Cerimônia do 29º Prêmio da Música Brasileira faz homenagem do tamanho do talento do artista fluminense
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Cerimônia do 29º Prêmio da Música Brasileira faz homenagem do tamanho do talento do artista fluminense
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Vítor fez um balanço positivo do curso: “Achei ótimo! O pessoal é muito caloroso! Isso é bem bacana de Salvador. Então, tem uma energia, tem uma vida. Muita gente contribuindo com a aula. Isso é muito legal! É uma pena que o curso vai rendendo e a vontade é de ampliar; porque, de fato, cada aula daria um curso sozinho”. O pesquisador disse ainda que conseguiu chegar no objetivo que traçou: “O meu objetivo foi alcançado. Adorei dar esse curso. Também aprendi bastante. O meu objetivo é sempre aprender com meus alunos e também revisar bibliografia”.
Mira Matos, coordenadora do CFA, também ficou satisfeita com a repercussão do curso de MPB: “O curso de Vítor foi um sucesso total. É um curso livre e, pra gente, todos os cursos são importantíssimos. Tanto os de música quanto os de dança e teatro. O Centro de Formação em Artes está aqui aberto para servir e atender a todo o público que vem aqui em busca de novos aprendizados”.
O Desde fez a cobertura exclusiva de todos os dias do curso de Música Popular Brasileira, ministrado por Vítor Queiroz. Você pode ver todas as reportagens clicando aqui. Abaixo, segue uma enquete com alguns dos participantes do curso. A pergunta: para você, qual é a atual situação da MPB? Não deixe de ver!
Vítor falou ainda sobre a importância do rádio na popularização da música nacional, principalmente como estratégia no Governo Vargas. Para o Desde, ele disse qual foi o objetivo da aula sobre samba: “Hoje, é exatamente a carne do prato principal, porque é a consolidação, tanto do discurso do que seria MPB e também do samba enquanto um símbolo nacional durante a Era Vargas. São referências obrigatórias para todo mundo que vai pensar música popular brasileira”.
Clécia Queiroz, cantora, compositora, atriz e professora de dança, achou que o curso foi bem pensado e gostou da abordagem acerca do samba: “Para mim, foi fundamental fazer junções. A minha pesquisa é mais para o samba de roda, do século XIX para cá, mas, evidentemente, a relação dele com o samba carioca é bastante importante”, conclui. Clécia está preparando quarto disco e, na sua discografia, constam Chegar à Bahia (1997), Samba de Roque (2009) e Quintais (2016). Nos dois últimos, Vítor, que é sobrinho da artista, participou da direção artística.
O professor de música da educação infantil, Edson de Souza, 37 anos, afirmou que as informações adquiridas no curso, a respeito do samba, provocaram uma viagem no tempo. “Foi uma volta no tempo, de como o samba surgiu. Com o passar do tempo, houve algumas mudanças, mas ele não perdeu a sua raiz. Às vezes, por a gente não conhecer profundamente, a gente acaba criticando. Hoje, o professor trouxe temas importantes, dos quais eu desconhecia, como alguns autores e formas como o samba se desenvolveu durante o tempo”.
O disco de estreia da mineira de trouxe também a metafórica Tô Saindo (Totonho Villeroy): “[…] Eu tô saindo, eu tô saindo deste buraco/Help! Eu preciso sambar […]“; e Alguém Me Disse (Evaldo Gouveia/Jair Amorim), uma dessas de dor de cotovelo, com melodia agradável, arranjo de bolero e letra interessante: “[…] Se vais beijar/Como eu bem sei/Fazer sonhar/Como eu sonhei/Mas sem ter nunca amor igual/Ao que eu te dei“. A faixa 3, Nada Pra Mim, tocou bastante no rádio. A letra de Jonh Ulhoa (da banda Pato Fu) ganhou força na interpretação de Ana Carolina, ficando ainda mais filosófica. Trancado, a primeira da série de canções da própria Ana que figura no CD, tem eu lírico masculino e mensagem introspectiva: “Eu tranco a porta para todos os gritos/E o silêncio também está lá fora/Agora, a porta está trancada“. Em Armazém (Ana Carolina), a cantora deixa evidente o seu lado de instrumentista. O pandeiro bem marcado ajuda a dar graça à letra simples e descomprometida.
A Canção Tocou Na Hora Errada (Ana Carolina) é a sétima faixa do CD. Tem ótima letra e melodia. É uma das melhores do álbum. Assim como Agora Ou Nunca (Arnaldo Antunes), O Melhor De Mim (Frejat/Paulinho Moska/Dulce Quental), O Avesso Dos Ponteiros (Ana Carolina) e Beatriz (Chico Buarque/Edu Lobo). Aqui, valem algumas ressalvas: Agora Ou Nunca é uma daquelas letras cheias de ludicidade e de espírito filosófico que saem da cabeça de Arnaldo Antunes: “Nunca se responde uma pergunta/Nunca é o Dia de São Nunca“; O Melhor De Mim é uma declaração de amor sem moderação. Beira o ultrarromantismo: “[…] Se amor tivesse um nome/Seria o seu […]“; O Avesso Dos Ponteiros tem poesia rica, que fala de transitoriedade do tempo: “A idade aponta na falha dos cabelos/Outro mês aponta na folha do calendário/As senhoras vão trocando o vestuário/As meninas viram a página do diário/O tempo faz tudo valer a pena/E nem o erro é desperdício/ Tudo cresce/ E o início/Deixa de ser início/E vai chegando ao meio/Aí começo a pensar que nada tem fim/Que nada tem fim“. A melodia é primorosa, com o som dos violinos contribuindo para que a canção fique ainda mais bonita; Beatriz dispensa comentários, não é? A interpretação de Ana é certeira e cheia de personalidade.
Além de regravar Chico (Beatriz) e Tom Jobim (Retrato Em Branco e Preto, parceria dele com Chico Buarque), Ana regravou Lulu Santos (Tudo Bem). Em todas, ela emprestou muito bem a sua identidade musical. Perder Tempo Com Você (Alvin L.) destoa do bom repertório do CD. Foi uma perda de tempo gravá-la. Tô Caindo Fora (Ana Carolina/Marilda Ladeira/Fernando Barreto) fecha com qualidade o primeiro trabalho da cantora. De fato, o disco é muito bom. Escute. A sua garganta não vai estranhar.
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
“Deu pra ti/Baixo-astral/Vou pro show de Kleiton e Kledir/Tchau!”. Um fã dos irmãos Kleiton e Kledir bem que poderia alterar um pouco a letra da famosa canção Deu pra Ti (Kleiton Ramil/Kledir Ramil) e cantar dessa forma aí. Principalmente, após assistir ao show de ontem à noite, no Teatro Sesc Casa do Comércio, em Salvador. É que, durante a apresentação, a dupla de Pelotas fez o público rir o tempo todo com as histórias que contava, além de cantar músicas consagradas da carreira. Não houve mesmo espaço para o baixo-astral.
Em seguida, cantaram Nem Pensar (Kleiton Ramil/Kledir Ramil) e Fonte da Saudade (Kledir Ramil), que contou com o coro dos espectadores. Quando entoaram Viva (Kledir Ramil), a plateia foi levada pela sonoridade da canção, que pareceu sair do repertório d’A Cor do Som e dos Novos Baianos, pelo suingue, letra e qualidade do arranjo.
Como é de praxe em show de duplas, em alguns momentos da apresentação cada um deles protagonizava a cena, ficando sozinho no palco. Foi assim que Kledir cantou aquela que, talvez, seja a música mais conhecida do repertório dos irmãos: Paixão (Kledir Ramil). O público, claro, vibrou e acompanhou cada verso com entusiasmo. Para aproveitar o clima junino, os cantores colocaram Noite de São João (Pery Souza/Kledir Ramil) no roteiro, fazendo a plateia interagir ainda mais com eles.
Do novo CD, intitulado Com Todas as Letras (Biscoito Fino, 2015), entraram a necessária Lado a Lado (Kleiton Ramil/Kledir Ramil/Alcy Cheuiche) e Pingos nos Is (Kleiton Ramil/Kledir Ramil/Martha Medeiros). Lado a Lado é baseada em um fato real e traz o depoimento de um pai (no caso, Alcy Cheuiche) a respeito do namoro da filha homossexual: “Se tu gostas dela, minha bela/O que é que eu posso dizer?/Me emociono ao ver vocês duas/O amor precisa acontecer”. Todas as canções do disco foram feitas em parceria com renomados escritores da literatura gaúcha. Entre os nomes, ainda estão Luis Fernando Verissimo e Claudia Tajes.
Na sua vez de ficar sozinho no palco, Kleiton homenageou Gilberto Gil com Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos/Anastácia), que o baiano gravou no disco Refestança, de 1978. Depois, protagonizou um dos momentos mais sublimes do show: cantou Corpo e Alma, versão de Kledir para Bridge Over Troubled Water, de Paul Simon. A música, que parece uma oração, reflete a nítida sintonia entre eles: “Sei que a vida vai aprontar/E o que vier, azar/A dois é fácil segurar/Se Deus deixar, viu, meu amigo/Vou sempre estar aqui/Junto a ti/Feito corpo e alma/Meu irmão, meu par”. De emocionar.
Nos momentos finais do espetáculo, o romantismo deu lugar à poesia social. Kleiton e Kledir, no intuito de contextualizar o show com ares soteropolitanos, cantaram Guri de Salvador (Kledir Ramil/Kleiton Ramil), que nasceu quando um menino de rua de Salvador reconheceu Kledir e pediu para ele fazer um reggae. Logo após, vieram Tô que Tô (Kleiton Ramil/Kledir Ramil), Vira Virou (Kleiton Ramil) e Deu pra Ti. No tradicional bis, foi a vez de Maria Fumaça (Kleiton Ramil/Kledir Ramil) entrar na trilha.
A apresentação de Kleiton e Kledir foi de surpreender. Os cantores, que também são excelentes instrumentistas, fizeram o concerto sem acompanhamento de banda. Usaram apenas a voz, o violão (Kledir e Kleiton) e o violino (Kleiton). Um show de música com letra e instrumental. Os artistas estavam completamente entregues, de corpo e alma. Superlativos!
Um livro emocionante, cheio de histórias curiosas e com uma narrativa que não deixa o leitor desgrudar das páginas. Assim é Cazuza: só as mẽs são felizes, biografia lançada em 1997, pela Editora Globo. A jornalista Regina Echeverria foi quem teve a missão de transpor para o papel as 20 horas de depoimento de Lucinha Araujo, mãe do cantor. O trabalho foi tão bem-sucedido que, em 2004, serviu de base para o filme Cazuza: o tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho.
O subtítulo da obra [só as mães são felizes] se refere a uma canção homônima composta por Frejat e Cazuza, lançada por este em 1985, no álbum que ficou conhecido como Exagerado, o primeiro após a saída do Barão Vermelho. No prefácio, Lucinha mostra que as mães não são tão felizes assim: “Lamento não ter tido a chance de conviver mais, muito mais, do que os poucos 32 anos de Cazuza. Sinto não ter tido mais tempo para aprender a compreendê-lo e fazer com que perdoasse os erros do passado: o excesso de zelo, a cegueira que me impedia ver o poeta que ele era, e aproveitar um pouco mais do artista inconformado em que se revelou. Queria que me perdoasse, por ter dado tanta importância a coisas tão pequenas, nas quais eu acreditava como verdade suprema. Que me perdoasse por tê-lo sonhado à minha imagem e semelhança e a forçar que ele pautasse sua vida, que apenas começava, em convenções inúteis“.
Quem lê o livro, conhece um pouco da intimidade da família Araujo, descobre que Cazuza sempre fora chamado pelo apelido, mesmo antes de nascer, e que o cantor só passou a gostar do seu nome de batismo (Agenor) após descobrir que Cartola também tinha sido batizado com tal antropônimo. Mas, na verdade, o nome de Cartola era Angenor. Será que Cazuza morreu sem saber disso?
Em 21 capítulos, Lucinha revela detalhes da convivência com o seu Agenor de Miranda Araujo Neto. A vontade do leitor é a de não chegar naquele fatídico 7 de julho de 1990, data da morte de Cazuza. Três meses depois, em 17 de outubro, Lucinha, com o auxílio de alguns amigos, fundou a Sociedade Viva Cazuza, que dá assistência a crianças e adolescentes carentes portadoras do vírus da Aids. Assim, muitas mães são felizes. Viva Lucinha!
Referência:
ARAUJO, Lucinha. Cazuza: só as mães são felizes. Lucinha Araujo em depoimento a Regina Echeverria. 2.ed. São Paulo: Globo, 2004.