Em 1997, o grupo Só Pra Contrariar (SPC) lançou um CD que ficaria marcado por toda a sua trajetória: Depois do Prazer (BMG). O disco foi produzido pelo então vocalista Alexandre Pires e por Romeu Giosa. A direção artística teve a assinatura de Sérgio de Carvalho. Para quem é romântico e gosta de música que fala de amor e de relacionamento, Depois do Prazer é uma excelente referência.
O CD é repleto de sucessos e, de acordo com informações do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, vendeu mais de três milhões de cópias no Brasil. A obra tem músicas com boas letras e arranjos muito bem executados. A começar pela faixa que dá título ao CD. Composta por Chico Roque e Sérgio Caetano, a música Depois do Prazer mostra a complexidade humana no âmbito dos sentimentos. A letra traz versos que, aparentemente, soariam controversos; mas, no fundo, todo mundo sabe que eles revelam uma verdade muito possível: “Tô fazendo amor com outra pessoa/Mas meu coração vai ser pra sempre teu/[…]/Posso até gostar de alguém/Mas é você que eu amo”. Na faixa seguinte, Tá por Fora (Adalto Magalha/Lourenço), o mote é o desgaste de uma relação, embora o eu lírico não queira dar o ponto final no enlace: “Amor, nosso amor anda meio doente/Dando a impressão que está tudo acabado/Nossa felicidade já não anda contente/E não nos olhamos tão apaixonados/[…]/Dizer adeus a quem se ama/Tá por fora”.
Com Mineirinho (Alexandre Pires/Lourenço), o SPC mostra que o samba é a base do som da banda. Isso se repete em Doido Varrido e Artilheiro do Amor, que também são composições de Alexandre Pires e de Lourenço. Mineirinho tem uma malandragem comum ao universo do samba e a letra reforça o estereótipo do mineiro “come-quieto”: “Eu não tenho culpa de comer quietinho/No meu cantinho, boto pra quebrar/Levo a minha vida, bem do meu jeitinho/Sou de fazer, não sou de falar”. Doido Varrido, como o próprio título já entrega, fala de alguém que está amando de forma exacerbada, que está doido de amor. Para encerrar a trilogia de letras divertidas do CD, eis que surge Artilheiro do Amor. A música usa uma metáfora simples, mas a letra criativa a enriquece: “A galera me disse que nunca viu ela tão empolgada/Mas eles querem saber qual será a minha jogada/Eu sei que esse gol não será fácil de marcar…”.
Quando é Amor (Carla Morais/Chico Roque) apresenta sentimentos típicos de quem está apaixonado e é o retrato de um romantismo próprio do SPC: “A gente sente, é pra valer/O corpo treme todo, a voz não quer sair/Não dá pra disfarçar, os olhos não conseguem mentir”. Minha Metade é uma versão da música Take Me Now, de David Gates, feita pelo compositor Luiz Cláudio. A letra reflexiva mostra um eu lírico em busca de sua metade, com a esperança de não mais sofrer por amor. O arranjo e a melodia são primorosos. Assim como os de Você de Volta (Alexandre Pires/Marquinhos). Contudo, nessa, o mote é outro. O personagem quer ser perdoado porque menosprezou um alguém que vivia aos seus pés: “Amor, não dá pra te esquecer/Tô sem razão, só te fiz sofrer/O teu perdão, pra mim, tem gosto de prazer…”. Em Tem Tudo a Ver (Peninha), o SPC descreve a sensação de quem, sem aviso, é fisgado pelo amor: “[…] Foi, quem sabe, o teu sorriso/Quando esbarrou comigo/Esse amor foi me pegando/Sem aviso”. Com Amor Verdadeiro (Luiz Cláudio/Regis Danese), o CD chega ao ápice do romantismo. É uma declaração de amor daquelas que pouca gente resistiria. Os primeiros versos dizem: “Olhe dentro de mim/Você pode se ver/A todo momento”. Demais, não é?
Caminhando para a parte final do disco, o ouvinte é brindado com Mistérios do Coração (Luiz Cláudio/Regis Danese). O tema é um término de relacionamento: “Só o tempo pra dizer/O que vai acontecer/Minha vida, sem você, como será?”. O arranjo, como o da maioria das músicas, é muito bem feito. A propósito, essa é uma qualidade presente em todo o CD. Pura Verdade (Alexandre Pires/Lourenço) e Nosso Amor (Luiz Barbosa/Reinaldo Barriga) não são propriamente ruins, mas destoam das outras canções da obra. Caí na Real (Luiz Cláudio/Regis Danese), uma das melhores músicas de Depois do Prazer, é outra declaração de amor extremamente romântica; basta apenas um verso para comprovar isso: “Te amo além do que o amor é capaz de amar”. Menina Mulher (Alexandre Pires/Marquinhos) conta a história de alguém que não percebia que era o objeto do desejo de uma menina. Porém, quando ela vira mulher, o amor é notado e correspondido: “Me dá todo amor que sempre escondeu no peito/Foi surpresa, fiquei tão sem jeito/Eu que não via nem o seu olhar/Que sonhava um dia, quem sabe, me amar”. A música é boa e narra algo que, certamente, acontece com frequência no cotidiano.
Depois do Prazer é um clássico na discografia da banda Só Pra Contrariar. Vale a pena escutar as músicas. Se for a dois, é melhor ainda. Depois, você nos confidencia se foi ou não um prazer.