Por Raulino Júnior
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Chegar em casa
Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||
Não há nada melhor do que chegar em casa. Depois de um dia de trabalho cheio de desafios, muitas responsabilidades e prazos para cumprir, chegar em casa é um bálsamo. É encontrar-se consigo no lugar mais íntimo do mundo para você. A sensação é a de que todos os problemas ficam do lado de fora da porta e que você ganha mais uma chance para se reconectar. É um alívio.
O Caso Escola Base e a falta de uma regra básica do Jornalismo
Não precisa fazer nenhuma pesquisa para afirmar que, de 1994 para cá, é quase impossível ter um estudante ou profissional de Jornalismo, no Brasil, que não conheça o Caso Escola Base. Se tem, as faculdades estão falhando. O emblemático episódio começou a figurar nas manchetes dos jornais, rádio e TV em março daquele ano e, por falta de um requisito básico da prática jornalística, a apuração, “matou” socialmente seis pessoas. Explico: Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada e Paula Milhim, donos da Escola de Educação Infantil Base, localizada em São Paulo, foram acusados de abuso sexual por Cléa Parente e Lúcia Tanoue, mães de estudantes da instituição. Além deles, Maurício Alvarenga (marido de Paula e motorista do transporte escolar) e o casal Mara França e Saulo Nunes (pais de aluno da Escola Base) também foram acusados de fazer parte de um suposto esquema de pedofilia. O fato é que a imprensa, capitaneada pela Rede Globo, dona do furo jornalístico (Cléa e Lúcia entraram em contato com a emissora com o objetivo de que a denúncia não deixasse de ser investigada e, claro, buscando uma notoriedade para o caso), tomou a queixa das mães como verdade e uma série de reportagens que exploravam o episódio de forma sensacionalista foram veiculadas a partir de então. O estopim foi a reportagem da Globo, conduzida por Valmir Salaro, no Jornal Nacional, em 29 de março de 1994. A única “prova” sobre o “crime” que os jornalistas tinham era o depoimento das mães e as declarações de Edélcio Lemos, delegado do caso, que também deixou de cumprir a sua função com responsabilidade. Por falta de provas, o inquérito foi arquivado, mas os acusados ficaram com marcas que ressoam até hoje.
No intuito de descobrir como o caso marcou a vida dos envolvidos, o jornalista e editor-chefe do portal Casa dos Focas, Emílio Coutinho, lançou, em 2016, o livro-reportagem Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira (Editora Casa Flutuante, 135 páginas). Com prefácio de Heródoto Barbeiro, a obra traz um significativo trabalho de investigação de Emílio. Em dez capítulos, o jornalista descortina a história e mostra para o leitor o que aconteceu com as pessoas que participaram diretamente dela. A narrativa é interessante e quem lê se coloca o tempo todo no lugar de Coutinho, na difícil jornada de busca dos personagens, uma vez que, na época de lançamento do livro, o episódio já tinha 22 anos de ocorrido. O casal Shimada, por exemplo, já morreu. E será que todo mundo quis falar sobre o caso ou, como alguns jornalistas que cobriram, na época, as pessoas preferiram o silêncio? No livro, Emílio Coutinho narra todas as aventuras para colher os depoimentos e consegue uma entrevista exclusiva com Valmir Salaro, um dos poucos profissionais que reconhecem o erro. A leitura vale a pena.
Em tempo: Emílio Coutinho está prestes a lançar mais um livro sobre o caso, mas com outra perspectiva. Trata-se de O Filho da Injustiça, parceria do jornalista com Ricardo Shimada, filho do casal Shimada. De acordo com uma postagem do próprio Emílio, no portal Casa dos Focas, o livro “mostrará outro aspecto dessa história e colocará o leitor na pele de umas das vítimas mais próximas da Escola Base”. Vamos aguardar.
Referência:
COUTINHO, Emílio. Escola Base: onde e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira. São Paulo: Editora Casa Flutuante, 2016.
Imersão Poética
A esmola e a culpa
Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||
Andar pelas ruas de alguns grandes centros urbanos do Brasil é se sentir culpado o tempo todo. Explico: cada vez que somos abordados por pessoas pedindo esmolas, o sentimento de culpa vem imediatamente. Porque não dá para pensar: “Eu não tenho nada a ver com isso”. Não dá. Às vezes, você não tem dinheiro mesmo para dar; às vezes, você tem e não quer dar, porque pensa no problema estrutural que o gesto pode perpetuar; e, às vezes, você ignora o pedido e se sente culpado por isso.
Ninguém é o salvador da pátria. Muitas vezes, tendemos a pensar que somos e queremos resolver tudo que está ao nosso alcance. É muito triste encontrar pedintes, diariamente, querendo uns míseros reais para matar as fomes (tenho certeza de que o leitor entendeu o porquê do uso do plural). É triste. Quando a gente lembra que o atual presidente da República afirmou que é “uma grande mentira” falar que se passa fome no Brasil, a revolta se alia à tristeza. É mais uma prova de que o chefe do Executivo nacional não tem nenhuma noção do país que preside. Não é preciso muito esforço nem muito estudo para saber que o problema da fome no Brasil é crônico. Voltemos à esmola.
O que vamos fazer com esse Brasil que faz do pedido de dinheiro uma profissão? Uma blogueira achou melhor debochar da cara de uma idosa e reagiu ao pedido perpetuando mais uma violência: “A senhora tem troco pra R$100?”. Pelo visto, não estamos fazendo e não vamos fazer nada. Estamos impotentes e já banalizamos a presença, nas esquinas, de quem tem o pedido de dinheiro como um ato de desespero ou de acomodação.
Os governantes não pensam em políticas públicas para tirar, de fato, os pedintes das ruas. A sociedade violenta física e simbolicamente. A gente caminha cheio de culpa. Só isso. Pensar em resolver o problema seria pedir demais?
Sigamos.
Hebe Camargo: vida, obra e outras gracinhas
Por Raulino Júnior||RauLendo: leituras em pauta||
Tropicália na História e a história da Tropicália
Por Raulino Júnior ||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||
Lançado em 1997, o livro Tropicália: a história de uma revolução musical, de Carlos Calado, é um importante registro para a história do movimento. Para quem não foi contemporâneo daquela efervescência artística, vale a pena se debruçar nas mais de 300 páginas que narram como o Tropicalismo nasceu, chegou ao ápice e se desfez. A obra é repleta de depoimentos de pessoas que participaram ativamente da revolução artística e cultural que entrou em cena, no Brasil, entre 1967 e 1968. Além disso, retrata, com se Carlos fosse uma testemunha ocular, os bastidores dos festivais de música que marcaram a história da televisão brasileira. Com linguagem simples e atraente, Calado consegue “prender” o leitor durante toda a narrativa. Isso se dá também porque ele entrelaça o que conta com muitas curiosidades, o que faz o interesse pela história manter-se sempre vivo.
CALADO, Carlos. Tropicália: a história de uma revolução musical. 1ª ed. São Paulo: Ed. 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
Nossa fissura por brindes
Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||
Tropicália: a história de uma revolução musical
Por Raulino Júnior ||RauLendo: leituras em pauta||
CALADO, Carlos. Tropicália: a história de uma revolução musical. 1ª ed. São Paulo: Ed. 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
8ª história: o projeto #DesdeEmTrânsito
Jornalismo em tempo real é a aposta do #DesdeEmTrânsito
Por Raulino Júnior
Chegamos à nossa última história da série 8 Histórias Para Contar, que comemorou os oitos anos do Desde e revisitou algumas de nossas experimentações jornalísticas. Para finalizar, o destaque vai para o projeto #DesdeEmTrânsito. Ele surgiu para a gente sentir o gostinho do jornalismo “em tempo real”. A ideia é fazer cobertura jornalística de eventos, palestras e mesas de debate usando o Twitter. A instantaneidade desse rede social tem tudo a ver com a análise diária dos acontecimentos sociais, uma vez que informar é a base disso tudo. Óbvio que essa informação não pode ser feita de qualquer jeito, sem apuração. Responsabilidade e jornalismo devem sempre andar de mãos dadas.
O #DesdeEmTrânsito faz o nosso jornalismo pulsar ainda mais na veia. Porque, em pouco tempo, a gente tem que receber a informação, apurar quando for necessário e postar o tuíte. Claro que já erramos algumas vezes, já pedimos desculpas, mas nada atrapalhou nem impediu a nossa vontade maior, que é a de informar. A primeira edição do projeto foi em 2015. De lá pra cá, já fizemos cinco, três delas em 2017. Clique na imagem abaixo e confira os posts.