Arquivo mensal: março 2015
Assim era o Valente…
Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Assis casou, teve uma filha (Nara Nadyle, que vive no Rio de Janeiro), mas não nasceu para exercer o papel de “chefe de família”. O compositor queria viver livre. E viveu.
A narrativa de J. Pimentel é boa e prende o leitor. Apenas a revisão não foi feita com a atenção que deveria. A obra é um bom começo para conhecer Assis Valente, que é tão pouco lembrado por essa “gente bronzeada”.
Referência:
Primeiro dia de aula
Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||
Em aula-show na UFBA, Luiz Caldas canta e conta histórias
O cantor, compositor e multi-instrumentista Luiz Caldas, 52 anos, ministrou uma aula-show no campus da Universidade Federal da Bahia, em Ondina, ontem à tarde. Com temática sobre os 30 anos da Axé Music, completados neste ano, a palestra aconteceu na Praça das Artes e integrou a programação de abertura do ano letivo da instituição de ensino. Durante o evento, Caldas falou sobre a sua origem, como começou a gostar de música, sua estreia no trio elétrico e sobre início de sua carreira.
Antes de a aula-show começar, a expectativa sobre quais seriam os assuntos abordados por Luiz Caldas era grande. Jessé Oliveira, 25 anos, que cursa o 7º semestre de Letras Vernáculas, elogiou a iniciativa da universidade: “Durante esse tempo todo que estou aqui, nunca vi uma iniciativa como essa na universidade. Já teve a Calourosa, mas não nesse perfil. Esse perfil é diferente, porque reúne palestras, aulas, com evento musical. Acho interessante. É perceber que a universidade está se movendo, ainda mais porque nós completamos agora 30 anos de Axé Music. Eu quero ver o que Luiz Caldas vai apresentar pra gente, ele que é considerado o precursor”, afirmou.
E Luiz contou curiosidades sobre a sua caminhada na música. Falou que, quando criança, escutava de tudo, porque não existia músicas voltadas apenas para crianças. “Ouvia Pinduca, Elizeth Cardoso, Luiz Gonzaga, muita gente”. Em vários momentos da aula, fez questão de enfatizar que todas as suas decisões, ao longo de 45 anos de carreira, não foram motivadas por dinheiro. “Uma coisa que eu agradeço muito a Deus é não ter ganância financeira. Nunca fui ganancioso quanto a dinheiro. Eu gosto é de música. Minha ganância é de música”.
A aula serviu para Luiz fazer um resgate histórico de sua carreira. Nesse sentido, não deixou de falar sobre a passagem pela WR e pela Banda Acordes Verdes. Lembrou dos tempos que cantava em bandas de bailes e dos vários nãos que recebeu. “Eu chegava nas gravadoras com o meu material e o diretor dizia: ‘Mais um baiano aqui?! Não!’. Diante disso, eu coloquei um propósito na minha cabeça: ‘Eu vou fazer sucesso aqui [na Bahia] e esses caras vão vir me buscar'”. Foi dito e certo: “Vendi 100 mil cópias do meu disco, só na Bahia. A Bahia me deu um disco de ouro sem precisar dos outros estados. O disco Magia me catapultou”, contou com orgulho.
Luiz Caldas confidenciou ao público o que Chacrinha lhe disse após uma de suas inúmeras apresentações no programa do comunicador. “Ele foi ao camarim e disse: ‘Você está reinventando a alegria do carnaval da Bahia. Se prepare para ser o representante de muita gente que vem atrás de você’. Além de comunicador, ele era profeta”, brinca o artista. Sobre a Axé Music, Luiz foi enfático: “A gente tem que ter orgulho da nossa música. Agora, ela está em declínio comercial. Alguns artistas não souberam gerir as suas carreiras. Eu não gravo uma canção que eu não gosto, porque ela vai me perseguir a vida toda. O que falta, hoje, na nossa música, é ser menos manipulada”, pontuou.
O cantor falou sobre o seu atual projeto, que disponibiliza, todo mês, músicas gratuitas no seu site. “É um projeto que tem como intuito devolver o que a música me deu”. Os discos disponibilizados mostram a diversidade musical do artista e transitam pelo rock, MPB, samba e forró. Inclusive, para diversificar ainda mais, ele firmou parcerias com outros colegas da música, como Sandra de Sá, Zeca Baleiro, Chico César, Seu Jorge, Saulo Fernandes, José Carlos Capinam e Gilberto Gil. De acordo com Luiz, o projeto já tem oito milhões de downloads na internet.
Como não podia faltar música no evento, Luiz Caldas intercalou suas histórias com sucessos como Magia, Ajayô, O Beijo e, claro, Fricote. No final, exclamou: “Viva a boa música sempre!”.
Música e educação
João Carlos Salles, 52 anos, reitor da UFBA, esteve presente na aula-show de Luiz Caldas e ressaltou o papel da instituição no debate sobre os 30 anos de Axé Music. “A UFBA está ligada à cidade de Salvador, à sociedade, à cultura. É natural que a gente queira começar o ano com essa alegria, com essa energia, mas com essa reflexão também. Talvez seja uma maneira de lembrar que a universidade tem essa capacidade de ser vanguarda”.
Para o vice-reitor da universidade, Paulo Miguez, 60 anos, que é estudioso do carnaval da Bahia desde 1995, a importância de a UFBA trazer essa discussão para a comunidade acadêmica tem a ver com a relevância do Axé para a cultura baiana. “A Axé Music é um divisor de águas importante a partir de dois pontos de vista: do ponto de vista da criação estético-musical e no que diz respeito à criação de um mercado da cultura na Bahia. São dois fatos que estão associados à Axé Music, que neste ano faz 30 anos, e obrigam à universidade um olhar cuidadoso”, avalia. Questionado se o evento foi uma forma também de a UFBA mostrar para a sociedade que o gênero precisa ser repensado, Paulo ponderou: “Sim. Todo gênero que ganha a dimensão de massa e passa a ser algo que interessa à indústria cultural, vai experimentar aquilo que a gente pode chamar de fadiga de material e vai exigir renovação, o que tem acontecido. Às vezes, o olhar menos atento, sugere sempre a ideia de que é tudo igual, e não é. Os artistas da Axé são muito diferentes entre si, produzem uma obra muito diferente entre si. O que é igual é o mercado. Acho que há uma certa confusão entre a Axé Music e o mercado da Axé Music. Às vezes, as pessoas querem criticar o mercado e acabam caindo na armadilha de criticar a Axé Music. Eu prefiro fazer essa diferença, porque penso que são duas coisas importantes, mas que têm que ser tratadas com perspectivas distintas”.
Sobre a aula-show de Luiz Caldas, o vice-reitor espera que os universitários levem como mensagem o reconhecimento do gênero musical. “O reconhecimento da vitalidade da cultura baiana que, de tempos em tempos, produz novidades que alcançam a cena brasileira e, em muitos casos, alcançam além das fronteiras brasileiras. A Universidade Federal da Bahia tem a obrigação de reverenciar expressões dessa vitalidade e a Axé Music é uma dessas expressões”.
A estudante do 2º semestre de Letras com Inglês, Simone Oliveira, 20 anos, parece concordar com a reflexão proposta por Paulo. “Eu achei muito bom, por parte da universidade, trazer esse conhecimento para a gente sobre o Axé Music, que representa a identidade cultural da Bahia. Eu adorei a aula-show. De verdade! A gente acha que tudo é flores, mas os artistas passam por muitas dificuldades. Eu vou levar, para a minha vida, essa história que acabei de conhecer melhor sobre o Axé Music. Eu tinha um pouco de preconceito com o gênero, mas passei a conhecer a história e isso mudou”, reconheceu.
Com a palavra, Luiz Caldas
Logo após o término da aula-show, na UFBA, Luiz Caldas deu uma entrevista exclusiva para o Desde. A própria aula, a relação de música com a educação e o futuro da Axé Music foram os assuntos abordados. Leia!
Desde que eu me entendo por gente: Como foi receber esse convite da UFBA para falar para a comunidade acadêmica?
Luiz Caldas: Maravilhoso. Para mim, é como uma coroação de tudo que fiz e venho fazendo pela música. Afinal de contas, são 45 anos ininterruptos de música, me dedicando aos instrumentos, aos estudos, à boa música. Então, estar hoje, falando para tantas pessoas, que representam o futuro de melhoras para nosso estado, para o mundo, é maravilhoso isso.
Desde: Na sua opinião, como a educação pode contribuir para a música?
LC: Educação é fundamental. Sem ela, não tem música. A gente tem que aprender que, com a educação, você se veste melhor, come melhor, vive melhor, rende mais, você é melhor para as outras pessoas. Tudo isso passa pela educação.
Desde: Qual é a perspectiva futura para o Axé que você vê?
LC: Agora, melhor, porque é só um gênero; não é mais aquele gênero que dava milhões e que qualquer um se apoderava dele e pagava rádio e virava artista. Agora, a coisa ficou mais séria.
Esta reportagem foi produzida entre os dias 05 e 06 de março de 2015.