhuma influência familiar para cair nas artes, mas acabei me encontrando nesse caminho artístico”. Contudo, Nalini tem consciência de que trilhar esse caminho não é fácil, uma vez que a valorização artística é uma temática que não tem tanta atenção na sociedade. “A gente precisa de um emprego, de um trabalho que dê rentabilidade, precisa fazer vestibular. Então, a gente cresce nesse clima tenso de ter sucesso, entre aspas, na vida. Sucesso é uma coisa muito relativa. Para mim, sucesso é autorrealização. Claro que você precisa de conforto, dar educação aos filhos [ela é mãe de Breno, de 10 anos; e Nuno, de 8], isso requer um apelo financeiro. Mas você precisa encontrar a sua essência e isso eu descobri desde pequena”, desabafa.
 A essência de Nalini é a arte. Isso fica evidente na sua personalidade. Mas ela também passeia por outros caminhos. É formada em Administração em Sistemas de Informação pela Faculdade de Tecnologia Empresarial (FTE) e é mestre em Modelagem Computacional e Tecnologia Industrial pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Em 2015, pretende fazer doutorado, em educação, também pelo SENAI. Além disso, já trabalhou em banco, teve uma produtora de vídeo e passou 15 anos atuando nela. No início da internet, trabalhou como web designer. De 2011 a 2012, coordenou a equipe da TV Anísio Teixeira, um dos projetos da Rede Anísio Teixeira. Atualmente, trabalha com produção multimídia voltada para eduacação a distância, no SENAI CIMATEC (Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia).
Nalini musical
Em 2013, Nalini lançou o seu primeiro trabalho musical, Unless, com cinco faixas. No EP autoral, predominam canções em inglês. A cantora explica: “Acho que é porque eu ouvi muito Beatles quando era pequena e muito rock inglês. Na adolescência, ouvia punk rock e rock inglês mais depressivo. Aí, eu acho que na hora de você externar uma produção sua, isso acaba vindo processado de alguma forma”. Em janeiro de 2015, sai o CD Plongée, trabalho que representa o mergulho de vez da artista no universo da música. “Eu gosto muito das câmeras focadas de cima e a representação do mergulho. Por isso, coloquei esse nome. É bom que várias pessoas lembram logo do cinema. Era isso que eu queria”. O álbum de oito faixas autorais tem produção de Jorge Solovera, músico e produtor musical que já trabalhou com nomes como Lazzo MatumbiMagloreRicardo Chaves e Teclas Pretas. Diferentemente de UnlessPlongée terá mais canções em português. “Tem cinco em português e três em inglês, mas isso não foi pensado. Tinha mais músicas em português dessa vez”, esclarece.

Nalini no estúdio: habitat natural. Crédito: Marcelo Rios

Ainda assim, o que Nalini gosta de ouvir mesmo é rock inglês. “Mexe com meu sangue, vem das vísceras”. Bandas e artistas estrangeiros são as suas maiores influências. Nesse sentido, destaca Camera ObscuraU2BeatlesKeaneColdplayJakob Dylan e Zaz. Do cenário nacional, gosta do trabalho de Los Hermanos e começou a ouvir Fernanda Takai. “Me disseram que a minha voz parece com a dela. Não ouço a fundo, mas tenho como referência”. Cresceu ouvindo o rock nacional dos anos 80 e adora Legião Urbana. Da música baiana, admira Rebeca MattaCascaduraMarcio MelloThe Orange PoemTeclas Pretas e Teenage Buzz. “Eu não odeio nada não. Vou conhecendo os novos sons e fico com o que me afino”, faz questão de ressaltar.
Literatura

Nalini na Livraria Cultura, na noite de lançamento de Amores, Rumores, Traumas e Flores. Crédito: Alex Romano

“Desde pequenininha, eu fico inventando histórias, desenhos e tal. Adorava escrever. Tinha esse sonho de ser escritora”. O sonho se tornou realidade na vida adulta. Apenas neste ano, Nalini lançou três livros: Amores, Rumores, Traumas e Flores, de poesia; Um Dia na Cidade, de contos colaborativos, do qual é a organizadora; e Web Doc: construção colaborativa de vídeo documentos para web, de cunho científico, fruto de sua dissertação de mestrado. Na internet, alimenta com seus textos o Blog de Versos, criado na plataforma Tumblr.
Para escrever as poesias, Nalini tem como referência os escritores Carlos Drummond de AndradeMachado de AssisClarice Lispector e Paulo Leminski. “Ele é bem doido. Eu gosto muito do jeito de ele escrever. É muito parecido com o que eu busco. Então, é uma referência forte”.
Nalini se descreve como uma pessoa muito tímida. “Sempre estive atrás das câmeras, como viedeomaker. Agora, estou tendo que experimentar estar na frente das câmeras. É um desafio, porque é uma coisa muito nova e eu não sou mais novinha [ela tem 39 anos]. Então, para descontruir muita coisa agora, é difícil, mas a minha paixão pela arte é tão grande, especialmente pela música, que eu me jogo”. Por outro lado, se define como uma pessoa traquina. “Sempre fui sapeca, brincalhona, mas tímida. Se botar um público… Mas é tudo muito divertido. A gente está aqui para se divertir. Com cuidado, claro, sempre pensando no coletivo. Mas é o que torna a vida mais leve”. Nalini é, literalmente, cheia de arte. Que ela transborde para o mundo!
Um verso que ela gosta…
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada”, de Clarice Lispector.
  • O que dizem sobre ela…

 Marcelo Rios

Crédito: Autorretrato

“Testemunhar o talento de Nalini, para mim, é um presente. Os seus trabalhos musical e literário são permeados pela delicadeza e intensidade de uma alma inquieta – e é difícil encontrar alguém com esse brilho próprio hoje em dia. Quando tive o privilégio de assistir, fotografar e filmar uma de suas gravações, fiquei impressionado no modo como ela é capaz de criar um forte campo magnético em seu redor: era quase possível sentir a energia eriçando os pêlos – sensação que a sua música e seus textos conseguem reproduzir de forma singela. Leiam, ouçam o que Nalini produz: é algo ímpar”.
Jana Vasconcellos
“Conheci Nalini na casa de amigos em comum e realmente não imaginava que estava em frente à uma artista plural. A forma com que ela expõe seus sentimentos de alegria, melancolia,  amor, desilusão, dentre outros tantos, faz com que a sua obra seja muito bem construída dentro da simplicidade e beleza. Além do grande talento que  nos presenteia, ela é uma pessoa que todo mundo gostaria de ter ao lado. Vida longa, poetisa!”.
Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:
Convidada: Nalini Vasconcelos
Data da entrevista: 14/12/2014
Local: Praça Jorge Amado, Imbuí (Salvador-BA)
Idealização/produção/texto: Raulino Júnior
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Um olhar sobre Peterson Azevedo

O professor e fotógrafo revela um pouco do seu universo

Peterson Azevedo no seu universo. Crédito: Autorretrato

“Ando onde há espaço: − Meu tempo é quando”. Esses versos são do soneto Poética, de Vinicius de Moraes, e têm tudo a ver com Peterson Azevedo Amorim. Além de, profissionalmente, estudar o espaço geográfico, ele vive capturando momentos através da fotografia. O seu “tempo” é mesmo “quando”. Tanto é que não cria expectativas para o futuro. “Se tem uma coisa que a maturidade me revelou, foi não prever o que está por vir”. O geógrafo, formado pela Universidade Católica do Salvador (UCSal), integra, desde agosto de 2008, a equipe de professores da TV Anísio Teixeira, projeto da Rede Anísio Teixeira, programa de difusão e produção de mídias e tecnologias educacionais, da Secretaria da Educação do Estado da Bahia. Lá, Peterson atua como produtor de conteúdo audiovisual e fotógrafo. Atualmente, não dá aulas em unidades escolares, mas participa de projetos sociais de natureza educativa, em Camaçari, cidade onde reside desde 2006.

Família

Peterson fixou residência em Camaçari quando se casou com a assistente social Monique Azevedo. Do relacionamento, nasceu Cauê, de 6 anos. No cotidiano, é comum ver o geógrafo colocando suas opiniões com convicção e, quase sempre, citando leis para embasar os próprios argumentos. Isso pode ter relação com algum aprendizado adquirido com o pai, seu José Amorim, que é bacharel em direito. A mãe, dona Elisa Amorim, é funcionária pública aposentada. Ao todo, Peterson tem quatro irmãos: Anderson, Samirra, Jaqueline e Mônica. As irmãs são só por parte de pai. A família é oriunda do bairro Cabula VI e, numa certa época, viveu em Fortaleza, no Ceará.

Amante da fotografia

O amor de Peterson pela fotografia começou em 1996. Por acaso. “Trabalhava no Banco Econômico e tinha um amigo que realizava, constantemente, viagens ao exterior. Esse amigo, então, recebeu uma encomenda de uma câmera analógica Canon EOS 500, top na época, mas o cliente não tinha mais como comprar. Ele sabia que eu praticava bodyboard e precisava registrar os campeonatos. Sendo assim, me ofereceu a câmera. Como ele não tinha outra opção, baixou o preço e, assim, pude comprá-la. Foi como conheci o universo da arte fotográfica”. Desde então, vive fazendo registros, focalizando a natureza humana e o espaço geográfico. “Quando ingressei na faculdade de geografia, já tinha um conhecimento básico e técnico de fotografia, o que me ajudou muito, pois 70% das aulas do curso eram feitas em campo. Foi nesse período que comecei a construir um olhar próprio, construindo um diálogo entre o objeto de estudo da geografia (o espaço geográfico) e a arte fotográfica. Daí meu olhar ser cooptado pela natureza do homem e suas transformações no espaço”.

Um dos retratos desse ensaio foi selecionado para o VIII Salão Brasil Afro 2010. Crédito: Peterson Azevedo

Nesse sentido, consegue, ao mesmo tempo, ser global e local, mantendo identidade em tudo que fotografa. Essa é uma característica da fotografia documental, estilo com o qual se identifica, uma vez que imprime o seu olhar sobre a realidade. Modesto, não se considera um fotógrafo profissional: “Costumo dizer que amo o que faço, logo, sou amador na arte de fotografar”. O fato é que os frutos desse amor já foram premiados. Peterson teve seus registros fotográficos reconhecidos por importantes instituições e destaca alguns prêmios que o emocionaram: “O do VIII Salão Nacional da SENAD (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas) me emocionou bastante, pois além de ser um concurso que tinha como proposta discutir o consumo de crack no Brasil, a premiação foi entregue por Luiz Inácio Lula da Silva, por quem tenho grande admiração ideológica; outro prêmio que me deixou muito feliz foi o Leica-Fotografe, considerado um dos prêmios mais concorridos do País; além do Pérsio Galembeck, por sua relevância artística, e o 18º Concurso de Fotografia Documental da América Latina, por ter sido o primeiro prêmio internacional”.

É claro que Peterson admira e gosta do trabalho de outros fotógrafos. De acordo com ele, tem como inspiração os artistas Ansel AdamsJoão Roberto RipperSebastião Salgado e os baianos Adenor Gondim e Ricardo SenaSteve McCurryIrving PeenDiane Arbus e Eugene Smith também são considerados como referência para Azevedo. No Facebook, ele mantém a página Peterson Azevedo Photography, onde divulga o próprio trabalho e informações sobre fotografia. Em agosto de 2013, realizou a exposição Permanências Percussivas, na Casa da Música (que fica no bairro de Itapuã, em Salvador), em homenagem ao músico baiano Cacau do Pandeiro. Inclusive, foi o responsável pelo still (fotos oficiais) do documentário Cacau do Pandeiro – O Mundo na Palma da Mão, dirigido por Márcio Santos e lançado em 2012. Sua formação acadêmica, na área de audiovisual, conta com cursos feitos na Academia Internacional de Cinema e no Instituto Casa da Photographia, reconhecidas instituições de formação. As fotos de Peterson já foram publicadas nas revistas Diversos Afins e InComunidade (editada em Portugal).

Além da fotografia, outra arte que sensibiliza Peterson é a música. Ele afirma não ter preconceito, mas prefere melodias mais trabalhadas, que o emocionam. “Na minha playlist, existe muito soul, blues e jazz. ArethaAmyRobert Johnson, dentre outros. Mas a banda de minha alma sempre será Pearl Jam”.

Professor de geografia

Peterson Azevedo: professor e fotógrafo. Crédito: Autorretrato

Aos 41 anos de idade, será que Peterson já sabe de que lado o seu coração bate mais forte: do lado do professor ou do lado do fotógrafo? “Pergunta provocante. Não me considero um ser rotulado, se penso, posso me transformar constantemente. Não sou apenas geógrafo, professor, fotógrafo, triste, alegre, feio, bonito. Sou apenas o tempo, quando ele vira, viro também. Mas, para não dizer que fugi do questionamento, se tem algo que nunca sairá de minha alma é o prazer de fotografar, mas fotografar sem regras e sem compromissos”.

O curso de geografia não era uma opção prioritária para ele. “Na verdade, queria fazer biologia marinha, para alinhar à minha prática esportiva [bodyboard]. Como não existia esse curso na Bahia, optei por um mais próximo, aí descobri a geografia”. E, no curso, descobriu autores que influenciam a sua prática docente. “Milton Santos é referência máxima para mim. Além dele, tenho como referência os clássicos  HumboldtMarx e Engels e os professores Antonio Teixeira Guerra e Josué de Castro”, revela.

Mesmo com tantos feitos e já sendo referência para as pessoas com as quais convive, Peterson tem medo de uma coisa: ser esquecido. Isso porque ele não deve ter consciência do próprio legado…

O mundo é melhor em movimento ou em imagens (estático)?

Que mundo? No meu, me sinto mais à vontade em olhá-lo pelo visor da câmera. Mas no que vivo, o movimento é que me controla, mesmo meus olhos tentando enquadrá-lo a todo o momento.

  • O que dizem sobre ele…

Nivaldo Fernandes

Crédito: Autorretrato

“Uma pessoa ímpar, de admirável coração, muito divertido e responsável. Filho educado, que se converteu em excelente professor, ilustre em seu trabalho de mestre, pois se apaixonou ao ensinar. Inovador nato, sempre está na vanguarda do ensino, por isso consecutivamente oferece o melhor. Por onde passa, constrói laços fraternos de amizades, assim obtém respeito de seus concidadãos. Felizes são aqueles que podem desfrutar de sua agradável e divertida companhia, amigo”.

 

Nalini Vasconcelos

Crédito: Antonio Paim

“A fotografia de Peterson hipnotiza à primeira vista. Sua arte traz traços fortes e contrastes vibrantes. Muito além da sua técnica fotográfica, com a dose certeira de luz e movimento, está o seu olhar profundo, seja em paisagens, objetos ou particularmente em pessoas. Ao fotografar pessoas, Peterson adentra seu passado, sua história, seu contexto e, por isso, transmite sua alma, seja qual for sua raça, cultura ou crença. Percebemos claramente o que está em sombras e em luz, o que é estático ou movimento, o que é fugaz ou eterno. A fotografia de Peterson me deixa maravilhada e confirma o quanto a arte nos impulsiona e é libertadora”.

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidado: Peterson Azevedo

Data da entrevista (feita por e-mail): 14/11/2014

Local: Instituto Anísio Teixeira

Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

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Com vocês, Josymar Alves

Educado, curioso e divertido, Josymar Alves é simplicidade pura

Josymar Alves, na sala da Rede Anísio Teixeira, no Instituto Anísio Teixeira. Crédito: Raulino Júnior

Aos 26 anos, Josymar Alves de Macedo é o retrato fiel do jovem de hoje em dia: antenado, frequentador de academia de educação física e profundo conhecedor do universo da internet. Nesse último ponto, leva certa vantagem. É que ele está no 6º semestre do curso de Sistemas de Informação, na Faculdade Dom Pedro II. Além disso, desde 2012, é o web designer de alguns dos projetos da Rede Anísio Teixeira, programa de difusão e produção de mídias e tecnologias educacionais, da Secretaria da Educação do Estado da Bahia. Nesse sentido, tem uma opinião contundente quando analisa o uso da rede de computadores, principalmente pelos jovens: “Eu acho que os usuários da internet são desinformados, porque sabem mexer no Facebook, no Twitter, mas isso não é 10% da parte operacional da informática. Eles têm a ferramenta na frente deles, mas não sabem aproveitar”. Josymar aproveita bem e de todas as formas possíveis, tanto é que, no tempo livre, atua também como DJ.

Origem

Josymar Alves. Crédito: Raulino Júnior

Josymar mora em Salvador desde os três anos e meio de idade. Nasceu em União dos Palmares, no estado de Alagoas; mas, devido a problemas particulares, a mãe resolveu vir com ele e com os outros filhos (Maria Isabel e Lucas Macedo) para a capital baiana. A família se radicou por aqui a convite da avó materna, que já vivia na cidade. Os pais, a professora Quitéria Alves e o empresário Mário de Macedo, são separados. “Meu pai mora em Alagoas e tem muitos anos que eu não o vejo”, revela.

Barracão Cultural e vida de DJ

A relação de Josymar com o desenho começou na infância, quando, na escola, decalcava figuras e fazia nomes estilizados. O contato com a parte gráfica veio aos 18 anos, quando começou a mexer com informática, através de curso oferecido no projeto Barracão Cultural, realizado pela União de Negros pela Igualdade (UNEGRO). “Hoje, todo mundo tem o primeiro contato com Windows, eu tive com Linux, que é um software livre”. No Barracão, além de informática, fez curso de teatro. “Umas das professoras foi Tânia Tôko, que fez Neusão, em O Paí, Ó”.

“A minha carreira como DJ não decolou porque eu não quis”, Josymar Alves. Crédito: Raulino Júnior

Josymar não seguiu emocionando plateias nos teatros, optou por deixar as pessoas felizes nas pistas de dança. Teve a primeira experiência como DJ na festa de formatura de uma prima. “Foi em 12 de fevereiro de 2011”, recorda com exatidão. A atividade começou por acaso, mas ele conseguiu se destacar. Inclusive, se tornou DJ exclusivo de um empresário do ramo, que gerenciou a sua carreira e o fez receber convite para tocar, de forma fixa, numa boate de um luxuoso hotel localizado na Ilha de Itaparica. “A minha carreira só não decolou mesmo porque eu não quis. Eu tenho DJ como hobby, não como profissão”, esclarece. Nessa mesma época, se juntou a três amigos e criou o projeto Nojentos Som. Ele explica o motivo do nome: “Quando ia montar o som, tinha a mania de deixar tudo certinho. Aí, os meninos falavam: ‘Pô, você é nojento. Quer tudo perfeito’. Daí surgiu o nome”.

De acordo com Josymar, o tipo de festa que ele mais faz é aniversário de quinze anos. “Acho que todo mundo faz quinze anos mais de duas vezes nessa vida”, brinca. E será que ele gosta de tudo que toca? “Eu sou um cara eclético. Pode ter música de Fulano que não me agrada; mas pode ter música de Sicrano, do mesmo ritmo, que pode me agradar. Depende do estilo da banda”. Nesse sentido, afirma que tudo toca no rádio dele. “Música é coisa de momento”.

Diversão e academia

Josymar Alves. Crédito: Raulino Júnior

O web designer se diverte indo à praia e à academia de educação física que frequenta. “Gosto também de ouvir música (forró, reggae e eletrônica). No final de semana, gosto de estar na esquina, resenhando com meus amigos. Além de ir para ilha e ficar lá, distante do carnaval”, confidencia. Sobre o seu objetivo ao se matricular na academia, afirma: “Quero chegar aos 85 quilos. Hoje, estou com 80. Não quero ficar com o corpo grande, porque eu não vivo do meu corpo”. Simples assim.

O Brasil está com a imagem arranhada…

Não é o Brasil que está com a imagem arranhada, é a população que deixa transparecer essa imagem arranhada. Um país é feito pela nação, não é feito só pela imagem de uma bandeira, de um povo.

 

  • O que dizem sobre ele…

Marta Laurence

Crédito: Dinha Souza

“Josy é uma pessoa super alto-astral, alegre, brincalhona, comprometida com o trabalho e supercriativo. É um menino do bem, que adora música, nas horas vagas vira “DJ” e é entrosado com a tecnologia. A forma que ele lida com a vida é de simplicidade, humildade e de respeito com o próximo”.

 

João Henrique

Crédito: Snapic

“Taí um cara que tem conseguido aproveitar bem os aprendizados na escola da vida. Com humildade, respeito, perseverança e alegria, tem superado diversos desafios ao longo de sua trajetória. É estimulante ver seu interesse por aprender com autonomia aquilo que lhe desperta curiosidade. Acompanhei alguns de seus primeiros passos como designer gráfico, com uso de software livre, e hoje considero-o um dos melhores. Ele adquiriu uma grande capacidade de transformar ideias soltas em arte muito bem acabada, em especial quando falamos de arte com finalidade educacional, que não é nada simples. Vale a pena trocar uma ideia, ver suas imagens ou ir pra uma noitada ao som desse cara com total disposição pra compartilhar livremente suas produções. Grande satisfação poder construir projetos com ele!”.

 

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidado: Josymar Alves

Data da entrevista: 9/10/2014

Local: Instituto Anísio Teixeira (Salvador-BA)

Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

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A natureza poética de Sandra Moreira

Com muita segurança e sinceridade, Sandra Moreira celebra a vida, a natureza e a poesia

Sandra Moreira compondo a paisagem natural do Instituto Anísio Teixeira (IAT). Crédito: Raulino Júnior

Ela vive em pleno contato com a natureza e com a poesia. Tem um fascínio especial pelo mar e escreve por prazer. Natural de Santo André, município do estado de São Paulo, radicou-se em São Caetano do Sul (cidade paulista que integra o Grande ABC e que tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil) e há 21 anos mora em SalvadorSandra Rosa Moreira sempre teve o desejo de viver numa cidade praiana. “Lembro que, na infância, quando resolvíamos ir à praia, eu dormia de biquíni para não perder tempo”, recorda. E Salvador foi a escolhida. Desde pequena, a menina já falava que queria morar na cidade. O pai, Arnaldo Alcântara, que morreu um ano após a chegada de Sandra na capital baiana, não entendia a insistência da filha com tal ideia. “Ele indagava: ‘Quem é que fala de Salvador para você? Você nunca foi para Salvador! Você não conhece Salvador! De onde vem esse desejo de morar em Salvador?’”. Até que, em 1993, a vontade se concretizou. Sandra trabalhava no setor administrativo da Tintas Renner, pediu transferência para a unidade da empresa de Salvador e o pedido foi concedido. “Eu tinha uma vontade enorme de morar em Salvador, sem conhecer. Acho que a sonoridade da palavra ‘Salvador’, na minha inconsciência, salvaria alguma coisa”, filosofa. Daqui, gosta do clima e da alegria do baiano. Contudo, sente falta da lealdade nas relações interpessoais. “Eu acho que existe uma diferença muito grande com relação à amizade. Eu percebo que aqui é muito mais fácil você interagir, ao passo que em São Paulo existe a lealdade, que é uma coisa que eu sinto falta aqui. A aproximação aqui é muito mais por conveniência”.

Socióloga, atleta e blogueira

Sandra Moreira. “A educação sempre tem o seu lado positivo”. Crédito: Raulino Júnior

Sandra é formada em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e fez pós-graduação em Metodologia e Didática do Ensino Superior, pela Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia (FACCEBA). Está prestes a concluir a pós em Educação Linguística, prromovida pelo Instituto Anísio Teixeira (IAT), através do Núcleo de Aprendizagem e Aperfeiçoamento (NUAPE). Atualmente, dá aulas de Sociologia do Trabalho e Orientação Profissional e Cidadania em algumas unidades do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e atua na parte pedagógica do Gestar, projeto de formação continuada de professores da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, no IAT. Otimista, acredita que a educação brasileira ainda tem jeito: “A educação sempre tem o seu lado positivo. Ela vai dar uma guinada para que as coisas melhorem bastante”.

A socióloga estudou quase a vida toda em colégios públicos. Teve uma única experiência numa escola particular, quando, ao vencer uma competição de atletismo, ganhou uma bolsa. Por sinal, corre até hoje, aos 50 anos. “Corro todos os dias, pela manhã. Exceto em períodos de chuva”. No seu histórico esportivo, há também passagem pela musculação. Mas, um dos exercícios que Sandra mais gosta de fazer é escrever.

Blogueira desde 2008, ela escreve poesias na página Escrever: terapia e prazer. O objetivo de fazer o blogue foi o de difundir os seus textos e ver qual seria a aceitação. “Hoje, eu percebo que divulgar o blogue não é tão simples assim. Acho bem complicado. Tanto é que, recentemente, me inscrevi no Recanto das Letras e os meus textos estão tendo um alcance bem maior”, afirma. Os textos poéticos de Sandra apresentam riqueza literária e lírica. Ela joga bem com as palavras e consegue prender a atenção do leitor.

O passeio pelo universo da literatura é um bom exemplo dentro de casa. A família, que se reduz à filha Victória Moreira, acompanha os passos da escritora. “Ela tem 16 anos e lê bastante todas essas sagas próprias da idade. Adora ler e escreve também. Tanto é que, no blogue, se eu não me engano, postei uns dois poemas dela”. O talento da filha já foi reconhecido. Victória participou do I Concurso Escritores Escolares de Poesia e Redação 2014, da Fundação Pedro Calmon, e ficou em terceiro lugar.

Arte para ler, ouvir e contemplar

Sandra Moreira, no IAT. Crédito: Raulino Júnior

Além de poesia, Sandra gosta de ler romances. Espíritas e policiais. “Na minha adolescência, eu li muito Agatha Christie. Gosto até hoje”, revela. Na poesia, admira a portuguesa Florbela Espanca e gosta de Clarice Lispector. “Eu acho que me identifico mais com Florbela, mas outas pessoas que leem os meus poemas falam: ‘Sandra, tem aqui Florbela e tem Clarice Lispector também’”.

Na música, Sandra não gosta de pagode nem de arrocha e gosta pouco de axé. O que agrada os seus ouvidos é MPB (Música Popular Brasileira) e músicas internacionais românticas. “Embora não entenda. A melodia me atrai muito”, confessa.

Mas, de todas as artes, aquela que faz o coração da paulista bater mais forte é a pintura. “Eu também não entendo muito, mas fico fascinada pela pintura. Vira e mexe eu estou no MAM (Museu de Arte Moderna da Bahia). Admiro muito também a escultura”. Entretanto, elege a natureza como a arte maior. “Sou fascinada pelo mar! Quando estou diante do mar, numa praia, é como se minhas células se desconectassem. Eu sinto algo, assim, meio estranho. Gosto muito da natureza, me sinto muito à vontade, sinto uma alegria interna imensa”.

Cobranças e futuro

Sandra é perfeccionista. Daquelas pessoas que se cobram demais. “Quando eu me olho por fora, acho que estou aquém. Nunca acho que é o suficiente e isso me angustia”. Para se exigir menos e se aceitar mais, faz terapia. Para ela, essa autocobrança tem relação com a sua infância. “Quando minha mãe [Vandete Rosa] morreu, eu tinha quatro anos de idade. A psicologia diz que a pior coisa é você perder a mãe na primeira infância, porque, nesse período, que vai do 0 a 7 anos, é extremamente essencial a presença materna. Embora eu tenha tido um ‘pai-mãe’. Um pai que tentou, da maneira dele, fazer os dois papéis”. Sandra confidencia que o pai era muito austero e cobrava demais dos filhos. Por isso, ela acha que a cobrança que se faz hoje é um resquício desse passado.

Sandra Moreira é poesia por natureza. Crédito: Raulino Júnior

O fato de não estar inserida, efetivamente, no mercado de trabalho, uma vez que trabalha de forma terceirizada, a angustia muito e contribui para a busca excessiva da perfeição. “Além de trabalhar aqui [IAT], escrever, dar aula no Senai, busco as minhas leituras à parte para participar de concursos. Por um lado, acho até bacana, porque isso é o próprio movimento da vida. Eu não estou estagnada, estou me movimentando”, reflete. E não está estagnada mesmo! Nos últimos dias, recebeu duas notícias que a deixaram feliz: foi selecionada para ser instrutora de As Voluntárias Sociais da Bahia, uma sociedade civil de direito privado e sem fins lucrativos; e, agora, também é monitora do Curso de Aperfeiçoamento em Tecnologias Educacionais, oferecido pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), na modalidade a distância.

Como lê bastante psicologia, recorre ao psiquiatra e psicoterapeuta suíço, Carl Jung, fundador da psicologia analítica, para ser resiliente. “Jung fala assim: ‘Puxa, é bacana que você se encontre no caos’”. Poético, não é? Sandra é poesia por natureza.

O que não é poético no Brasil…

A corrupção! A deslealdade! Não é nada poético! Porque isso desestrutura, foge completamente do que é andar corretamente. Poético é ter os valores clássicos, aqueles do lar, que você traz com a sua família e que se intensifica na educação, como a base pra qualquer ser humano. A gentileza, a cortesia, o respeito, a empatia. Isso, sim, para mim, é extremamente poético.

  • O que dizem sobre ela…

Albérico Barboza

Crédito: Arquivo pessoal

“Sandrinha é uma dessas pessoas que encontramos pelos caminhos da vida, deixando em nós a marca suave da sua imagem suave e positiva. Ela traz o espectro do que aprendi a chamar de “Homem magnético”, embora seja do sexo feminino. Sandrinha também traz consigo a dinâmica da mulher heroína, lutadora, altamente inteligente, responsável e portadora de um senso ético que me faz apaixonar-me por ela. Mulheres como Sandrinha nos leva a reflexões profundas e à conclusão de que as diversidades e adversidades do cotidiano em nossas vidas podem ser transformadas  no combustível necessário para que possamos nos individuar e conviver com as mesmas de forma proativa. Dotada de uma cultura apreendida a partir dos seus estudos particulares, nos deixa à vontade quando conversamos com ela, mesmo que por breve momentos. A forma como ela educa Victória é outro ponto forte nesta mulher que assumiu a maternagem de forma invejável para muitas mulheres, que tem suas dificuldades neste mister, apesar de contar com recursos que ela não conta”.

Cleidmar Ribeiro

“Sandra é uma pessoa muito especial, dinâmica, forte, guerreira, prestativa. Com muita Luz, mãe/pai, amiga, humana, justa, sem contar na delicadeza que ela trata todos a sua volta. Ela fica indignada com a falta de educação das pessoas em qualquer ambiente, se comove quanto às necessidades das pessoas menos favorecidas, acha revoltante a falta de caráter das pessoas, querendo sempre se doar e nunca deixando de ter esperança. Procura sempre ver o lado do outro, avaliando da melhor forma, procurando evoluir espiritualmente. Adora uma praia, gosta de correr, exercitar a mente e o corpo, boa música e ler bons livros”.

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidada: Sandra Moreira

Data da entrevista: 11/9/2014

Local: Instituto Anísio Teixeira (Salvador-BA)

Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

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A simpatia, o engajamento e a arte de Shirlei Sanjeva

Com determinação e esforço, Shirlei Sanjeva vai encontrando os seus caminhos

Shirlei Sanjeva, no Passeio Público. Crédito: Raulino Júnior

A menina que chegou como voluntária no Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA), e hoje pleiteia uma vaga de bolsista, diz estar “superapaixonada” pelas questões que tratam de mulher e sexualidade. Por isso, pretende concluir logo (com ênfase) o curso de biologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ingressar num mestrado para dar continuidade às pesquisas que faz no NEIM. “Quero terminar a graduação e entrar no mestrado para estudar a mulher, a mulher negra, raça, gênero, sexualidade; toda essa viagem que me interessa muito”, planeja. Shirlei é assim. Apaixonada pelas coisas que gosta. As que gosta, é bom deixar claro. Aos 23 anos, a soteropolitana se divide entre estudos, pesquisas acadêmicas e arte. Sempre com um sorriso no rosto. Filha única da técnica em radiologia Dejanira de Jesus e do motorista Jorge da Silva, Shirlei tem muitos sonhos, um deles envolve diretamente os pais. “Hoje, tudo o que eu quero, é ter uma estabilidade de vida e poder dar uma estabilidade de vida para os meus pais”.

Universo artístico

Shirlei e o peculiar sorriso. Crédito: Raulino Júnior

Shirlei é uma daquelas pessoas que gostam de fazer muita coisa, ao mesmo tempo e que se cobra para fazer bem. Além da relação que tem com o universo acadêmico, ela é atriz, integra a Tribo Bossambá (coletivo artístico que dialoga com as linguagens da música, da dança, do teatro e da literatura) e também anda de mãos dadas com a poesia. A identidade artística de Shirlei se revela até no sobrenome artístico que escolheu: Sanjeva. É que, na verdade, ela foi batizada Shirlei Santos de Jesus Silva. Contudo, a sua criatividade deu espaço para a artista Shirlei Sanjeva, cujo sobrenome nasceu da junção de algumas sílabas dos seus três outros sobrenomes: de Santos, veio o San; de Jesus, veio o Je; e de Silva, o va. Enfim, brincar com as palavras é uma das potencialidades de Shirlei.

Dessa intimidade com o universo das letras, teve estímulo para criar, em 2009, o seu primeiro blogue: o Instante Indefinido, que mudou de nome para Poemaresia por causa de um plágio feito no exterior. Na página, Shirlei usa sua veia poética para falar sobre questões da vida, cotidiano e estados da alma. Já no blogue Um Bocado de Cotidiano, fundado em 2013, assume um tom mais crítico e político, dando destaque para a sua visão do mundo. Será que ela pensa em publicar livros com os textos? “Já passou um pensamento, mas eu sou muito resguardada com minhas coisas. Pouquíssimas pessoas conhecem os meus blogues”.

Dos palcos e da rua

Shirlei Sanjeva. Crédito: Raulino Júnior

O que muita gente sabe de Shirlei é a sua evidente queda pelo teatro. Tudo começou em 2009, quando passou a fazer parte da Companhia de Teatro Recortados e Remendados. Com a trupe, levou, literalmente, o teatro para praças, ônibus e para o circuito do carnaval de Salvador, em 2011. “A gente saiu todos os cinco dias de carnaval e foi pauleira. Pauleira de verdade!”, afirma,  num misto de alegria e orgulho ao falar.

No final de 2011, o grupo Recortados e Remendados participou do projeto Ato de Quatro, da Escola de Teatro da UFBA, e lá conheceu a turma da Tribo Bossambá. Em pouco tempo, os grupos firmaram parceria e criaram o espetáculo cênico chamado Bóssambacos. Isso porque Os Bacos era o nome da peça do grupo de teatro de rua que Shirlei fazia parte. Foi nessa ocasião que ela “conheceu melhor” o cantor, compositor e jornalista Romero Mateus. Hoje em dia, além da Tribo Bossambá, os dois têm parceria na vida e na criação artística. “Minhas poesias começam a ter mais rima a partir de 2011, período em que conheci Romero, que tem música pra caramba. Hoje, é uma coisa bacana que acontece: ele coloca música nas minhas poesias. Eu comecei a fazer música com ele. A última foi feita através de mensagens de texto que a gente trocou. Foi um encontro de almas, existe uma sintonia muito boa entre nós”, orgulha-se.

Apesar de toda essa euforia para o lado artístico, Shirlei confessa que não teve muito estímulo em casa para seguir esse caminho. “Eu sinto muito por ser pouco acompanhada pelos meus parentes. Quem mais vem assistir as minhas apresentações é a minha avó e o meu pai. Às vezes, minha mãe vem. Houve muita resistência no início”, reconhece. Porém, Shirlei confidencia que não se sentiria completa se não fizesse arte. “Até hoje é um sacrifício muito grande estar no teatro e ter uma relação com biologia. Eu passo o dia na universidade e venho direto para o teatro. Minha mãe acha que é loucura. Na realidade, eu sei que, se eu parar, não vou conseguir ser completa”.

A professora Shirlei

“Adoro educação! Sou louca, fissurada. Acho que eu quero ser professora. Já fui professora, passei um ano ensinando, sou louca pelos meus alunos. Quero continuar sendo professora”. É assim, de forma entusiasmada, que Shirlei fala de suas experiências em sala de aula. Ela deu os primeiros passos no magistério através de um projeto da universidade, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da UFBA (PIBID-UFBA). Foi professora do Colégio Estadual Doutor Luiz Viana Filho, instituição pública sediada na cidade de Simões Filho. “Foi um dos lugares que eu me encontrei na licenciatura. Era uma coisa prazerosa”, admite. Na sua breve carreira, passou também por uma instituição particular, o Colégio Superior, em Cajazeiras.

Shirlei  Sanjeva: “A arte é o meu fôlego”. Crédito: Raulino Júnior

Bando e leitura

Em março deste ano, Shirlei foi selecionada para integrar a Oficina de Performance Negra, promovida pelo Bando de Teatro Olodum. Já participou de duas mostras e se prepara para estrear um espetáculo que vai finalizar as atividades da empreitada. Quando fala da experiência, faz questão de render elogios: Pense numa experiência incrível de troca, de reconhecimento? A cada momento eu me reconheço mais. Mais negra, mais mulher, mais lutadora dessas causas. Reconheço que eu não posso virar o rosto ou deixar de lado. A gente tem mestres incríveis. É uma escola. Eu sou uma pessoa privilegiada em estar aqui. Eu estou muito feliz. Acho que contribuiu muito pra minha vida. Eu sempre falo: não vou sair daqui da mesma forma que entrei. Sou uma Shirlei antes do Bando e uma Shirlei depois do Bando”.

A passagem pelo grupo dirigido por Márcio Meirelles também lhe aproximou da obra de Carolina Maria de Jesus. Shirlei está lendo Quarto de Despejo: diário de uma favelada, um clássico da escritora mineira. “Eu nunca tinha tido a oportunidade de ler o livro inteiro. Conhecia alguns trechos”. No futuro, certamente, a própria Shirlei pode ser objeto de pesquisa de alguém. Vamos torcer!

Para quem (ou para quê) ela não destina o sorriso…

Não destino o meu sorriso para a injustiça, o racismo, a homofobia, para toda essa descaracterização do humano mesmo. Porque a gente acaba descaracterizando com toda essa agressividade que a gente lança de um para o outro, como forma de preconceito, como forma de discriminação, como forma de agressão Essa coisa de fazer minoria. Fazer minoria a mulher, fazer minoria o negro, sendo que são pessoas que têm a mesma capacidade física e psicológica, muitas vezes. Eu fecho a cara mesmo.

  •     O que dizem sobre ela… 

Romero Mateus

Crédito: Heder Novaes

“Para falar da princesa Sanjeva, resgato uma das minhas músicas, em que ela foi a inspiração e será a eterna protagonista: ‘Chegou, sem avisar. Me trouxe o sol, sorriso flor; me trouxe o mar, azul luar; anunciou o vermelho amor. Vem, me faz seu bem; menino seu, sou teu Mateus; me faz sonhar, perder razão; medo se foi, ficou nós dois’”.

Taise Souza

Crédito: Autorretrato

“Quando penso em luz, penso em Shirlei. Ela consegue reunir um misto de qualidades do qual, se todos tivessem um pouco do que ela possui, o mundo seria muito melhor! Existem pessoas que se adaptam ao lugar, Shirlei faz com que o lugar e o que nele se encontra, adaptem-se a ela! Alegre, sincera, apaixonada, bondosa, linda…. carrega consigo muito amor, o que a torna muito especial. Sortudos são os que a têm por perto e têm o privilégio de tê-la como amiga!”.

 

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidada: Shirlei Sanjeva

Data da entrevista: 15/8/2014

Local: Passeio Público (Salvador-BA)

Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

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Felipe Ferreira é cultura

Felipe Ferreira, na Livraria Cultura do Salvador Shopping. Crédito: Raulino Júnior

Uma ostra triste. É assim que ele se autodefine. Mas, em apenas 5 minutos de conversa, fica evidente o quanto Felipe Ferreira é bem-humorado e capaz de ser irônico com as coisas que acontecem na sua própria vida. Ele ri de si mesmo. Aos 23 anos, o escritor demonstra sede de conhecimento e carrega muita determinação para alcançar o objetivo de viver do que gosta, que é continuar sendo um artista que usa as palavras escritas para se expressar e implementar seus projetos de audiovisual. Alguns passos bem importantes já foram dados: Felipe é colunista do Cinem(ação), canal de entretenimento de cinema, em que faz análises e críticas de filmes; e da revista multimídia Ambrosia, na qual escreve sobre televisão, música e literatura. Além disso, é diretor, roteirista e produtor na Avante Produções Audiovisuais, empresa que criou a fim de tirar o roteiro de Eles, seu primeiro curta-metragem, do papel. Felipe administra a fan page Griphos Meus por Felipe Ferreira, no Facebook, página onde reúne os links e divulga os textos que são publicados nos sites citados anteriormente. Em seus planos, ainda há espaço para, em breve, publicar um livro. “Até o final do ano ou no início do ano que vem. O livro vai misturar um pouco das minhas experiências com o curta que estou, arduamente, tentando filmar pela Avante. Vai ter um pouco de tudo”, garante. Mas, afinal, qual o motivo de tristeza da ostra, então? “Na verdade, isso veio de um livro que eu li do Rubem Alves. O nome é Ostra feliz não faz pérola. É um livro poético. ‘Ostra triste’ é mais pelo lado metafórico: uma ‘ostra’ porque, de certa forma, cada pessoa vive na sua redoma, no seu mundinho, por mais que a gente conviva numa sociedade, cada um tem um mundo e esse mundo é particular; o ‘triste’ é porque acho que na tristeza sai as melhores alegrias. Da tristeza sai a melhor parte da expressão, a melhor parte da arte”, filosofa.

Trajetória

Felipe Ferreira Silva é o único filho do casal Augusto César Silva (coordenador de merchandising) e Ana Lúcia Silva Ferreira (vendedora). Nasceu em Santo Amaro, morou um curto período de tempo em Amélia Rodrigues e logo veio para Salvador. Fez grande parte dos estudos na Escola Souza Garcez, instituição particular localizada no Engenho Velho de Brotas. Na 3ª série do ensino médio, integrou a comunidade escolar do Colégio Estadual Odorico Tavares. Tentou os vestibulares da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), até ingressar no curso de Letras da Universidade Católica do Salvador (UCSal), fruto do bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Curiosamente, nunca tentou fazer o processo seletivo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Quero tentar agora. Penso em fazer Jornalismo. Tenho vontade também de estudar roteiro, que não é curso superior, mas aqui em Salvador é difícil de achar”, pontua. Apesar de ter toda essa inclinação para o lado da escrita e da arte, atualmente Felipe trabalha numa transportadora de cargas. Na empresa, exerce a função de supervisor financeiro. “Tudo a ver com as palavras, né?”, brinca.

Leitor contumaz

Se o trabalho tem a ver com as palavras, apenas o próprio Felipe pode dizer, mas que elas fazem parte do seu dia a dia, não existe dúvida. Ele gosta de ler de tudo, só faz uma ressalva para livros de autoajuda. “Eu sou muito versátil nas minhas leituras. Não gosto de autoajuda porque acho uma coisa tão ‘receita de bolo’. Todo mundo vai seguir aquela receita e sair feliz no final da história? Não é assim. Cada pessoa é peculiar, não será um livro que vai salvar você. Também não gosto muito de ler biografias. É como se fosse um preconceito meu, mas acho que biografia é uma coisa que tende a ser unilateral”. Felipe conta que sempre foi estimulado pelos pais em relação à prática da leitura, embora tal estímulo não se configurasse na compra de livros, mas em conselhos. O hábito de ler só nasceu no final da adolescência. “Eu fui um adolescente que não gostava muito de ler. A partir dos 19, fui criando a consciência de que a leitura era fundamental para mim, principalmente por ser escritor. Quanto mais eu leio, mais eu escrevo melhor”. Para ele, o método ainda utilizado em algumas escolas contribui para que o binômio adolescente/leitura não tenha um bom resultado. “Na escola, você não tem liberdade para escolher o que você quer ler, você é obrigado a ler. Não existe o hábito de ler, existe a obrigação. O hábito a gente cria depois. Isso aconteceu comigo”, revela.

Agora, que tem liberdade para escolher as suas leituras, Felipe coleciona autores. Dos escritores já renomados, gosta de Clarice Lispector. “A hora da estrela, para mim, é o melhor do que eu já li dela”. Cita também Rubem Alves, que morreu recentemente, e confidencia que está conhecendo melhor a obra de Paulo Leminski. Contudo, Felipe gosta de valorizar quem está chegando. “Eu gosto muito de ler coisas de novos escritores, quem eu vejo que, realmente, tem uma sensibilidade, tem uma mensagem para passar”. Dos novos nomes, ele gosta de Pedro Gabriel, autor do livro Eu me chamo Antônio. “São as ilustrações que ele fazia nos guardanapos, no bar. Depois, juntou tudo num livro.

Aqueles guardanapos fazem você viajar e pensar em várias coisas”. Com entusiasmo, Felipe fala do livro Humana Flor, da atriz e escritora Andréia Horta, que dá vida à personagem Maria Clara, da novela Império, atual trama da Rede Globo. “É um livro só de poemas. É linda a capa. Tudo meio artesanal. É a vida da Andréia ali. Você tem contato com o outro lado da artista”. Outro livro que gostou bastante foi Fim, da também atriz e escritora Fernanda Torres. “O livro é fantástico! Foi muito bom saber que, além de grande atriz, ela é uma grande escritora”, derrete-se.

Música, cinema e teatro

A aproximação de Felipe com a arte se deu através de um curso de teatro, que fez no intuito de perder a timidez. Em pouco tempo, já estava trabalhando num centro cultural e participando dos espetáculos de lá. Hoje, o teatro já não faz mais parte de suas prioridades artísticas, ele prefere escrever textos e fazer roteiros para cinema. Enquanto os seus próprios filmes não são produzidos, busca inspiração em mestres como Pedro AlmodóvarBernardo BertolucciEdgard NavarroSuzana AmaralCaio Sóh e Woody Allen. Elogia também a incursão do cantor e compositor Oswaldo Montenegro no mundo do cinema. Em 2010, Montenegro assinou a direção e o roteiro de Léo e Bia, seu primeiro longa-metragem. “Acho bem bacana, por misturar o teatro na história”, afirma. Já que falamos de um artista do universo musical, as predileções de Felipe nessa área são bem diversas. Ele gosta de Paulinho Moska e de algumas coisas de Chico e Caetano. De gente nova da cena, destaca o trabalho da baiana Pitty e do mineiro Thales Silva, que ainda não é muito conhecido. “Ele faz parte de uma banda [A Fase Rosa], mas lançou um álbum solo [Minimalista] que é muito bom”.

O crítico e as críticas

Felipe não se considera um crítico de cinema, apenas gosta da sétima arte e escreve sobre ela. “O que eu escrevo não chega a ser uma crítica, é o meu depoimento sincero sobre aquilo que estou falando”. E ele fala sobre tudo, sem preconceitos. Inclusive, escreveu um manifesto em defesa da cantora Valesca Popozuda, para a revista Ambrosia. Enviou o link do texto para artista via Twitter, Valesca leu, gostou e retweetou. “Achei massa”, resume. E completa: “Não adianta os pseudointelectuais tentarem negar, Valesca tem uma representatividade contemporânea por causa da música que ela faz, pelo estilo, pela personalidade e autenticidade dela”. Ainda nessa seara, Felipe comenta sobre algumas dicotomias que existem na sociedade, principalmente na área artística, que classifica algo como bom, ruim, popular e erudito. “Para mim, isso não existe, esse apartheid cultural. O popular tem muita coisa boa. O erudito tem muita coisa ruim. Comigo não cola essa definição pré-determinada”, enfatiza.  E sobre as críticas aos seus textos? Felipe lida com maturidade a respeito disso. “Criticamos hoje, somos criticados amanhã. Assim é o ciclo. Toda crítica é bem-vinda, quando embasada por argumentos e contrapontos. Quando vejo qualquer comentário, positivo ou negativo, em relação aos meus textos, fico muito feliz, porque consegui instigar, provocar coceiras e reflexões”. Continua escrevendo, Felipe!

Para ele, cultura é …

A definição de cultura é uma coisa meio subjetiva. Mas, de um modo geral, acho que cultura é toda forma de expressão, toda forma de informação. É uma junção do informar, do fazer e do que, de fato, constitui as pessoas. Cultura é você estar atento a tudo, é abrir a mente pra tudo e tirar o melhor para você.

  • O que dizem sobre ele…

Adriana Lisboa

“Felipe, o chamo por vários “derivados” e “predicados”. (Ele já é o próprio personagem). Conheço-o baseada na nossa convivência mútua, nos “conectamos” desde “pequeninos” e partimos desde então à procura do riso perfeito. Tudo é divertido quando ele está em cena. É com ele que encontro as filosofias necessárias do existir. Com ele, é possível e sempre será nossa fiel relação de ‘amigo-irmão’. O que mais eu falar aqui, só vai complementar os muitos que ele é e pode ser”.

Gustavo Roque

” Sonhador. Ao mesmo tempo metódico… Gosta de comer o prato beeem pelas beiradas (ou a eventual necessidade faz com que seja assim). Sonhador… – Eu já disse? =) Gosta de um jogo de ideias, palavras, símbolos… pode, às vezes, se perder aí nesse (vasto) emaranhado. Já foi meu hóspede no Rio… É bastante humano. Tranquiiilo… (mas acho que só por fora.) Ah!, e toma um banho rápido da porra! De talento. P.S.: Está precisando finalmente fazer nosso curta. =p “.

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidado: Felipe Ferreira

Data da entrevista: 12/7/2014

Local: Livraria Cultura do Salvador Shopping (Salvador-BA)
Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

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A enigmática Adriana Lisboa

Direta, discreta e com opiniões contundentes, Adriana Lisboa é a própria representação da inconstância e da persistência

Adriana Lisboa posa numa atmosfera barroca e enigmática na área de lazer do Edifício Garibaldi Prime. Crédito: Raulino Júnior

Ela não faz tipo, é direta e, apesar de se considerar prolixa, não é. Aos 25 anos e dona de uma personalidade forte, Adriana de Sá Lisboa, como consta no registro, é uma caixinha de surpresas: formou-se em Letras (com habilitação em língua inglesa e respectiva literatura) pela Universidade Católica do Salvador (UCSal) e cursa o Bacharelado Interdisciplinar em Artes na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Quando concluir o curso, vai concentrar em Design. Trabalha na Avante Produções Audiovisuais, auxiliando o amigo e diretor da empresa, Felipe Ferreira, na parte de produção e criação. Em 2010, trabalhou num centro cultural e participou de algumas peças produzidas pelo espaço. Atualmente, mantém distância do teatro e tem o sonho de ser estilista. “O teatro não é uma prioridade na minha vida. É algo para complementar os meus ideais, a minha convicção de arte. É uma distração”. Por outro lado, tornar-se estilista é uma vontade que cresce a cada dia. “Penso em várias criações e desenho algumas. Já levei um desenho para a costureira fazer. Foi uma peça para mim, mas eu penso nisso comercialmente”, planeja. Nascida em Buriti dos Lopes, no Piauí, Adriana radicou-se em Salvador ainda na primeira infância. Não sabe ao certo se foi com dois ou três anos de idade, a única certeza é a de que se considera baiana. “Não tenho nenhuma lembrança consistente do lugar onde nasci. Praticamente, não conheço nada de lá”. Da Bahia, não gosta das ladeiras, mas não recusa um acarajé. Segundo Adriana, todo mundo pergunta sobre uma possível ascendência nipônica, mas ela nunca se interessou em pesquisar tal questão. “Todo mundo me pergunta isso. É incrível! Eu falo que não, que sou do Piauí. O pessoal de lá tem uma mistura, mas eles falam que a minha mistura foi além. Eu posso ter vindo de lá [do Piauí], mas não pareço totalmente de lá. Nunca pesquisei na minha árvore genealógica sobre essa coisa da característica nipônica”.

“Quero trabalhar com arte”

Ela quer ser da arte. Crédito: Raulino Júnior

Adriana é filha única de Manoel Lisboa, aposentado da Polibrasil, fábrica de polipropileno de Camaçari; e de Maria Aparecida Sá, dona de casa e artesã. Na família, apenas ela leva a arte adiante. “Meus pais têm sensibilidade e entendimento, mas isso [o envolvimento com arte] não foi mais forte para eles como é para mim”, admite. E é tão forte para ela que, a certo ponto da entrevista, desabafa: “Eu quero trabalhar com arte. Alguma coisa assim que eu me identifique e me destaque”. Cinema? “Me instiga. Mesmo achando que, se eu fizesse, preferia uma coisa totalmente fora dos padrões. Faria uma coisa muito louca. Se alguém viesse com um projeto fora de série, mirabolante, eu faria. Me desprenderia totalmente da questão do belo, do bonito, do feio”. Adriana já fez dois curtas para trabalhos de universitários. E TV? “Acho que não me encaixaria nos padrões, tanto física quanto mentalmente. TV é uma coisa brutal, maquiada, comercial. Não gosto. Acho que não aproveitaria o meu talento. As pessoas se encaixam naquele modelo, fazem parte daquele maquinário, sendo só uma peça. E exploram aquela peça”, critica. 

Magistério, literatura e música

Adriana Lisboa: a estrela da hora. Crédito: Raulino Júnior

Adriana fez o curso de Letras no intuito de enriquecer os próprios conhecimentos, não gostava da graduação. Tinha facilidade com inglês e gostava de literatura. Nunca pensou em atuar em sala de aula. “Não tenho paciência para ensinar. Também não consigo ser objetiva. A atividade exige isso”, pontua. Ela acha que lê muito pouco e atribui isso aos novos tempos. “É da minha cultura. Nasci num ambiente em que os jovens tinham várias informações para se distrair”. Mas a faculdade despertou o interesse em conhecer a obra de alguns autores, principalmente os modernistas. “Eu gosto muito de Mário de Andrade e de Drummond também. A poesia dele parece que é uma coisa e é outra. É muito profunda, muito densa. Adoro Clarice Lispector por aquela coisa da alma, do oculto, do abstrato. Eu viajo”. Ainda nessa seara, Adriana cita o pré-modernista Lima Barreto como um de seus favoritos. “Gosto dele pela questão social. Ele era uma pessoa a frente do seu tempo”.  Atualmente, está tentando acabar a leitura do livro A pele de onagro, do escritor francês Honoré de Balzac. “Todo dia leio uma página. Sou muito distraída, tenho esse defeito”. Um livro que marcou a sua vida foi A hora da estrela, uma das obras mais populares de Clarice Lispector. “É um livro muito questionador. Eu gosto muito de Macabéa”.

Ao falar de música, Adriana se considera bem versátil. “Na adolescência, gostava de rock’n’roll, de pop, até reggae eu ouvia. Eu me considero bem versátil. Se você me chamar para o seu aniversário e tiver tocando pagode lá, claro que eu não vou embora ou vou ficar reclamando, mas não ouço pagode e axé em casa. Também não gosto de forró. Não me atrai. Não me faz viajar. Hoje em dia, escuto mais músicas instrumentais e as antigas de Caetano”.

Inquietações, mundo ideal e marca

A cidadania de Adriana grita quando ela se depara com falta de educação. “Por exemplo: eu estou num ônibus, uma pessoa toma refrigerante e joga a lata pela janela; está fumando, joga a bituca do cigarro pela janela. Ela acha que aquilo ali é o quintal da casa dela? Nem se fosse”, reclama. Alienação também a incomoda. Ela acha que o mundo ideal vai ser conquistado quando cada pessoa mudar a postura diante dele. “Quando a pessoa entender que faz parte de um todo existencial e que deve fazer o seu papel, acho que já é um caminho para um mundo ideal”.

“Eu sou um enigma de mim mesma”, afirma Adriana. Crédito: Raulino Júnior

E para o mundo, ela quer deixar a sua marca, a sua história. “Quero deixar a marca de que fui um ser sujeito da minha vida. Independentemente de acharem aquilo certo ou errado, eu quero ter uma conduta moral comigo mesma, de agir na vida, agir no mundo, contribuir no mundo de uma forma minha, não de uma forma bitolada ou maria vai com as outras. Eu quero ser eu. Quero ter minhas convicções e atuar no mundo até a minha morte”. Adriana sabe bem quais são as suas convicções, mas tem dificuldade de se definir. “Digamos que eu seja um enigma de mim mesma. Ainda estou tentando saber quem sou eu. Não sei se vou saber um dia”, reflete. Enquanto ela não descobre, a gente vai tentando desvendá-la.

A contribuição da arte para a sociedade…

Acho que é uma contribuição de caráter existencial, de a pessoa saber em que espaço ela está, em que contexto se encontra, como ela foi educada e o que é que ela é. A arte provoca vários questionamentos.

  •  O que dizem sobre ela…   

 

Crédito: Autorretrato

Felipe Ferreira

“Adriana é um oásis de inspiração para qualquer artista, em meio ao solo desértico que prevalece nos tempos de superfícies tão rasas. O que mais me encanta, ao longo dessas quase duas décadas de parceria, é esse poder camaleônico à flor da pele que ela tem. Ela se entrega, se transforma, se recria. A cada desafio, a cada personagem, a cada mudança. Sua sensibilidade para perceber os subtextos de cada palavra e as entrelinhas de cada ação instiga e faz instigar”.

                 

                                                                         Cecília Mélo

Crédito: Autorretrato

“A reação entre os elementos Pr (Pragmatismo) e Hu (Humor) dá origem à composição Adriana Lisboa. Se expostas a altas temperaturas, muito provavelmente haverá vítimas de uma potente explosão. Portanto, atenção, melhor conservar qualquer derivado em ambientes cuja temperatura seja fresca e amena. Brincadeiras à parte, apelemos para a ‘quase objetividade’. Há alguns anos, o teatro uniu Adriana e eu, subitamente. Nós o traímos, o abandonamos, mas a nossa parceria permanece até então. Não sei exatamente o que se espera que seja dito em relação a ela, mas seguem algumas dicas em forma de palavras soltas: minúcia, terra, dever, inflamável, virgem, graça, energia, áries, tenaz, fogo, (im)paciência, devotada. Entendam como preferir!”.

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidada: Adriana Lisboa

Data da entrevista: 6/6/2014

Local: Edifício Garibaldi Prime, Ondina (Salvador-BA)

Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

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Leonardo Gama: um menino de ouro

Com versatilidade e simpatia, Leonardo Gama leva a vida numa boa

Leonardo Gama e o sorriso que lhe é peculiar. O local é a Praça Professora Olga Mettig, no Jardim Baiano. Crédito: Raulino Júnior

A metáfora do subtítulo, na verdade, não é só metáfora. Principalmente quando o personagem em questão é Leonardo Gama. Ele é, de fato, um menino de ouro. Tanto no sentido figurado quanto no sentido real. Eis a explicação: apaixonado por basquete desde que entrou em contato com o esporte, em 2011 saiu campeão do Nordestão, um dos mais importantes campeonatos da modalidade esportiva. “Ganhei esse presente na véspera do meu aniversário, 2 de julho”, recorda Leco Leco, como é chamado pelos parentes. Na premiação, troféu e medalhas de ouro. Quer dizer, não era bem de ouro, mas as cores dos objetos representavam o metal e o valor simbólico era o que importava. Em meia hora de conversa com o rapaz, é possível perceber o quanto ele é bom moço, bom filho e bom amigo. Leonardo demonstra não ter muitas vaidades, mas quer deixar a sua marca no mundo. “Eu quero que as pessoas saibam que eu tenho a pureza no meu coração e que se lembrem da minha honestidade e cumplicidade”.

Quem é Leonardo Gama

Leonardo Gama: estudante, músico e esportista. Crédito: Raulino Júnior

Leonardo Luís Sales Sousa Gama nasceu em Salvador, no Hospital Jorge Valente, em 3 de julho de 1994. É filho de Egídio Gama e Elisvalda Andrade. Por parte de pai, tem dois irmãos: Luísa, de 17 anos; e Eduardo, de 11. Mas, para ele, ao todo são três irmãos, pois considera o amigo Gabriel Oliveira como seu irmão de alma. Léo, outro de seus apelidos, está no 5º semestre do curso de Ciência da Computação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Optou pelo curso porque desde o início da adolescência gostava de mexer em computador. “Desde os 13 anos, eu era ‘o menino do computador’ para as pessoas. Quando alguém tinha um problema na máquina, me chamava para resolver. Eu sempre fui um curioso dessa área”, revela. O leitor não tem nenhuma referência sobre o curso? Leonardo explica: “Até o 2º semestre, eu também tinha dúvidas do que era. O curso é mais teórico, para formar pesquisadores na área. Quem faz Ciência da Computação vai, basicamente, aprender a resolver problemas computacionais, envolvendo algoritmos e técnicas de aperfeiçoamento de códigos. As pessoas que saem do curso vão trabalhar na área de tecnologia da informação. É um curso muito amplo. Quem faz a graduação, pode atuar como engenheiro de software, analista de sistema, programador, entre outras coisas”. Léo ainda não sabe em qual área quer atuar, porque faz pesquisa de engenharia de software e gosta de programação e algoritmos, áreas de lógica. Mas tem uma certeza: “Tenho vontade de ser professor universitário e quero realizar esse sonho”.

Amizades, sentimentos e responsabilidade

De acordo com Léo, a teimosia é o seu principal defeito. Por outro lado, assume ser uma pessoa que valoriza muito as amizades que tem. “Ter amigos é valioso. Você não pode dizer que qualquer um é seu amigo, porque amigo é aquele que está nos momentos mais difíceis de sua vida. Tem muitas pessoas que se dizem suas amigas, mas só estão com você nas horas boas, quando você está na farra, quando você está bem. Mas, na hora que você está passando por um aperto e liga, quem vai estar disponível para te ouvir naquele momento? Esses são seus amigos. Por isso que eu valorizo muito os meus e não quero tirar da minha convivência.”, confidencia.

Da sua convivência, ele faz questão de tirar pessoas fofoqueiras, porque elas o deixam chateado. “Fico chateado com vizinhos meus que ficam se preocupando com a vida dos outros. Isso é horrível! Tem gente que sabe a hora que todo mundo chega e que todo mundo sai”, critica. Tristeza é um sentimento que não faz muito parte da vida de Léo. Quem o conhece, sabe que ele é um cara que leva a vida numa boa, espalhando alegria por onde passa. Contudo, como qualquer ser humano, ele revela que várias coisas o deixam triste. Entre elas, a atual relação de seus pais, que são separados; e algumas atitudes de colegas da faculdade. “O fato de meu pai não se dar bem com minha mãe, me deixa triste. Antigamente, já me deixou mais. Hoje em dia, como eu cresci, me acostumei um pouco”. E completa: “Tem algumas pessoas na faculdade que me deixam triste porque elas ficam querendo te sugar. Na época do colégio, não existia isso. Na faculdade, é um querendo passar por cima do outro. É um querendo ser melhor que o outro, a qualquer custo”.

Se você quiser ver Leonardo feliz, o convide para comer macarrão ou pizza. “Adoro macarrão! Se você me chamar para um almoço que tiver macarrão, pizza e caruru, eu estou dentro. Feijoada também”, fala com entusiasmo. Em contrapartida, não ofereça jiló e fígado a ele. “Odeio jiló e não gosto de fígado”. Sendo um pouco clichê e lembrando uma expressão que é usada com frequência nas redes sociais: fica a dica.

Por falar em redes sociais, Léo tem uma opinião bastante contundente sobre a internet e o comportamento das pessoas na Web. “A internet é um mundo. Você vive num mundo pessoal, mas a internet é um mundo no qual você pode ter outra identidade. Então, você tem que ter muito cuidado sobre o que você faz, porque tudo está exposto e, se você não souber usar bem a sua privacidade, você pode ser difamado, o que não é o certo; mas, como no mundo físico existem pessoas más, lá também vai existir e você tem que tomar muito cuidado porque é um mundo perigoso”, aconselha. #FicaADica.

Cavaquinho e basquete: duas paixões

Léo e o seu cavaquinho: “Ele me alegra”. Crédito: Raulino Júnior

Léo estudou durante dez anos no Colégio Salesiano e foi lá que duas de suas paixões começaram a ser concretizadas. Ele sempre gostou de samba e pagode e, quando era mais novo, via a mãe tocando violão e gostava daquilo. Dona Lio, como ela é carinhosamente conhecida, não tinha tempo para ensiná-lo. Diante disso, ele resolveu fazer pesquisas na internet para aprender a tocar o instrumento. Até então, tocava os ritmos preferidos no violão. Porém, tudo mudou quando descobriu que um colega tinha um cavaquinho em casa, mas não sabia tocar. “Eu não tinha cavaquinho e me deu vontade de aprender. Meu colega me emprestou o dele. Para aprender a tocar, fiz pesquisas na internet também. Isso foi em 2011. No final do ano, devolvi ao colega e, em 2012, minha mãe me presenteou com um”. Daí para a Pega Nada, banda que formou com os colegas do Salesiano, foi um pulo. “Na época em que comecei a tocar cavaquinho, tinha um evento no colégio que, às quintas-feiras, você podia fazer um som. Aí, eu tive a ideia de juntar uma turma para tocar. Tinha um colega meu que cantava. Ele era tímido, mas tinha uma voz bonita. Tive que convencê-lo a cantar. Ele gostava muito de samba e tocava pandeiro. E tinha dois amigos meus, João Paulo e Buldogue, que tocavam percussão. A gente tocou na escola e foi uma festa. A galera gostou, queria mais. Foi ótimo. A gente participou mais duas vezes do evento e tivemos a ideia de montar o grupo. Mas esse grupo não tinha o propósito de vender shows. Era uma banda para se reunir e fazer um som, pra se divertir”. Sobre o nome inusitado da banda, Léo não sabe dizer o motivo. “Eu não lembro de onde surgiu. É um nome engraçado. Não sei o motivo, mas gostei também”. A Pega Nada existe até hoje. Na banda, Léo toca banjo e cavaquinho.

E, no seu cavaquinho, ele gosta de tocar músicas de ThiaguinhoPériclesGrupo Revelação e Mumuzinho. “O cavaquinho me alegra. Teve um dia que eu fiquei sem o meu, porque precisei deixar na casa de um colega, e fiquei desesperado”. A paixão pelo cavaquinho se estende, obviamente, à música também. “Música é uma coisa linda, não é? Música alegra você, muda suas emoções”, filosofa. As emoções de Leonardo mudam quando ele ouve samba, pagode e rap. “Sou fã e tenho muita vontade de conhecer Gabriel o Pensador. As letras dele são muito significativas. Gosto também de Claudinho e BuchechaMichael JacksonAmy Winehouse”.

Léo posa com a sua 1ª bola de basquete: presente do pai. Crédito: Raulino Júnior

Léo diz ter herdado da mãe a inclinação para o lado artístico. “Isso aí, todo mundo fala que eu puxei da minha mãe. Ela já foi atriz, fez curso livre de teatro na UFBA, já cantou em barzinho e dança”, enumera. Mas, se a inclinação para o lado artístico veio da mãe, a do lado esportivo teria vindo do pai? Não. A história de Léo com o basquete não é nada previsível, embora o pai tenha uma participação importante. “Meu pai me deu a minha primeira bola de basquete, mas eu nem jogava na época”, explica. Inclusive, a bola a que ele se refere é a mesma que aparece nas fotos que ilustram este perfil. Léo praticou basquete de 2005 a 2012 e começou no esporte por acaso. “Um belo dia, vi um pessoal jogando basquete numa quadra e pedi para jogar. Acabei gostando. Entrei para a escolinha e comecei a treinar basquete. Depois, entrei numa equipe e, em 2005, fui convidado para disputar um campeonato. Aí, nesse campeonato, tudo começou. A gente foi campeão e eu não quis mais parar de jogar”. Ele treinava no colégio, com o professor de Educação Física, Rodrigo Silva, profissional que Léo considera importante para a sua formação como esportista. Em 2009, ficou em 5º lugar no campeonato brasileiro; e em 2011, como foi citado no início do texto, saiu vencedor do Nordestão.

Ao justificar a sua paixão pelo basquete, Leonardo Gama não é nada sucinto: “Vivi oito anos da minha vida no basquete. Como não poderia ser uma paixão? Foram muitas glórias e muitas derrotas também. Conheci pessoas maravilhosas, além de ter a oportunidade de praticar um esporte como esse. É aquela coisa de você ser atleta, de ter aquela vontade de vencer, de passar por momentos gloriosos, de ser campeão. É você ter uma limitação e conseguir superar essa limitação. Eu era o menor do time, mas sempre me dediquei. Queria, pelo menos, compensar com algo, que era com a técnica. Procurava me superar a cada momento que passava”. Léo tem 1,72 de altura.

Momentos marcantes, kart e futura família

Léo elege dois momentos marcantes nesses dezenove anos de vida: o primeiro, é de cunho familiar. “Foi quando eu vi meu pai chorando. A irmã dele mora na França e, em 2009, veio com a família nos visitar. Eu gostei muito, porque não conhecia meus primos nem minha tia, só por foto. Na despedida, quando eles foram embora, eu e meu pai estávamos voltando para casa e eu estava meio angustiado. Ele percebeu e perguntou: ‘O que é que você tem, meu filho?’. Eu não aguentei e comecei a chorar, como se dissesse ‘ com saudade da minha tia’. Quando olhei para ele, a lágrima desceu do olho dele também. Aí, ele disse: ‘Pode chorar, meu filho. Não tem problema não’. Nunca mais esqueci desse dia”. O segundo, foi a vitória no Nordestão. “Queria ser campeão desse campeonato, que é um dos mais importantes da categoria. É um campeonato dificílimo e a gente tinha que treinar bastante para conseguir. Saímos campeões”, comemora.

Leonardo Gama. Crédito: Raulino Júnior

Léo até queria continuar no basquete, mas não tem mais tempo suficiente para se dedicar ao esporte. Hoje em dia, faz musculação e gosta de correr de kart. Nesse sentido, não deixa de citar Ayrton Senna. “Quando eu nasci, ele já tinha dois meses de falecido, mas é vivo até hoje. Todo mundo da minha idade conhece. Ele é um dos maiores esportistas que existem e isso me inspirou a gostar de corrida”.

No futuro, Léo pensa em casar e ter filhos. “Se vier uma menina, tudo bem. Mas eu quero ter um menino. Penso até num nome: Murilo. Eu acho bonito”. Alguém se candidata para concretizar a vontade do menino de ouro?

O pior sentimento do ser humano é…

O pior sentimento do ser humano é o rancor. O rancor é muito ruim. Porque o rancor adoece a pessoa e, às vezes, o problema poderia ter sido resolvido de outra maneira, sem que fosse gerado o rancor. Rancor é pior que a raiva. O rancor é quando você guarda aquele sentimento ruim para você e começa a gerar ódio de alguém ou de algo. Então, aquilo adoece. Por isso que eu acho muito ruim esse sentimento.

  • O que dizem sobre ele…

 

Bruna Souza

Crédito: Autorretrato

“Está pra nascer um menino tão gentil, amigo, humilde e companheiro como Leonardo! Um cara incrível, inteligente, gente boa… Enfim, é o CARA! A tristeza não habita na vida dele, já a felicidade transborda e ele faz questão de conquistar a todos com essa alegria e essa vontade de fazer sempre o bem!!! A alegria em ter você em minha vida define o tamanho do meu amor por você!”.

Crédito: Leonardo Gama


 

 

 

 Fabrício Moreira                                                                                     

“A característica de Léo que chama a atenção de qualquer um que começa a conviver com ele é a sua tranquilidade e maturidade, mas de um jeito diferente. Não é se comportar como uma pessoa mais velha, mas é agir de forma lúcida e equilibrada frente à realidade. Admiro sua determinação em alcançar seus objetivos, assim como a capacidade de se envolver simultaneamente com coisas distintas. Todos os dias ele faz os cálculos da faculdade alternando com canto, música, violão e cavaquinho. Enfim, é uma pessoa incrível!”.

 

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidado: Leonardo Gama

Data da entrevista: 3/5/2014

Local: Praça Professora Olga Mettig, Jardim Baiano (Salvador-BA)

Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

Padrão
Cultura, Jornalismo Cultural, Perfil, Perfis do Desde

Felipe Soares: um cara que se vira

Engajado, crítico e guiado pela arte, o ator Felipe Soares faz questão de não ficar na zona de conforto

Felipe Soares, no Dique do Tororó, em Salvador. Crédito: Raulino Júnior

Felipe Baptista Soares se distancia de tudo que é considerado estereótipo. Quem disse que mineiro é calado? O menino falastrão, nascido em Belo Horizonte há 26 anos, vive nadando contra a maré. Abandonou o emprego na capital de Minas, no qual ganhava muito bem, para viver de teatro em Salvador. Deixou para trás projetos, família e amigos. Devido a distância, o namoro de 11 meses chegou ao fim recentemente. “Está sendo muito difícil lidar com sonhos e sentimentos. Racional e emocional. É possível conciliar? Como? Se alguém souber a fórmula, me diga”, lamenta.  Ao falar da própria realidade, não se mostra arrependido, apesar de ter consciência de que as coisas não serão fáceis. “Eu ganhava bem em BH, tinha um carro, podia conquistar a minha casa, mas vim pra cá porque queria sair da minha zona de conforto. Eu larguei meu trabalho porque quero viver de teatro. Estou um pouco desesperado, porque tenho que arranjar um emprego e não sei como vou sobreviver. Minha família não tem condições de mandar dinheiro. Estou vivendo um momento crítico”, reconhece. Contudo, afirma que é capaz de superar os próprios limites em nome da arte. “Eu faço qualquer coisa para atingir o que quero, para me comunicar artisticamente da forma que acredito. Só não vou me vender. Certa vez, ouvi o Hermeto Pascoal falar algo interessante: ‘O meu negócio é ser feliz, não é fazer negócio’. Às vezes, as pessoas fazem muito negócio com a própria imagem e se queimam”.

Viver de teatro

Muito antes de querer viver de teatro, Felipe representou outros papéis na vida: fez propaganda eleitoral para político em BH, começou (e não concluiu) o curso de Tecnologia da Informação na UniBH,  trabalhou numa ONG (organização não-governamental), fez assessoria de comunicação digital para um deputado, foi técnico de informática no jornal Estado de Minas e funcionário de call center. Numa época, trabalhou 16h por dia. O motivo? Queria comprar um carro. O que ele não sabia é que esse mesmo carro mudaria os rumos de sua vida e o aproximaria da arte teatral. Quando conseguiu adquirir o veículo, perdeu um pouco o foco do que queria e só pensava em sair para, como afirma, “pegar a mulherada”. Porém, sofreu dois acidentes de carro, sendo que o último foi mais grave, porque quase ficou cego de um olho. Estava sem cinto de segurança e assume que era meio inconsequente. Depois do segundo acidente, teve um baque: pensou que os amigos estariam do seu lado, ficou de cama e os amigos não apareceram. O telefone não tocava e Felipe ficou depressivo. “Quando eu estava com dinheiro, com carro, bem, todo mundo estava ao meu redor; meu telefone não parava. Aí, quando eu sofri o acidente e estava precisando ainda mais daquelas pessoas, ninguém me procurava. Cadê as relações verdadeiras? Foi uma das piores épocas da minha vida”.

As relações verdadeiras estavam na arte. Convidado por um amigo para fazer uma viagem a Milho Verde, distrito do Serro, interior de Minas Gerais, Felipe viu a sua vida se transformar. “Era festival de inverno que a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) fazia nessa cidade e iam várias atrações: teatro, circo, dança, performances, música, artistas plásticos, pintores e gente de vários lugares. Eu nunca tinha vivido esse universo da arte. Aí, me confrontei com isso e me apaixonei. Tanto pela a arte quanto pelas pessoas que faziam a arte. Pela veracidade que elas tinham, pelas relações verdadeiras. As pessoas não queriam saber se eu tinha carro ou não tinha, tampouco do meu passado. Não queriam saber o que eu tinha de concreto, mas sim como eu era, meus valores. Eu percebi isso e conheci pessoas incríveis. A partir daí, a arte me transformou. Quando voltei para BH, fui logo fazer teatro. Comecei a estudar e, desde então, não parei”.

Adepto da bicicleta, Felipe criou o projeto “CiclOlhar: olhar de biker para o mundo”. Crédito: Raulino Júnior 

Chão de Pequenos

Em 2009, Felipe começava a sua caminhada em busca de aprimoramento artístico. Além de participar de todas as oficinas (de corpo, de dança, de teatro de rua, de palhaço e de teatro do oprimido) de que tinha conhecimento, passou por alguns espaços de formação em BH, teve experiência com o renomado Grupo Galpão (estudou no Galpão Cine Horto), fundou uma companhia de improvisação chamada ImproColetivo, foi para a Argentina e estudou improvisação e máscara neutral em Buenos Aires, até chegar aonde queria: no concorrido curso de teatro do Centro de Formação Artística (Cefar), no Palácio das Artes, da Fundação Clóvis Salgado, do Governo de Minas. “Foi uma grande realização na minha vida”, orgulha-se. Mas, inquieto do jeito que é, não se contentava apenas em assistir às aulas, queria colocar em prática os conhecimentos adquiridos. “Não adianta ficar na escola e só produzir depois. É possível produzir durante os estudos”, pontua. Foi assim que se juntou a Ramon Brant, seu colega de turma no Cefar, e transformou a vontade em algo real. “Ramon é um grande parceiro e amigo. A gente tem uma ligação bem forte e nos identificamos de cara. Aí, eu propus: ‘Vamos montar um espetáculo? Mas vamos começar com uma cena curta. O que a gente quer falar? Eu sou negro, você é branco; vamos fazer dois irmãos? Mas um é adotado e gente não sabe quem é’”. Ramon topou o desafio e eles começaram a pesquisar sobre o tema. “Pesquisamos durante três meses e reunimos um material muito rico, que mudou toda a nossa cabeça em relação à adoção; um assunto delicadíssimo, que é pouco abordado”. Dessa imersão, nasceu Chão de Pequenos. A cena foi selecionada num projeto do próprio Cefar e apresentada em mostras e festivais de teatro, sempre com boa receptividade do público. Inclusive, ganhou prêmios em festivais de São Paulo (atuação coletiva e pesquisa e composição de dramaturgia) e do Rio de Janeiro (melhor texto). “A gente quase não fala. O nosso corpo fala muito mais”. Os prêmios não envaideceram nem envaidecem Felipe. “Eu não gosto de prêmios. É tanto que eu e Ramon não colocamos nas mídias. Não divulgamos isso. Está no nosso currículo porque enriquece. Quando você premia, você mais separa, divide o bom do ruim, do que agrega. O que é bom e o que é ruim?”, indaga. Mas não nega ter gostado do reconhecimento: “Serviu para constatar que estava no caminho certo, que o trabalho tinha valor”.

Teatro político

“Eu sempre pensei o teatro como política”, Felipe Soares. Crédito: Raulino Júnior

Para Felipe, Chão de Pequenos foi o espetáculo mais marcante de sua carreira. “A cena me fazia chorar demais. É um espetáculo muito autoral. Eu não estava entrando num projeto do outro, era um projeto pessoal. Eu consegui associar a minha arte àquilo que eu quero dizer. A gente conseguiu alcançar o nosso intuito. As pessoas assistiam à peça e saíam chorando, emocionadas. A gente conseguia inquietá-las. Fala-se muito mais de adoção de cachorros do que de adoção de pessoas”, critica. Na sequência, confidencia que, em alguns festivais, antes de apresentar a cena, ele e Ramon fingiam ser meninos de rua, com balas para vender e tudo. O objetivo da performance era o de testar a reação dos futuros espectadores. “Poucas pessoas compravam as balas. Elas não sabiam que nós éramos os atores. Quando viam a gente em cena, o espanto era evidente”. Essa atitude, que pode passar despercebida como uma simples brincadeira é, para o ator, um ato político. E ele é categórico: “Eu sempre pensei o teatro como política. O teatro tem um poder muito forte. Me tocou dessa maneira e de onde eu vim influencia totalmente o que eu quero dizer com o teatro também”.

E ele vem de uma família de classe média baixa, moradora de Venda Nova, bairro Serra Verde, zona periférica de BH. É filho do serralheiro e técnico em segurança eletrônica, José Soares; e da massagista, cuidadora de idosos e vendedora de lingerie, Jane Victor. Tem um irmão por parte de pai e mãe e outros tantos só por parte de pai. A família o apoia nessa busca pela arte. “Se eles não apoiassem, daria no mesmo. Eu não deixaria me influenciar porque eu sei o que eu quero. A minha vontade é muito maior”, explica. Admira o trabalho e a postura artística de Wagner Moura e cita também Lázaro RamosHermeto Pascoal e o saudoso Chico Science como suas referências. Além deles, destaca Ana Cristina Colla, do LUME Teatro; Bruno Godinho, da Yepocá Ciade Teatro; e o carioca Eduardo Marinho, autor do blogue Observar e Absorver.

Na dramaturgia, é fã do alemão Berthold Brecht e dos brasileiros Augusto BoalZé Celso Martinez Correa Nelson RodriguesGianfrancesco Guarnieri, que nasceu na Itália e veio para o Brasil com dois anos de idade, também é um dos ídolos de Felipe. Porém, elege Um inimigo do povo, do norueguês Henrik Ibsen, como seu texto de teatro preferido. Gosta de ler muita coisa ao mesmo tempo e está focando suas leituras em obras que tratam do universo teatral e de empreendedorismo cultural. Recentemente, viu o espetáculo Namíbia, Não!, do ator e dramaturgo baiano Aldri Anunciação, e adquiriu o livro. “Aldri já é uma referência para mim. Um artista com um pensamento além”. Está lendo ainda Da minha janela vejo… relato de uma trajetória pessoal de pesquisa no LUME, de Ana Cristina Colla; Aarte de ator: da técnica à representação, de Luís Otávio Burnier, fundador do LUME; e A guerra não declarada na visão de um favelado, de Eduardo Taddeo.

Quando o assunto é música, afirma ter aprendido a escutar de tudo. Gosta de pagode, samba, funk, música clássica, hardcorepunk rock, mas se identifica mesmo com rap. “Posso passar por todos os estilos, mas o estilo que eu mais me identifico é rap. No Brasil, Facção Central é uma referência para mim. Tenho escutado muitos raps de outros países. Por exemplo, o Calle 13, de Porto Rico. É um grupo sensacional”. Admira também Wilson Simonal e gosta da interpretação e das letras de Chico Buarque. “Mais politizadas que elas, não existem”. Da música baiana, reverencia Gilberto Gil e Caetano Veloso. Por este, tem admiração pela voz, pelas letras, pela poesia e pela pessoa; por aquele, que considera um mestre, tem admiração pela energia. Pitty Daniela Mercury também fazem parte de sua predileção musical. “A Pitty tem músicas politizadas e a Daniela consegue ser comercial e, ao mesmo tempo, cultural. Ela junta tudo num balaio”. Não gosta de axé music, considera engraçado, mas acha a letra de Lepo Lepo, da banda Psirico, genial. “Vai na contramão do Camaro Amarelo. Mostra que a mulher está com o cara porque realmente gosta. Desbanca todos esses sertanejos chatos”.

Salvador e Bando de Teatro Olodum

Felipe veio para Salvador a fim de ter experiências teatrais e para participar da audição que selecionaria atores para uma oficina de performance negra, promovida pelo Bando de Teatro Olodum. Durante três dias, o artista participou de atividades intensas, que envolviam teatro, dança e música. No final, conseguiu ser selecionado e, desde então, está vivendo a cidade. “Estou vivendo a rua dessa cidade. Se eu fosse ficar só na parte nobre, como os turistas comumente ficam, não estaria vivendo a cidade. Você só vê os pontos turísticos, o que o governo maquiou. Eu quero estar na periferia, em todos os lugares”. E não deixa de elogiar a capital baiana: “As pessoas daqui me encantam. É o que tem me deixado feliz. A cidade é bonita, não tem como ficar de mau humor. Você olha a paisagem da cidade e já se abre, se entrega”. Contudo, o mineiro reconhece alguns problemas com os quais os salvadorenses convivem há algum tempo, como a sujeira e a deficiência no transporte público. “Tem poucas lixeiras e as pessoas têm a cultura de jogar lixo no chão. A cidade acaba fedendo. E a questão do transporte público, que é um problema nacional, é mais agravante aqui”, analisa. Toda a vivência e visões sobre a cidade são compartilhadas no blogue Aprender, experimentar e compartilhar, que criou no intuito de dividir as experiências de teatro.

Para ele, o contato com o trabalho do Bando está sendo uma experiência sensacional. “Como reafirmação do negro, como disciplina, como levar o teatro como trabalho, como responsabilidade. É uma formação artística completa: você atua, dança, toca, canta e é um ser político. É uma verdadeira faculdade”.

Legado

“Quero levar cumplicidade e amor para as pessoas”, Felipe Soares.  Crédito: Raulino Júnior

Aonde Felipe Soares quer chegar? “É difícil pensar num fim, né? Penso em construir algumas coisas. Quero que minha arte chegue às pessoas. Hoje, eu penso em falar de uma inquietação minha, que é o teatro negro na arte. Até por isso que eu estou estudando no Bando, porque a minha relação com a questão racial é muito forte. Eu sofri preconceito desde a minha primeira escola. Penso em fazer teatro de rua, trabalhar com a linguagem mais popular. Quero ser um artista múltiplo, a ponto de viajar o mundo inteiro com a minha arte”. O ator, que já participou de vários espetáculos teatrais, curtas, comerciais e de uma série, tem o sonho de gravar um longa-metragem e quer deixar para o mundo o legado de uma pessoa humana e generosa. “Às vezes, as pessoas falam que eu sou doido, mas eu não sou. As pessoas é que estão na zona de conforto e têm medo de sair dela. Eu busco sair dela todos os dias. A vida é muito mais. Não é esse sistema do jeito que é, em que se vive só pra ganhar dinheiro. Eu quero levar cumplicidade e amor para as pessoas”. E reforça o seu pensamento citando um trecho da música Ainda há tempo, de Criolo: “As pessoas não são más, mano. Elas só estão perdidas. Ainda há tempo”.

Uma frase que ele não gosta…

Uma frase que eu não gosto é quando falam: “Eu luto pelas minorias. Somos negros, somos minorias. Somos mulheres negras, somos minorias. Somos gays, somos minorias”. Você não é minoria! Você é uma grande parcela da sociedade. Fazem a gente pensar que somos minorias. É diferente.

  • O que dizem sobre ele…

Yuri Castilho

Crédito: Raphaela Simões

“Felipe sempre teve uma energia muito contagiante. Nota-se, claramente, o fascínio que ele causa às pessoas ao seu redor, espectadores ou não. Acho que é o sorriso, com uma pureza sem igual! Ao longo dos mais de 15 anos de amizade, o vi perseguir sonhos e alcançá-los, mesmo os mais difíceis. Tem uma incrível capacidade de aceitar o outro e também de ver a vida sempre em cores.”

 Ana Torga

Crédito: Gigi Favacho

“A representação artística do ator Felipe Soares tem sua marca pessoal, a qual se manifesta por meio de sua singular criatividade, do seu natural improviso e de sua versatilidade interpretativa. Sua vivência na arte popular deu asas para alcançar voos no teatro de improviso e possibilitou sua total imersão na arte dramática. A Estrela Negra, de nome Felipe, ganhará os céus dos palcos e das telas desse planeta Terra”.

Série Perfis do Desde| Ficha Técnica:

Convidado: Felipe Soares

Data da entrevista: 1º/4/2014

Local: Dique do Tororó (Salvador-Bahia)

Idealização/produção/texto: Raulino Júnior

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