Crônica, Cultura, Desde Já, DEZde, Jornalismo Cultural

Se o meu inbox falasse…

Imagem: reprodução do site Harvard Business Review

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Já pensou sobre isso? Se o seu inbox falasse, o que ele diria? O que ele diria sobre o você que você já foi e sobre o você que você é? Outro dia, parei para ver algumas mensagens privadas que recebi (e recebo!) e foi um exercício muito divertido. Repensei muitas coisas, considerei outras, fiquei constrangido com coisas que escrevi e com coisas que li. É, de fato, uma viagem muito interessante, porque o inbox é o banheiro da rede social digital, não é? Não é à toa que essa parte é “privada” (por favor, ria desse trocadilho infame!😂😂😂). Nele [o inbox], tudo é mais íntimo, fala-se sobre todos os assuntos e você se sente muito mais à vontade do que na timeline. Não que você crie uma personalidade pública “arrumadinha” e uma privada “desarrumada”, mas tudo contribui para a intimidade ser mais presente no inbox e você falar coisas que não falaria publicamente. E já que fiz uma associação anterior com uma parte da casa, pergunto: você já lavou roupa suja pelo inbox? Eu já.

Lavei bem lavada e não me arrependo. Foi importante. Por aqui, tudo é válido e faz crescer. Tudo é válido e forma o ser. Filosofias à parte, discutir por inbox é muito comum e é visto como uma postura mais educada, porque ninguém fica exposto. Pode ser… Não tenho tanta certeza disso. Enfim… No meu caso, foi uma discussão sobre o fazer jornalístico. Sempre estou atento a isso e acho que refletir sobre a prática é dever de todo e qualquer profissional. E rolou muito print para ajudar na argumentação, citações acadêmicas. Foi coisa séria. Em todos os sentidos!

Essa varredura pelo inbox me estimulou a fazer uma experiência: recordar conversas que tive com uma pessoa específica, que nunca mais interagi. É incrível como a gente se distancia e, ao mesmo tempo, se reconhece muito naquilo que a gente escreveu há quatro, cinco anos… Vi os pontos de semelhança com a pessoa, as nossas diferenças, os nossos anseios, a torcida mútua. Entretanto, no fundo no fundo, concluí: era uma relação fadada ao insucesso. Não ia adiante. Como não foi. Menos um amigo.

Se o meu inbox falasse, ele ia falar de divulgação de oportunidade de trabalho para aquele colega da época da faculdade que gostava de arte; de estímulo para que a pessoa corresse atrás do sonho que tinha; de briga, conflitos, discussões; de muitas risadas e segredos; de início de namoro, convites, coisas que não podiam ser ditas nem divulgadas ainda; de falta de respostas, tanto minha quanto dos interlocutores (não por maldade. Por não ter visto ou não ter lembrado de responder mesmo!); de organização de trabalho de alguma disciplina; de novidades da vida pessoal e profissional; de coisas que só podiam (e deviam) ser ditas por ali; de frieza, ajuda e estímulo mútuos; de perrengues, carinho e atenção; de papo cabeça, debates acadêmicos; de marcação de encontro em turma ou individual, para jogar conversa fora; de indicação de trabalho; de muitos links sobre tudo; de investigações, compartilhamento de angústias, convites para projetos…

O meu inbox me faz rir em vários momentos, refletir e até ficar triste. A gente pensa nas coisas que já aconteceram, nas respostas dadas, nos motivos de distanciamentos e de aproximações. “Se o meu inbox falasse…”, inclusive, seria um bom mote e nome para espetáculo de stand-up comedy. Acho que a plateia ia gostar de saber de algumas histórias das pessoas. Enfim… É uma ótima experiência olhar para ele com mais atenção. Superindico!

Sigamos.

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Cultura, DEZde, Jornalismo Cultural, RauLendo: leituras em pauta

39 anos sem Elis e com Elis

Em 19 de janeiro de 1982, parentes, amigos, fãs e admiradores ficaram menos felizes por causa da partida precoce daquela que é considerada “a maior cantora do Brasil”

Furacão Elis: biografia narra a história da cantora que marcou a Música Popular Brasileira. Imagem: captura de tela

Por Raulino Júnior ||RauLendo: leituras em pauta||

“O novo sempre vem” e Elis Regina é sempre uma novidade. A cantora, que saiu de Porto Alegre para ganhar todo o Brasil, surpreende a cada imersão feita na sua obra ou em produtos dos quais é protagonista. Em entrevistas e apresentações para a TV, documentários, livros: tem sempre uma nova Elis, com a sua presença marcante e altiva. E sendo sempre ela, oito ou oitenta. Assim acontece quando a gente se depara com a leitura dos primeiros capítulos da biografia Furacão Elis, escrita por Regina Echeverria e que foi originalmente publicada em 1985 (três anos após o mestre dá a partida para a Pimentinha, que tinha 36 quando foi cantar em outros planos).

Regina fez mais de 100 entrevistas para contar a história de Elis Regina Carvalho Costa, filha de Ercy Carvalho e Romeu Costa. O livro-reportagem tem linguagem simples, convidativa e muitos detalhes (fala de um aborto que Elis fez, quando ficou grávida de Solano Ribeiro), o que mostra muito bem por que Regina é referência no que faz, uma vez que é uma das biógrafas mais renomadas do país. A obra pega a gente logo no início. Já na apresentação, inclusive. Os capítulos esmiúçam a vida de Elis, mostrando como a sua personalidade forte já era presente desde a tenra idade, como ela se tornou um sucesso em Porto Alegre e a gravação do seu primeiro LP, Viva a Brotolândia, aos quinze anos. Pouco tempo depois, já sustentava a família com seus ganhos.

Nas entrevistas que dá, João Marcello Bôscoli, primogênito de Elis, diz que o seu maior medo era de a mãe ser esquecida. Porém, diante das homenagens que são feitas ano após ano, ele próprio constatou que isso é impossível. Elis vive porque Elis é sempre. Para contribuir com isso, em breve, vai ter resenha do livro de Echeverria por aqui, na seção Desde Então. “O novo sempre vem” e “antiguidade é posto”.

Referência:

ECHEVERRIA, Regina. Furacão Elis. São Paulo: Editora Globo, 1994.

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Cultura, DEZde, Domingueiras: entrevistONAS de Domingo, Jornalismo Cultural

Referência no jornalismo cultural, Harlen Felix vive a cena e é um dos agentes de cultura de São José do Rio Preto

Jornalista com vasto conhecimento da cena cultural, ele é dos palcos e dos bastidores

Harlen Felix na redação do jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto: “Jornalismo cultural é o que mata a minha sede existencial”. Foto: Johnny Torres

Por Raulino Júnior ||Domingueiras: entrevistONAS de Domingo|| 
Harlen Felix do Nascimento tem 43 anos, é filho do baiano Arlindo Felix (de Maracás) e da paulista Ivone do Nascimento (de Votuporanga); e irmão de Ivonete Felix e Isaura Felix. Versátil, além de jornalista, é escritor, produtor, ator, diretor de teatro e “curador musical para festas”, como ele próprio diz, ao responder a pergunta sobre quando nasceu o DJ que também é. Atuando no jornalismo mesmo antes de ingressar na faculdade, Harlen passou por diversos periódicos até chegar ao Diário da Região, jornal septuagenário do qual é repórter e editor de cultura. O profissional que, na infância, tinha o sonho de ser ator de teatro, viu isso acontecer e se tornou um agente de cultura que vive e conhece a engrenagem por dentro e por fora. Isso fica perceptível nas suas reportagens e também contribui para que seja reconhecido como uma das referências do jornalismo cultural da contemporaneidade. Nesta entrevistONA, feita por e-mail, ele fala sobre suas vivências e trajetória. De forma contundente, opina sobre o jornalismo feito no Brasil, reflete sobre a indústria da cortesia, elenca quais manifestações da cultura brasileira mais o impressionam e diz quem era o Harlen de dez anos atrás: “[…] um cara que já tinha escolhido a sua morada […].”. Leia e fique à vontade.

Desde que eu me entendo por gente – Você nasceu em Votuporanga e, atualmente, mora em São José do Rio Preto. Como e por que fixou residência na cidade?

Harlen Felix: Nasci e me formei em Votuporanga, na Unifev. Aliás, sou da primeira turma de Jornalismo. Hoje, o curso não existe mais. No entanto, quando prestei vestibular, Jornalismo ainda era um curso bastante procurado. Na USP, era um dos mais disputados depois de cursos consagrados, como Medicina e Direito. Votuporanga é uma cidade de 80 mil habitantes, que abriga um dos jornais mais antigos da região noroeste paulista: Diário de Votuporanga. No entanto, são poucas as oportunidades para quem quer atuar na imprensa. Já São José do Rio Preto é um centro regional, tem 450 mil habitantes, com uma população flutuante que chega a 200 mil pessoas. Atuo há sete anos no Diário da Região, que é um jornal com 70 anos de história. Hoje, há somente dois jornais impressos na cidade, mas já houve época de ter cinco jornais em funcionamento. É o reflexo da influência da internet. Quando terminei a faculdade, fui morar em Araçatuba, outra cidade referencial aqui do noroeste paulista, trabalhando por dois anos na Folha da Região. Depois, fui para São Paulo e acabei indo parar em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, onde tive uma agência de comunicação com mais dois sócios. A mudança foi um choque para mim, confesso, pois fui inserido numa cultura bem diferente da do interior paulista. Após um ano, bateu aquela vontade de voltar, e acabei escolhendo Rio Preto por ser mais perto de Votuporanga, onde minha família mora até hoje (são só 80 km). Quando cheguei aqui, fui contratado para ser editor de Cultura no jornal BOM DIA, uma rede de jornais comandada pelo falecido J. Hawila (Traffic). Hoje, esse jornal não existe mais. Atuei como autônomo por um tempo até entrar no Diário da Região, onde sou responsável pela criação de conteúdos de cultura, comportamento e saúde, tanto para o impresso como para a internet.

Desde – Como é a vida cultural de São José do Rio Preto?

HF: Rio Preto, apesar de ser no interior, tem uma vida cultural pulsante como a de uma capital. Há muitos artistas e coletivos que fazem trabalhos primorosos, em todas as linguagens artísticas. A cidade é referência da cultura hip hop. É daqui o primeiro grupo de breaking dance feminino da América Latina e artistas dessa cena fazem mais sucesso fora do que na própria cidade. O teatro é vibrante, com um festival que está entre os principais do Brasil e pelo qual tive a oportunidade de ver coisas que não teria a chance se morasse em uma capital turbulenta (morar no interior é bom porque a contabilidade do tempo é outra; a gente consegue fazer muita coisa num mesmo dia, não fica perdendo tantas horas só se deslocando). Rio Preto foi a última morada de José Antônio da Silva, o maior pintor primitivista do mundo, que tem obras no acervo do MoMA, em Nova York; terra de Paulo Moura, um dos grandes instrumentistas do choro do mundo; de J.C. Serroni, cenografista de mão cheia; de Dib Carneiro Neto, jornalista e crítico de teatro infantil espetacular. Da televisão, tem Renata CeribelliFernanda RibeiroFernanda DumbraAndréa Bassitt. É tanta coisa, que seria necessário ter uma outra entrevista para contar tudo.

Desde – Você cursou Jornalismo no Centro Universitário de Votuporanga (Unifev) e se formou em 1998. O que te levou a escolher o curso? Por quê?

HF: Na verdade, meu sonho de criança era ser ator de teatro. Fui picado pelo bichinho do teatro ainda moleque, na escola pública, graças a professoras maravilhosas que tive. Em Votuporanga, na época de minha adolescência, havia uma mostra de teatro amador que movimentava escolas e grupos independentes, e isso acabou me motivando ainda mais a querer atuar nos palcos. No entanto, estava a 450 km de São Paulo, a capital, onde há o curso de artes cênicas da USP – Escolas de Artes Dramáticas -, e minha família não tinha condições de me bancar para que pudesse fazer o curso, que era em período integral. Paralelamente a isso, na adolescência, quando já rabiscava uns poemas na máquina de escrever, fui fazer um teste no jornal Diário de Votuporanga, fundado por Nelson Camargo, hoje já falecido. Eles publicaram um anúncio à procura de jovens que gostavam de escrever. Fiz o teste e fui aprovado na hora, começando a trabalhar no outro dia. Então, quando chegou a época do vestibular, eu já trabalhava em jornal e, diante da impossibilidade de ir para São Paulo, vi no Jornalismo a chance de poder continuar perto desse mundo das artes. E foi assim que ingressei no curso da Unifev. Ainda em Votuporanga, durante o curso, consegui criar o caderno de cultura do jornal que trabalhava, chamado Caderno Livre. Como sempre fui envolvido com a cena cultural de Votuporanga e da região, o que inclui Rio Preto, isso me facilitou não só para as pautas, mas também para falar a mesma língua que os entrevistados, não ser um peixe fora d’água. Tem dado certo, até porque hoje posso dizer que sou praticamente um dos poucos repórteres de cultura de Rio Preto.

Desde – Qual é a sua opinião sobre o jornalismo feito no Brasil atualmente? Por quê?

HF: De um modo geral, o jornalismo cumpre seu papel no País, apesar de todas as forças contrárias que recaem sobre nós, jornalistas, atualmente. Somos colocados em descrédito por essa onda obscurantista que ameaça a democracia do Brasil, sem contar as fake news, que passaram a pautar a vida das pessoas graças a força das redes sociais. Tanto no on-line como no off-line, há grandes veículos, que fazem um trabalho sério, pautado na checagem (que é algo que morreu na imprensa em geral). A questão é como fazer isso chegar até as pessoas, furar essa barreira das fake news e do estereótipo comunista que recai sobre os profissionais. Mas, o caminho é educação. Somente gente bem formada, com pensamento crítico, saberá buscar informação com credibilidade. Enquanto a ignorância prevalecer, nosso trabalho será hercúleo.

Desde – E o jornalismo cultural? O que precisa melhorar e o que merece aplausos?

HF: Minha experiência é de interior. Sempre atuei em cidades do interior, até mesmo quando morei no Ceará. Acho que, de forma geral, falta espaço para a crítica. No universo das artes, uma crítica bem feita é uma obra de arte em si. Mas isso fica muito restrito aos grandes veículos de imprensa. No jornal em que atuo, por uma questão ética pessoal (até porque sou meu próprio editor), privilegio o local, o artista local, o artista da nossa região, de modo a fazer com que a comunidade saiba quem são eles. E, claro, tento viver aquilo que escrevo. Já ouvi muito aqui que sou um dos poucos repórteres de cultura que privilegia os eventos de cultura. Mas é onde eu consigo pauta, né (risos). Marco presença em tudo o que posso, e isso não me rende só pautas, rende amigos para a vida toda. Como a cultura, assim como ocorre na sociedade, não é a editoria “top” de uma redação, boa parte dos veículos acaba só reproduzindo releases, para a alegria das assessorias de imprensa, que não são poucas por aqui (risos). Mas não dá, né. A gente tem que ir além. Eu gosto de evidenciar o humano que existe em cada manifestação artística. Por isso, vou atrás do artista para ouvir o “humano” por detrás da obra – as inquietações e experiências particulares que o levaram até aquela criação. Esse é o tempero que falta, acredito eu, na imprensa cultural, o aspecto humano.

Desde – Cobre cultura desde o começo da carreira? Tem predileção por essa editoria?

HF: Eu já fui repórter de economia logo que saí da faculdade, mas, em todos os lugares que morei, sempre busquei estar em contato com o teatro e as artes em geral. A identidade do meu texto pende para essa editoria, não tem mais jeito. Sou referência de jornalismo cultural e isso foi algo que sempre lutei para conquistar. É a minha vida, é o ar que respiro. Lembro-me de uma passagem do livro Inventário das Sombras, do José Castello, sobre a entrevista que ele fez com a Clarice Lispector. Ele chegou, ela perguntou se ele queria um copo de água, ele disse que sim. E sua primeira pergunta a ela foi: Por que você escreve? E ela foi certeira na resposta: Por que você bebe água? Para mim, isso define tudo. Jornalismo cultural é o que mata a minha sede existencial. Sem ele, acho que morreria desidratado.

Desde – Ainda falando de jornalismo, você foi repórter do Diário de Votuporanga (1995 a 1999), da Folha da Região, de Araçatuba (1999 a 2001), e já foi editor do jornal BOM DIA. O que aprendeu de significativo em cada uma dessas experiências?

HF: Cada veículo foi um degrau importante na maturação do meu texto. Quando saí de Votuporanga, meu texto não tinha identidade própria, era algo mais frio, eu não me colocava nele. E foi na Folha da Região que comecei a aprender a dar uma identidade para o meu texto, a me colocar nele sem ter que me manifestar em primeira pessoa. No entanto, acho que a lapidação que faltava veio do BOM DIA, rede de jornais que era chefiada pelo Matinas Suzuki Jr. Como a linha editorial do jornal era baseada em histórias humanas, no humano presente no fato, isso despertou meu olhar para detalhes que antes não prestava atenção quando ia apurar uma matéria.

Desde – Quais são os/as profissionais do jornalismo que admira? Por quê?

HF: Neide Duarte. Na redação, quando estou em crise criativa, costumo gritar: “Pelos poderes de Neide Duarte!”. Essa mulher é uma repórter única. Ela faz poesia, não reportagem. Ela pega uma pauta de aumento da tarifa de ônibus e tira algo lindo dela, algo de humano. Nunca fui fã de televisão, nunca quis ser o repórter do JN, mas Neide Duarte me encantava com suas reportagens, porque me mostrava que a vida pode ser poética mesmo nas horas mais dolorosas, mais frias. Também amo Gabriel García Márquez. E por razões óbvias (risos).

Desde – Quando começou a trabalhar no Diário da Região e qual o conceito do periódico em São José do Rio Preto? É o maior jornal da cidade?

HF: Diário da Região tem 70 anos de história e sempre foi o maior jornal de Rio Preto, mesmo em tempos áureos do jornalismo impresso, entre a década de 1980 e início de 2000, quando a cidade chegou a ter mais de cinco jornais. Hoje, o maior desafio do jornal é se estabelecer no ambiente onl-ine de forma efetiva. Estamos, sim, entre os maiores sites de conteúdo do interior paulista, mas é preciso fomentar outros produtos no ambiente virtual, pois as pessoas ainda não têm a cultura de pagar por conteúdo informativo assim como consomem Netflix. Temos hoje dois públicos distintos: o da faixa dos 20 aos 45 anos, que consome o onl-ine; e dos 50 aos 70 anos, que consome o off-line. São dois públicos distintos, que demandam abordagens e temas distintos também. É algo desafiador, ainda mais considerando o enxugamento que ocorreu nas redações dos impressos que conseguiram se manter com o advento da internet e das redes sociais.

Desde – No Diário da Região, você já fez de tudo, não foi? Guia do FindePapo Cultural… Esses dois programas não são mais produzidos? Por quê?

HF: A gente está experimentando bastante no ambiente on-line e esses produtos fizeram parte dessa experimentação. O Guia do Finde era um vídeo curto para servir de isca para um guia impresso e on-line que eu fazia todas as sextas, anunciando, de forma gratuita, as atrações musicais dos bares, boates e festas da cidade, além da área cultural e dos shopping centers (que são muitos aqui). Mas ele acabava não tendo tanta audiência no virtual, apesar do guia em si ser bem acessado. No entanto, a pandemia acabou ferrando com tudo, pois os bares ficaram fechados e eles representam 60% de todo o guia. Tentamos voltar agora, quando a cidade entrou na fase amarela, mas os números de casos aumentaram e a restrições sobre os bares também. Resolvemos segurar por cautela. O Papo Cultural foi outro experimento, que gostava muito de fazer. Até a Renata Sorrah participou, pois Rio Preto tem um dos maiores festivais internacionais de teatro, e ela esteve aqui em uma edição, indo até o jornal para dar entrevista. Foi inesquecível. A gente está agora estudando outros formatos, até porque as pessoas ficaram meio saturadas de lives e transmissões virtuais.

Desde – Você faz um jornalismo cultural bem interessante. Parabéns! Quais são os critérios para escolher as pautas?

HF: Nossa! Sou muito grato! Como disse antes, eu privilegio o local, o regional. Como artista do sertão paulista, sei o quanto é difícil conseguir divulgar seu trabalho de forma espontânea, e sempre acaba faltando recurso pra propaganda paga. Mas esse foco no local não é só por isso, sei do compromisso que tenho de registrar a história da cultura de Rio Preto, cidade que moro há 15 anos, para que esses artistas não sejam esquecidos depois de partirem. Sou porta voz de um momento histórico, isso é muito bacana. Mas é claro que tenho um olhar para o macro, o nacional, mas sempre pensando no meu leitor, como posso localizá-lo a respeito de algo que talvez ele não conheça. Rio Preto tem uma cena cultural forte. O Sesc daqui é incrível, e, graças a ele, tive a oportunidade de entrevistar grandes artistas que vieram para a cidade. E na abordagem com eles, tanto o local como a celebridade, procuro ser o mais afetivo e respeitoso possível. E isso gera uma intimidade muito bacana na conversa, pelo telefone ou presencial, e acabo conseguindo tirar aquele humano que tanto quero.

Desde – Qual é a sua opinião sobre o excesso de reprodução de release que é comum na editoria de cultura? Por quê?

HF: É uma “faca de dois legumes” (risos). O release cumpre um papel importante para o repórter se informar do “básico” de uma notícia, mas ele não pode ser considerado uma notícia em si porque foi produzido para a divulgar a verdade de um determinado cliente, seja empresa, instituição ou artista. Em Portugal, por exemplo, se um jornalista trabalha como assessor de imprensa, ele perde temporariamente seu registro, porque o pressuposto ético da profissão é a verdade pelo coletivo, a apuração dos fatos pelo bem comum e público, e teoricamente esse assessor não estaria atuando por esse viés. Por outro lado, as redações, principalmente dos impressos, estão cada vez mais enxutas, apesar de o volume de produção de conteúdo não seguir a mesma tendência. E é aí que mora o perigo, pois, no afã de dar conta de produzir todas as suas pautas, o repórter pode acabar fazendo o famoso “esquentar release” para entregar tudo a tempo. Isso acontece comigo também. Tento criar uma hierarquia entre as pautas, pensando sempre no leitor, e a partir disso investir energia naquelas mais importantes, enquanto outras eu aproveito apenas o que está no release. É preciso ter senso crítico e um pouco de empatia também. Não dá para só reproduzir release, como é difícil fazer todas as pautas da programação com o mesmo aprofundamento.

Desde – Você  também é ator e diretor de teatro. Como se deu o encontro com as artes cênicas?

HF: A escola foi muito importante. Lembro a primeira vez que subi no palco para recitar um poema. Aquilo foi um turbilhão de emoções tão grande que me impactou de forma muito profunda. Sou ator profissional, mas não fiz faculdade, conquistei meu registro por experiência de trabalho. Mas, ao longo da vida, fiz muita oficina, cursos e, claro, participei de inúmeras montagens teatrais, com artistas que admiro muito e sinto saudades, pois alguns já partiram. Em Votuporanga, minha cidade natal, a cena cultural de meados dos anos 1980 e anos 1990 era muito bacana, e havia uma mostra de teatro que acabava mobilizando a formação de grupos. Comecei participando pela escola e quando vi já integrava um grupo, o Sem Tempo Nem Vento. Nunca parei de fazer teatro e, em todos lugares que morei, esses espaços culturais era onde ia para poder conhecer as pessoas. Como diretor, fiz poucas coisas, gosto mesmo é de atuar. Agora, estou começando a descobrir o audiovisual. Fiz um curta muito bacana com uma galera daqui de Rio Preto, O Homem de Bem, e outro com um diretor local [Lâmpadas Fluorescentes sob os Olhos das Cobras-Cegas, de Alexandre Estevanato], que já fez trabalhos com nomes como Nicette Bruno e Milton Gonçalves. Também faço bastante comercial de televisão, principalmente papéis engraçados. Não me vejo fazendo outra coisa no futuro. E quando ficar velho, farei papel de idoso (risos).

Desde – Quais foram os espetáculos mais marcantes da sua carreira nessa área?

HF: Woyzeck, o personagem oprimido de George Büchner, é praticamente um alter ego em minha vida. Tive a oportunidade de vivê-lo em três ocasiões, e em uma era uma releitura caipira, trazendo os elementos da cultura popular do interior paulista para a obra do dramaturgo alemão, dirigida pelo saudoso Deco D’Antonio, meu grande diretor em Votuporanga. Um votuporanguense que viveu a efervescência cultural da São Paulo dos anos 1970 e 1980, fez artes cênicas na USP, foi carnavalesco da Vai-Vai e que tinha um olhar anárquico para a vida que era só dele. Cada espetáculo que fiz teve algo de especial. É difícil pontuar. Mas tenho uma certa sina de ser convidado para personagens psicologicamente atormentados, que não são necessariamente o vilão, mas beiram a isso. E eu adoro. Gosto de mergulhar na psicologia do personagem, de construir camada por camada de sua mente.

Desde –  Além da Cia. Ir e Vir e da Cia. do Santo Forte, você já integrou quais outros grupos de teatro?

HF: Em Rio Preto, sou um ator com dupla cidadania (risos). Não sou fixo a um grupo, mas tenho um carinho especial pela Cia. Ir e Vir, fundada pelo diretor Tiago Mariusso, pois acabamos fazendo muitas produções seguidas uma da outra. Meu trabalho mais recente, no virtual, foi com a Cia. do Santo Forte, da diretora Tauane Santo Forte e do ator Daniel Santo Forte, que fazem uma pesquisa linda em torno dos arquétipos da cultura africana, dos orixás, das danças de terreiro. É gente que já admirava e fiquei muito feliz quando fui convidado para trabalhar junto. Montamos Zona Contaminada, peça do Caio Fernando Abreu, que é dos anos 1980, mas parece que foi escrita para os dias de hoje. Em Rio Preto, já tive a oportunidade de trabalhar com outras companhias excelentes, como a Cia. Palhaço Noturno (Ricardo Matioli), a Cia. Fábrica de Sonhos (Guido Caratori e Drica Sanches), a Cia. Fulano de Tal (João Paulo Rillo), que faz uma Paixão de Cristo belíssima há mais de 20 anos e que, há quatro, tenho a honra de viver o Papa Francisco. É algo emocionante, pois todas as falas são do próprio Para Francisco.

Desde – Como é ser notícia no jornal em que trabalha? E quais cuidados você toma nesse sentido?

HF: Nossa! Que pergunta fantástica! É algo que me preocupa muito, pois procuro ser o mais ético possível em todas as minhas atitudes, seja pessoal ou profissional. Primeiramente, sou muito grato à diretoria do Diário da Região por me permitir desenvolver meu trabalho como ator na cidade. De forma prática, não escrevo as matérias que me envolvem e, se a pauta me envolve, aplico o mesmo filtro de importância que faço com todas. E é claro, não acabo sendo o entrevistado, função geralmente que fica para o diretor ou diretora da peça. Evito ao máximo aparecer. Até a foto da matéria acabo privilegiando outros integrantes da produção. Mas esse é um tipo de julgamento que não sofro aqui, e deve ser porque as pessoas sentem essa preocupação na minha postura.

Desde – Muita gente que até é próxima do artista só prestigia o trabalho dele quando ganha o ingresso ou paga meia, através de “lista amiga”. A “indústria da cortesia” vai ter fim?

HF: Na área cultural, por aqui, não rola tanto isso. Tem um personagem ou outro. Mas quando o assunto é festa, aí tem muita gente que quer carteirar. E só aceito a cortesia se fiz algo para ajudar a divulgar o evento, seja a peça ou a festa. Mas é claro, acabo ganhando o livro, até para poder ler antes de escrever a matéria. Acabo sendo convidado para assistir a um ensaio fechado antes da estreia de uma peça, mas são coisas inerentes à minha profissão. Na cidade, muita coisa acaba sendo de graça, pois é feita com apoio de leis de fomento. E boa parte da programação de instituições como Sesi e Sesc é de graça. Mas eu tenho esse pressuposto ético que não me permite “aproveitar” da situação para entrar de graça. Penso que a grana do ingresso é importante para o artista porque sou artista também. É saber equalizar.

Desde – Além do conto A Mosca, tem outros textos literários? Quais?

HF: Nossa! A Mosca nasceu durante a faculdade, estudando as estruturas da narrativa. Confesso que depois disso fiz pouca coisa na seara da literatura, e sou cobrado por muita gente a todo momento. Parece que o texto do jornalismo me deixou objetivo demais para me arriscar na literatura, por mais que eu a persiga quando escrevo uma reportagem. Mas ainda estou devendo mais criações literárias. Uma novidade ligada à literatura é o Horas Malditas, um podcast de leituras dramáticas comentadas que vou lançar com um grande amigo, o professor e pesquisador em literatura André Gomes Ogùnkeyè. Fizemos algumas experiências com lives, mas chegamos à conclusão que o podcast é o formato ideal. A ideia é aliar meu talento como ator e o talento do André como pesquisador para colaborar na ampliação do repertório de leitura das pessoas, apresentando nomes e perfis de escritores historicamente marginalizados na literatura brasileira e mundial. Criamos um perfil no Instagram (@horasmalditas) e agora em janeiro vamos lançar o primeiro podcast.

Desde – Quais dramaturgos/as são referência para você? E atores/atrizes?

HF: Nossa! É tanta gente, tanta coisa boa que já tive contato nessa vida, seja como espectador, leitor ou entrevistador. Eu elegeria a Fernanda Montenegro, um patrimônio cultural brasileiro, que, infelizmente, foi muito atacada recentemente.

Desde – Quando é que nasceu o Harlen DJ?

HF: Eu sempre gostei de música. Teve uma época que queria ser crítico de música, tipo o Simon Reynolds (risos). Na verdade, um casal de amigos muito queridos, a Carol Escabin e o Ronaldo Vilerá, montaram um pub há quatro anos na periferia de Rio Preto, o Barteliê Gastrô. Ao longo de quatro anos, criamos um conceito muito particular de bar, unindo experiências para além da bebida e da comida. Foi algo incrível, que infelizmente acabou, mas mantivemos o nome como plataforma criativa. Como era um espaço pequeno e não tínhamos tanta grana para contratar atrações musicais todos os fins de semana, eu comecei fazendo as vezes de DJ Set. A coisa ganhou outras proporções e, quando vi, estava discotecando no Festival Internacional de Teatro, em vernissagens, em festas particulares. Sempre sou elogiado pela seleta de músicas que faço. Mas não sou DJ produtor, sou um curador musical para festas (risos).

Desde – O Brasil é muito grande, mas dá para dizer quais manifestações da nossa cultura mais te impressionam?

HF: O Brasil é um mosaico psicodélico de manifestações populares, que, infelizmente, são pouco valorizadas, e algumas ameaçadas de se perderem por falta de interesse das novas gerações. Eu me afeiçoo com as coisas do meu terreiro: é a moda de viola caipira, a pintura primitivista, ingênua e naïf, o artesanato da palha de milho, a dança da catira, a Folia de Reis, que, aliás, são variações de manifestações que ocorrem em outras regiões desse país de dimensão continental. Quando chego a uma cidade, é através dessa cultura popular que gosto de conhecê-la, além de aparelhos culturais como teatro, museus e casas de shows. É a melhor forma de se conhecer um lugar.

Desde – Você escreve também para a revista Vida & Arte? Ela completou 16 anos em 2020 e, pela pesquisa feita, constatamos que era distribuída gratuitamente no início. Ainda continua assim? Como o jornal consegue mantê-la?

HF: Hoje, não escrevo mais para a revista, pois fui colocado no impresso e na web. É uma revista que segue a linha das grandes publicações voltadas para a moda e comportamento. Ela não é distribuída gratuitamente, mas sim é disponibilizada gratuitamente aos assinantes do jornal. Ela sofreu uma mudança de formato há alguns anos, ganhando um foco mais voltado à saúde e negócios. Rio Preto é um grande polo de saúde, que atrai pessoas de todo o Brasil.

Desde – Quem era o Harlen de dez anos atrás?

HF: O Harlen de dez anos atrás era um cara que já tinha escolhido a sua morada finalmente, Rio Preto, e que trabalhava quase 24 horas por dia porque não sabia dizer não e achava toda proposta de projeto interessante. Hoje, estou mais desacelerado, até porque a saúde pede. Mas fui uma criança hiperativa e ainda tenho resquícios disso (risos).

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Cultura, DEZde, Jornalismo Cultural, Pacotão do DEZde

Pacotão do DEZde: blog cria pacote de ações para comemorar dez anos em atividade

 Desde completou dez anos no dia 1º de janeiro e comemora aniversário com séries especiais

A comemoração pelos dez anos do Desde terá um pacote de ações: é o Pacotão do DEZde!

Por Raulino Júnior 

Uma década no ar merece comemoração especial, não é? Como foi adiantado no texto publicado no dia 1º de janeiro, as ações pensadas para comemorar o nosso aniversário de dez anos começaram a ser planejadas em abril de 2020. O nosso intuito é continuar informando com responsabilidade, refletir sobre a nossa cultura e contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Esses foram os critérios estabelecidos para conceber as séries especiais. O projeto #Esquenta10AnosDoDesde foi um prenúncio para o que vamos fazer em 2021. Ou seja: a nossa celebração vai ter muita criatividade, reflexão e o ser humano no centro disso tudo, porque ele é o principal responsável por nossos modos, costumes e tradições. Obviamente, tudo que a gente já faz por aqui vai continuar! Então, vamos produzir muitas crônicas na Desde Já, resenhas na DESDEnhas, análises de produtos de outrora na Desde Então, artigos no Texto de Quinta e na Opinião de Segunda. Além disso, vamos indicar muitas leituras na RauLendo, fazer coberturas com o #DesdeEmTrânsito e com #OFatoEmFoto (quando todos nós já estivermos vacinados e livres do novo coranavírus, pois esses dois projetos só acontecem onde tem aglomeração de pessoas). O Sem Edição, que é uma janela aberta para o mundo, um programa que aborda de tudo, como todo tipo de gente, também vai continuar a todo vapor depois da vacinação. Inclusive, ganhará especiais que vão fazer parte do aniversário de dez anos. A propósito, já falamos demais! Vamos logo abrir esse pacotão?!

Pacotão do DEZde

No Pacotão do DEZde, teremos muitas entrevistas, grandes reportagens, uma homenagem a um dos nossos mestres da educação e conteúdos audiovisuais. Tudo foi pensado com muito carinho, responsabilidade e com o objetivo de agradar aos leitores e às leitoras que passam por aqui. Tomara que você goste e acompanhe! Desde já, agradecemos! Vamos caminhar juntos e continuar fazendo essa história acontecer!

Domingueiras: entrevistONAS de Domingo

Vamos explorar o domingo, que é um dia nobre para o jornalismo cultural, com a série Domingueiras: entrevistONAS de Domingo. Ela abre, de fato, as nossas comemorações pelos dez anos. A primeira edição já será publicada no próximo domingo, 17 de janeiro. A ideia é trazer o olhar de pessoas de diversas áreas sobre todo tipo de assunto. Vamos falar do universo no qual ela está inserida, contar um pouco da sua história e suscitar reflexões sobre temáticas importantes para a sociedade. A Domingueiras veio para ficar e será incorporada nas ações do blog a partir de então. Em 2012, publicamos a nossa primeira entrevistONA aqui. Foi um papo superinteressante com o jornalista Paulo Leandro. Gostamos tanto que, agora, vamos tornar essa experimentação fixa na nossa história.

Série de grandes reportagens: Outras Realidades

A grande reportagem é um gênero desafiador dentro do jornalismo. Ela exige que o jornalista apure com muito mais afinco e mais sede. Além disso, é necessário aprofundar o assunto, trazer depoimentos de fontes especializadas, ouvir muitas pessoas e criar uma narrativa interessante, com linguagem acessível. E é esse desafio que vamos encarar na série Outras Realidades. Queremos contar histórias de pessoas que vivem outras realidades, vistas como incomuns, inusitadas, perigosas. A previsão é a de que ela tenha início no segundo semestre. Até lá, já estaremos todos vacinados!

Série 2021: Paulo Freire é 100!

Se estivesse vivo, Paulo Freire completaria 100 anos em 2021. Mais precisamente, no dia 19 de setembro. Considerado como o Patrono da Educação Brasileira, o pernambucano criou métodos que são seguidos até hoje por educadores. Respeitar os conhecimentos prévios dos educandos e estimular a autonomia neles são alguns elementos da pedagogia freireana. Em setembro, vamos falar de muitos outros na série 2021: Paulo Freire é 100!. O objetivo é fazer resenhas de algumas obras do educador.

Sem Edição – Da Boca pra Fora

Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou um plano de ação para “pôr o mundo em um caminho sustentável”. O plano resultou na Agenda 2030, que é uma “lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas até 2030”. Essas tarefas têm como objetivo “erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade”. A Agenda 2030 tem um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)1. Erradicação da Pobreza2. Fome Zero e Agricultura Sustentável3. Saúde e Bem-Estar4. Educação de Qualidade5. Igualdade de Gênero6. Água Potável e Saneamento7. Energia Limpa e Acessível8. Trabalho Decente e Crescimento Econômico9. Indústria, Inovação e Infraestrutura10. Redução das Desigualdades11. Cidades e Comunidades Sustentáveis12. Consumo e Produção Responsáveis13. Ação Contra a Mudança Global do Clima14. Vida na Água15. Vida Terrestre16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes17. Parcerias e Meios de Implementação. Assista ao vídeo abaixo, para entender melhor a proposta de cada objetivo.

Dos 17 ODS, vamos escolher dez (1. Erradicação da Pobreza; 3. Saúde e Bem-Estar4. Educação de Qualidade5. Igualdade de Gênero6. Água Potável e Saneamento8. Trabalho Decente e Crescimento Econômico; 10. Redução das Desigualdades11. Cidades e Comunidades Sustentáveis12. Consumo e Produção Responsáveis; 16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes) e refletir sobre eles no Sem Edição – Da Boca pra Fora. Trata-se de uma série em que vamos falar sobre os objetivos, destacando o que cada um de nós pode fazer para implementá-los e contribuir no engajamento da Agenda 2030. Não podemos agir apenas da boca pra fora, não é? Os vídeos começarão a ser postados em março e vão até dezembro. Naquele esquema Sem Edição de ser: liga a câmera, grava e publica.

Sem Edição – Passagem de Som

Toda comemoração que se preze tem que ter música. E a nossa vai ter! Essa linguagem artística será o mote para um série exclusiva do nosso conteúdo audiovisual: é o Sem Edição – Passagem de Som. Todo artista da música passa o som antes de fazer o seu show. E a passagem de som tem sempre um clima de bastidor, de ajuste, de papo leve, íntimo. É isso que a gente quer documentar na série. A ideia é entrevistar artistas do universo musical, saber um pouco das histórias deles e intercalar isso tudo com muita música. Alguns artistas já foram convidados e aceitaram fazer parte desse sonho. A previsão é a de que ele tenha início também no segundo semestre, quando já estivermos vacinados e podendo fazer aglomerações.

Está tudo preparado! “Agora, a nave-mãe vai decolar”. Continue com a gente! Você vai gostar! Muito obrigado pela parceria de dez anos! Assista ao vídeo comemorativo.

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Cultura, DEZde, Jornalismo Cultural, Texto de Quinta

A inveja que adoece, que mata e que, no fundo, é sempre inveja mesmo

Quando o desprezo a gente muito preza/Na vera, o que despreza é o que se dá valor*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 

No seu dicionário, Caldas Aulete é categórico quando define inveja: “Misto de desgosto e ódio provocado pelo sucesso ou pelas posses de outrem”. Logo no início do seu livro Mal Secreto (Inveja),  publicado em 1998, pela Companhia das LetrasZuenir Ventura afirma que “inveja é não querer que o outro tenha”. Na Bíblia, em Provérbios, capítulo 27, versículo 4, lê-se a indagação: “O rancor é cruel e a fúria é destruidora, mas quem consegue suportar a inveja?”. Quem? Nem o invejoso nem o invejado. Esse pecado capital, que muita gente prefere dizer que não comete, faz mal para todo mundo.

A inveja está em todo lugar: nas instituições de educação, na família, nas praças, nas redes… Basta ter humano, para ter inveja. Ou basta ser humano para ter inveja? Talvez, seja um sentimento inerente a qualquer ser vivo, não só aos humanos. É como se a gente nascesse com um gene da inveja. Uns desenvolvem mais, outros desenvolvem menos. É possível que algumas pessoas nem desenvolvam, fiquem indiferentes. Porém, alguns autores que refletem sobre esse mal dizem que todo mundo tem ou já teve inveja. É só mais um pecado, como a luxúria, a soberba, a preguiça, a gula, a avareza e a raiva. Mais cedo ou mais tarde, a gente demonstra um deles em alguma situação da vida. Faz parte da nossa “ser humanidade”.

Não gostar de alguém, de algo ou de alguma coisa, é supernatural. Não reconhecer que uma pessoa é bem-sucedida naquilo que ela faz, não. Isso é inveja. Porque inveja também é a infelicidade ao ver a felicidade do outro. Então, ao ver o outro feliz, com sucesso (não vamos confundir com fama! É sucesso mesmo, no sentido de ter alcançado aquilo que queria!), nasce no invejoso um sentimento de repulsa, de negação, de não querer que aquilo, que é fato, continue acontecendo. Nesse sentido, ele busca subterfúgios, coisas para anular o invejado, para que esse não seja, mesmo sendo.

Quando alguém que se diz nosso amigo só se faz presente nos momentos difíceis da nossa vida, isso também é estranho e tem um pé lá na inveja. É como se houvesse um prazer de nos ver sofrendo, de ver que aquela nossa alegria foi abalada de alguma forma. Então, o ato que é visto como solidário, na verdade, esconde um prazer de não ver o outro feliz. Ou seja: é inveja. Em artigo intitulado O sistema mental determinante da inveja, publicado na Revista Brasileira de Psicanálise (RBP), em 2009, o professor Walter Trinca afirma que “o  invejoso sofre por aquilo que lhe falta, ainda quando se alegra com o sofrimento alheio”. Difícil constatar, mas é isso.

A mentira faz parte da inveja. Está contida nela. Sabe aquela pessoa que diz que torce por você? Fique atento(a) a essa torcida! Ela pode ser a favor, mas também pode ser contra. É a inveja. Inveja é querer que o outro não tenha. Se o sucesso de outra pessoa te incomoda, isso é inveja, porque inveja é querer que o outro não tenha. Se a alegria de outra pessoa te incomoda, isso é inveja, porque inveja é querer que o outro não tenha. Em Mal Secreto (Inveja), Zuenir reproduz a famosa afirmação atribuída a Tom Jobim: “Sucesso, no Brasil, é ofensa pessoal”. É isso mesmo! Duvida?! É inveja!

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Cultura, DEZde, Jornalismo Cultural

DEZde: blog completa dez anos de experimentações no jornalismo cultural

Há dez anos, o Desde que eu me entendo por gente se esforça para analisar e documentar ações que fomentam a cultura brasileira

Desde completa dez anos no ar e cria logo comemorativo: DEZde

Por Raulino Júnior 

Lembro, como se fosse hoje, da razão pela qual criei o Desde. Na verdade, das razões: a) como estudante de jornalismo, eu queria muito praticar a atividade jornalística, uma vez que já era um desejo que fazia parte de mim antes mesmo de ingressar na faculdade; b) tinha a preocupação de melhorar o meu texto. Não queria repetir fórmulas nem ficar no lugar-comum. Queria escrever, escrever e escrever, para criar o meu estilo, para me encontrar no texto, ter identidade textual. Para escrever melhor, a gente tem que ler e… escrever. Eu lia, entre outras coisas, muitos periódicos, algo que faço até hoje, por prazer e por obrigação profissional. Nesse sentido, já tinha uma intimidade com o texto jornalístico, mas não tinha o “meu” texto jornalístico e queria muito encontrá-lo. O Desde foi fundamental para esse encontro; c) queria contar histórias, sem preconceitos e sem classificar como mais importante ou menos importante. Principalmente, sem atribuir essa gradação às fontes. Tudo, para mim, interessa. Afinal, todo mundo tem história e toda história deve ser respeitada. No meu caso, contar as histórias sem pressa, sem agonia, pensando na qualidade daquilo que está sendo contado. No primeiro texto publicado, lá em 1º de janeiro de 2011, eu digo: “…o Desde que eu me entendo por gente surge para contar todo tipo de história. Da mais simples, e vista por alguns como irrelevante, à mais complexa. É importante enfatizar que o blogue terá a qualidade como bússola, já que quantidade não combina muito com apuração”. Desse trecho, só tiraria o advérbio muito, na parte “…quantidade não combina muito com apuração”. Quantidade não combina com apuração. Ponto. Voltando à questão do tempo: nunca tive pressa. Por isso, essa história aconteceu e hoje completa dez anos.

Uma década de muita experimentação e de muito aprendizado! Por aqui, exercitei quase todos os gêneros jornalísticos: artigos de opiniãoreportagenscrônicasresenhasperfisentrevistas. Até me arrisquei no audiovisual, com o Sem Edição, uma janela aberta para o mundo. Um programa que aborda de tudo, como todo tipo de gente. Nesses experimentos, estive guiado pelo meu interesse no jornalismo cultural, que sempre existiu dentro de mim, mesmo antes da faculdade. Todas as matérias que fiz durante o curso de Jornalismo foram voltadas para a editoria de cultura. É a minha predileta. A que mais presto atenção. A que acompanho de perto, para continuar aprendendo e criticando, quando necessário.

Com o Desde, eu fui aprendendo a fazer um bocado de coisa, fui me experimentando mesmo, conhecendo os caminhos do webjornalismo. O blog foi ganhando corpo, cara. Em 2015, ele chegou à maturidade. Ali, nascia o tipo de jornalismo que eu sempre quis fazer na minha vida: respeitoso, informativo, criativo, leve, autocrítico, reflexivo e sem preguiça. Com o tempo, fui incorporando novidades. Criei as páginas (Desde SempreDesde JáDESDEnhasDesde EntãoRauLendoDesde Lá), o Sem Edição, o #DesdeEmTrânsito#OFatoEmFoto, o Texto de Quinta e, mais recentemente, a Opinião de Segunda. A vontade de compartilhar conteúdos e experiências foi coroada com a oficina Uso de blogs por focas como experimento para a prática jornalística, que ofereci em 2018, na Biblioteca Central do Estado da Bahia (Biblioteca dos Barris), numa das ações comemorativas pelos oito anos do blog. Um foca mais experiente falando para focas iniciantes. Isso tudo para contribuir com o desenvolvimento da sociedade. O propósito maior de existência do Desde.

DEZde

Hashtag que será usada nos compartilhamentos de conteúdo do blog durante as comemorações pelos dez anos

Em abril de 2020, comecei a pensar nas ações comemorativas pelos dez anos do Desde. Logo me veio a ideia de criar uma marca comemorativa, que evidenciasse a importância do aniversário. Sendo assim, quis brincar com a sonoridade do apelido carinhoso do blog [Desde] e também com a do número 10. Essa fusão resultou no logo DEZde, que ficará no ar durante todo o ano de 2021 e também será a hashtag oficial que vai acompanhar o compartilhamento dos conteúdos do blog nas outras redes sociais digitais.

O responsável pelas mudanças no visual da página foi Josymar Alves, 32 anos, que é web designer, profissional de social media e sócio da Commidia Comunicação. A primeira repaginada feita por ele no Desde foi em 2015, justamente no momento em que o blog se tornou mais maduro nas suas produções. Com o auxílio de Josymar, o site ficou mais atraente e organizado. Além disso, desde 2013, época em que o conheci, o webdesigner me dá dicas de como melhorar o funcionamento do blog, para torná-lo esteticamente melhor. Como ninguém faz nada sozinho, agradeço muito a Josymar por todas as orientações. Ele também faz parte dessa caminhada até aqui.

Josymar Alves: desde 2015, responsável pelo visual do Desde. Foto: divulgação

O Desde é Dez

As comemorações pelos dez anos do Desde vão começar no dia 10 de janeiro. Simbólico. Na ocasião, vou anunciar todas as ações programadas para celebrar a nossa primeira década no ar. Tudo foi pensado com muito cuidado e com muita atenção ao que está acontecendo no mundo, às mudanças do jornalismo e ao que importa para a sociedade. Teremos duas séries especiais, numa espécie de extensão do bem-sucedido projeto #Esquenta10AnosDoDesde. Abordando, claro, outras temáticas, porque a minha inquietude não aceita repetições; dois conteúdos audiovisuais, um diferente do outro, que farão parte do Sem Edição, e vamos explorar o domingo com mais afinco, mantendo uma produção exclusiva para o primeiro dia da semana. Dizem que o domingo é o dia nobre no jornalismo, não é? Por esse motivo, estaremos lá também.

Telhados: visão ampla

Digo que o Desde é um blog-revista. Ele faz experimentações de gêneros jornalísticos, com viés cultural e com mais tempo para produzir, apurar, publicar. Embora esteja na internet, o Desde “não sai todo dia”, como bem diz Marília Scalzo sobre as revistas, no livro Jornalismo de Revista (Contexto, 2009). Ela acrescenta: “Não dá para imaginar uma revista semanal de informações que se limita a apresentar para o leitor, no domingo, um mero resumo do que ele já viu e reviu durante a semana. É sempre necessário explorar novos ângulos, buscar notícias exclusivas, ajustar o foco para aquilo que se deseja saber, e entender o leitor de cada publicação”, p. 41. É isso. O Desde é isso. Há dez anos. A foto de telhados que está na capa do blog foi escolhida como símbolo disso. O esforço aqui é de ter uma visão ampla das coisas, abrangente. Se a gente pode fazer mais, vamos fazer mais. Quem ganha com isso é o leitor, é a leitora. A propósito: o registro dos telhados foi feito por mim, no Pelourinho, em 2017. O Pelô é um caldeirão cultural, um dos símbolos máximos da nossa cultura. Como diz o poeta: “Que sou pequeno, – mas só fito os Andes…”.

As Dez do Desde

Durante todo esse tempo, fiz produções interessantes e que me marcaram muito aqui no Desde. Para lembrar de algumas, resolvi listar dez que foram bem importantes para a história do blog. Não usei nenhum critério específico para as escolhas, apenas a minha emoção. Certamente, devo ter errado ou não dado a devida atenção a alguma matéria que poderia estar na listagem. Acontece. Vamos lá?!

1ª (2011): Carla Visi e sua autêntica entrega à arte musical

Nesta matéria, a identidade do Desde começava a aflorar. Foi uma experiência muito bacana para a minha formação como jornalista. Acompanhei o show e tive que ficar atento ao que deveria destacar no texto. Não tinha ideia de hierarquização das informações, foi tudo no faro e deu muito certo. A abordagem para entrevistar o público foi um desafio também. Como chegar? O que perguntar? Essas eram as questões que passavam na minha cabeça. Fui na cara e na coragem e consegui fazer uma boa matéria. Inclusive, a própria Carla Visi comentou.

2ª (2012): O rugido do Leandro

Esta entrevista foi uma das mais importantes da minha vida e foi uma aula de jornalismo. Eu, completamente foca, estava diante de um dos jornalistas mais reconhecidos de Salvador: Paulo Leandro. Na época, ele já tinha 27 anos de experiência no Jornalismo. Aprendi muito com Paulo. Durante o bate-papo, abordamos assuntos interessantes, como formação do jornalista, o jornalismo feito em Salvador e cultura baiana. Eu adorei a conversa.

3ª (2013): Sociedade das pessoas-discurso

Este artigo de opinião foi um grito que eu queria dar há muito tempo. Gosto dele. É simples, superficial, mas aborda algo que continua existindo na sociedade (e, pelo jeito, nunca vai deixar de existir): as pessoas-discurso. Eu já estava cansado delas nessa época, imagina hoje? O artigo convida a uma reflexão necessária, que é a de a gente olhar para os nossos próprios atos e o nosso discurso. Será que há harmonia ou a gente só quer “mitar” nas redes? Fica a indagação.

4ª (2014): Série Perfis do Desde

Esta série foi bastante especial. Foi um desafio enorme produzir o perfil de tanta gente diferente. Algumas pessoas, eu nem conhecia tanto, mas adorei me desafiar. Quis dialogar ainda mais com o jornalismo cultural e criei a série comemorativa Perfis do Desde, que celebrava os três anos do blog. Foi um aprendizado e tanto. Acho que foi um ponto de virada do blog, que se consolidou em 2015.

5ª (2015): O Axé dançou?!

O momento de maturidade do blog aconteceu neste ano, quando ele ganhou um estilo próprio. Foi um ano de ruptura, de consolidação de uma identidade. O jornalismo que sempre quis fazer. Comecei a fazer produção multimídia, com a reportagem sobre o lançamento da biografia de Milton Santos, mas o destaque é a grande reportagem que problematizava a crise da axé music. Destaco esta produção porque ela exigiu muito de mim como jornalista. Tive que pensar num recorte criativo para debater sobre a tal crise e fui atrás das informações. Para isso, ouvi muita gente: donos de academia, artistas, profissionais de educação física, dançarinos. Até o Conselho Regional de Educação Física (CREF) caiu na dança. Foi muito bacana!

6ª (2016): Com o mote da cidadania, TV Kirimurê é lançada em Salvador

Mais um desafio saboroso, que só o jornalismo pode proporcionar. Eu, que adoro TV e sou um pesquisador diletante dessa mídia, estava participando do lançamento de uma nova emissora! Foi emocionante demais! Fiz uma cobertura multimídia e prestei serviço à sociedade. Isso é o que, de fato, importa.

7ª (2017): Todo mundo pode cantar?!

Mais uma reportagem especial. Fui investigar como e por que os karaokês ainda faziam sucesso em Salvador. Que imersão interessante! A matéria ouviu cantores, cantoras, donos de bar e problematizou como ficava os direitos autorais dos compositores diante dessa forma de executar música publicamente. Adorei produzir, apurar e escrever.

8ª (2018): O oba-oba da Casa do Carnaval

Nesta cobertura, trago a criticidade que, vez por outra, está presente nas produções do Desde. Falo da inauguração da Casa do Carnaval, destacando a sua importância, mas identifico as lacunas do equipamento cultural. Além disso, faço uma crítica em relação à curadoria e aos longos vídeos exibidos no espaço. Gostei muito de fazer. Principalmente, porque deixa evidente que é possível criticar sem ser violento, pedante ou desrespeitoso.

9ª (2019): Homenagem a Riachão reforça grandiosidade do artista

Reportagem especial e multimídia sobre a homenagem feita pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) a Riachão. Eu não acreditava que estava testemunhando aquele momento histórico. Como o tempo, passei a dizer para mim mesmo que alguns eventos tinham a cara do Desde. Esse seminário foi um deles. Eu jamais poderia deixar de participar e documentar. Entrevistei Riachão e isso ficou marcado na minha carreira como jornalista.

10ª (2020): Antonio Olavo: “O documentário é a forma, na linguagem do cinema, que mais se aproxima da verdade”

Para comemorar os nove anos do Desde, criei, como alternativa, porque a ideia original era contar história de focas que faziam o jornalismo acontecer Brasil afora, a série de entrevistas intitulada Cinema Falado. Foi uma experiência muito interessante e de grande aprendizado. O blog fez uma imersão na sétima arte, ouvindo histórias de cineastas com vasta experiência na área. A entrevista com Antonio Olavo foi muito significativa para mim. Eu estava diante de um mestre, um griô, que fazia questão de usar a sua arte para contar a história do povo negro com um viés mais realista, mostrando que sempre houve resistência por parte dos escravizados. Cultura alimenta e eu saí de barriga cheia depois desse bate-papo com Olavo.

Depoimentos (por ordem alfabética)

No dia 1º de dezembro de 2020, publiquei, nas minhas redes sociais digitais, uma chamada para que pessoas que foram entrevistadas por mim ao longo desse tempo falassem o que acharam do resultado das produções feitas. A ideia era que elas criticassem, de forma positiva ou negativa, as matérias ou reportagens de que participaram. Algumas pessoas falaram espontaneamente; outras, eu pedi para que falassem. Como já disse, ninguém faz nada sozinho e, se cheguei aos dez anos de trabalho no Desde, cheguei porque muita gente acreditou em mim e contribuiu para isso. O Jornalismo também é a arte de pedir: uma entrevista, uma informação, uma contribuição. Nunca vou deixar de pedir. Por sempre fazer isso, já tenho dez anos, na prática jornalística, de serviços prestados à sociedade. Isso é o que mais me envaidece. Muito obrigado!

Antonio Olavo (cineasta)

Antonio Olavo foi um dos entrevistados da série Cinema Faladoque comemorou os nove anos do desde, em 2020.
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Felipe Ferreira (escritor e jornalista)

Foto: Raulino Júnior

“Ser entrevistado por Raulino Júnior é sempre um troca gostosa de aprendizado e novos olhares. Ele é aquele jornalista que te surpreende a cada pergunta, a cada provocação. Ele mergulha no assunto, na obra, na nossa persona e consegue fazer com que cada encontro seja único e marcante. Fico imensamente feliz e grato por fazer parte da história do ‘Desde’. Espaços de independência e pluralidade precisam ser consumidos, valorizados e comemorados. Vida longa ao ‘Desde’ e ao jornalismo autoral e inquieto do querido Raulino”.

Felipe esteve no Desde, em 2014, em duas ocasiões diferentes: 1ª) na série Perfis do Desde (Felipe Ferreira é cultura); 2ª) numa entrevista sobre o seu primeiro livro, Griphos Meus, que estava prestes a ser lançado.

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Fernando Guerreiro (diretor de teatro, produtor, radialista, ator e atual presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM))

Fernando Guerreiro participou da série de entrevistas do Sem Edição que comemorou os seis anos do Desde, em 2017. No mesmo ano, o blog fez a cobertura do lançamento das ações da FGM para fomentar a cultura e Guerreiro foi citado.

Julinho Marassi (cantor e compositor)

Foto: Bruno Cancela

“Eu já [fui entrevistado] e foi uma honra pra mim ser lembrado por você, apesar da distância física entre nossas cidades! Muito obrigado pelo carinho e pela força, irmão! Que Deus te abençoe e ilumine em seus projetos e sonhos💪🏽 Tamo junto!”.

Julinho Marassi mora em Barra Mansa, no Rio de Janeiro, e forma dupla com Gutemberg há 29 anos. Em 2016, concedeu uma entrevista para o Desde em que falou sobre carreira, música brasileira e política nacional. Exclusivamente para os leitores do blog, gravou vídeos cantando Acorde, Brasil Aos Meus Heróis, uma das músicas mais conhecidas da dupla.

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Marco Antonio Fera (ator, professor, apresentador e produtor cultural)

Foto: Kayan Viana

“Um encontro para privilegiados, definiria assim. Raulino Júnior você é luz, gentileza, afetuoso, generoso, genial. Só agradecer pela oportunidade de falar sobre VIDA, afetos, arte… Trocar com um artista como você, de coração enorme. 😘😘😘😘😘”.

Marco Antonio Fera foi um dos convidados da série de perfis Gente é pra brilhar!, pré-comemoração que integrou o projeto #Esquenta10AnosDoDesde. No texto, um pouco da vida, dos caminhos e das opiniões do artista sorocabano.

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Maria Alice Silva (escritora, advogada, mestra e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFBA)

Foto: Mônica Silveira

“Cuidadoso, criterioso, ético, profissional, assim eu definiria Raulino Júnior. Obrigada por ter entrevistado Maria Alice Silva e Walter Passos no lançamento do livro Pedra de Nzazi, Xangô e Sogbo?”.

Maria Alice Silva concedeu entrevista para o Desde em maio de 2020, para falar sobre o lançamento do livro Pedra de Nzazi, Xangô e Sogbo?, que ela escreveu em parceria com Walter Passos, que também foi entrevistado. As motivações, importância e legado da obra foram pautas do bate-papo.

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 Paulo Leandro (jornalista, professor, mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas e doutor em Cultura e Sociedade, ambos pela UFBA)

Foto: Raulino Júnior

“Talvez, por formação religiosa rigorosa, pois desde criança fui doutrinado no catolicismo, sinto-me mais próximo do intencionalismo e da boa vontade. Utilitarismo, hedonismo e, principalmente, o consequencialismo não me deixam tão à vontade, moralmente, como a intenção, atributo cujo controle é do sujeito. Nesta conexão, entendo ficar à vontade com Raulino, uma vez perceber nele também este dom da intenção. Em vez de pensar nas consequências de entrevistar uma pessoa com mais poder e glória, preferiu um profissional cumpridor de seus deveres e nada mais. Foi com esta simplicidade que papeamos há 10 anos atrás (desculpo-me a redundância raulseixista), ali mesmo nos 41 metros quadrados onde entulho papéis velhos, chamado lar. Uma grande temeridade entrevistar Paulo Leandro por causa de seu desapego aos projetos de poder, uma vez ser um tipo muito pouco associativo. Acredita o entrevistado na missão do intelectual em tornar-se um solitário crítico de todos e tudo quanto possa ser alvo de suas flechadas de pensamento. O fato de Raulino ter apostado no ping-pong revela sua coragem, outro atributo de identificação com este jornalista e professor fã dos indígenas e povos originários. Espera-se um corporativismo desatado quando se é professor universitário e cronista esportivo, e num país, meio selva, meio civilização, toda divergência vira mágoa. Vamos saudar, então, a passagem do décimo aniversário deste webspace, lembrando uma oportuna reflexão sobre a ocasião de um aniversário. Quando celebramos 10 anos, estamos comemorando às avessas, porque estes 10 anos já não temos mais para produzir o conteúdo do blog. E não sabemos também quanto tempo ainda teremos, pois o mundo é robusto para entristecer. Para não bancar o chato, num texto comemorativo, vamos esquecer este dado fenomenológico do ser-no-mundo e apenas cantar o parabéns para Raulino e seu Colé. Fico grato pelo privilégio de ter estreado este blog, especialmente pelos valores nele contido, desde a origem, unidos pelo intencionalismo e pela boa vontade”.

Em 2012, Paulo Leandro concedeu a primeira grande entrevista do Desde. Foi importantíssima para o meu crescimento profissional e pessoal.

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Peterson Azevedo (professor e fotógrafo)

Foto: autorretrato

“Maravilhosa experiência, bem conduzida, gentil, ética e que me deixou à vontade para contar um pouco da minha trajetória. Obrigado, Raulino Júnior”.

Peterson Azevedo se refere à participação dele na série Perfis do Desde (Um olhar sobre Peterson Azevedo), em novembro de 2014. O artista contou um pouco da sua história e de como nasceu o seu amor pela fotografia.

Sidcley Caldas (engenheiro civil, pedagogo, licenciado em matemática, mestre e doutorando em Educação, ambos pela UFBA)

Foto: Raulino Júnior

“Caro, Raulino Júnior, gosto do que é simples…e isso não significa não sofisticação…gosto do que é verdadeiro…e isso não significa abertura total…gosto do sorriso na cara…e isso não significa não sorrir pelos olhos…gosto do que me toca…e isso não significa todo e qualquer toque…gosto do encontro…e isso não significa impossibilidade de desencontros…e isso tudo desde…desde…desde…não, isso é de antes do ‘Desde’…embora nele, por ele e com ele é que pude saber mais de você e, enfim, me sentir feliz por te conhecer. Parabéns!”.

Sidcley Caldas foi entrevistado no Sem Edição, em abril de 2019. Na ocasião, falou sobre o projeto Eu Canto Matemática (que mantém, no YouTube, desde 2016), educação e música.

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Tiago Bittencourt (jornalista, produtor, repórter, locutor na TV Brasil e autor do livro O Raul que me contaram)

Foto: Raulino Júnior

“O papo com Raulino foi muito bom e também inesperado. Certo de que as perguntas seriam sobre o livro que escrevi, como costumam ser as entrevistas, me deparei com questionamentos sobre a política que orbita Brasília, onde moro. Ótimo, saiu do lugar-comum, deu a oportunidade para papear sobre outros temas importantes. Bater papo, e com conteúdo, é sempre bom.”

Tiago Bittencourt participou do Sem Edição em agosto de 2017. No bate-papo, falou sobre o livro O Raul que me contaram, que tinha acabado de lançar, analisou o jornalismo feito no Brasil, opinou sobre a efervescência política daquela época e contou como é trabalhar na TV.

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Uendsa Mariáh (cantora e compositora) 

Foto: Caroline Mesquita

“Felicidade a minha por ter tido a sorte de poder ser entrevistada por você e ter dito o que faço ‘Desde que eu me entendo por gente’. Foi um prazer imenso falar um pouco da minha trajetória na música, falar dos meus projetos. Sou uma admiradora do seu trabalho, da sua simplicidade, do seu amor pela arte. Parabéns, Rau, por ser quem você é… Te desejo muito sucesso nos seus projetos e que venham mais anos para comemorarmos o DESDE 👏👏👏👏👏👏. Fico no aguardo da próxima entrevista. Abração! 🤗👏🙏🎉”.

Uendsa Mariáh esteve no programa Sem Edição em outubro de 2017. A artista falou sobre o início da carreira, as influências musicais, os festivais e projetos de que participou.

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Weslei Machado Cazaes (dançarino, bacharel em Humanidades e licenciado em Ciências Sociais)

Foto: Uiny Lene

“Participar dessa entrevista foi uma surpresa para mim, ainda mais com o anúncio “gente é pra brilhar” . Nunca me chamaram pra nada do tipo. Então, foi uma experiência nova e indicadora, pois eu estava falando de algo difícil: de mim mesmo. Ler o que eu escrevi, ver e ouvir o que eu falei, me fez refletir muito sobre esse brilho que eu me nego a enxergar em mim mesmo. A gente está mais acostumado a falar em segunda ou terceira pessoa, mas em primeira pessoa é  difícil… Ao menos para mim. Quero agradecer essa oportunidade que você me deu, de ter tido esse olhar sobre ‘quem é Weslei’, de ter despertado em mim curiosidades sobre o que sou, o que quero e o que posso ser. Realmente, gente é pra brilhar, e gente preta é pra ser um farol! No mais, amei a proposta de dar voz e vez a diversos tipos de pessoas e o resultado disso não poderia sem menos que o melhor. Gratificante ver os comentários de colegas, amigos, conhecidos, desconhecidos, falando da gente, conhecendo um terço de nossa vida. Só tenho a agradecer. Como falamos no axé: adupé!”.

Weslei Machado Cazaes se refere à participação dele na série de perfis Gente é pra brilhar!, que fez parte do projeto #Esquenta10AnosDoDesde. Lá, ele mostrou como brilha na dança, na religião e nas ciências.

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Yan Brumas (ator, cantor, produtor e diretor de teatro)

Foto: Jaques Diogo

“Que maravilha! ✨ Já fui entrevistado, mais de uma vez, por este grande homem – Raulino Júnior – e, nas matérias publicadas, pude expor aspectos de minha trajetória e falar sobre alguns de meus trabalhos artísticos. A forma respeitosa, carinhosa e inteligente de tratar os temas fazem do DESDE, que completa lindamente uma década, referência para quem trabalha com cultura e para quem consome arte. Uma enorme satisfação fazer parte desta história! Agradeço por todo o apoio, pela presença atenciosa e por toda energia trocada! Axé! E vida longa!”.

Yan Brumas é mineiro, nascido em Belo Horizonte. Já esteve no Desde duas vezes: na primeira, em 2015, numa grande entrevista, na qual falou sobre sua trajetória artística e acadêmica, opinou sobre padrão de beleza e a indústria da cortesia que está matando a cada dia o fazer teatral Brasil afora. Na época, usava outro nome artístico; na segunda, em 2018, numa notícia que tratava sobre o espetáculo MUTANTE, que deu início às comemorações pelos seus 20 anos de carreira.

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É Desde! É Dez! É DEZde!

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