Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Resenha

O desabafo de José

O homem que amava livros e homens: um desabafo. Foto: reprodução do blog de José Aparecido Ferreira

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

 

Em tempos de discussões sobre novos arranjos familiares e união civil entre pessoas do mesmo sexo, a leitura de O homem que amava livros e homens torna-se necessária, até para desanuviar coisas que porventura estão como névoa no canto mais oculto do nosso intelecto. A autobiografia de José Aparecido Ferreira foi lançada em 2013 e tem passagens bem interessantes. O autor, que é professor da rede pública de ensino de São Paulo, tem outros livros e disponibiliza toda a sua obra no blog www.joseaferreira.blogspot.com.br/.
O núcleo da história do livro em questão é, principalmente, como José percebeu a sua homossexualidade e como lutou contra isso, casando e virando pai de um menino. Em nenhum momento da narrativa, o professor se coloca como bissexual. Isso fica evidente logo na apresentação da obra: “Espero que as famílias que tenham um homossexual em seu seio, a partir da leitura dessa obra, consigam compreender melhor essa condição e estreitar ainda mais seus laços afetivos“, p. 5.
O clímax do relato se dá quando o narrador conta ao leitor o momento em que assumiu ser homossexual para os familiares e amigos. “Após três anos de casamento, em meados de janeiro de 2000, com vinte e cinco anos de idade, para surpresa de muitas pessoas e familiares, minha vida deu uma grande reviravolta quando decidi me separar de Elisângela e assumir definitivamente minha homossexualidade“, p. 52. Desse ponto em diante, o autor aborda alguns de seus relacionamentos com homens (que, de acordo com ele, aconteceu depois do término do casamento. Ao longo da história, José faz questão de enfatizar que, até aquele momento, nunca tinha se relacionado com homens), as decepções amorosas, alguns riscos pelos quais passou por causa de um namorado e também o alívio e alegria de poder ser quem era de verdade.
Outro momento bastante emblemático da obra é quando Ferreira descreve como revelou ao filho Gabriel, então com cinco anos, sobre a sua condição. No final da conversa, depois de todos os esclarecimentos, a criança solta: “Papai, eu te amo do jeito que você é, porque você me dá muito amor e carinho“, p. 61. Depois de algum tempo morando com a mãe, Gabriel, aos 14 anos de idade, manifestou a vontade de morar com o pai e com Alexandre, atual namorado de José. A Justiça atendeu à vontade do garoto.
O homem que amava livros e homens trata de uma história comum, de amor. Mostra os problemas, desafios e alegrias de um relacionamento amoroso entre seres humanos. Só peca no excesso de detalhes desnecessários (só para dar um exemplo, ao falar de um passeio que fez com Alexandre, José destaca os sabores dos sorvetes que cada um pediu na sorveteria). Algo que chama atenção também são alguns desvios da norma padrão da língua portuguesa e problemas de pontuação em alguns trechos: “Não posso negar que houveram alguns momentos de alegria no meu relacionamento com ‘Z’, mas foram muito poucos comparados a tantas coisas ruins que aconteceram e que culminaram no fim da nossa relação em abril de 2008“, p. 85-86.
O desabafo serve para abrir a nossa cabeça.
Referência:
FERREIRA, José Aparecido. O homem que amava livros e homens. 2. ed. Jundiaí, SP: edição do autor, 2013.

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O negro som do Cidade

Toni Garrido num dos momentos finais do DVD Acústico MTV Cidade Negra. Foto: captura de tela feita em 22 de junho de 2015.

Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora|| 

Nos dias 25 e 26 de novembro de 2001, o grupo Cidade Negra gravava o seu CD e DVD da série Acústico MTV, no Rio de Janeiro. Os produtos foram lançados no ano seguinte. O DVD, mote deste texto, chegou ao mercado com 20 faixas, sendo duas inéditas: a metafórica e bem-sucedida Girassol (Toni Garrido/Da Gama/Lazão/Bino Farias/Pedro Luis) e Berlim (Toni Garrido/Da Gama), que soa como um lamento. Além disso, o grupo fez uma versão em português para a música Johnny B. Goode, de Chuck Berry.

O DVD é simples e sem grandes efeitos, porque deixa a música protagonizar o espetáculo. O que é muito positivo. A veia cênica de Toni Garrido dialoga com o cenário que foi criado e com as letras das canções. O cantor é um intérprete de mão-cheia, como se diz. A afinação precisa e a maciez da voz também se destacam. Da Gama (guitarra), Bino (baixo) Lazão (bateria) completam o time vencedor.
O espectador é arrebatado pelo DVD logo no começo: as canções Sombra da Maldade (Toni Garrido/Da Gama), Realidade Virtual (Toni Garrido/Lazão/Da Gama/Bino Farias), Pensamento (Lazão/Ras Bernardo/Da Gama/Bino Farias), GirassolPodes Crer (Toni Garrido/Lazão/Da Gama/Bino Farias) e Doutor (Lazão/Da Gama/Toni Garrido/Bino Farias) são as responsáveis por isso. Como é de praxe, a obra teve como intenção reunir os grandes sucessos do grupo oriundo da Baixada Fluminense. As canções falam de amizade (Podes Crer), de problemas sociais (Doutor, Soldado da Paz [Herbert Viana]), de espiritualidade (Mensagem [Lazão/Da Gama/Ras Bernardo/Bino Farias], que traz o verso “Deus é a vontade de estar feliz”) e de romantismo (Realidade VirtualConciliação [Lazão/Da Gama/Ras Bernardo/Bino Farias], Firmamento [Henry Lawes/Winston Foster, versão: Lazão/Da Gama/Bino Farias/Toni Garrido] , Onde Você Mora? [Nando Reis/Marisa Monte]). Não dá para não destacar o caráter filosófico de Pensamento, uma espécie de autoajuda em forma de música. A emblemática A Estrada (Lazão/Da Gama/Toni Garrido/Bino Farias), que toca em quase todas as cerimônias de formatura, é outro ponto alto do DVD.

A participação de Gilberto Gil é só uma mera participação. Nada demais. Cheia daquelas babações que já estamos acostumados, quando se trata da presença de ícones da música considerados “de peso”. Com Toni, Gil canta Extra, de sua autoria, lançada no disco homônimo de 1983. Antes de chamá-lo ao palco, Garrido baba: “Agora, a gente vai ter, talvez, o momento mais sublime da história, da vida do Cidade Negra. É o momento que você encontra, na realidade, o seu verdadeiro pai, o pai musical do Cidade Negra, o irmão musical do Cidade Negra, o bróder. Aonde [sic] ele chega, por onde ele passa, nascem flores e amores. O homem que cheira flor, que exala perfume de flor: Gilberto Gil“. What?!

A direção artística do Acústico MTV Cidade Negra foi assinada por Liminha e Ronaldo Viana. Um acerto. O DVD retrata com precisão a identidade musical do grupo. Vale muito a pena assistir ao registro!

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“Amor” é tema de concurso literário da Litteris Editora

Por Raulino Júnior

Se você tem um texto guardado no computador, cujo tema é o amor, já pode participar do Concurso Literário Amor, Paixão ou Loucura, promovido pela Litteris Editora. As inscrições seguem até o dia 15 de agosto de 2015 e cada participante pode inscrever, no máximo, duas obras, de qualquer gênero literário, com até 60 linhas cada uma. Os textos deverão ser enviados em língua portuguesa, por e-mail (concursos@litteris.com.br) ou pelo correio (Av. Presidente Vargas, 962/1411, Centro, CEP.: 20071-002, Rio de Janeiro-RJ). Em qualquer uma das modalidades de envio, o autor deve informar nome completo (ou pseudônimo), endereço e telefone de contato. Há também a possibilidade de enviar os textos por um formulário eletrônico, indicado no site da Litteris.
Premiação
Os vencedores terão os textos incluídos no livro Amor, Paixão ou Loucura e ganharão alguns exemplares dele. Além disso, troféu e certificado (1º lugar), medalha e certificado (2º e 3º lugares). O resultado sai dia 30 de setembro de 2015. Para saber mais informações sobre o regulamento do concurso, basta acessar o site www.livrarialitteris.com.br.
A editora
Litteris Editora foi fundada em 1988 e já tem mais de 5.000 títulos editados. O grupo editorial é formado por mais dois parceiros: a Quártica Editora e a Quártica Premium. A missão é a de publicar obras de novos escritores. Quem sabe não é a sua vez?
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Estou falando é de Amizade

Imagem: reprodução do site Elo7.

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Nesses últimos dias, estive pensando sobre a Amizade. Principalmente, por observar como as pessoas se relacionam nos tempos de agora. Acho tudo muito estranho. Muito mesmo! Em Bola de Meia, Bola de Gude, música que me retrata de forma precisa, os compositores Fernando BrantMilton Nascimento dizem assim num dos trechos: “E não posso aceitar sossegado/ Qualquer sacanagem/ Ser coisa normal”. Penso assim.
Não dá para aceitar tudo e viver sorrindo para os amigos, a fim de não se “queimar”, “perder a amizade” ou sair como chato. Se o sentimento de amizade, de fato, existe, a sinceridade vem por tabela. Indispor-se é bom. Nossos amigos, assim como nós, são imperfeitos e cheios de subjetividade. Respeitar as diferenças é saudável. Apontar as falhas, chamar a atenção e discutir posturas também. Isso é amizade.

O contrário disso é qualquer outra coisa. Porque amizade é confiança. Ponto. Hoje, a gente quase não tem isso [confiança]. Não estabelecemos uma relação. A gente pode até achar uma pessoa legal, interessante, mas isso fica da porta pra fora. A gente não quer trazê-la, em definitivo, para o nosso mundo. Às vezes, não serve nem para uma amizade no Facebook, onde a superficialidade impera. Falta confiança. É triste, mas estou sendo sincero. Comigo tem sido assim. Infelizmente.

Talvez, por acreditar muito nas pessoas e me surpreender negativamente com algumas atitudes delas, tenha perdido a vontade de aprofundar a relação. Não quero ser amigo, tampouco inimigo. A indiferença de hoje em dia também me acompanha.

Sigamos.

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Oficina de Butoh na Escola de Belas Artes da UFBA

Por Raulino Júnior

Já ouviu falar em butoh? Se sim, ótimo; se não, tem uma boa oportunidade para saber do que se trata: a Oficina de Butoh com Calé Miranda: dançando com o espírito ancestral. A atividade, que é dirigida a atores, dançarinos e interessados, vai acontecer de 15 a 19 de junho, das 18h às 22h, em Salvador. A maior parte das aulas será na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. No dia 19, todo mundo vai dançar na área verde da Escola de Dança, dessa mesma instituição.
Butoh é uma dança-teatro de origem japonesa que se caracteriza por ser bastante performática. De acordo com estudiosos, os movimentos da dança são resultado de uma ação interior, que é fundamental para a técnica. Em 2012, ao estrear , o Bando de Teatro Olodum se debruçou nos conhecimentos de butoh para montar o espetáculo. Para Cláudio Antônio, aluno da pós-graduação em Artes Cênicas da Escola de Teatro da UFBA e um dos organizadores da oficina, o butoh “é uma expressão que vem modificando a maneira de se pensar e fazer dança nos dias atuais. Sua proposta é a busca da expressividade individual de cada artista”. A justificativa de trazer a arte para solo baiano é convincente: “A Bahia sempre foi polo de difusão e formação em dança, com a primeira escola de nível superior. Além de ter grupos e artistas que produzem, fazem dança contemporânea e se interessam pela linguagem”, eslcarece.
A oficina terá um total de 20h e dará certificado ao participante. O valor do investimento é de R$ 150, para estudantes; e R$ 200, para profissionais. Pesado? Claúdio explica: “O artista [Calé Miranda] vem por conta própria, sem nenhum patrocínio. O valor da oficina é seu pró-labore e servirá também para pagar as despesas com a produção”. Para se inscrever, os interessados devem acessar www.ebaextensaobutoh.wix.com/extensao-butoh. Se quiser esclarecer algumas dúvidas sobre a inscrição, envie e-mail para ebaextensaobutoh@gmail.com. São apenas 20 vagas! Corre!
Quem é Calé Miranda

Calé Miranda. Foto: Marco Netto

Calé Miranda nasceu no Rio de Janeiro, é diretor de teatro e pesquisador das relações da dança butoh com a mitologia afro-brasileira. Integra o grupo Cia. da Ação!, do qual é diretor artístico. 

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