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Gravado ao vivo: o caso Mastruz com Leite

Capa do 1º CD ao vivo da banda Mastruz com Leite: um clássico. Imagem: reprodução do site Forró das Antigas

Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||

Na década de 90, do século passado, a indústria fonográfica do Brasil apostou num novo gênero de álbum: o “ao vivo”. Vários cantores e bandas entraram nesse filão e lançaram os seus trabalhos. É que o CD gravado “ao vivo”, além de ter sido uma novidade para a época, era garantia de sucesso. O formato reunia poucas músicas inéditas, mas resgatava aquelas canções do repertório do artista que todo mundo gostava e sabia cantar. Então, não tinha erro. É praticamente o que alguns artistas da cena atual da música fazem ao gravar um DVD atrás do outro. Ou seja, na falta de criatividade, lança-se um “museu de grandes novidades”.

A banda cearense Mastruz com Leite gravou o seu em 1997, no Parque de Vaquejada da Fazenda Mastruz com Leite, em Pentecoste, no Ceará. O disco, que é um clássico na história do grupo, saiu pelo selo SomZoom Studio e teve direção artística de Emanoel Gurgel (o mentor da banda). De fato, a gravação ficou muito boa. Isso se deve pela escolha do repertório e pela competência dos vocalistas daquela formação: Kátia CileneFrançaAduilio MendesBete Nascimento e Tony Silveira. De acordo com informações do site Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, o CD vendeu um milhão e meio de cópias.

O álbum começa com um pot-pourri vibrante, que inclui as músicas Na Ponta do Pé e Forrobodó, ambas de Luiz Fidélis. A partir daí, a sequência musical faz o ouvinte se sentir naquele show, que foi gravado nos dias 5, 6 e 7 de setembro. Ao todo, Mastruz com Leite Ao Vivo I tem 21músicas. Canções como Rock do Sertão (Luiz Fidélis), Meu vaqueiro, Meu Peão (Rita de Cássia), Leito da Saudade (Ferreira Filho/Rômulo César/Cláudio Mello), Meu Estrangeiro (Rita de Cássia) e Flor do Mamulengo (Luiz Fidélis) figuram na obra. Destaque também para Meio-Dia (Luiz Fidélis/Danilo Lopes), sucesso do CD Rock do Sertão, de 1994. Na letra, um discurso forte, que fala de seca, dificuldades e esperança. O pot-pourri com Filha do Sol e Os Dez Mandamentos, as duas compostas pela dupla Dadá di Moreno e Jeová de Carvalho, merece ser ouvido, e com empolgação. O xotezinho Noda de Caju (Luiz Fidélis) é outra preciosidade do disco. A obra termina com mais um pot-pourri, dessa vez incluindo as divertidas músicas Cabeça com Bob’s (Eliezer Setton/Elizete Setton) e Barriga Crescida (Eliezer Setton).

Atualmente, a Mastruz com Leite não é nem de perto aquela banda que fazia um forró com dedicação, fincado nos ensinamentos de Luiz Gonzaga. Hoje, o grupo é congênere da péssima Avioẽs do Forró (é bem difícil encontrar o forró ali). Fica a lembrança.

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CLIMA JUNINO TOMA CONTA DA FACOM

ICultura

Hoje, quem chegou à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA), percebeu algo diferente: o prédio estava decorado num clima junino, com direito a bandeirolas e correntes de papel crepom. Tudo isso foi feito para abrilhantar a segunda edição do AgenciAÇÃO, evento promovido pela Agência Experimental, instância universitária. E, para surpresa dos organizadores, muitos faconianos, sem combinação prévia, foram para a faculdade de camisetas e blusas com estampa quadriculada. A intervenção cultural, que este ano teve a festa de São João como tema, trouxe para a comunidade universitária atrações de diferentes comunidades de Salvador. A primeira a se apresentar na área externa da Facom foi a banda Forrossá, oriunda do bairro São Caetano. Criada em 2010, a Forrossá abriu o arraiá num clima bem intimista e durante o show tocou sucessos de Luiz Gozanga, Flávio José e Adelmário Coelho. O vocalista Pretto Trindade, 22 anos, formado em música pela UFBA, elogiou a ação: “É muito interessante ter este contato cara a cara com pessoal”. O cordelista Luar do Conselheiro, 27 anos, do bairro Boca do Rio e uma das atrações do AgenciAÇÃO, também aprovou a iniciativa dos membros da Agência Experimental. ” Eu acho que juntar o acadêmico e o popular é o que existe de mais atual”, opinou. Luar deixou sua marca no evento ao declamar o cordel “A história fará a sua homenagem à figura de Antonio Conselheiro”, do repentista pernambucano Ivanildo Vila Nova. Além disso, ele criou o cordel ABC do AgenciAÇÃO, que foi distribuído para as pessoas que prestigiaram o evento. O forrozeiro Jó Miranda, 31 anos, veio do Cabula para mostrar aos universitários o forró de raiz. A sua participação no evento foi bem peculiar, uma vez que tocou muito forró instrumental. Para ele, a intervenção foi importante pela visibilidade que deu às atrações. “O AgenciAÇÃO é totalmente válido, possível e bom para a cultura em geral. Tanto pra quem toca quanto pra quem prestigia, já que grande parte da mídia não dá espaço pra gente”, desabafou. Última atração do evento, a banda Flor do Cangaço, liderada pela vocalista Juciara Carvalho, 47 anos, tocou clássicos do forró e apresentou a música de trabalho Com os olhos cheios d’água, composta por Alexandre Leão,Targino Gondim e Manuca Almeida. Oriunda do bairro Caminho de Areia, a Flor do Cangaço já participou de outras experiências semelhantes ao AgenciAÇÃO, como afirma Juciara: “A gente já fez parcerias com o SESI (Serviço Social da Indústria) e participamos do projeto Amigos do Madragoa, que apresenta uma mistura musical de chorinho e forró. Fazer parte do AgenciAÇÃO foi maravilhoso e gratificante”.

Toda a Facom parece ter entrado no clima de São João e, para trazer ainda mais esse universo para a faculdade, os organizadores apostaram em brincadeiras tradicionais, como o Correio do amor. Comidas e bebidas típicas também não faltaram na intervenção cultural. O evento atraiu estudantes de outros institutos da UFBA, como André Amorim, de 23 anos, que cursa oceanografia. “Eu gostei de tudo que vi a acho a proposta muito válida”, avaliou. Houve elogios de gente da própria Facom, como os de Eduardo Coutinho, 19 anos, estudante de jornalismo. “A proposta do evento é legal, foi bem organizado e é o que faltava na Facom. Acho que deveria acontecer mais de uma vez no semestre”, sugeriu.

A Agência Experimental em Comunicação e Cultura conseguiu, mais uma vez, unir a cultura comunitária de Salvador com o ambiente universitário. Fez isso de uma forma muito competente e transformou o AgenciAÇÃO num evento obrigatório dentro da Facom. Agora, é só esperar os próximos passos. O caminho da roça já foi aberto.

# Visite o site da Agência Experimental em Comunicação e Cultura da UFBA: www.agencia-experimental.blogspot.com.

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