Cultura, Jornalismo Cultural, Texto de Quinta

Atenção é commodity (ou de como querer biscoito)

Eu preciso de carinho e atenção*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Atenção é a moeda dos tempos atuais. Obviamente, como toda moeda, todo mundo quer, mas nem todo mundo tem. Com a popularização dos smartphones, e, consequentemente, com todas as possibilidades de aparecer trazidas pelas redes sociais digitais, atenção virou commodity. Quem consegue ter, se sente um rei, mesmo sem posse de um capital tangível.  
 
A busca por atenção não é algo novo. Ninguém duvida disso. Contudo, agora, quem quer chamar a atenção de alguém tem que fazer um esforço descomunal. Pais, professores e artistas passam por isso diariamente. Quantas vezes já fomos assistir a um espetáculo artístico e nos deparamos com pessoas gravando alucinadamente o que está no palco? Isso é muito comum em shows musicais, por exemplo. A rede pela busca de atenção se configura assim: o artista que está no palco quer a atenção da plateia (digno. Afinal, os pagantes foram lá para isso.), essa, por sua vez, quer a atenção dos seus seguidores. Parafraseando o poeta: “Viver é melhor que filmar”. Hoje em dia, viver é filmar. Tempos atrás, artistas mineiros lançaram uma campanha cujo slogan era: “Desligue o celular e se ligue no espetáculo”. Perfeito!
Pais exigem atenção dos filhos, filhos exigem atenção dos pais e por aí vai. Algumas famílias estabeleceram regras de uso de celular em casa, a fim de resgatar o que deveria ser normal: a conversa tête-à-tête e não por aplicativos de mensagens. No ambiente escolar, professores não reclamam apenas da falta de estrutura ou dos baixos salários. A turma da pedagogia só quer uma coisa para poder realizar o seu trabalho com mais qualidade: atenção. Essa moeda cara é muito disputada. Os vendedores ambulantes que atuam nos ônibus sabem muito bem disso.
Há quem diga que exista um certo transtorno de personalidade em pessoas que vivem em busca de atenção o tempo todo. Pode ser. Nas redes sociais digitais, todo mundo se exibe. O que muda é a natureza de cada exibição. O que já faz parte do cotidiano do indivíduo nas relações que ele tem em casa, com familiares e amigos, apenas é transposto para o universo “ponto com”. Como nele tudo vira moda, a de agora é ser biscoiteiro. Você não sabe o que é isso? Também não sabia, mas alguns educandos me explicaram. Trata-se de alguém que quer atenção ou vive chamando atenção através de suas postagens (ou de suas ações no dia a dia mesmo). Para isso, vale tudo: foto de sunga ou de biquíni, mostrando o corpo matematicamente malhado, registro com pessoas famosas, publicação de indiretas, foto de um look novo. Tudo é matéria-prima para “biscoitar”. Tudo é commodity. O biscoiteiro também é visto como aquele que puxa o saco demasiadamente de qualquer pessoa ou coisa, a fim de receber elogio. Isso é dar biscoito. No fundo, ele quer atenção. A gíria, de acordo com alguns entendidos, surgiu na comunidade LGBTQIAP+, mas o mundo se apropriou. A origem vem da ação que o dono de um cachorro faz quando o animal pratica algo certo. Ou seja, dá um biscoito para agradar.
Somos todos biscoiteiros? Eis a questão. Mas que queremos atenção, queremos. Em todos os âmbitos da nossa vida: no amor, na amizade, nas redes. Isso é inerente à natureza humana. Por falta de atenção, muita gente tem desenvolvido distúrbios e doenças, principalmente aquelas ligadas à saúde mental. São os dois lados de uma mesma moeda. É preciso ter muito cuidado. Atenção/Tudo é perigoso/Tudo é divino maravilhoso**.
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* Ronaldo Jorge da Silva, em Depois do Amor.
** Caetano Veloso e Gilberto Gil, em Divino Maravilhoso.
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Você é uma ameaça

Será que eu já posso enlouquecer ou devo apenas sorrir?*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 
Já parou para pensar nisso? Pare, agora, e pense. Principalmente, considerando as pessoas que estão na sua órbita. Você pode ser uma ameaça para elas, mesmo elas dizendo o quanto você é importante, referência e coisa e tal. Essa importância se torna oca quando elas insistem em te anular. Caso contrário, não saberiam lidar com as potencialidades que você tem, e que elas sabem que você tem. Lembra daquele ditado: “Ninguém chuta cachorro morto”? É por aí.
A coisa é gritante, estranha. A sua ameaça é algo perceptível, mas nunca declarado pela outra parte. E uso um termo do direito para evidenciar o caráter de contrato social das nossas relações. Nesse “contrato”, não há espaço para dar mais palco para quem tem tudo para roubar a cena. Sabe aquele coleguinha que fica sabendo de um processo seletivo, ou qualquer coisa do gênero, no qual você atende a todas as exigências e, mesmo assim, ele não te avisa? Não é difícil imaginar o que ele teme! Não que você seja um bambambã, mas a sua concorrência é um peso. Isso é muito triste. Sigo acreditando que o que tem que ser nosso, vai ser nosso, não tem boicote que impeça. A atitude de não avisar revela insegurança e mesquinhez.
A música Mais uma vez, de Renato Russo e Flávio Venturini, traz os seguintes versos: “Tem gente que está do mesmo lado que você/Mas deveria estar do lado de lá”. Eles traduzem bem a razão de ser deste texto. Na verdade, você é uma ameaça tão grande que quem se sente ameaçado quer você por perto, para te escoltar. Não é para proteger, é por medo mesmo. É como se, na primeira oportunidade, você pudesse roubar, mesmo sem intenção, uma oportunidade que poderia ser dele. A lógica é: eu vou andar lado a lado com meu potencial concorrente, para saber de suas estratégias, de seus caminhos, mas vou anulá-lo sempre que puder. É uma proximidade distante, uma indiferença premeditada. Algumas atitudes revelam muito mais do que escondem. O que está implícito vem à tona naturalmente. Basta apurar as vistas.
O que fazer diante disso? Agir da mesma maneira ou não dar importância e seguir o fluxo? “Será que eu já posso enlouquecer ou devo apenas sorrir?“. Somos todos falhos e acho que dar um peso para isso não é bom nem para você nem para quem é adepto dessa forma de viver. Se você é uma ameaça, o problema, com certeza, não é seu. Quem se sente ameaçado tem que ter mais autoconfiança. Só isso. Não é difícil. É preciso olhar para dentro para entender o que se passa do lado de fora. Autoconhecimento é mesmo constrangedor.
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Pitty, em Me Adora.
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Site “Notícias da TV”, de Daniel Castro, comete erro de regência verbal, de uso de maiúsculas e ainda repete palavras num mesmo período do texto

Atenção, Daniel!

No dia em que o site Notícias da TV, cujo editor é Daniel Castro, resolveu publicar uma matéria em que apontou e enumerou alguns erros da jornalista Maria Júlia Coutinho, apresentadora do Jornal Hoje (JH), da Rede Globo, o Desde também resolveu apontar alguns erros e deslizes cometidos por Daniel e seus assistentes na página que ele mantém na web. É importante fazer duas ressalvas: a varredura feita no Notícias da TV não demorou muito, durou cerca de 30 minutos; e, é fundamental lembrar, Daniel Castro é um profissional experiente. Estreou na Folha em 1991. Então, faz o que faz há mais de 25 anos. Tem experiência de sobra como editor e redator, não é?

Numa matéria publicada em 24 de setembro de 2019, intitulada Jornalistas da Globo fazem intensivão para substituir Bonner e Renata Vasconcellos, assinada pelo próprio Daniel, é possível ver um erro primário de regência verbal, principalmente considerando que Castro é um redator experto. Ele erra ao escrever o seguinte: “Eles chegam no Rio de Janeiro na quarta-feira…”. Não precisa pesquisar muito para saber que o verbo “chegar” exige a preposição “a”. Num clique, o internauta se depara com vários sites explicando esse caso de regência. A oração correta é: “Eles chegam ao Rio de Janeiro na quarta-feira…”.

Captura de tela com destaque para o erro de Daniel Castro

O Notícias da TV também mostra que desconhece a regra gramatical para o uso de letras maiúsculas depois de dois-pontos. Mais uma vez, não é preciso pesquisar muito para saber que, depois dessa pontuação, em geral, o correto é o uso de letra minúscula. A exceção ocorre quando se tratar de uma citação ou de nome próprio. Nesses casos, obviamente, a letra é maiúscula. Dois-pontos não encerram frase. Os redatores do grupo de Daniel precisam rever essa questão. Nas fotos a seguir, isso fica evidente.

Títulos e chamadas no site Notícias da TV vêm com letras maiúsculas após dois-pontos

Outro deslize encontrado no site capitaneado por Daniel Castro foi a repetição da palavra “apresentador” num mesmo período da notícia Abandono de programa após desabafo foi encenação comercial de Neto, publicada em 08 de outubro de 2019. Essa é uma “regra” que qualquer redator e estudantes do primeiro ano dos cursos de Letras e Jornalismo, por exemplo, aprendem de cara. Repetir palavras, além de prejudicar a coesão textual, denota pobreza de vocabulário. Como Daniel é editor de sites há um bom tempo, sabe bem disso.

Notícias da TV derrapa na coesão textual

O erro é comum a todos nós. Todo mundo erra. O pior mesmo é permanecer errando. Todos os erros cometidos por Maju Coutinho, que Daniel Castro fez questão de apontar e enumerar no seu site, foram corrigidos pela jornalista enquanto ela estava no ar, no JH. Tomara que Castro siga o exemplo e faça o mesmo no site dele.

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