#Desde8, Cultura, Eu sou Foca!, Jornalismo Cultural

Para comemorar nove anos em atividade, Desde vai contar histórias de focas que fazem o jornalismo acontecer Brasil afora

Eu sou Foca!: Desde parte do próprio próprio exemplo para comemorar nove anos

Por Raulino Júnior

Em 1º de janeiro de 2020, o Desde completa nove anos de idade! Como é de praxe por aqui, há sempre uma comemoração na qual o exercício do jornalismo fica evidente. Como a tônica da prática jornalística é a de contar e compartilhar histórias, a comemoração pelos nossos nove anos terá isso como base. Vamos colocar na praça a série de reportagens Eu sou Foca!, cujo objetivo é contar histórias de focas que fazem o jornalismo acontecer Brasil afora. A essa altura, você deve estar se perguntando: o que é foca? A gente explica: “foca” é um termo utilizado entre os jornalistas para se referir a estudantes de Jornalismo ou a quem está no início da carreira. No livro Manual do Foca: guia de sobrevivência para jornalistas, a jornalista e professora da Universidade de Brasília (UnB)Thaïs de Mendonça Jorge, afirma: “Foca é o jornalista novato, bisonho – ou seja, não experimentado -, aquele que ainda pensa em fazer um curso de Jornalismo ou o jovem quem está caminhando para essa profissão”, p.13. Citando Carlos Alberto Nóbrega da Cunha, a autora diz ainda que “foca nos Estados Unidos é cub, que em inglês significa filhote. A palavra cub também designa os escoteiros novatos, os lobinhos“, p. 13.
Eu sou Foca!
O nosso intuito é encontrar pessoas que têm iniciativas interessantes na área do jornalismo. Queremos mostrar como o trabalho do foca contribui para transformar a realidade na qual ele está inserido, e a sociedade como um todo. No fundo, queremos apoiar e divulgar projetos bem-sucedidos, que fazem o jornalismo acontecer com muita inspiração e força de vontade. Formar redes de apoio é sempre importante. Você já desenvolve algum trabalho de jornalismo por conta própria? Qual é a natureza dele? Quer participar da nossa série? Então, preencha o formulário e venha contar a sua história no Desde! Mostre por que você é foca!
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#Desde8, Crônica, Cultura, Desde Já, Jornalismo Cultural

Chegar em casa

Crédito da imagem: Emoji Terra

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Não há nada melhor do que chegar em casa. Depois de um dia de trabalho cheio de desafios, muitas responsabilidades e prazos para cumprir, chegar em casa é um bálsamo. É encontrar-se consigo no lugar mais íntimo do mundo para você. A sensação é a de que todos os problemas ficam do lado de fora da porta e que você ganha mais uma chance para se reconectar. É um alívio.

Casa é refúgio. É lugar de abrigo e de amor. Você sai com a sua turma, visita parentes, fica o dia todo na rua, mas, quando chega em casa, não quer mais nada. Quer só ficar ali, de pernas para o ar, descansando e pensando nas coisas que fez. Claro que, por causa da rotina maluca que a gente vive, muitas vezes, não podemos chegar em casa e não fazer mais nada. É uma pena.
Mas, vamos pensar na alegria que é chegar em casa. Há uma satisfação quando a gente bota o pé no piso e abre a porta. A casa pode estar uma zona, toda desorganizada, uma bagunça total, mas nada tira a sensação de prazer ao chegar no seu lugar de conforto, no seu carinho de concreto, no seu ninho.
Chegar em casa é uma terapia. Faz um bem danado. Você fica descalço, à vontade, recebendo toda a energia positiva do único lugar do mundo que você pode chamar de seu. Independentemente de ser o proprietário ou não, a casa é sempre sua. No refrão da música A casa é sua (Arnaldo Antunes/Ortinho), Arnaldo Antunes canta: “A casa é sua/Por que não chega agora?/Até o teto tá de ponta-cabeça porque você demora/A casa é sua/Por que não chega logo?/Nem o prego aguenta mais o peso desse relógio”. A casa é sua. Chegue logo e aproveite o tempo que passa nela.
Sigamos.
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#Desde8, Cultura, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura, RauLendo: leituras em pauta

O Caso Escola Base e a falta de uma regra básica do Jornalismo

Escola Base: caso marcou a história do jornalismo brasileiro. Imagem: site da Editora Casa Flutuante

Por Raulino Júnior ||RauLendo: leituras em pauta|| 

Não precisa fazer nenhuma pesquisa para afirmar que, de 1994 para cá, é quase impossível ter um estudante ou profissional de Jornalismo, no Brasil, que não conheça o Caso Escola Base. Se tem, as faculdades estão falhando. O emblemático episódio começou a figurar nas manchetes dos jornais, rádio e TV em março daquele ano e, por falta de um requisito básico da prática jornalística, a apuração, “matou” socialmente seis pessoas. Explico: Icushiro ShimadaMaria Aparecida Shimada e Paula Milhim, donos da Escola de Educação Infantil Base, localizada em São Paulo, foram acusados de abuso sexual por Cléa Parente e Lúcia Tanoue, mães de estudantes da instituição. Além deles, Maurício Alvarenga (marido de Paula e motorista do transporte escolar) e o casal Mara França e Saulo Nunes (pais de aluno da Escola Base) também foram acusados de fazer parte de um suposto esquema de pedofilia. O fato é que a imprensa, capitaneada pela Rede Globo, dona do furo jornalístico (Cléa e Lúcia entraram em contato com a emissora com o objetivo de que a denúncia não deixasse de ser investigada e, claro, buscando uma notoriedade para o caso), tomou a queixa das mães como verdade e uma série de reportagens que exploravam o episódio de forma sensacionalista foram veiculadas a partir de então. O estopim foi a reportagem da Globo, conduzida por Valmir Salaro, no Jornal Nacional, em 29 de março de 1994. A única “prova” sobre o “crime” que os jornalistas tinham era o depoimento das mães e as declarações de Edélcio Lemos, delegado do caso, que também deixou de cumprir a sua função com responsabilidade. Por falta de provas, o inquérito foi arquivado, mas os acusados ficaram com marcas que ressoam até hoje.

No intuito de descobrir como o caso marcou a vida dos envolvidos, o jornalista e editor-chefe do portal Casa dos FocasEmílio Coutinho, lançou, em 2016, o livro-reportagem Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira (Editora Casa Flutuante, 135 páginas). Com prefácio de Heródoto Barbeiro, a obra traz um significativo trabalho de investigação de Emílio. Em dez capítulos, o jornalista descortina a história e mostra para o leitor o que aconteceu com as pessoas que participaram diretamente dela. A narrativa é interessante e quem lê se coloca o tempo todo no lugar de Coutinho, na difícil jornada de busca dos personagens, uma vez que, na época de lançamento do livro, o episódio já tinha 22 anos de ocorrido. O casal Shimada, por exemplo, já morreu. E será que todo mundo quis falar sobre o caso ou, como alguns jornalistas que cobriram, na época, as pessoas preferiram o silêncio? No livro, Emílio Coutinho narra todas as aventuras para colher os depoimentos e consegue uma entrevista exclusiva com Valmir Salaro, um dos poucos profissionais que reconhecem o erro. A leitura vale a pena.

Em tempo: Emílio Coutinho está prestes a lançar mais um livro sobre o caso, mas com outra perspectiva. Trata-se de O Filho da Injustiça, parceria do jornalista com Ricardo Shimada, filho do casal Shimada. De acordo com uma postagem do próprio Emílio, no portal Casa dos Focas, o livro “mostrará outro aspecto dessa história e colocará o leitor na pele de umas das vítimas mais próximas da Escola Base”. Vamos aguardar.

Referência:

COUTINHO, Emílio. Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira. São Paulo: Editora Casa Flutuante, 2016.

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#Desde8, Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura, Resenha

Imersão Poética

Livro de estreia de Pedro Vale é repleto de poesias reflexivas. Imagem: captura de tela

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Na quarta-feira passada, 23 de julho, via Twitter, recebi o convite do escritor português Pedro Vale para resenhar o seu primeiro livro, intitulado Azul Instantâneo. Ele enviou o arquivo em PDF e, de imediato, embarquei na leitura. O livro, que reúne textos escritos entre março de 2016 e setembro de 2017, na página do Facebook de Pedro, é poético do início ao fim. E isso não é uma metáfora apenas, é fato. O leitor se depara, logo na segunda página da obra, com o verso “Ofereço”. Na sequência, vários poemas, predominantemente ligados à poesia concreta, desfilam nas mais de 60 páginas da antologia. Na última, o verso “lembro”. Então, o que se conclui é que Pedro oferece para o leitor as suas criações e faz questão de que ele lembre da leitura feita, de que perpetue e compartilhe aquilo que foi lido. Pedro quer ser lembrado.
Azul Instantâneo é repleto de poesias reflexivas, de tom filosófico. Na página 5 do livro, lê-se “Liberto a palavra e solto o pulso”. Na 34, “O rio não corre,/Só o pensamento”. Pedro fala de amizade, do fazer poético, de dificuldades da vida e toda a poética é costurada com muita introspecção. Em um dos poemas, o autor afirma:
“É preciso viver sem paixões.
Mergulhar  no absoluto anonimato,
Permanecer morto ou vivo até o fim.
[…]”
Será que é possível viver sem paixões? Fica a reflexão. Em alguns momentos, a própria poesia é o foco dos textos:
Porto
a poesia vai
pela rua,
esconde-se
nas manhãs mais
frias.
e é à noite que lhe foge
a voz.
lenta
e lenta,
lentamente,
até
desembainhar
na
f
 o
  z
A maioria dos textos não tem título e Pedro traz poemas escritos também em inglês. A instantaneidade da obra se dá, além dos temas abordados, pela leitura rápida. Lê-se de uma sentada só. Há um evidente talento do escritor, ele consegue cumprir o que se propõe a cumprir. Sem grandes pretensões, Azul Instantâneo quer capturar o leitor e consegue fazer isso. A leitura é envolvente. Principalmente, porque a vida está presente o tempo todo no livro, para o bem e para o mal:
Talvez um dia recordes
num qualquer espelho torto
quão simples fora a tua salva
e te lembres daquela vez
em que ceáramos apenas meia
laranja e nada de pão naquela casa cega
com o telhado a verter lágrimas
de fel.
Pedro tem 40 anos e nasceu em Guimarães, mas, há 17, está radicado na Ilha da Madeira. Além de escritor, é professor.
Referência:
VALE, Pedro. Azul Instantâneo. 1. ed. Portugal: edição do autor. 2018.

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#Desde8, Crônica, Cultura, Desde Já, Jornalismo Cultural

A esmola e a culpa

Imagem: reprodução do site Diário de Contagem.

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Andar pelas ruas de alguns grandes centros urbanos do Brasil é se sentir culpado o tempo todo. Explico: cada vez que somos abordados por pessoas pedindo esmolas, o sentimento de culpa vem imediatamente. Porque não dá para pensar: “Eu não tenho nada a ver com isso”. Não dá. Às vezes, você não tem dinheiro mesmo para dar; às vezes, você tem e não quer dar, porque pensa no problema estrutural que o gesto pode perpetuar; e, às vezes, você ignora o pedido e se sente culpado por isso.

Ninguém é o salvador da pátria. Muitas vezes, tendemos a pensar que somos e queremos resolver tudo que está ao nosso alcance. É muito triste encontrar pedintes, diariamente, querendo uns míseros reais para matar as fomes (tenho certeza de que o leitor entendeu o porquê do uso do plural). É triste. Quando a gente lembra que o atual presidente da República afirmou que é “uma grande mentira” falar que se passa fome no Brasil, a revolta se alia à tristeza. É mais uma prova de que o chefe do Executivo nacional não tem nenhuma noção do país que preside. Não é preciso muito esforço nem muito estudo para saber que o problema da fome no Brasil é crônico. Voltemos à esmola.

O que vamos fazer com esse Brasil que faz do pedido de dinheiro uma profissão? Uma blogueira achou melhor debochar da cara de uma idosa e reagiu ao pedido perpetuando mais uma violência: “A senhora tem troco pra R$100?”. Pelo visto, não estamos fazendo e não vamos fazer nada. Estamos impotentes e já banalizamos a presença, nas esquinas, de quem tem o pedido de dinheiro como um ato de desespero ou de acomodação.

Os governantes não pensam em políticas públicas para tirar, de fato, os pedintes das ruas. A sociedade violenta física e simbolicamente. A gente caminha cheio de culpa. Só isso. Pensar em resolver o problema seria pedir demais?

Sigamos.

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#Desde8, Cultura, Jornalismo Cultural, RauLendo: leituras em pauta

Hebe Camargo: vida, obra e outras gracinhas

Hebe Camargo: na capa da biografia, a foto de Petronio Cinque faz a gargalhada de Hebe ecoar. Imagem: site do Grupo Editorial Record.

Por Raulino Júnior||RauLendo: leituras em pauta||

Se estivesse viva, a apresentadora Hebe Camargo estaria com exatos 90 anos e quatro meses de idade. Certamente, cheia de vida, como era comum vê-la sempre que entrava no ar na TV ou nas inúmeras entrevistas que concedeu em mais de 60 anos de carreira. A paulista de Taubaté estreou na vida em 8 de março de 1929 e viu a cortina se fechar em 29 de setembro de 2012, vítima de uma parada cardíaca. Apesar de ter nascido na cidade que virou sinônimo de “mentira”, devido a um caso de falsa gravidez de uma mulher, que ganhou repercussão na mídia, em 2012, Hebe Camargo carregou uma verdade durante toda a sua vida: era a melhor apresentadora da televisão brasileira. E era mesmo! É oportuno até fazer uma brincadeira com o nome dela, para ratificar essa qualidade: HEBEst! Quem assistia aos programas de Hebe, podia constatar isso. Segura, carismática, inteligente e a que melhor sabia usar as deixas para introduzir um merchan.
Em 2017, a editora BestSeller colocou no mercado o livro Hebe: a biografia, de autoria de Artur Xexéo. A obra segue o feijão com arroz de publicações dessa natureza, cheia de linearidade e sem nenhum esforço criativo por parte do autor. O fato de Hebe ser a personagem do livro é o que faz a biografia ser interessante. Hebe era gigante e, dificilmente, um produto em homenagem a ela ficará ruim. Por sinal, em 26 de setembro, estreia o filme Hebe – A Estrela do Brasil (direção de Maurício Farias e roteiro de Carolina Kotscho), com Andréa Beltrão no papel da artista.
Em mais de 200 páginas, Xexéo conta como Hebe começou a carreira, a fase de cantora, atriz e a consagração como apresentadora. As curiosidades da vida da Rainha da TV, os amores, as decepções, as brigas, os embates com políticos e os desafios estão presentes no documento. Nele, o leitor fica sabendo que Hebe quase seria “Beatriz”. Contudo, uma tia fez o pai mudar de ideia. Com tanta vivacidade, a dama da TV brasileira não poderia ter outro nome mesmo. Na mitologia grega, “Hebe” é a deusa da juventude. Para quem gosta de cultura nacional e televisão, vale muito a pena conhecer um pouco mais da vida dessa artista cheia de “gracinha”.
Referência:
XEXÉO, Artur. Hebe: a biografia. 7ª ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2018.
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#Desde8, Cultura, Desde Então: análise de produtos culturais de outrora, Jornalismo Cultural

Tropicália na História e a história da Tropicália

Tropicália: música e manifesto. Imagem: reprodução do site da Editora 34

Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||

Lançado em 1997, o livro Tropicália: a história de uma revolução musical, de Carlos Calado, é um importante registro para a história do movimento. Para quem não foi contemporâneo daquela efervescência artística, vale a pena se debruçar nas mais de 300 páginas que narram como o Tropicalismo nasceu, chegou ao ápice e se desfez. A obra é repleta de depoimentos de pessoas que participaram ativamente da revolução artística e cultural que entrou em cena, no Brasil, entre 1967 e 1968. Além disso, retrata, com se Carlos fosse uma testemunha ocular, os bastidores dos festivais de música que marcaram a história da televisão brasileira. Com linguagem simples e atraente, Calado consegue “prender” o leitor durante toda a narrativa. Isso se dá também porque ele entrelaça o que conta com muitas curiosidades, o que faz o interesse pela história manter-se sempre vivo.

O livro começa do fim, narrando a prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso, expoentes da Tropicália, em 27 de dezembro de 1968, e segue falando da influência de João Gilberto na musicalidade dos dois artistas. No terceiro capítulo, intitulado A Turma do Vila Velha, o autor conta como Gil e Caetano se conheceram (uma curiosidade que quase todo mundo quer saber! De acordo com o jornalista, “Gil e Caetano se conheceram pessoalmente em Salvador, numa tarde de 1963. Caetano vinha andando pela rua Chile, próximo da Farmácia Chile, quando viu o violonista se aproximar. Ele estava acompanhado por Roberto Santana, amigo em comum que já tinha prometido apresentá-los [sic] ao saber que Caetano era fã do violão e da bossa de Gil”, p. 45) e, obviamente, fala sobre a estreia do show Nós, Por Exemplo, apresentado no Teatro Vila Velha, em 22 de agosto de 1964. Além de Gil e Caetano, o show reuniu, entre outros artistas, Maria Bethânia e Maria da Graça, a Gal. O quarteto formaria, doze anos depois (1976), o grupo Os Doces Bárbaros.
Carlos Calado vai mostrando para o leitor cada artista que contribuiu para formatar a Tropicália. Nesse sentido, fala de Tom ZéGal CostaMaria Bethânia, Nara Leão, CapinanTorquato NetoRogério Duprat e Os Mutantes (Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee). Bethânia substituiu Nara Leão no musical Opinião e emprestou toda a sua dramaticidade à interpretação da música Carcará (João do Vale), que virou uma canção de protesto. Sempre que se apresentava num show, o público pedia para Berré (como a irmã de Caetano era chamada pelos mais íntimos) cantar. Bethânia foi ficando desconfortável com essa situação de ser “musa de canção de protesto”. Por isso, não participou do disco coletivo dos tropicalistas, porque não queria mais integrar grupos ou movimentos artísticos.

A antológica capa do disco Tropicália ou Panis et Circenses, de 1968. A foto foi feita pelo fotógrafo Olivier Perroy. Imagem: reprodução do site da Revista Fórum.

Além de conhecer a história da Tropicália e a importância do movimento para a História do Brasil, quem lê o livro fica sabendo algumas curiosidades: o rápido casamento, informal e contra a vontade das respectivas famílias, de Gil e Nana Caymmi; que Caetano já foi apelidado de “Caretano”; que a convivência entre emepebistas e tropicalistas não era boa; que Nara Leão e Capinan não estão na foto da capa do disco Tropicália ou Panis et Circenses (Philips, 1968) porque não chegaram a tempo para participar da sessão de fotos. Por isso, usaram molduras com as imagens dos ausentes. Caetano segura a de Nara; e Gil, a de Capinan; que o nome Tropicália foi uma sugestão do produtor de cinema Luís Carlos Barreto, que se baseou numa exposição homônima de Hélio Oiticica; e que “a foto com os integrantes do grupo tropicalista não foi realizada com um conceito muito definido”, p. 196.
Os incontáveis erros ortográficos encontrados na obra causam estranheza, uma vez que, antes de ser publicado, em geral, o texto de um livro passa por uma rigorosa revisão. O leitor encontra “espectativas” (p. 43), “em baixo” (p. 57), “bode espiatório” (p. 141), “destróem” (p. 155) e “sizudo” (p. 183). Isso não compromete em nada a narrativa, mas, obviamente, deve ser motivo de atenção. Calado esmiúça a explosão do movimento tropicalista, narrando os shows, os festivais dos quais os artistas participaram e todos os conflitos envolvidos no manifesto cultural, que, respeitando as razões e o contexto, remete muito à Semana de Arte Moderna, de 1922. O livro, assim como a Tropicália, vai ficar para a História.
Referência:

CALADO, Carlos. Tropicália: a história de uma revolução musical. 1ª ed. São Paulo: Ed. 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
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Nossa fissura por brindes

Imagem: reprodução da Loja EuQuero

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

Eu tenho a impressão de que o ser humano não pode ouvir a palavra “brinde”, que já quer, mesmo sem saber o que vai ganhar. A gente tem uma fissura por brindes que não se explica. Ela existe e ponto. Quando a gente fica sabendo de alguma promoção de loja ou de algum produto que vem com brinde, a tendência é comprar, independentemente de qual brinde seja. A gente só sabe que quer. E acabou. Esse comportamento é muito engraçado. Muito.
Em festas populares, como Carnaval, por exemplo, é muito comum artistas e promotores distribuírem brindes no meio do circuito. O público se “mata” para pegar aquilo que está sendo jogado de cima do trio, mesmo não sabendo o que é. E pode até acabar em briga! Alguém pode alegar: “O artista jogou o objeto na minha direção e você pegou”. Aí é barril!
O curioso é que, muitas vezes, o objeto conquistado, quando levado para casa, não ganha nenhuma utilidade. Quem pegou, deixa o brinde largado em qualquer cômodo. O prazer era só em pegar, em sair vitorioso da disputa.
O fato é que, ao ouvir a palavra “brinde”, alguma coisa é ativada no nosso cérebro e a sensação de felicidade já aparece. É a expectativa de que vamos ganhar alguma coisa, não importa o quê. A gente quer é ser feliz, mesmo que por uma fração de tempo. Freud explica.
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Tropicália: a história de uma revolução musical

Tropicália e seus personagens na capa do livro de Carlos Calado. Imagem: reprodução do site da Editora 34.

Por Raulino Júnior ||RauLendo: leituras em pauta||

A riqueza musical do Brasil é indiscutível. De tempos em tempos, surgem movimentos que são capazes de transformar a nossa realidade sociopolítica e cultural, mudando tudo. Assim foi a Tropicália, uma revolução artística que sacudiu o país na década de 60, do século passado. Capitaneado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, o Tropicalismo, como também ficou conhecida a subversão artística dos jovens, teve manifestações nas artes plásticas e na literatura, mas foi na música que ganhou corpo e notoriedade.
Carlos Calado, jornalista e crítico musical brasileiro que acompanha a cena fonográfica nacional desde a década de 80, registrou, no livro Tropicália: a história de uma revolução musical, toda a pulsação artística do movimento. Com fotos, muitos depoimentos e algumas boas curiosidades, Calado apresenta uma narrativa interessante e cheia de detalhes sobre a Tropicália. A viagem tem sido rica e surpreendente. Vai ter, em breve, resenha sobre a obra aqui no blog, na seção Desde Então. Até lá!
Referência:

CALADO, Carlos. Tropicália: a história de uma revolução musical. 1ª ed. São Paulo: Ed. 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
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#Desde8, Cultura, Desde em Trânsito, Jornalismo Cultural

8ª história: o projeto #DesdeEmTrânsito

Jornalismo em tempo real é a aposta do #DesdeEmTrânsito

Edições do #DesdeEmTrânsito. Imagem: montagem do aplicativo Layout

Por Raulino Júnior

Chegamos à nossa última história da série 8 Histórias Para Contar, que comemorou os oitos anos do Desde e revisitou algumas de nossas experimentações jornalísticas. Para finalizar, o destaque vai para o projeto #DesdeEmTrânsito. Ele surgiu para a gente sentir o gostinho do jornalismo “em tempo real”. A ideia é fazer cobertura jornalística de eventos, palestras e mesas de debate usando o Twitter. A instantaneidade desse rede social tem tudo a ver com a análise diária dos acontecimentos sociais, uma vez que informar é a base disso tudo. Óbvio que essa informação não pode ser feita de qualquer jeito, sem apuração. Responsabilidade e jornalismo devem sempre andar de mãos dadas.

#DesdeEmTrânsito faz o nosso jornalismo pulsar ainda mais na veia. Porque, em pouco tempo, a gente tem que receber a informação, apurar quando for necessário e postar o tuíte. Claro que já erramos algumas vezes, já pedimos desculpas, mas nada atrapalhou nem impediu a nossa vontade maior, que é a de informar. A primeira edição do projeto foi em 2015. De lá pra cá, já fizemos cinco, três delas em 2017. Clique na imagem abaixo e confira os posts.

Captura de tela da busca por “Desde em Trânsito”, no Desde.

Produzir uma grande reportagem não é nada fácil. É preciso planejar direitinho cada passo que vai ser dado e dedicar muito tempo para a apuração. Para quem gosta de jornalismo, o desafio é sedutor e vale a pena. Até a próxima!
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