Cultura, DEZde, Domingueiras: entrevistONAS de Domingo, Jornalismo Cultural

MC Soffia: “Além da violência racista, eu falo sobre empoderamento, feminismo, sexismo e machismo”

Aos dezessete anos de idade e dez de carreira, MC Soffia segue usando o rap como bandeira política

MC Soffia: consciência e atitude que vêm de berço. Foto: divulgação

Por Raulino Júnior ||Domingueiras: entrevistONAS de Domingo||

Soffia Gomes da Rocha Gregório Correia é o retrato de muitas meninas que estão em todos os cantos do país, transformando realidades e impondo as suas vozes no mundo. Aos 17 anos, a rapper, cantora e compositora paulistana mostra que a sua atitude, a sua consciência e o seu discurso de mobilização amadureceram ao longo desses dez anos de carreira e mantiveram o seu propósito maior: empoderar outras meninas negras. “Meninas que eram da minha idade começaram a entender, começaram a se aceitar”. Na data em que é celebrado o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, a artista é naturalmente uma representante dos ideais que fizeram o dia ser cunhado, em 1992, durante o  Encontro de Mulheres Afro-Latinas-Americanas e Afro-Caribenhas, na República Dominicana: “…dar visibilidade à luta de mulheres negras contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo”. Nesta entrevistONA, feita por e-mail e por WhatsApp, MC Soffia fala sobre a importância da família na sua formação, diz como se deu o seu processo de empoderamento e revela: “Eu amo a Bahia e quero ter um trio”. Leia e fique à vontade.

Desde que eu me entendo por gente – O Brasil mudou muito desde que você começou a sua carreira, em 2011, aos sete anos. Quais mudanças foram mais evidentes para você e para a música que faz?  

Desde – Você deu os primeiros passos no hip hop através das oficinas oferecidas na organização infantil Futuro do Hip Hop. Nesse sentido, a educação potencializou o seu talento. As suas letras têm um caráter educativo muito grande. Para você, de que forma elas potencializam outras pessoas negras?

Desde – Ao longo desses dez anos, qual das suas músicas melhor traduz o que você quer dizer para o mundo com a sua arte? Por quê?

Desde – Você vem de um seio familiar de mulheres determinadas e conscientes do papel delas na sociedade. Até que ponto a sua mãe, Kamilah Pimentel, e a sua vó, Lucia Makena, influenciam nas letras que faz e na sua atitude?

Desde – Você está comemorando dez anos de carreira. O que foi pensado para essa festa?

Desde – Em algumas entrevistas, você pontua que não fala só da violência racista. Quais outros temas estão no radar de MC Soffia? Por quê?

Desde – Em Empoderada, você diz: “Com minha autoestima, eu sou graduada”. Como fazer para ser graduada em autoestima?

Desde – Desde é um blog da Bahia. Qual é a sua relação com o estado? Quais artistas daqui você admira e gosta? Por quê?

Desde – No rap Maravilhosa, tem os seguintes versos: “Eu sei que é difícil a gente se aceitar/Quanto mais a gente tenta, mais querem nos derrubar/Eu sei que é difícil a gente entender/Que o padrão de beleza vai fazer você sofrer”. Como superar esse “padrão de beleza” impositivo, violento e preconceituoso que, ainda hoje, domina a cultura brasileira? 

Desde – Por que é importante falar sobre empoderamento?

Desde – Obviamente, para escrever o que você escreve, tem muita pesquisa e leitura associadas. O que você lê para ajudar nesse processo criativo?

MC Soffia agradece ao Desde, pela entrevista: “Sempre que der, me chame, que eu volto”.

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Rafael Querrer: “Ou você é o cara que ri ou o cara que reclama. Não existe essa de ‘ser contra, mas não ligar'”

Em entrevista exclusiva para o Desde, jornalista e apresentador fala de carreira, violência racista e sobre o que quer para o país

Rafael Querrer: “Eu não mudei a pessoa, mudei o lugar onde a pessoa está. Agora, estou na linha de frente”. Foto: Fernanda Marangoni

Por Raulino Júnior ||Domingueiras: entrevistONAS de Domingo||

O brasiliense Rafael Querrer Soares tem 33 anos, é filho “da guerreira Vicença Paula Soares Querrer e do melhor amigo de todos, Edson Barbosa Soares“, nas próprias palavras dele; e irmão de Raíza Querrer Soares. Formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Rafael escolheu o curso por acreditar que a atividade jornalística contribui para o progresso do país: “O jornalismo é uma peça fundamental para o amadurecimento da democracia. Eu escolhi essa faculdade porque eu achava e acho que no exercício dessa profissão eu posso contribuir para o progresso da minha nação”. Atualmente, cursa Análise e Desenvolvimento de Sistemas na mesma instituição. O mestrado na Universidade de Brasília (UnB) está no radar, onde talvez submeta como projeto o Black Talk, programa de entrevistas que mantém nas redes sociais digitais desde o dia 4 de julho de 2020 e cujo lema é “Ouvir quem nunca é ouvido”. O objetivo é escutar pessoas negras, para que elas falem de suas vivências e, sempre que possível, façam análise de como a violência racista impactou as suas vidas. Desde 2012, pratica jiu-jitsu, esporte que o ajudou na luta contra o racismo. “É o esporte da minha vida, embora eu ame o futebol também. O jiu-jitsu me ajudou muito na luta contra o racismo, porque me deu mais autoestima e me ensina, diariamente, a cair, a levantar e a nunca desistir. Me ensina também a pensar minhas lutas, a agir com a cabeça e, claro, que nenhum problema, grande ou enorme, é invencível. Eu só preciso saber qual plano utilizar”. Quem acompanha Rafael nas redes, percebe o quanto é sério e determinado. Questionado se a seriedade sempre fez parte da sua vida, ele, com o foco de sempre, responde: “Só sou sério com o que precisa de seriedade. Na verdade, é porque a seriedade me ajuda a estar concentrado. Na maior parte do tempo, eu estou fazendo alguma palhaçada”. Nesta entrevistONA, feita por e-mail, o leitor e a leitora vão perceber essa verve engraçada do jornalista. Além disso, vão ver Rafael refletindo sobre a violência racista que está entranhada no Brasil desde 1500, sobre política e sobre futuro. Leia e fique à vontade.

Desde que eu me entendo por gente – Qual é a origem do “Querrer”? Tem significado?

Rafael Querrer: Não tem. Na verdade, é um sobrenome que está “escrito errado”. [Risos]. O certo seria Querré, um sobrenome de origem francesa. O interessante é que há outras pessoas com o sobrenome Querrer pelo mundo, mas não têm qualquer relação comigo. Também não sei qual o significado de Querrer. Meus amigos dizem que QUERRER É PODER. [Risos].

Desde – No artigo Consciência #001, que escreveu no Medium para a Semana da Consciência Negra de 2019, você afirma: “Eu costumo dizer que nem mesmo o amor fraterno, aquela amizade que transforma estranhos em família, consegue atingir esse nirvana que é entender a desigualdade racial como um problema, uma violência”. De lá pra cá, o que você já percebeu de mudança de postura dos seus amigos brancos em relação ao racismo?

RQ: A mudança ocorre porque eu me transformei em uma pessoa que SÓ FALA SOBRE ISSO. Então, as pessoas adotam outra postura ao meu lado. O Black Talk é uma iniciativa pequena, mas meus círculos já o conhecem, então há um cuidado, mas eu não chamaria de mudança de postura, sabe? Pelo menos, não no geral. Ainda mais para alcançar a dor de uma violência que eles estão longe de sentir. Mas falta não só a sensibilidade, como também o conteúdo. É muita gente que não tem nenhuma noção sequer sobre a história do povo negro no Brasil. Que ainda questiona números, relativiza assassinatos, enfim… O que eu posso dizer é que o Black Talk, ESPECIFICAMENTE, conseguiu provocar algumas reflexões. Uma mudança no campo do pensar sobre esse tema, não exatamente no comportamento. Assim sendo, não posso dizer que percebi uma mudança. Ainda convivo em um ambiente em que a branquitude sufoca e mata.

Desde – Atualmente, e é uma pergunta retórica, você prefere ser visto por eles como o “chato” e “reclamão” ou como “o Querrer gente boa, que leva tudo na brincadeira”? Por quê?

RQ: Prefiro [ser visto como chato e reclamão]. Eu prefiro porque eu acho que a gente precisa ser coerente com as coisas. E isso é um desafio. Não é toda hora que a gente consegue se posicionar de maneira tão firme. Isso precisa ser um exercício diário. Ser coerente e não passar pano são ações que precisam de prática. Não é do dia para noite, principalmente se você está sozinho em um discurso e está adotando esse comportamento como uma novidade para si. Eu já fui o cara que leva tudo na brincadeira como estratégia para abrir espaço de participação social. Ou seja: fazer amigos. Hoje, eu não quero nem me imaginar fazendo isso. Há muita coisa envolvida nesse negócio todo. Se eu for o cara legal e rir, vou estar rindo e admitindo violências contra os nossos ou contra outros. E isso não dá. Ou a gente faz de um jeito ou de outro. E assume uma postura, mesmo que ela seja lida como errada. Ou você é o cara que ri ou o cara que reclama. Não existe essa de “ser contra, mas não ligar”. Então, eu prefiro, sim, ser o chato. Porque sendo o chato pra eles, eu estou sendo correto comigo. Me respeitando. Defendendo minhas bandeiras. E quem sabe a minha chatice, que nem sempre é agressiva, muitas vezes é até em tom de ironia ou brincadeira, não consegue provocar alguma “mudança” entre os meus, como conversamos no tópico anterior?

Desde –  Nesse quase um ano de Black Talk, o que o programa já te ensinou?

RQ: O programa me ensinou, PRIMEIRAMENTE, que não estou sozinho. Essa foi a grande lição. Há outros nessa trincheira. E, em segundo lugar, me deu consciência sobre outras formas de violência praticadas pelo racismo. Hoje, eu tenho os olhos muito mais abertos do que seis meses atrás. E é louco porque é pouco tempo! Mas eu conversei com personalidades maravilhosas, que me deram essa visão de forma muito intensa, além da oportunidade de me deixarem me reconhecer neles e nelas. Então, eu tenho a consciência e estou buscando as ferramentas para construir outras resistências. Para enfrentar o problema em outras regiões, sejam elas do “mundo tangível” ou do imaginário.

Desde – Qual é o seu principal objetivo com ele? E você quer que ele chegue aonde?

RQ: Eu quero que as pessoas ouçam, que as pessoas reflitam e que as pessoas comecem a entender que elas, brancas, também são protagonistas nessa luta, e que as pessoas negras não estão sozinhas. O programa não é feito para pessoas brancas e nem apenas para pessoas negras. Ele tem um formato que agrega os dois públicos. Não agride quem está ali para aprender ou quem tem uma visão diferente das coisas. Porém, o meu objetivo central, hoje, é este: fazer com que a questão racial se torne pauta na vida das pessoas brancas que me assistem e que as pessoas negras encontrem um espaço de aquilombamento. Paralelo a ele (ou a eles, objetivos centrais) está o óbvio: espaço para que negros e negras sejam ouvidos e ouvidas.

Desde – Através da pesquisa feita para fazer esta entrevista, ficou evidente que você sempre teve consciência de sua negritude. Contudo, havia um grito calado, que não se manifestava. Quando foi que isso mudou? Por que resolveu gritar para todo mundo ouvir?

RQ: Acho que não há um momento marcante, chave. Foi ao longo da vida mesmo. A gente vai tomando porrada e uma hora desperta. Eu me relacionei com pessoas extremamente racistas e demorei pra me tocar disso, porque não tinha consciência o suficiente para entender o quadro todo. Então, eu fui abrindo os olhos aos poucos. E na medida em que eu fui descobrindo a realidade, eu fui assumindo mais a postura combativa. Tinha uma pessoa na minha vida que dizia: “Mas tudo pra você é sobre ser negro”. Sim, é. Essa pessoa, como tantas outras, teve, tem e terá tudo por ser branca. E eu não entendia o racismo nessa reflexão que ela me trazia, sabe? Depois, eu vi. E conectei a outras coisas. E, então, eu me afastei. Isso eu fazia antes. Hoje, eu falo, brigo e depois me AFASTO. [Risos].

Desde – Como é viver no centro, digamos, mais político do país?

RQ: Talvez, para mim, tenha sido mais intenso porque eu trabalhei nas coberturas da Praça dos Três Poderes. Acompanhei Congresso, Planalto e STF. Para quem entende o que significam esses poderes, neste País, o clima é pesado. A gente sabe como aquilo foi construído, quem está lá, o motivo de estar lá… Enfim. Somos lembrados disso a todo o momentos O clima fica pesado. A cidade respira a Casa Grande todinha. É uma atmosfera estranha, embora Brasília seja uma cidade excelente.

Desde – O que Rafael Querrer quer para o país?  

RQ: Rafael Querrer quer para o País um povo consciente da questão racial e que finalmente entre nas trincheiras pelo fim das inúmeras violências que sofremos aqui. Eu quero para o País igualdade, oportunidades iguais, liberdade e prosperidade!

Desde – Quem era o Rafael de dez anos atrás? 

RQ: O Rafael de 10 anos atrás não era muito diferente desse. Eu acho que mudei pouco em relação à minha essência. Hoje, porém, tenho mais defeitos; como, por exemplo, ser uma pessoa mais fria, mas sou mais obstinado, sou mais corajoso e tenho muito mais fé em mim mesmo. Confiança. Mas, veja, eu continuo o mesmo Rafael. Do mesmo lado, com as mesmas bandeiras e com a mesma perspectiva geral sobre o que eu quero para mim, que é a tal da felicidade. Eu não mudei a pessoa, mudei o lugar onde a pessoa está. Agora, eu estou na linha de frente.

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Referência no jornalismo cultural, Harlen Felix vive a cena e é um dos agentes de cultura de São José do Rio Preto

Jornalista com vasto conhecimento da cena cultural, ele é dos palcos e dos bastidores

Harlen Felix na redação do jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto: “Jornalismo cultural é o que mata a minha sede existencial”. Foto: Johnny Torres

Por Raulino Júnior ||Domingueiras: entrevistONAS de Domingo|| 
Harlen Felix do Nascimento tem 43 anos, é filho do baiano Arlindo Felix (de Maracás) e da paulista Ivone do Nascimento (de Votuporanga); e irmão de Ivonete Felix e Isaura Felix. Versátil, além de jornalista, é escritor, produtor, ator, diretor de teatro e “curador musical para festas”, como ele próprio diz, ao responder a pergunta sobre quando nasceu o DJ que também é. Atuando no jornalismo mesmo antes de ingressar na faculdade, Harlen passou por diversos periódicos até chegar ao Diário da Região, jornal septuagenário do qual é repórter e editor de cultura. O profissional que, na infância, tinha o sonho de ser ator de teatro, viu isso acontecer e se tornou um agente de cultura que vive e conhece a engrenagem por dentro e por fora. Isso fica perceptível nas suas reportagens e também contribui para que seja reconhecido como uma das referências do jornalismo cultural da contemporaneidade. Nesta entrevistONA, feita por e-mail, ele fala sobre suas vivências e trajetória. De forma contundente, opina sobre o jornalismo feito no Brasil, reflete sobre a indústria da cortesia, elenca quais manifestações da cultura brasileira mais o impressionam e diz quem era o Harlen de dez anos atrás: “[…] um cara que já tinha escolhido a sua morada […].”. Leia e fique à vontade.

Desde que eu me entendo por gente – Você nasceu em Votuporanga e, atualmente, mora em São José do Rio Preto. Como e por que fixou residência na cidade?

Harlen Felix: Nasci e me formei em Votuporanga, na Unifev. Aliás, sou da primeira turma de Jornalismo. Hoje, o curso não existe mais. No entanto, quando prestei vestibular, Jornalismo ainda era um curso bastante procurado. Na USP, era um dos mais disputados depois de cursos consagrados, como Medicina e Direito. Votuporanga é uma cidade de 80 mil habitantes, que abriga um dos jornais mais antigos da região noroeste paulista: Diário de Votuporanga. No entanto, são poucas as oportunidades para quem quer atuar na imprensa. Já São José do Rio Preto é um centro regional, tem 450 mil habitantes, com uma população flutuante que chega a 200 mil pessoas. Atuo há sete anos no Diário da Região, que é um jornal com 70 anos de história. Hoje, há somente dois jornais impressos na cidade, mas já houve época de ter cinco jornais em funcionamento. É o reflexo da influência da internet. Quando terminei a faculdade, fui morar em Araçatuba, outra cidade referencial aqui do noroeste paulista, trabalhando por dois anos na Folha da Região. Depois, fui para São Paulo e acabei indo parar em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, onde tive uma agência de comunicação com mais dois sócios. A mudança foi um choque para mim, confesso, pois fui inserido numa cultura bem diferente da do interior paulista. Após um ano, bateu aquela vontade de voltar, e acabei escolhendo Rio Preto por ser mais perto de Votuporanga, onde minha família mora até hoje (são só 80 km). Quando cheguei aqui, fui contratado para ser editor de Cultura no jornal BOM DIA, uma rede de jornais comandada pelo falecido J. Hawila (Traffic). Hoje, esse jornal não existe mais. Atuei como autônomo por um tempo até entrar no Diário da Região, onde sou responsável pela criação de conteúdos de cultura, comportamento e saúde, tanto para o impresso como para a internet.

Desde – Como é a vida cultural de São José do Rio Preto?

HF: Rio Preto, apesar de ser no interior, tem uma vida cultural pulsante como a de uma capital. Há muitos artistas e coletivos que fazem trabalhos primorosos, em todas as linguagens artísticas. A cidade é referência da cultura hip hop. É daqui o primeiro grupo de breaking dance feminino da América Latina e artistas dessa cena fazem mais sucesso fora do que na própria cidade. O teatro é vibrante, com um festival que está entre os principais do Brasil e pelo qual tive a oportunidade de ver coisas que não teria a chance se morasse em uma capital turbulenta (morar no interior é bom porque a contabilidade do tempo é outra; a gente consegue fazer muita coisa num mesmo dia, não fica perdendo tantas horas só se deslocando). Rio Preto foi a última morada de José Antônio da Silva, o maior pintor primitivista do mundo, que tem obras no acervo do MoMA, em Nova York; terra de Paulo Moura, um dos grandes instrumentistas do choro do mundo; de J.C. Serroni, cenografista de mão cheia; de Dib Carneiro Neto, jornalista e crítico de teatro infantil espetacular. Da televisão, tem Renata CeribelliFernanda RibeiroFernanda DumbraAndréa Bassitt. É tanta coisa, que seria necessário ter uma outra entrevista para contar tudo.

Desde – Você cursou Jornalismo no Centro Universitário de Votuporanga (Unifev) e se formou em 1998. O que te levou a escolher o curso? Por quê?

HF: Na verdade, meu sonho de criança era ser ator de teatro. Fui picado pelo bichinho do teatro ainda moleque, na escola pública, graças a professoras maravilhosas que tive. Em Votuporanga, na época de minha adolescência, havia uma mostra de teatro amador que movimentava escolas e grupos independentes, e isso acabou me motivando ainda mais a querer atuar nos palcos. No entanto, estava a 450 km de São Paulo, a capital, onde há o curso de artes cênicas da USP – Escolas de Artes Dramáticas -, e minha família não tinha condições de me bancar para que pudesse fazer o curso, que era em período integral. Paralelamente a isso, na adolescência, quando já rabiscava uns poemas na máquina de escrever, fui fazer um teste no jornal Diário de Votuporanga, fundado por Nelson Camargo, hoje já falecido. Eles publicaram um anúncio à procura de jovens que gostavam de escrever. Fiz o teste e fui aprovado na hora, começando a trabalhar no outro dia. Então, quando chegou a época do vestibular, eu já trabalhava em jornal e, diante da impossibilidade de ir para São Paulo, vi no Jornalismo a chance de poder continuar perto desse mundo das artes. E foi assim que ingressei no curso da Unifev. Ainda em Votuporanga, durante o curso, consegui criar o caderno de cultura do jornal que trabalhava, chamado Caderno Livre. Como sempre fui envolvido com a cena cultural de Votuporanga e da região, o que inclui Rio Preto, isso me facilitou não só para as pautas, mas também para falar a mesma língua que os entrevistados, não ser um peixe fora d’água. Tem dado certo, até porque hoje posso dizer que sou praticamente um dos poucos repórteres de cultura de Rio Preto.

Desde – Qual é a sua opinião sobre o jornalismo feito no Brasil atualmente? Por quê?

HF: De um modo geral, o jornalismo cumpre seu papel no País, apesar de todas as forças contrárias que recaem sobre nós, jornalistas, atualmente. Somos colocados em descrédito por essa onda obscurantista que ameaça a democracia do Brasil, sem contar as fake news, que passaram a pautar a vida das pessoas graças a força das redes sociais. Tanto no on-line como no off-line, há grandes veículos, que fazem um trabalho sério, pautado na checagem (que é algo que morreu na imprensa em geral). A questão é como fazer isso chegar até as pessoas, furar essa barreira das fake news e do estereótipo comunista que recai sobre os profissionais. Mas, o caminho é educação. Somente gente bem formada, com pensamento crítico, saberá buscar informação com credibilidade. Enquanto a ignorância prevalecer, nosso trabalho será hercúleo.

Desde – E o jornalismo cultural? O que precisa melhorar e o que merece aplausos?

HF: Minha experiência é de interior. Sempre atuei em cidades do interior, até mesmo quando morei no Ceará. Acho que, de forma geral, falta espaço para a crítica. No universo das artes, uma crítica bem feita é uma obra de arte em si. Mas isso fica muito restrito aos grandes veículos de imprensa. No jornal em que atuo, por uma questão ética pessoal (até porque sou meu próprio editor), privilegio o local, o artista local, o artista da nossa região, de modo a fazer com que a comunidade saiba quem são eles. E, claro, tento viver aquilo que escrevo. Já ouvi muito aqui que sou um dos poucos repórteres de cultura que privilegia os eventos de cultura. Mas é onde eu consigo pauta, né (risos). Marco presença em tudo o que posso, e isso não me rende só pautas, rende amigos para a vida toda. Como a cultura, assim como ocorre na sociedade, não é a editoria “top” de uma redação, boa parte dos veículos acaba só reproduzindo releases, para a alegria das assessorias de imprensa, que não são poucas por aqui (risos). Mas não dá, né. A gente tem que ir além. Eu gosto de evidenciar o humano que existe em cada manifestação artística. Por isso, vou atrás do artista para ouvir o “humano” por detrás da obra – as inquietações e experiências particulares que o levaram até aquela criação. Esse é o tempero que falta, acredito eu, na imprensa cultural, o aspecto humano.

Desde – Cobre cultura desde o começo da carreira? Tem predileção por essa editoria?

HF: Eu já fui repórter de economia logo que saí da faculdade, mas, em todos os lugares que morei, sempre busquei estar em contato com o teatro e as artes em geral. A identidade do meu texto pende para essa editoria, não tem mais jeito. Sou referência de jornalismo cultural e isso foi algo que sempre lutei para conquistar. É a minha vida, é o ar que respiro. Lembro-me de uma passagem do livro Inventário das Sombras, do José Castello, sobre a entrevista que ele fez com a Clarice Lispector. Ele chegou, ela perguntou se ele queria um copo de água, ele disse que sim. E sua primeira pergunta a ela foi: Por que você escreve? E ela foi certeira na resposta: Por que você bebe água? Para mim, isso define tudo. Jornalismo cultural é o que mata a minha sede existencial. Sem ele, acho que morreria desidratado.

Desde – Ainda falando de jornalismo, você foi repórter do Diário de Votuporanga (1995 a 1999), da Folha da Região, de Araçatuba (1999 a 2001), e já foi editor do jornal BOM DIA. O que aprendeu de significativo em cada uma dessas experiências?

HF: Cada veículo foi um degrau importante na maturação do meu texto. Quando saí de Votuporanga, meu texto não tinha identidade própria, era algo mais frio, eu não me colocava nele. E foi na Folha da Região que comecei a aprender a dar uma identidade para o meu texto, a me colocar nele sem ter que me manifestar em primeira pessoa. No entanto, acho que a lapidação que faltava veio do BOM DIA, rede de jornais que era chefiada pelo Matinas Suzuki Jr. Como a linha editorial do jornal era baseada em histórias humanas, no humano presente no fato, isso despertou meu olhar para detalhes que antes não prestava atenção quando ia apurar uma matéria.

Desde – Quais são os/as profissionais do jornalismo que admira? Por quê?

HF: Neide Duarte. Na redação, quando estou em crise criativa, costumo gritar: “Pelos poderes de Neide Duarte!”. Essa mulher é uma repórter única. Ela faz poesia, não reportagem. Ela pega uma pauta de aumento da tarifa de ônibus e tira algo lindo dela, algo de humano. Nunca fui fã de televisão, nunca quis ser o repórter do JN, mas Neide Duarte me encantava com suas reportagens, porque me mostrava que a vida pode ser poética mesmo nas horas mais dolorosas, mais frias. Também amo Gabriel García Márquez. E por razões óbvias (risos).

Desde – Quando começou a trabalhar no Diário da Região e qual o conceito do periódico em São José do Rio Preto? É o maior jornal da cidade?

HF: Diário da Região tem 70 anos de história e sempre foi o maior jornal de Rio Preto, mesmo em tempos áureos do jornalismo impresso, entre a década de 1980 e início de 2000, quando a cidade chegou a ter mais de cinco jornais. Hoje, o maior desafio do jornal é se estabelecer no ambiente onl-ine de forma efetiva. Estamos, sim, entre os maiores sites de conteúdo do interior paulista, mas é preciso fomentar outros produtos no ambiente virtual, pois as pessoas ainda não têm a cultura de pagar por conteúdo informativo assim como consomem Netflix. Temos hoje dois públicos distintos: o da faixa dos 20 aos 45 anos, que consome o onl-ine; e dos 50 aos 70 anos, que consome o off-line. São dois públicos distintos, que demandam abordagens e temas distintos também. É algo desafiador, ainda mais considerando o enxugamento que ocorreu nas redações dos impressos que conseguiram se manter com o advento da internet e das redes sociais.

Desde – No Diário da Região, você já fez de tudo, não foi? Guia do FindePapo Cultural… Esses dois programas não são mais produzidos? Por quê?

HF: A gente está experimentando bastante no ambiente on-line e esses produtos fizeram parte dessa experimentação. O Guia do Finde era um vídeo curto para servir de isca para um guia impresso e on-line que eu fazia todas as sextas, anunciando, de forma gratuita, as atrações musicais dos bares, boates e festas da cidade, além da área cultural e dos shopping centers (que são muitos aqui). Mas ele acabava não tendo tanta audiência no virtual, apesar do guia em si ser bem acessado. No entanto, a pandemia acabou ferrando com tudo, pois os bares ficaram fechados e eles representam 60% de todo o guia. Tentamos voltar agora, quando a cidade entrou na fase amarela, mas os números de casos aumentaram e a restrições sobre os bares também. Resolvemos segurar por cautela. O Papo Cultural foi outro experimento, que gostava muito de fazer. Até a Renata Sorrah participou, pois Rio Preto tem um dos maiores festivais internacionais de teatro, e ela esteve aqui em uma edição, indo até o jornal para dar entrevista. Foi inesquecível. A gente está agora estudando outros formatos, até porque as pessoas ficaram meio saturadas de lives e transmissões virtuais.

Desde – Você faz um jornalismo cultural bem interessante. Parabéns! Quais são os critérios para escolher as pautas?

HF: Nossa! Sou muito grato! Como disse antes, eu privilegio o local, o regional. Como artista do sertão paulista, sei o quanto é difícil conseguir divulgar seu trabalho de forma espontânea, e sempre acaba faltando recurso pra propaganda paga. Mas esse foco no local não é só por isso, sei do compromisso que tenho de registrar a história da cultura de Rio Preto, cidade que moro há 15 anos, para que esses artistas não sejam esquecidos depois de partirem. Sou porta voz de um momento histórico, isso é muito bacana. Mas é claro que tenho um olhar para o macro, o nacional, mas sempre pensando no meu leitor, como posso localizá-lo a respeito de algo que talvez ele não conheça. Rio Preto tem uma cena cultural forte. O Sesc daqui é incrível, e, graças a ele, tive a oportunidade de entrevistar grandes artistas que vieram para a cidade. E na abordagem com eles, tanto o local como a celebridade, procuro ser o mais afetivo e respeitoso possível. E isso gera uma intimidade muito bacana na conversa, pelo telefone ou presencial, e acabo conseguindo tirar aquele humano que tanto quero.

Desde – Qual é a sua opinião sobre o excesso de reprodução de release que é comum na editoria de cultura? Por quê?

HF: É uma “faca de dois legumes” (risos). O release cumpre um papel importante para o repórter se informar do “básico” de uma notícia, mas ele não pode ser considerado uma notícia em si porque foi produzido para a divulgar a verdade de um determinado cliente, seja empresa, instituição ou artista. Em Portugal, por exemplo, se um jornalista trabalha como assessor de imprensa, ele perde temporariamente seu registro, porque o pressuposto ético da profissão é a verdade pelo coletivo, a apuração dos fatos pelo bem comum e público, e teoricamente esse assessor não estaria atuando por esse viés. Por outro lado, as redações, principalmente dos impressos, estão cada vez mais enxutas, apesar de o volume de produção de conteúdo não seguir a mesma tendência. E é aí que mora o perigo, pois, no afã de dar conta de produzir todas as suas pautas, o repórter pode acabar fazendo o famoso “esquentar release” para entregar tudo a tempo. Isso acontece comigo também. Tento criar uma hierarquia entre as pautas, pensando sempre no leitor, e a partir disso investir energia naquelas mais importantes, enquanto outras eu aproveito apenas o que está no release. É preciso ter senso crítico e um pouco de empatia também. Não dá para só reproduzir release, como é difícil fazer todas as pautas da programação com o mesmo aprofundamento.

Desde – Você  também é ator e diretor de teatro. Como se deu o encontro com as artes cênicas?

HF: A escola foi muito importante. Lembro a primeira vez que subi no palco para recitar um poema. Aquilo foi um turbilhão de emoções tão grande que me impactou de forma muito profunda. Sou ator profissional, mas não fiz faculdade, conquistei meu registro por experiência de trabalho. Mas, ao longo da vida, fiz muita oficina, cursos e, claro, participei de inúmeras montagens teatrais, com artistas que admiro muito e sinto saudades, pois alguns já partiram. Em Votuporanga, minha cidade natal, a cena cultural de meados dos anos 1980 e anos 1990 era muito bacana, e havia uma mostra de teatro que acabava mobilizando a formação de grupos. Comecei participando pela escola e quando vi já integrava um grupo, o Sem Tempo Nem Vento. Nunca parei de fazer teatro e, em todos lugares que morei, esses espaços culturais era onde ia para poder conhecer as pessoas. Como diretor, fiz poucas coisas, gosto mesmo é de atuar. Agora, estou começando a descobrir o audiovisual. Fiz um curta muito bacana com uma galera daqui de Rio Preto, O Homem de Bem, e outro com um diretor local [Lâmpadas Fluorescentes sob os Olhos das Cobras-Cegas, de Alexandre Estevanato], que já fez trabalhos com nomes como Nicette Bruno e Milton Gonçalves. Também faço bastante comercial de televisão, principalmente papéis engraçados. Não me vejo fazendo outra coisa no futuro. E quando ficar velho, farei papel de idoso (risos).

Desde – Quais foram os espetáculos mais marcantes da sua carreira nessa área?

HF: Woyzeck, o personagem oprimido de George Büchner, é praticamente um alter ego em minha vida. Tive a oportunidade de vivê-lo em três ocasiões, e em uma era uma releitura caipira, trazendo os elementos da cultura popular do interior paulista para a obra do dramaturgo alemão, dirigida pelo saudoso Deco D’Antonio, meu grande diretor em Votuporanga. Um votuporanguense que viveu a efervescência cultural da São Paulo dos anos 1970 e 1980, fez artes cênicas na USP, foi carnavalesco da Vai-Vai e que tinha um olhar anárquico para a vida que era só dele. Cada espetáculo que fiz teve algo de especial. É difícil pontuar. Mas tenho uma certa sina de ser convidado para personagens psicologicamente atormentados, que não são necessariamente o vilão, mas beiram a isso. E eu adoro. Gosto de mergulhar na psicologia do personagem, de construir camada por camada de sua mente.

Desde –  Além da Cia. Ir e Vir e da Cia. do Santo Forte, você já integrou quais outros grupos de teatro?

HF: Em Rio Preto, sou um ator com dupla cidadania (risos). Não sou fixo a um grupo, mas tenho um carinho especial pela Cia. Ir e Vir, fundada pelo diretor Tiago Mariusso, pois acabamos fazendo muitas produções seguidas uma da outra. Meu trabalho mais recente, no virtual, foi com a Cia. do Santo Forte, da diretora Tauane Santo Forte e do ator Daniel Santo Forte, que fazem uma pesquisa linda em torno dos arquétipos da cultura africana, dos orixás, das danças de terreiro. É gente que já admirava e fiquei muito feliz quando fui convidado para trabalhar junto. Montamos Zona Contaminada, peça do Caio Fernando Abreu, que é dos anos 1980, mas parece que foi escrita para os dias de hoje. Em Rio Preto, já tive a oportunidade de trabalhar com outras companhias excelentes, como a Cia. Palhaço Noturno (Ricardo Matioli), a Cia. Fábrica de Sonhos (Guido Caratori e Drica Sanches), a Cia. Fulano de Tal (João Paulo Rillo), que faz uma Paixão de Cristo belíssima há mais de 20 anos e que, há quatro, tenho a honra de viver o Papa Francisco. É algo emocionante, pois todas as falas são do próprio Para Francisco.

Desde – Como é ser notícia no jornal em que trabalha? E quais cuidados você toma nesse sentido?

HF: Nossa! Que pergunta fantástica! É algo que me preocupa muito, pois procuro ser o mais ético possível em todas as minhas atitudes, seja pessoal ou profissional. Primeiramente, sou muito grato à diretoria do Diário da Região por me permitir desenvolver meu trabalho como ator na cidade. De forma prática, não escrevo as matérias que me envolvem e, se a pauta me envolve, aplico o mesmo filtro de importância que faço com todas. E é claro, não acabo sendo o entrevistado, função geralmente que fica para o diretor ou diretora da peça. Evito ao máximo aparecer. Até a foto da matéria acabo privilegiando outros integrantes da produção. Mas esse é um tipo de julgamento que não sofro aqui, e deve ser porque as pessoas sentem essa preocupação na minha postura.

Desde – Muita gente que até é próxima do artista só prestigia o trabalho dele quando ganha o ingresso ou paga meia, através de “lista amiga”. A “indústria da cortesia” vai ter fim?

HF: Na área cultural, por aqui, não rola tanto isso. Tem um personagem ou outro. Mas quando o assunto é festa, aí tem muita gente que quer carteirar. E só aceito a cortesia se fiz algo para ajudar a divulgar o evento, seja a peça ou a festa. Mas é claro, acabo ganhando o livro, até para poder ler antes de escrever a matéria. Acabo sendo convidado para assistir a um ensaio fechado antes da estreia de uma peça, mas são coisas inerentes à minha profissão. Na cidade, muita coisa acaba sendo de graça, pois é feita com apoio de leis de fomento. E boa parte da programação de instituições como Sesi e Sesc é de graça. Mas eu tenho esse pressuposto ético que não me permite “aproveitar” da situação para entrar de graça. Penso que a grana do ingresso é importante para o artista porque sou artista também. É saber equalizar.

Desde – Além do conto A Mosca, tem outros textos literários? Quais?

HF: Nossa! A Mosca nasceu durante a faculdade, estudando as estruturas da narrativa. Confesso que depois disso fiz pouca coisa na seara da literatura, e sou cobrado por muita gente a todo momento. Parece que o texto do jornalismo me deixou objetivo demais para me arriscar na literatura, por mais que eu a persiga quando escrevo uma reportagem. Mas ainda estou devendo mais criações literárias. Uma novidade ligada à literatura é o Horas Malditas, um podcast de leituras dramáticas comentadas que vou lançar com um grande amigo, o professor e pesquisador em literatura André Gomes Ogùnkeyè. Fizemos algumas experiências com lives, mas chegamos à conclusão que o podcast é o formato ideal. A ideia é aliar meu talento como ator e o talento do André como pesquisador para colaborar na ampliação do repertório de leitura das pessoas, apresentando nomes e perfis de escritores historicamente marginalizados na literatura brasileira e mundial. Criamos um perfil no Instagram (@horasmalditas) e agora em janeiro vamos lançar o primeiro podcast.

Desde – Quais dramaturgos/as são referência para você? E atores/atrizes?

HF: Nossa! É tanta gente, tanta coisa boa que já tive contato nessa vida, seja como espectador, leitor ou entrevistador. Eu elegeria a Fernanda Montenegro, um patrimônio cultural brasileiro, que, infelizmente, foi muito atacada recentemente.

Desde – Quando é que nasceu o Harlen DJ?

HF: Eu sempre gostei de música. Teve uma época que queria ser crítico de música, tipo o Simon Reynolds (risos). Na verdade, um casal de amigos muito queridos, a Carol Escabin e o Ronaldo Vilerá, montaram um pub há quatro anos na periferia de Rio Preto, o Barteliê Gastrô. Ao longo de quatro anos, criamos um conceito muito particular de bar, unindo experiências para além da bebida e da comida. Foi algo incrível, que infelizmente acabou, mas mantivemos o nome como plataforma criativa. Como era um espaço pequeno e não tínhamos tanta grana para contratar atrações musicais todos os fins de semana, eu comecei fazendo as vezes de DJ Set. A coisa ganhou outras proporções e, quando vi, estava discotecando no Festival Internacional de Teatro, em vernissagens, em festas particulares. Sempre sou elogiado pela seleta de músicas que faço. Mas não sou DJ produtor, sou um curador musical para festas (risos).

Desde – O Brasil é muito grande, mas dá para dizer quais manifestações da nossa cultura mais te impressionam?

HF: O Brasil é um mosaico psicodélico de manifestações populares, que, infelizmente, são pouco valorizadas, e algumas ameaçadas de se perderem por falta de interesse das novas gerações. Eu me afeiçoo com as coisas do meu terreiro: é a moda de viola caipira, a pintura primitivista, ingênua e naïf, o artesanato da palha de milho, a dança da catira, a Folia de Reis, que, aliás, são variações de manifestações que ocorrem em outras regiões desse país de dimensão continental. Quando chego a uma cidade, é através dessa cultura popular que gosto de conhecê-la, além de aparelhos culturais como teatro, museus e casas de shows. É a melhor forma de se conhecer um lugar.

Desde – Você escreve também para a revista Vida & Arte? Ela completou 16 anos em 2020 e, pela pesquisa feita, constatamos que era distribuída gratuitamente no início. Ainda continua assim? Como o jornal consegue mantê-la?

HF: Hoje, não escrevo mais para a revista, pois fui colocado no impresso e na web. É uma revista que segue a linha das grandes publicações voltadas para a moda e comportamento. Ela não é distribuída gratuitamente, mas sim é disponibilizada gratuitamente aos assinantes do jornal. Ela sofreu uma mudança de formato há alguns anos, ganhando um foco mais voltado à saúde e negócios. Rio Preto é um grande polo de saúde, que atrai pessoas de todo o Brasil.

Desde – Quem era o Harlen de dez anos atrás?

HF: O Harlen de dez anos atrás era um cara que já tinha escolhido a sua morada finalmente, Rio Preto, e que trabalhava quase 24 horas por dia porque não sabia dizer não e achava toda proposta de projeto interessante. Hoje, estou mais desacelerado, até porque a saúde pede. Mas fui uma criança hiperativa e ainda tenho resquícios disso (risos).

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