Por Raulino Júnior
Não se pode criticar. Esse é o acordo tácito que impera na sociedade há algum tempo. Falo de crítica. Desrespeito é outra coisa. Afinal, não estou falando dos críticos das redes sociais, tão sabedores de tudo. Ô cótcha! Esses a gente descarta. Refiro-me a qualquer crítica que é feita para um amigo, colega de trabalho ou de profissão, para um parente, um professor ou para alguém que, de certa forma, tem algum tipo de relação conosco. Já percebeu como a pessoa se incha?
Ao fazer uma breve pesquisa para saber mais sobre a palavra “crítica”, a gente se depara com um significado que deveria ser compreensível para todo mundo, mas não é. Em seu Dicionário de Filosofia, Nicola Abbagnano explica o seguinte sobre o verbete: “Termo introduzido por Kant para designar o processo através do qual a razão empreende o conhecimento de si: ‘o tribunal que garanta a razão em suas pretensões legítimas, mas condene as que não têm fundamento'”. Simples assim. Se eu acho que algo não tem fundamento, eu condeno. Há algum mal nisso? Hoje em dia, mais do que nunca, há. Crítica virou ofensa pessoal das mais intoleráveis.
Você critica uma pessoa e ela perde toda uma suposta admiração que tinha por você. A partir de agora, quem criticou vira a pior pessoa do mundo, que ninguém quer ver nunca mais. É uma morte social.
Nas redes sociais da internet, artistas e famosos são, constantemente, alvos de críticas. Algumas bastante contundentes; outras, radicais, agressivas e desnecessárias. Não entendo algumas posturas de caráter nazifascista, mas também não entendo a postura de quem está do outro lado. É comum os afamados bloquearem as pessoas que nem sempre comentam aquilo que eles querem ler. Não deixa de ser engraçado. E infantil. A minha turma da antiga 4ª série era mais madura. O mundo é feito de opostos, de discordâncias. O universo de elogios e puxa-saquismos existe, é real; mas basta olhar para o lado para deixar de flutuar, colocando os pés no chão.
Existe também o medo de criticar para não se queimar. Isso está tão arraigado na nossa sociedade! Perpetua os conchavos e modela comportamentos. Uma pena. Quando alguém tem que fazer uma crítica, fica cheio de dedos, temendo a já citada morte em vida. Para aliviar, depois de fazer um comentário que não é tão positivo para o interlocutor, o sujeito solta: “Não é uma crítica, eu só estou pontuando que você poderia e blá, blá, blá…”. É uma crítica, sim! E é legítima! Por que esse medo de assumir? Nessa ânsia de não querer se indispor, as relações vão ficando cada vez mais podres e hipócritas.