A era é do nada e do esvaziamento. Por mais contraditório que pareça, a sociedade da informação vive desinformada. A palavra eleita para preencher essa lacuna? Incrível. Pois é! Tudo é incrível! Ou melhor, quando não se tem o que dizer, diz-se que algo é incrível e ponto. Resolve. Saco vazio, ao contrário do que dizem, fica em pé; e por muito tempo.
Na comunicação, isso é muito comum. Recentemente, um apresentador de TV daqui de Salvador, ao fazer a cobertura ao vivo de um show que unia dois expoentes do forró tradicional, soltou: “O show tem um repertório incrível!”. Limitou-se a isso. Ele não tinha mais o que falar. Ou não sabia, coitado. Talvez, por viver numa era de poucas exigências, nem se preocupou em pesquisar sobre os artistas, a fim de conhecer melhor o universo de cada um. No fundo, não era necessário. Ele sabia que não seria cobrado. Nem pelo público nem pelo seu chefe. O jogo virou. Agora, é a vez da superfície. É incrível!
Na vida, isso está presente o tempo todo. Por exemplo: ao ser convocada para dar uma opinião acerca de um produto cultural, pela falta de repertório não assumida, a pessoa limita-se a resumir tudo num sonoro “incrível”. Falar que não conhece, no pensamento dela, é pior, vale mais ser uma repetidora do adjetivo que caiu nas graças do povo. Outro bom sinal do “incrivilismo” fica evidente quando o espectador sai de um espetáculo de teatro ou dança, cujo conteúdo não ficou, assim, tão compreendido na cabeça e, na falta do que falar quando o amigo que estava em cena indaga sobre o que ele achou, o “incrível” aparece.
De incrível em incrível, a pessoa enche o papo. Fica bem na fita, finge enganar a audiência, que finge acreditar, e tudo permanece como está: incrível!
Sigamos.