Cantora, compositora, escritora, poetisa e videomaker: as várias facetas de Nalini Vasconcelos
Nalini Vasconcelos: artista por natureza. Crédito: Bruno Ruas
Você conhece alguma pessoa que faz várias coisas e não consegue dizer, com precisão, qual é aquela que mais gosta?
Nalini Vergasta de Vasconcelos é essa pessoa. Nalini compõe, canta, escreve, faz produção de vídeos e tem dificuldade para escolher qual atividade ela gosta mais. “Eu não consigo escolher. Talvez a música puxe uma coisa mais interna de mim. Mas eu não consigo viver sem escrever e adoro fazer vídeos, porque puxa toda a minha criatividade e minha linguagem videográfica das coisas. Então, eu gosto de tudo!”. Esse “gostar de tudo” tem a arte como alicerce. Tanto é que Nalini afirma que a sua vida não existiria sem ela: “A arte é, realmente, uma coisa libertadora. Contemplar a arte é a coisa mais gostosa que tem, fazer arte é melhor ainda. Não viveria sem arte”. E Nalini tem poesia no próprio nome, fruto da filosofia indiana seguida pelos seus pais. “Nalini é a tradução de ‘flor de lótus’, no sânscrito. Essa flor nasce nas aǵuas lamacentas, onde as sementes ficam. Isso, no hinduísmo, mostra que a beleza pode brotar de qualquer circunstância. No início, eu não gostava muito do nome, porque é diferente e ninguém acertava falar. Depois, percebi que me diferencia um pouco do comum, dando um destaque natural”.
Desde pequena
Nalini convive com a arte desde pequena. Crédito: Bruno Ruas
Quem pensa que toda essa inclinação de Nalini para as artes teve influência familiar, engana-se. Os pais são acadêmicos da área de exatas. A mãe, Elinalva Vergasta, é matemática; e o pai, Dionicarlos Vasconcelos, PhD em física. Os irmãos Larriri e Rajasí são, respectivamente, designer gráfico e profissional de marketing. Embora eles atuem como músicos (Larriri, inclusive, é baixista da banda Radiola e faz parte da banda da cantora Marcela Bellas), Nalini diz que caiu na arte por conta própria. “Meu pai tinha um harmônico indiano e comecei a tocar sozinha, quando era muito pequena. Tinha também uns vinis dos Beatles lá e eu ficava vidrada, sem entender o que era aquilo. Não tive nenhuma influência familiar para cair nas artes, mas acabei me encontrando nesse caminho artístico”. Contudo, Nalini tem consciência de que trilhar esse caminho não é fácil, uma vez que a valorização artística é uma temática que não tem tanta atenção na sociedade. “A gente precisa de um emprego, de um trabalho que dê rentabilidade, precisa fazer vestibular. Então, a gente cresce nesse clima tenso de ter sucesso, entre aspas, na vida. Sucesso é uma coisa muito relativa. Para mim, sucesso é autorrealização. Claro que você precisa de conforto, dar educação aos filhos [ela é mãe de Breno, de 10 anos; e Nuno, de 8], isso requer um apelo financeiro. Mas você precisa encontrar a sua essência e isso eu descobri desde pequena”, desabafa.
A essência de Nalini é a arte. Isso fica evidente na sua personalidade. Mas ela também passeia por outros caminhos. É formada em Administração em Sistemas de Informação pela Faculdade de Tecnologia Empresarial (FTE) e é mestre em Modelagem Computacional e Tecnologia Industrial pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Em 2015, pretende fazer doutorado, em educação, também pelo SENAI. Além disso, já trabalhou em banco, teve uma produtora de vídeo e passou 15 anos atuando nela. No início da internet, trabalhou como web designer. De 2011 a 2012, coordenou a equipe da TV Anísio Teixeira, um dos projetos da Rede Anísio Teixeira. Atualmente, trabalha com produção multimídia voltada para eduacação a distância, no SENAI CIMATEC (Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia).
Nalini musical
Em 2013, Nalini lançou o seu primeiro trabalho musical, Unless, com cinco faixas. No EP autoral, predominam canções em inglês. A cantora explica: “Acho que é porque eu ouvi muito Beatles quando era pequena e muito rock inglês. Na adolescência, ouvia punk rock e rock inglês mais depressivo. Aí, eu acho que na hora de você externar uma produção sua, isso acaba vindo processado de alguma forma”. Em janeiro de 2015, sai o CD Plongée, trabalho que representa o mergulho de vez da artista no universo da música. “Eu gosto muito das câmeras focadas de cima e a representação do mergulho. Por isso, coloquei esse nome. É bom que várias pessoas lembram logo do cinema. Era isso que eu queria”. O álbum de oito faixas autorais tem produção de Jorge Solovera, músico e produtor musical que já trabalhou com nomes como Lazzo Matumbi, Maglore, Ricardo Chaves e Teclas Pretas. Diferentemente de Unless, Plongée terá mais canções em português. “Tem cinco em português e três em inglês, mas isso não foi pensado. Tinha mais músicas em português dessa vez”, esclarece.
Nalini no estúdio: habitat natural. Crédito: Marcelo Rios
Ainda assim, o que Nalini gosta de ouvir mesmo é rock inglês. “Mexe com meu sangue, vem das vísceras”. Bandas e artistas estrangeiros são as suas maiores influências. Nesse sentido, destaca Camera Obscura, U2, Beatles, Keane, Coldplay, Jakob Dylan e Zaz. Do cenário nacional, gosta do trabalho de Los Hermanos e começou a ouvir Fernanda Takai. “Me disseram que a minha voz parece com a dela. Não ouço a fundo, mas tenho como referência”. Cresceu ouvindo o rock nacional dos anos 80 e adora Legião Urbana. Da música baiana, admira Rebeca Matta, Cascadura, Marcio Mello, The Orange Poem, Teclas Pretas e Teenage Buzz. “Eu não odeio nada não. Vou conhecendo os novos sons e fico com o que me afino”, faz questão de ressaltar.
Literatura
Nalini na Livraria Cultura, na noite de lançamento de Amores, Rumores, Traumas e Flores. Crédito: Alex Romano
“Desde pequenininha, eu fico inventando histórias, desenhos e tal. Adorava escrever. Tinha esse sonho de ser escritora”. O sonho se tornou realidade na vida adulta. Apenas neste ano, Nalini lançou três livros: Amores, Rumores, Traumas e Flores, de poesia; Um Dia na Cidade, de contos colaborativos, do qual é a organizadora; e Web Doc: construção colaborativa de vídeo documentos para web, de cunho científico, fruto de sua dissertação de mestrado. Na internet, alimenta com seus textos o Blog de Versos, criado na plataforma Tumblr.
Para escrever as poesias, Nalini tem como referência os escritores Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Clarice Lispector e Paulo Leminski. “Ele é bem doido. Eu gosto muito do jeito de ele escrever. É muito parecido com o que eu busco. Então, é uma referência forte”.
Nalini se descreve como uma pessoa muito tímida. “Sempre estive atrás das câmeras, como viedeomaker. Agora, estou tendo que experimentar estar na frente das câmeras. É um desafio, porque é uma coisa muito nova e eu não sou mais novinha [ela tem 39 anos]. Então, para descontruir muita coisa agora, é difícil, mas a minha paixão pela arte é tão grande, especialmente pela música, que eu me jogo”. Por outro lado, se define como uma pessoa traquina. “Sempre fui sapeca, brincalhona, mas tímida. Se botar um público… Mas é tudo muito divertido. A gente está aqui para se divertir. Com cuidado, claro, sempre pensando no coletivo. Mas é o que torna a vida mais leve”. Nalini é, literalmente, cheia de arte. Que ela transborde para o mundo!
Um verso que ela gosta…
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada”, de Clarice Lispector.
Marcelo Rios
Crédito: Autorretrato
“Testemunhar o talento de Nalini, para mim, é um presente. Os seus trabalhos musical e literário são permeados pela delicadeza e intensidade de uma alma inquieta – e é difícil encontrar alguém com esse brilho próprio hoje em dia. Quando tive o privilégio de assistir, fotografar e filmar uma de suas gravações, fiquei impressionado no modo como ela é capaz de criar um forte campo magnético em seu redor: era quase possível sentir a energia eriçando os pêlos – sensação que a sua música e seus textos conseguem reproduzir de forma singela. Leiam, ouçam o que Nalini produz: é algo ímpar”.
Jana Vasconcellos
“Conheci Nalini na casa de amigos em comum e realmente não imaginava que estava em frente à uma artista plural. A forma com que ela expõe seus sentimentos de alegria, melancolia, amor, desilusão, dentre outros tantos, faz com que a sua obra seja muito bem construída dentro da simplicidade e beleza. Além do grande talento que nos presenteia, ela é uma pessoa que todo mundo gostaria de ter ao lado. Vida longa, poetisa!”.
Convidada: Nalini Vasconcelos
Data da entrevista: 14/12/2014
Local: Praça Jorge Amado, Imbuí (Salvador-BA)