2345meia78(Gabriel O Pensador) é uma crônica bem divertida, que narra a agonia de um cara que não quer passar o fim de semana sem uma mulher, no “osso”. Cachimbo da Paz(Gabriel O Pensador/Memê/Bollado Emecê) é uma declarada apologia a um certo “cachimbo”, mas vai além ao tocar em questões como tráfico de drogas, violência e, até, descriminalização: “…e pro índio nada mais faz sentido/Com tantas drogas por que só o seu cachimbo é proibido?”. A acidez de Gabriel prevalece quando ele critica o sistema prisional do Brasil: “Na penitenciária, o ‘índio fora da lei’/Conheceu os criminosos de verdade/Entrando, saindo e voltando cada vez mais perigosos pra sociedade“.
Sem Saúde (Gabriel o Pensador/Memê/Fábio Fonseca), como o título já entrega, critica a insistente situação estrutural da saúde no Brasil: “Emergência! Eu tô passando mal/ Vô morrer aqui na porta do hospital/Era mais fácil eu ter ido direto pro Instituto Médico Legal/Porque isso aqui tá deprimente, doutor/Essa fila tá um caso sério/Já tem doente desistindo de ser atendido e pedindo carona pro cemitério“. Não deixa de falar dos erros médicos e da falta de ética da área, principalmente quando toca na temática do assédio sexual.
Pra Onde Vai? (Gabriel O Pensador/Memê/Alexandre Lucas/Alexandre Dantas) é a parte mais melancólica, triste e reflexiva do CD. Tanto na letra quanto no arranjo. A narrativa, que fala da morte de um jovem, revela um problema que continua atual: “Mais uma vítima de um mundo violento/Se Deus é justo, então quem fez o julgamento?“. +1 Dose (Gabriel O Pensador/Frejat/Rodrigo/Guto/Peninha/Fernando/Tiago/Memê) e Eu e a Tábua (Gabriel O Pensador/André Gomes) estão sobrando no CD. São duas canções insossas, dispensáveis. En La Casa (Gabriel O Pensador/Tito) também não empolga. É bem fraca, diante do bom repertório de toda a obra.
A Dança do Desempregado (Gabriel O Pensador) é uma sátira muito bem feita pelo rapper carioca. Em 1997, no Brasil, tinha dança disso e dança daquilo pra tudo quanto era lado. A Bahia era a principal exportadora. Não foi por acaso que a batida do pandeiro e o suingue do pagode entraram no arranjo. O fato é que Gabriel teve uma ótima sacada e compôs a música, cujo refrão diz: “Essa é a dança do desempregado/Quem ainda não dançou tá na hora de aprender/A nova dança do desempregado/Amanhã o dançarino pode ser você“.
Bala Perdida (Gabriel O Pensador) revela, mais uma vez, o Gabriel crítico e observador da realidade: “Por favor, meu amor, eu não quero encontrar você morta se eu voltar pra casa vivo/Mas se eu não voltar não precisa chorar/Porque levar uma bala perdida hoje em dia é normal/Bem mais comum do que morte natural/Nem dá mais capa de jornal“. Assim, como personaliza o Brasil em Pátria que me Pariu, em Bala Perdida ele também usa essa personificação para dar o seu recado: “Eu gostaria de ser uma bala de mel/Feita com amor, embrulhada num papel/Mas vocês me fizeram pra acabar com a vida/Desde que eu nasci eu sou uma bala perdida/Eu sempre fui perdida, por natureza/Até num suicídio ou em legítima defesa/A maioria ainda nem percebeu: vocês tão muito mais perdidos do que eu“.
Em Festa da Música, os compositores Gabriel O Pensador e Memê mostram toda a criatividade deles. A música é muito boa. O mote é uma noite de festa reunindo os artistas da música brasileira. Detalhe: a festa acontece na rua Antonio Carlos Jobim. No encarte do CD, Gabriel traz a seguinte observação: “Esta obra de ficção é uma homenagem a todos que estiveram, estão ou estarão um dia na festa da música brasileira”. A última música do disco, O Sopro da Cigarra (Gabriel O Pensador) é, basicamente, a parte instrumental de Pátria que me Pariu.
Quebra-Cabeça é um CD que faz a gente refletir sobre vários problemas do Brasil. Dá pra ter ideia de como Gabriel pensa, qual é a sua ideologia e por que critica o que critica e defende o que defende. Se o objetivo do rapper era mexer com a nossa cabeça, ele conseguiu.