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GILMELÂNDIA RESPONDE PERGUNTAS BASEADAS NAS CANÇÕES DE CAETANO VELOSO

Foto: Divulgação

IEntrevista
A cantora Gilmelândia, 35 anos, emocionou o público do Teatro Castro Alves na manhã deste domingo. Gil, como é mais conhecida, apresentou aos soteropolitanos o show Gil canta Caetano, que fez parte do projeto Domingo no TCA. Além de ser muito aplaudida durante o espetáculo, a cantora surpreendeu a todos que foram prestigiar o concerto pela execução de arranjos ousados para as músicas de Caetano Veloso, com a introdução de elementos de rock’n’roll e de forró, e também por causa de sua excelente atuação como intérprete. Dessa forma, o show se tornou uma representação genuína de Música Popular Brasileira e Gil se consolidou como expoente da música baiana. A emoção tomou conta dela e da plateia que acompanhava, atentamente, cada canção executada. Após a apresentação, a cantora concedeu entrevista exclusiva para o Desde que eu me entendo por gente. Por opção editorial, o blogue decidiu publicar todas as reações da artista durante o bate-papo, principalmente para manter algo que é muito peculiar em Gil: a espontaneidade. Boa leitura.
Desde que eu me entendo por gente: Quando você canta Caetano, alguma coisa acontece no seu coração?
Gilmelândia: (Ri) Adorei essa! Claro que acontece e dá para todo mundo sentir. É como se todos os meus órgãos se mexessem e viessem comigo. Eu coloco muita força, é muita emoção. Fico o tempo inteiro querendo chorar, porque as canções são lindas e eu estou sem palavras. Foi um show maravilhoso, o povo é fantástico, as letras de Caetano… Ele é um artista sem comentários. Estou muito feliz em poder homenageá-lo em vida, que é muito importante.
DQEMEPG: A mente apavora o que ainda não é mesmo velho?
Gil: Ah, com certeza, né? Porque, você sabe que, para fazer um show desse, há muitas dificuldades. A gente começa a ensaiar, foi em cima da hora, tipo um mês para acontecer tudo. Mas eu disse: sabe de uma coisa? Eu vou fazer. Teatro Castro Alves, essa coisa toda assusta, mas na hora eu esqueci as dificuldades e deu tudo certo. Graças a Deus. O público amou e esse show foi muito importante para mim.
DQEMEPG: Na canção Gente, Caetano fala que “cada estrela se espanta à própria explosão”. Com você, aconteceu isso?
Gil: Sempre acontece isso. A cada flash, a cada beijo, a cada vez que as pessoas me chamam e quando aplaudem e gostam do que eu faço. Aí, dentro da gente, dá aquela explosão mesmo de alegria, de felicidade e de prazer de estar fazendo. Como eu falei no palco, que a música nasceu primeiro em minha vida. Então, é uma explosão mesmo a cada momento.
DQEMEPG: O que você acha dos homens que ainda insistem em exercer os seus podres poderes?
Gil: Horrível, né? Eu acho que na vida a gente tem que investir no outro. Eu falei isso no show e sempre falo por onde passo. Quando a gente não investe a vida no outro, não faz o bem para o outro — até com um abraço, com um beijo, um aperto de mão, um bom dia — é muito ruim. Principalmente, quando você tem poder. Você tem que pegar esse poder para ajudar e não para fazer o mal e só ajudar a si próprio, mas ajudar ao outro.
DQEMEPG: Você já passou alguma situação semelhante àquela narrada por Caetano na música Eclipse Oculto?
Gil: (Hesitante) Já! Mas passa, né? Na vida tudo passa, tudo passará . Ou bom ou ruim, tudo passa. O importante é a gente seguir em frente.
DQEMEPG: O nome do blogue é “Desde que eu me entendo por gente” (Gil gargalha). Por isso, quero que você complete esta frase: Desde que eu me entendo por gente…
Gil: Que eu amo cantar e estou muito feliz em estar há 25 anos fazendo isso.
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Artigo de Opinião, Opinião

TEM ANÔNIMO QUE “SE ACHA”

IArtigo

Você já reparou como as pessoas são bastante preconceituosas quando emitem uma opinião sobre algum famoso? Elas se colocam num patamar superior em relação àqueles que alcançaram a fama, duvidando de todo e qualquer ato praticado por eles. Por trás disso tudo, uma exagerada presunção.

Que o preconceito é uma característica inerente à raça humana, ninguém duvida. E ele fica ainda mais evidente quando as pessoas se referem aos famosos. Todo mundo, mesmo sem conhecer aquela pessoa tão conhecida, tem uma opinião formada sobre ela. “Ah, eu não gosto de fulano por isso, aquilo e aquilo outro”. Um comentário como esse não é baseado em quase nada, somente numa ideia preconcebida sobre o alvo. Muitas vezes, os críticos não pesquisam uma linha sobre o criticado, apenas fundamentam os seus comentários pelo o que ouvem de outras pessoas.

Quando, por exemplo, um artista famoso diz que ele próprio é quem atualiza o seu blogue, parte do público coloca isso em questão. “Você acha que ele escreveria tão bem? Claro que não! Isso aí é trabalho da assessoria”. A pessoa que se tornou famosa não pode ter estudado como outra qualquer? Será que ela também não adora ler e por isso tem intimidade com a língua portuguesa? Aqui, não se trata de ingenuidade, trata-se de constatar que as pessoas são capazes, independentemente de serem famosas ou não.

Outro dia, numa famosa rede social, um internauta fazia comentários negativos em relação à cantora Claudia Leitte e, num determinado momento, a chamou de mediócre (assim mesmo, com o agudo no “ó”). Eis a pergunta: quem, na verdade, é o medíocre dessa história? Fica a reflexão. Não dá para se colocar num pedestal e achar que você é melhor que todo mundo. Você não é. Não se iluda.

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Discriminação, Entrevista, Jornalismo, Negritude, Negro, Preconceito, Racismo

ESTUDIOSOS DISCUTEM QUESTÕES LIGADAS À NEGRITUDE

 
Sabrina Gledhill e Jaime Nascimento

|Educação Os professores Sabrina Gledhill e Jaime Nascimento concederam entrevista exclusiva para o Desde que eu me entendo por gente. Na ocasião, eles falaram sobre negritude, preconceito e discriminação. A inglesa Sabrina Gledhill, 55 anos, é bacharel em Letras Inglesas e mestre em Estudos Latinoamericanos. Radicada na Bahia desde 1986, realiza pesquisas históricas e antropológicas. Jaime Nascimento tem 40 anos, é bacharel em História pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e mestrando em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
 
Desde que eu me entendo por gente: Negritude é algo que vai muito além da cor da pele? Por quê?
 
Sabrina Gledhill: É uma pergunta que, realmente, eu teria que pensar muito para responder, mas claro que negritude é uma filosofia. É uma questão de amor próprio, de visão de cultura, de história, de ancestralidade. Eu acho que têm muitas pessoas que são consideradas negras e que não têm negritude, no sentido de ter orgulho da cultura dos seus ancestrais negros. Aqui no Brasil se diz que todo mundo tem ancestralidade tripla, mas a ênfase é mais nos europeus. A parte indígena nem se fala. Existem muitos preconceitos e muita falta de informação sobre a África. Algumas pessoas acham até que a África é um país.
 
Jaime Nascimento: Sim. Isso pode ser mais ligado à questão do pertencimento, das pessoas se perceberem como negras ou não. Por exemplo, o nosso Rei do Futebol tem esse entendimento? Alguma vez ele se declarou? Eu não estou falando de ser militante, de carregar bandeira, não; mas de colocar “minha posição é essa”. Infelizmente, tem um monte de gente que não é negra; mas, felizmente, tem muita gente que é. Inclusive, não sendo fenotipicamente negra, mas considerando-se como tal. É questão de pertencimento, de percepção individual de cada um.
 
DQEMEPG: Muita gente costuma confundir preconceito e discriminação. Para esclarecer, diferencie cada conceito.
 
SG: Preconceito é uma questão muito pessoal. Discriminação é o que se faz no dia a dia para oprimir e excluir pessoas. O preconceito é a base de tudo isso. É uma coisa que, infelizmente, as pessoas aprendem no berço e com a televisão. Pode ser até inconsciente. O preconceito fere, mas é a discriminação que realmente perpetua as desigualdades.
 
JN: O preconceito é a sua opinião, positiva ou negativa, em relação à determinada coisa. A discriminação é a sua ação em função disso. Inclusive, o que a lei proíbe é a discriminação. Você não pode tratar as pessoas de forma diferente em função de uma característica física, psicológica, religiosa, sexual, o que for. A não ser que seja uma coisa da própria lei que vise, justamente, a promoção da igualdade. É o que se chama de discriminação positiva. O contrário não pode ser feito: discriminar prejudicando. Ninguém pode fazer isso e se fizer está passível de cumprir as penas que a lei impõe. A diferença básica é essa: a discriminação é a ação em função do preconceito.

# As péssimas fotos foram feitas por Raulino Júnior. Locação: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).

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