13 anos de sorte!, Audiovisual, Axé Music, Cultura, Entrevista, Jornalismo Cultural, Música, Produção Cultural, Samba-Reggae, Sem Edição

Sem Edição| Negro Léo, Vixe Mainha, Música Baiana e Samba-Reggae

Negro Léo, atual vocalista da Vixe Mainha. Foto: Josi Carvalhos

Por Raulino Júnior 

Na abertura da 10ª temporada do Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, o convidado de honra é Negro Léo, cantor e compositor nascido e criado no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador-BA. Atualmente, Léo é vocalista da emblemática banda Vixe Mainha, que já contou com os vocais de Jau e Pierre Onassis, referências na música baiana. Na entrevista, Léo fala como veio o convite para integrar o grupo e como ingressou no universo da música. A sua trajetória musical também é pauta no bate-papo. Léo opina sobre o atual cenário da música baiana e sobre a necessária renovação dos artistas da cena. Ele ainda fala sobre todos os projetos musicais dos quais faz parte e sobre os próximos passos da Vixe Mainha. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais Negro Léo! Obrigado pela confiança e disponibilidade! Você é um artista maravilhoso e original! Mais sucesso!

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"Adolescendo Solar", Audiovisual, Cultura, Entrevista, Jornalismo Cultural, Produção Cultural, Sem Edição

Sem Edição| Ada Tem de Tudo, Antiguidades, Arte e Cultura

A descontraída e peculiar Ada Tem de Tudo. Foto: Raulino Júnior

Neste episódio do Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, a convidada é Iraci Brandão Cajado, a “Ada Tem de Tudo”, figura muito peculiar de Salvador. Na conversa, ela fala sobre a origem do apelido, sobre como começou a colecionar e vender antiguidades. Cita também as participações que fez na televisão e as tietagens ao longo da vida. Para isso, abre, literalmente, o seu álbum de fotografias. Ada conta como é a dinâmica de empréstimo de seus objetos para produções culturais (peças de teatro, filmes, novelas) e fala de sua família em Amargosa, sua cidade de origem. No final, diz qual é o seu sonho mais imediato e mostra algumas das peças de sua loja. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais a Ada! Obrigado pela confiança e disponibilidade! Você é um símbolo de Salvador! Mais sucesso!

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"Adolescendo Solar", Audiovisual, Cultura, Entrevista, Fotografia, Jornalismo Cultural, Produção Cultural, Sem Edição

Sem Edição| Lalo Batera, Música, Cheiro de Amor e Etarismo

Lalo Batera. Foto: Raulino Júnior

A 9ª temporada do Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, está no ar e o convidado que marca a estreia é Mário Augusto Cardoso de Almeida, o Lalo Batera. O baterista, oriundo do bairro de Periperi, em Salvador, começou a carreira cantando músicas de Fagner no bar do pai. Em seguida, fundou uma banda de heavy metal com os irmãos, a Sinal Vermelho, e a partir daí foi construindo a sua carreira como músico. Durante quinze anos, foi baterista da banda Cheiro de Amor, quando o grupo esteve no auge do sucesso, na época das vocalistas Márcia Freire e Carla Visi. Obviamente, Lalo falou sobre a passagem pelo Cheiro e por que saiu de lá. Nesse trecho da entrevista, o etarismo, preconceito contra pessoas mais velhas, entrou em pauta. O artista contou como foi a experiência de tocar com a dupla sertaneja Marlon e Maicon e como é estar na banda de Luiz Caldas, expoente da música brasileira e precursor da Axé Music. No final, explicou o conceito do projeto Lalo Toca os Mestres, que vai divulgar em breve. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais a Lalo Batera! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Lalo! Você é maravilhoso! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos a Guilherme Cunha, amigo em comum que viabilizou o encontro. Obrigado, Gui!

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Audiovisual, Cultura, Entrevista, Fotografia, Jornalismo Cultural, Produção Cultural, Sem Edição, Toca o Desde

Sem Edição| Eduardo Mafra, Produção Cultural, Fotografia e Audiovisual

Eduardo Mafra: paixão por fotografia nasceu na faculdade. Foto: Helaine Ornelas.

Eduardo Mafra é um realizador. Formado em Produção em Comunicação e Cultura, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), ele atua profissionalmente fotografando, produzindo e escrevendo. Nesta entrevista exclusiva para o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, fala sobre como começou a sua paixão pela fotografia, os trabalhos que mais gosta de fazer nessa área e de algumas experiências marcantes ao longo da carreira, que começou em 2009. O livro Evangélicos – Uma conversa que não pode ser adiada, lançado neste ano, esteve na pauta da entrevista. Eduardo falou sobre as razões que o motivaram a escrever a obra e fez comentários pontuais sobre assuntos importantes presentes nela.

No bate-papo, Mafra fala ainda de outros projetos que já implementou, da trajetória no universo da fotografia e da Avoa Filmes, produtora audiovisual da qual ele e Helaine Ornelas são diretores. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais a Eduardo Mafra! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Mafra! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos à Helaine Ornelas, que fez as fotos do encontro. Obrigado!

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Sem Edição| Carla Lis, Música, Poder Feminino e Samba-Reggae

Carla Lis: música na alma. Foto: reprodução do vídeo

No mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, traz uma entrevista especial e exclusiva com Carla Lis, cantora e musicista. Dona de uma voz suave e marcante, Carla tem a arte na sua vida desde a infância. Aos 13, começou a fazer shows em Salvador. Nesta entrevista, ela fala desse início de carreira e dos 25 anos que passou na banda Didá, referência em percussão comandada por mulheres. Durante a conversa, conta como foi conviver com Neguinho do Samba, ícone da cultura baiana e criador do samba-reggae: “Eu achava Neguinho muito completo”.

No bate-papo, fica evidente o amor de Carla em relação àquilo que faz, que é cantar: “A música me cura, me salva”. E completa: “Eu sou música o tempo todo”. Nesse sentido, reflete sobre a indústria da música em Salvador, que não dá espaço para artistas como ela: “Eu acho, sem nenhuma falsa modéstia, que eu poderia estar ocupando outros espaços, poderia ter uma projeção melhor na minha carreira, mas ser mulher, ser gorda, ser negra, ser nordestina, é muito complicado. A mídia é cruel em relação a essas coisas”.

A cantora conta como foi a experiência de participar do documentário Salvador, Mulheres e Histórias, produzido pelo Shopping Piedade, e fala da emoção em cantar no Carnaval de Salvador.  Responde sobre como nasceu o primeiro e único CD de sua carreira, intitulado Pedidos, de 2011. No final, fala da Yayá Muxima, banda de samba-reggae da qual faz parte atualmente, e canta Perto de Ti, sua única composição até hoje, faixa que abre o disco citado anteriormente. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais à Carla Lis! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Carla! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos aos profissionais (Lázaro Gomes, Irlane Lopes, Ana Lúcia e José Paulino) da Faculdade de Medicina da UFBA, que autorizaram o uso da Bibliotheca Gonçalo Moniz como locação. Obrigado!

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Com a Palavra, Cultura, Entrevista, Festival, Jornalismo Cultural

Festival BEIRA! convoca agentes culturais que estão fora da cena hegemônica para compor grade de sua 1ª edição

Artistas, produtores culturais, mestres e mestras da cultura indígena e afro-brasileira poderão submeter propostas ao festival on-line até o dia 18

Arte: Luiza Marinho

Por Raulino Júnior

Festival BEIRA! – Bienal de Experimentos Interculturais Radicados na América Latina terá a sua primeira edição em março (de 19 a 28) e nasce com o intuito de reunir agentes culturais que não fazem parte da cena hegemônica. Pensado em 2019 por Carolina Caldas e Gabriel Pangoniso projeto foi selecionado no Programa de Ação Cultural (ProAC) do estado de São Paulo, na categoria Produção e Realização de Festival de Cultura e Economia Criativa com Apresentação On-Line. De hoje até as 20h do dia 18 de fevereiro, artistas, produtores culturais, mestres e mestras da cultura indígena e afro-brasileira poderão se inscrever no chamamento público para integrar a programação do BEIRA! As modalidades são: a) Mostra de Diálogos (rodas de conversa para discutir cultura, festivais, políticas públicas etc.); b) Oficinas (espaço para compartilhar conhecimentos sobre cultura e artes nas beiras); c) Mostra de Espetáculos (artes cênicas, cultura popular e outras produções artísticas de grupos e artistas da América Latina) e d) Mostra Aldir Blanc (espaço de integração de artistas da América Latina. Só podem se inscrever nessa modalidade artistas que tiveram projetos contemplados no ProAC). Para fazer as inscrições, as pessoas interessadas deverão acessar o site www.beira.art.br. Todos os selecionados receberão cachê, exceto os da Mostra Aldir Blanc, por já terem recebido incentivo do Programa de Ação Cultural. Os valores variam de R$ 300 a R$ 5.000. É importante ler o edital na íntegra. A curadoria será feita por Fernanda MissiaggiaLeila Borari e Sanara Rocha.

Desde conversou com Carolina Caldas e Gabriel Pangonis, produtores culturais e idealizadores do BEIRA! Na entrevista exclusiva, feita por e-mail, eles deram mais detalhes sobre o festival e falaram sobre quais serão os critérios para selecionar os inscritos, as expectativas, a curadoria e as possibilidades de implementar a 2ª edição. Leia e fique à vontade.

COM A PALAVRA, GABRIEL PANGONIS

Foto: Autorretrato

Desde que eu me entendo por gente – O BEIRA! é um festival multicultural e independente, inspirado na frase “Em redor do buraco, tudo é beira”, que Ariano Suassuna popularizou num dos tantos causos que contou. Fazendo uma brincadeira, para você, o que é que tem no buraco?

Gabriel Pangonis: Acho que para nós, a frase significa uma inversão de ponto de vista sobre o centro. Geralmente, o centro é colocado acima, mais importante, mais chique, mais valioso etc. No meio das nossas discussões, a gente chegou no ponto de vista contrário, que é o centro como um buraco, um lugar por onde as coisas escorrem, que absorve o que está ao redor, quase um buraco negro que atrai para si tudo que está em volta. A gente que circula ao redor da cidade de São Paul sabe muito bem como é essa dinâmica. A gente que vem de um ambiente universitário acadêmico também sabe como isso funciona. Todas as estradas levam ao centro, as grandes metrópoles como esses buracos por onde a gente se enfia buscando alguma ideia distorcida de sucesso ou oportunidade. No entanto, ao redor do buraco, tudo é beira. Se tudo é beira, se todos nós que estamos ao redor do buraco somos a beira, então é gente, é saber, é pensamento, é produção de sensibilidade e beleza para caramba! Se parar para contar, tem, com certeza, mais beira que buraco. Então, nós pensamos justamente aí, um evento que reúna a galera que está na beira e construa coletivamente uma força que resista a essa atração do buraco. Poeticamente, esse é o nosso propósito.

Desde – Hoje, o festival lançou o chamamento público convocando agentes culturais para compor a programação. Quais são as expectativas? Qual público a produção pretende atrair?

 GP: A primeira expectativa, e foi para aí que nós direcionamos grande parte dos nossos esforços de articulação, é fazer esse chamamento público chegar nas beiradas do país. Tem uma bolha para ser rompida aí. Nós somos produtores que estamos na beira, mas nós estamos na beira do centro da cidade de São Paulo, uma beira ainda muito próxima do centro, uma beira privilegiada em relação às milhares de beiras do país e da América Latina. Então, estamos colocando a energia em furar a nossa bolha e convidar fazedores de cultura de todas as beiradas possíveis. Estamos tentando chegar em todos os estados do país, e fazer isso não chegando apenas nas capitais. Chegar em todos os países da América Latina, mas indo além das capitais também. Buscar fazer contato direto com comunidades indígenas e quilombolas. Então, a primeira expectativa é essa, chegar e se apresentar como um espaço de encontro para toda essa galera. O primeiro público que a gente quer são justamente esses mesmos fazedores de cultura. Infelizmente, não é possível ter todos na programação, mas se além de ter alguns poucos na programação a gente conseguir reunir essa galera para participar do encontro, um dos maiores objetivos da Beira terá acontecido. E quanto ao público em geral para o evento, como é uma edição on-line, nós temos perseguido entrar em contato e estabelecer um diálogo com o público das beiradas também. Falando de público, a beira é onde o teatro, a arte e outras ofertas culturais não costumam passar, chegar e ficar. Temos o prazer de ter construído uma parceria forte com a Libraria, empresa do interior do estado de São Paulo, que está acessibilizando para o público surdo a imensa maioria das ações do festival e vai nos ajudar, colocar o evento à disposição de visão desse público. Para gente, esse tipo de trabalho de construção de público e engajamento junto a grupos desprivilegiados é uma das coisas mais prazerosas do trabalho.

Desde – Quais critérios serão levados em consideração para a escolha dos selecionados? Por quê?

GP: As propostas serão avaliadas pela comissão tendo por base os critérios abaixo elencados, a saber: compatibilidade com os princípios da BEIRA!; potência de efeitos, ecos e importância na realidade da comunidade na qual está presente ou com a qual se comunica; adequação aos recursos técnicos do festival; pluralidade cultural, étnica e socioeconômica. Esses critérios foram definidos para tentar trazer para perto do evento pessoas diversas, que não necessariamente estejam fora dos circuitos oficiais, mas que tenham ações importantes em suas localidades e em suas comunidades. Valorizando mais a real capacidade dessas pessoas de terem um impacto transformador positivo em suas realidades do que sua excelência ou reconhecimento.

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COM A PALAVRA, CAROLINA CALDAS

Foto: Bruna Trindade

Desde que eu me entendo por gente – Quais artistas da América Latina, que estão “na beira”, você acompanha e admira?

Carolina Caldas: Antes de responder essa pergunta, eu queria ressaltar que uma das ações da 1ª edição da BEIRA! é o BEIRA! Indica, que vai ser uma divulgação dos grupos que se inscreveram para o festival, mas que não “couberam” na programação e que gostaríamos muito que todxs ficassem atentos a estes trabalhos muito bacanas. Eu acredito que o desejo de produzir um festival representa também o desejo de expandir o olhar para fora das nossas “bolhas”. E também de expandir as nossas perspectivas para o que é esta “beira”, porque ela não é um conceito fixo, depende muito das perspectivas envolvidas e queremos muitas perspectivas construindo esse projeto com a gente, para não cairmos na tentação de taxar “esse grupo é da beira, esse outro não”. Acho que a ideia de olhar para grupos da “beira” é na verdade o desejo de conhecer mais trabalhos, de assistir muitas coisas que talvez, sozinhos, nós não encontrássemos. E sobretudo é o desejo de construir uma comunidade latino-americana de artistas que queiram somar, colaborar, formar uma rede, e não excluir ou hierarquizar. Mas, voltando a sua pergunta, esses são alguns dos muitos grupos que a equipe da BEIRA! acompanha e admira atualmente: Magiluth (Recife/PE), Grupo Ponto de Partida (MG), Barracão Teatro (Campinas/SP), Cia. Mundu Rodá (SP), Grupo Pandora de Teatro (SP), Cia. Les Commediens Tropicales (SP), E quem é gosta? (SP), Coletivo Arame Farpado (RJ), Coletivo Matuba (RJ), Selvática Ações Artísticas (Curitiba/PR), Suraras do Tapajós (PA), No barraco da Constância tem! (CE), e Inquieta Cia (CE).

Desde – Fernanda Missiaggia, Leila Borari e Sanara Rocha serão as curadoras. Como se deu a escolha delas? Por quê?

CC: Antes de a nossa 1ª edição ser contemplada pelo PROAC/Lei Aldir Blanc, fizemos uma série de lives no instagram @beirabienal para inaugurar nossas redes sociais. Nosso intuito era escutar produtores e artistas que nos inspiram por suas trajetórias, para ganhar mais “chão” antes da empreitada de começar a produzir o festival propriamente dito. Queríamos ouvir e aprender com a experiência de outros, expandir nossos horizontes. Aprendemos muito com essa experiência que chamamos de “Encontros 1:1” (que podem ser vistos no IGTV da @aflorarcultura, produtora parceira e também onde a BEIRA! nasceu, como parte da “Semeadora de Projetos” da Aflorar). Bom, como para nós a curadoria tem a ver muito com escuta e com cuidado, optamos de forma consciente por uma curadoria composta totalmente por mulheres. Este foi o primeiro critério de escolha. Também porque, parafraseando a Leila Borari, uma de nossas curadoras, que disse em um dos “Encontros 1:1” que “a representatividade não é só uma palavra bonita”. A gente acredita não só no poder simbólico dessa representatividade, mas, também, acreditamos que essas perspectivas geralmente excluídas dos debates sobre arte e cultura movem e transformam as estruturas internas do ambiente da produção cultural de forma muito mais criativa e potente. Que sentido teria falar de “beira” sem incluir e abrir este espaço da curadoria para quem mais entende de estar na beira, na margem da sociedade, há tanto tempo, do que as mulheres? Não é por acaso que eu gosto de me referir a essa equipe composta por Fernanda Missiaggia, Leila Borari e Sanara Rocha como “nossas curadoras”, porque, na sua sonoridade, a palavra “curadora” traz afeto e também a ideia de “cura”. Sanara Rocha também fez uma fala para nós ressaltando como esse movimento de estar em uma equipe de mulheres, construído pelas mãos e olhares de uma mulher negra, pesquisadora, artista, mulher-tambor, do nordeste do país, de uma mulher indígena, artista, turismóloga e produtora no norte do país e de uma mulher branca, mãe, arte-educadora e produtora do interior de SP, é também uma forma de homenagearmos todas as nossas ancestrais que foram tão invisibilizadas. Então, eu levo bastante a sério quando eu falo de “curadoras” e de “cura”. Outro critério bastante importante foi que gostaríamos de ter pontos de vista plurais, que viessem de regiões e tivessem origens distintas. E buscando somar todos esses ideais, chegamos, através de indicações bastante afetivas, nos nomes dessas três mulheres muito incríveis, com quem estou tendo o prazer de aprender muito. E nós somos muito gratos a elas por terem topado essa aventura.

Desde – Esta é a primeira edição do festival. Claro que, muitas vezes, o fomento à cultura depende de leis de incentivo. Nesse sentido, a BEIRA! veio para ficar? Os organizadores vão tentar fazer próximas edições?

CC: Com certeza, a BEIRA! veio para ficar. Desde que o projeto era apenas um sonho para mim e para o Pangonis, já vislumbrávamos a sua continuidade. Pode até soar engraçado, mas na nossa primeira reunião, em uma mesa de bar na Praça Roosevelt (em São Paulo), saímos com o planejamento para os próximos 10 anos de BEIRA!. Somaram-se a essa ideia/sonho de mesa de bar, Raíza Penteado, Luan Assunção e Luiza Marinho (que fecham conosco a coordenação do festival) e, desde o início, nós concebemos o projeto com sede de continuar. Mesmo porque acreditamos que um festival tem a possibilidade de realizar um papel de mediação entre a cultura independente e a cidade. Se conseguirmos abraçar o máximo de grupos e artistas que pudermos, que ainda não tem uma produção tão estruturada, e facilitar a apresentação deles para o mundo, será a concretização do nosso sonho. A BEIRA! surgiu porque a gente acredita que uma mudança estrutural dentro desse meio tão desigual (como é o meio artístico) é possível, mesmo que de passinho em passinho… Nosso objetivo é movimentar e transformar (esperamos que pra melhor) a cadeia de produção cultural, mas isso não se faz em apenas uma edição de alguns dias. É uma ação continuada, como diz o ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”… Então, o nosso desafio para realizar essa continuidade é ter estratégias de longo prazo mesmo com políticas de fomento à cultura muito limitadas no país em que a gente vive. Como garantir que vamos continuar sem ter certeza que o fomento virá no próximo ano? Acho que os artistas e grupos independentes do nosso país, justamente aqueles que estão na “beira”, são os nossos melhores professores para nos guiar nessa trajetória. O que podemos fazer nesse sentido é ficar perto de quem nos inspira nessa resiliência e estar sempre abertos e humildes para escutar e aprender. Tem um desejo de continuar e de transformar muito grande que nos carrega.

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Canais do Festival BEIRA! nas redes sociais digitais:

Instagram: @BeiraBienal

Facebook: @BeiraBienal

YouTube: @BeiraBienal

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É Desde! É Dez! É DEZde!

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A arte de transitar

Saiba por que Henrique Cruz não fica parado

Henrique Cruz em foto de Jaques Diogo: artista em movimento

Por Raulino Júnior

O título desta entrevista sintetiza de forma contundente o fazer artístico de Henrique Cruz: ele está sempre em trânsito. Literal e metaforicamente. Inquieto, o mineiro, natural de Belo Horizonte (BH), vive entre a capital de Minas e a cidade de São Paulo, na qual, muito em breve, pretende fixar residência. Enquanto se divide entre as duas metrópoles, produz e ensaia um musical infantil, com previsão de estreia para o início de 2016. E não para por aí! Entre os dias 30 e 31 de outubro e 6 e 7 de novembro, apresentará o seu novo show, intitulado Tropical, na inauguração do Espaço Cultural COMPALCO, em BH. “Tenho planos de levar o show para Salvador, mas ainda não sei como isso acontecerá”, afirma. Por sinal, Henrique tem grande admiração pela Bahia. “Nasci gostando. Deve ser coisa de outras vidas”. Em 2012, esteve em Salvador pela primeira vez, para participar do Festival Latino-Americano de Teatro da Bahia (Filte Bahia). Há três anos, passa o carnaval aqui. Revela ser fanzaço do Ara Ketu, adora Luiz Caldas e fica louco com a batida do samba-reggae. Ficar parado, de fato, não é a dele.

Henrique Álvares Cruz é filho único do casal Alda Lacerda Álvares e Antônio Meirelles Cruz, ambos funcionários públicos.  Ator, cantor, produtor e diretor teatral, transita na arte desde criança. Aos oito anos, já estava em cena. Com 16, estreou o seu primeiro espetáculo profissional, um musical de Pluft, o Fantasminha, sendo indicado na categoria de ator-revelação no Prêmio SESC/SATED (Serviço Social do Comércio/Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões, de Minas Gerais), em 1999. Ao longo da carreira, fez inúmeras peças, já atuou em curtas, integrou o elenco de um episódio do programa Agora é com a gente (canal Futura, em 2001) e participou (e participa) de algumas campanhas publicitárias. Formado em Teatro, pelo Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado (Cefart), que faz parte do complexo cultural Palácio das Artes, em Minas Gerais; em História, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas); e pós-graduado em Arte Contemporânea, também por essa instituição, Henrique Cruz justifica por que vive se movimentando: “A arte é trânsito, se faz e se desfaz a todo momento”. Na entrevista a seguir, feita por e-mail, o artista fala de carreira, música, teatro e TV.
Desde que eu me entendo por gente: Numa entrevista publicada no YouTube, você disse que a sua mãe o colocou no teatro ainda criança, por te considerar tímido. Você queria fazer teatro?
Henrique Cruz: Provavelmente, sim, mas não posso garantir. Eu era, de fato, uma criança tímida, mas esse olhar para a arte sempre me acompanhou. Segundo conta minha mãe, uma amiga havia dado um toque para que ela me inscrevesse em uma escola de teatro para crianças. Acabei entrando numa turma que tinha gente de várias idades, o que foi bem legal. Coisa que se repetiu em meu curso de formação como ator, no Palácio das Artes; em meu curso de graduação em História, e também em meu curso de especialização em Arte Contemporânea: várias gerações que se encontraram e tiveram de dialogar. Extremamente saudável isso!
Desde: Hoje em dia, o que a sua família acha de sua carreira?
HC: Tenho o  apoio de meus pais, que olham minha profissão com admiração e, ao mesmo tempo, com receios, sobretudo por conta das instabilidades típicas da carreira artística.
Desde: Algum outro integrante da sua família é envolvido com o universo artístico?
HC: Tenho uma prima, por parte de mãe, que é grande artista, chamada Rose Brant. Além de atriz, é uma cantora talentosíssima. Também tive alguns tios-avôs poetas, já falecidos, em Dores do Indaiá (cidade do interior de Minas Gerais, da qual os pais de Henrique são oriundos).
Desde: Onde você estudou teatro?
HC: Como ator, minha formação se deu no Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), em Belo Horizonte. Mas, ao longo desses anos, também participei de diversos cursos livres de teatro, de menor duração, porém intensos. Dentre os cursos, destaco aqueles ministrados por Cacá Carvalho, por Yara de Novaes e pelo diretor russo Mikhail Chumachenko. Como cantor, não posso deixar de destacar mestres importantíssimos em minha formação, como Babaya MoraisEudósia Acuña QuinteiroAída CoutoEládio Pérez-González, dentre outros. Desde 2013, estudo teoria e prática musical na Fundação de Educação Artística. Também estudei dança com Helena e Lúcia Weber, em São Paulo; e com Adriana Burni, em Belo Horizonte.
Desde: Como foi a sua trajetória no teatro?
HC: Comecei no teatro aos oito anos de idade. Participei de grupos amadores até os 15, quando prestei audição para o SATED/MG e conquistei meu registro profissional. Com 16, estreei meu primeiro trabalho profissional, pelo qual fui indicado ator-revelação no prêmio SESC/SATED. Por dez anos, integrei o Grupo Teatral Encena, dirigido por Wilson Oliveira, onde montamos textos clássicos, entre espetáculos adultos e infantis. Por três anos, integrei a Companhia Clara de Teatro, dirigida por Anderson Aníbal, com a qual viajei por diversas cidades brasileiras, realizando temporadas e participando de festivais importantes. Também integrei elencos de espetáculos produzidos por coletivos artísticos e desenvolvi trabalhos independentes, vários deles premiados.
Desde: Você tem um currículo extenso. Tem alguma peça que não fez, mas tem vontade de fazer?
HC: Tem inúmeras peças teatrais em que tenho vontade de atuar. Mas, às vezes, falta o dinheiro para produzir, ou a equipe mais adequada para determinada produção. Quero ainda vestir muitos personagens, experimentar nuances, conflitos e jogos. Nesse sentido, quero também trabalhar com vários diretores brasileiros que admiro…
Desde: Dos espetáculos de teatro que fez, qual foi o mais marcante?
HC: Na Companhia Clara de Teatro, destaco a peça Coisas Invisíveis (texto de Gustavo Naves Franco e direção de Anderson Aníbal). Um espetáculo delicado e contemporâneo, que marcou a cena teatral em Belo Horizonte nos anos de 2003 e 2004. No Grupo Teatral Encena, destaco a peça Nossa Cidade, um dos textos de teatro mais lindos que já li, um clássico escrito pelo norte-americano Thornton Wilder e dirigido, em 2010, por Wilson Oliveira. Ressalto ainda uma outra montagem: Vereda da Salvação, escrita pelo dramaturgo brasileiro Jorge Andrade e dirigida por Marcelo Bones. Nessa peça, interpretei um dos personagens mais marcantes em minha trajetória até o momento, chamado Joaquim, um jovem que acreditava ser a reencarnação de um messias, fruto de um povoado rural sofrido e que prometia a seus seguidores o caminho para o paraíso.
Desde: Qual é o seu objetivo nas artes cênicas?
HC: Servir à arte, buscando um sentido para a existência. Em cada trabalho, tento um equilíbrio entre as circunstâncias materiais e as realidades por vezes intangíveis e abstratas do fazer artístico, para, enfim, tocar as pessoas, emocioná-las, provocar questionamentos, provocar curas, dialogar. A todo o tempo, sinto que estou testando minha vocação e alimentando a coragem para enfrentar as incertezas.
Desde: Qual ator (ou atriz) mais te impressiona?
HC: Gosto bastante dos atores Cacá Carvalho e Lee Taylor e das atrizes Ana Kfouri e Clarice Niskier. São atores e atrizes extremamente dedicados ao ofício, corajosose o resultado expressivo que conseguem construir, cada qual com seu trabalho, é potente e admirável.
Desde: Conhece as manifestações do teatro baiano? Destacaria alguma coisa?
HC: Conheço algumas expressões, mas, infelizmente, muito do que é produzido atualmente na Bahia não circula, como deveria, pelo país. Quando estive em edições passadas do Filte Bahia, tive o grande prazer de assistir a vários trabalhos de coletivos artísticos de Salvador. A trajetória do Bando de Teatro Olodum é algo admirável. O Balé Folclórico da Bahia, que produz um trabalho de encher nossos olhos e nosso espírito, também merece todos os destaques. Recentemente, assisti a alguns trabalhos do grupo Teatro da Queda e do diretor João Sanches, dos quais gostei bastante.
Desde: No teatro mineiro, há também a “indústria da cortesia”? Ou seja, pessoas que já esperam o ingresso de cortesia para assistir a um espetáculo? Qual é a sua análise sobre isso?
 
HC: Creio que em todo lugar, ao menos no Brasil, as pessoas possuam esse hábito, o que acabou fazendo parte da lista de preocupações da maioria das produções artísticas, infelizmente. As produções menores, que não possuem patrocínios, acabam sofrendo mais com isso. Nesse sentido, é interessante lembrar o que disse a atriz Cacilda Becker: “Não me peça para dar a única coisa que tenho para vender”.
Desde: Na sua opinião, quais são os rumos do teatro no Brasil?
 
HC: Estamos em momentos de crise. Mas, já disseram algo que, de fato, é notório: “Quando é que o teatro não esteve em crise?” (sinaliza riso). E a partir da crise, reergue-se. Então, o teatro está sempre se construindo, se reerguendo, abrindo possibilidades e meios de sobreviver. Afinal, enquanto houver um homem sob a face da Terra, o fazer teatral irá se justificar.
Desde: E novela, tem vontade de fazer?
 
HC: Faço com muito gosto. Novela é uma possibilidade de trabalho incrível, difícil, rentável, e, quando o ator tem a oportunidade de participar de um trabalho artisticamente bem elaborado, certamente se torna um prazer.
Desde: A gente vive num país em que há um padrão de beleza socialmente estabelecido. Qual é a sua opinião sobre isso?
 
HC: Grande parte de nós vivemos sob a pressão desses padrões, que são mutáveis e historicamente construídos. A beleza é relativa, subjetiva. E, a cada momento, temos de nos esforçar para quebrar todos os padrões limitantes e marginalizantes, para ultrapassá-los.

“Tudo vai perecendo”, diz Henrique, sobre padrão de beleza. Foto: Jaques Diogo

Desde: Você se encaixa nesse perfil de padrão de beleza. Como lida com isso? Ajuda ou atrapalha?
HC: É? (sinaliza riso) Bom, o tempo passa rápido e tudo vai perecendo. Tento aceitar essa passagem, mas ainda não consigo parar de brigar contra o tempo, em vários sentidos; embora eu saiba que temos prazo de validade.
Desde: O que gosta de ver na TV?
HC: Tenho visto pouquíssimo TV, mas sou viciado em YouTube. Adoro programas de entrevistas, novelas antigas, Chaves, um ou outro de esporte… Mas raramente assisto.
Desde: Qual é a sua opinião sobre programas de TV com ênfase em disputa musical? Participaria de algum?
HC: Com esses programas, diversos cantores , profissionais ou não, acabam tendo a chance, de certa maneira, de se exercitarem, de “entrarem em choque” com algum julgamento (coisa pela qual um artista passa a vida inteira). Os jurados, na maioria das vezes, são profissionais que têm algo a dizer. Vemos pessoas que atravessam quilômetros, atrás desses programas, em busca de alguma coisa que elas, muitas vezes, nem mesmo sabem, mas, todo esse movimento acaba gerando algum tipo de transformação, por menos aparente que essa transformação seja. E isso é saudável, em minha opinião. Então, ainda que essa indústria midiática produza esse tipo de programa visando somente retorno financeiro (porque não podemos nos esquecer, é claro, de que há uma indústria por trás disso tudo), o que ela provoca é interessante, tanto para quem participa, como para o público que tem a oportunidade de conhecer grandes vozes e grandes talentos de nosso país. Inclusive, um dos cantores mais talentosos das gerações mais recentes, o Diego Moraes, foi revelado para o grande público brasileiro em 2009, quando participou de uma das edições do Ídolos.
Desde: Então, você participaria de um programa dessa natureza?
 
HC: Em princípio, não me vejo participando de um programa de concurso de talentos.
Desde: Em setembro de 2014, você lançou o seu primeiro show, o De Peito Aberto. Como está sendo essa experiência de cantar?
HC: É uma realização muito prazerosa que, ao mesmo tempo, requer de mim uma disponibilidade integral, já que, para se produzir algo bacana, tem de se trabalhar arduamente. Aprendi com um professor que “a arte é ciumenta, pede exclusividade de quem a realiza”. O trabalho como cantor já vinha sendo alimentado por mim há algum tempo. Como ator, comecei estudando técnica vocal e, desde 2008, estudo canto popular. Em 2011, fiz participações como cantor em alguns shows e, em 2013, passei a ter a música como ofício.
Desde: O que o ator emprestou ao cantor?
 
HC: Creio que tudo, inclusive a dúvida. Às vezes, o ator até fala mais alto do que deve (sinaliza riso). Como ator, aprendi a trabalhar a sensibilidade, o valor da palavra, a expressão corporal, a disponibilidade para a dúvida. As experiências e as referências que pude ter, me ensinaram a ter um olhar mais amplo para a criação artística e também para o diálogo entre as artes.
Desde: No show De Peito Aberto, você colocou no repertório músicas de alguns compositores baianos. A musicalidade da Bahia te comove?
HC: Os sincretismos culturais e as sínteses que vários artistas baianos conseguem realizar me comovem, me mobilizam e me estimulam muito. Inclusive, nesse meu novo show, eu tenho comigo diversos compositores baianos, que refletem a diversidade da música brasileira e sua expressão mais rítmica, inteligente e vibrante. Canto músicas de Gilberto GilCaetano VelosoRaul SeixasGerônimoCarlinhos Brown e coisas do Ilê Aiyê.
Desde: Na música, quem são os seus ídolos?
HC: A voz e o senso estético de Zizi Possi, a visceralidade de Elis Regina, a integridade de Maria Bethânia, a inteligência musical de Gilberto Gil, de Djavan e de Caetano Veloso.
Desde: O que você não escuta de jeito nenhum?
 
HC: Ouço de tudo. Estou aberto a escutar todos os gêneros. Cada gênero possui canções bacanas e canções ruins. Cada lugar e cada ocasião merecem suas músicas. E, como profissional, qualquer música tem o potencial para estimular alguma coisa em mim… Uma escuta atenta pode ensinar muitas coisas, independentemente do gênero musical. O lance é deixar fluir, sem preconceitos.
Desde: No próximo dia 30, você estreia o show Tropical. Por que intitulou o espetáculo com esse nome? Qual é o conceito?
HC: Com relação ao título do show, ocorreu espontaneamente, numa conversa que eu estava tendo com Pádua Teixeira, um diretor daqui, que está me ajudando a produzi-lo e que também fará a direção de cena, a partir do que estou trabalhando musicalmente: uma mistura de gêneros de nosso país. Um show que tem no repertório canções que transitam entre algo mais sentimental, existencialista e algo mais rítmico e dançante. Compositores que dão as caras e as cores das nuances de nossa terra, composta por poesia, lágrimas, festas e, SOBRETUDO, por misturas. Essa pesquisa da tropicalidade me interessa muito.
Desde: Artisticamente, você já chegou aonde queria?
HC: Não! Já consegui ter alguns momentos em que me senti realizado nessa minha trajetória, mas a arte é trânsito, se faz e se desfaz a todo momento. Não tem um lugar onde se estacione que se possa ter essa sensação de ponto de chegada. O fazer artístico é sempre um processo de caminhar, de busca.
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Canais de Henrique Cruz nas redes sociais da internet:
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“O novo artista do mercado de hoje precisa ser um artista muito mais preparado do que o novo artista do mercado de antes”, afirma jornalista

 Em oficina, jornalista dá dicas sobre como novos artistas da música podem se destacar no mercado

O jornalista Bruno Nogueira, durante a oficina: dicas para novos artistas da música. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

“Como é que eu, novo artista, chamo a atenção das pessoas”? Certamente, muitos profissionais que têm a arte como ofício já se fizeram essa pergunta. A indagação também foi feita pelo jornalista pernambucano Bruno Nogueira, na manhã de ontem, durante a oficina Divulgação e Promoção para Novos Artistas, que integrou o primeiro dia de programação do I Festival Radioca. Com o questionamento, Bruno quis provocar as pessoas que compareceram ao Trapiche Pequeno, no bairro do Comércio, local da oficina. Mas, e você, já pensou sobre isso?

Conceito

Na oficina, que teve como ênfase dar dicas para quem está envolvido com música, Nogueira abordou aspectos relacionados ao início de carreira de um artista. “O novo artista precisa ter um conceito de artista. A pior coisa que um artista faz é dizer que toca de tudo. Tem que ter um conceito bem definido”. O jornalista afirmou também que é importante para o novo artista ter consciência da realidade do mercado, para saber como é possível chegar lá. “Olhar para quem está no entorno é importante, principalmente para saber como essa galera [os outros artistas] conseguiu chegar. O iniciante deve tentar trilhar um caminho similar”.

Quem trilhou o seu caminho há algum tempo foi o cantor, compositor e produtor musical Tenison Del Rey, que, apesar de não ser um iniciante, se interessou pela temática da oficina. “Eu sou gestor de carreira, tenho uma produtora chamada Faro Fino Produções Artísticas e sempre tenho interesse de renovar as ideias, trocar informação, se aproximar do novo. Para mim, isso é fundamental”.  Questionado sobre como vai utilizar os conhecimentos adquiridos na oficina para a carreira do filho, o cantor e compositor Peu Del Rey, de 25 anos, Tenison explicou: “A gente vai juntar a expertise do Bruno, tudo que ele trouxe nesta oficina, com a nossa experiência profissional também. A gente já faz um trabalho focado, muito profissional. Peu tem, aproximadamente, seis anos de carreira e está morando em São Paulo agora. A gente vai juntar essas experiências para chegar num lugar sempre mais profissional na carreira dele”.

Tenison Del Rey: cantor, compositor e gestor de carreira. Foto: Raulino Júnior

Crise da mídia

Um dos pontos mais interessantes da oficina foi quando Bruno abordou aspectos relacionados à divulgação do trabalho de um novo artista. Ao contrário do que muitos pensam e fazem até questão, ser pautado na TV, no rádio e nos sites já não é mais tão importante assim. “O artista deve se preocupar em divulgar o seu trabalho para o público e não para a imprensa. Hoje, a gente vive muito mais uma crise da mídia do que da música. A única utilidade da mídia para o novo artista é quando ele se inscreve em editais”.

Nesse sentido, Bruno deu um conselho fundamental em relação ao uso dos recursos da internet, principalmente das redes sociais em evidência, pelo novo artista. Às vezes, o artista sai criando perfis em tudo que aparece e esquece de fazer um trabalho mais segmentado, potencializado o seu alcance e usando a internet a seu favor. “Ele não precisa chegar a muitas pessoas, mas nas pessoas que importam”, decretou.

Dicas

Ao longo da oficina, Bruno deu dicas sobre a produção e uso de releases, a importância de regsitrar tudo que pode se transformar em “conteúdo propágavel” (fotos de ensaio, vídeos das viagens e etc.) e a necessidade de o novo artista ter alguém que o dirija artisticamente. “Ter um olhar externo é muito importante”, pontuou. Outra dica diz respeito a algo que todo mundo está cansado de saber: investimento financeiro. “Se você é um novo artista e quer se lançar, vai ter que gastar dinheiro. A primeira forma de gastar dinheiro é investir num bom estúdio. Tem que ter uma música boa e bem gravada”.

Com a palavra, Bruno Nogueira

Foto: Raulino Júnior

Bruno Nogueira tem 33 anos e é jornalista, formado pelas Faculdades Integradas Barros Melo: AESO. Estagiou no tradicional Jornal do Commercio e integrou também a equipe dos jornais Folha de PernambucoDiário de Pernambuco e A Tarde. Escreveu para as revistas Rolling StoneBillboard e OUTRACOISA, do cantor e compositor Lobão. Tem mestrado em Comunicação Social, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente, é professor adjunto da UFPE, no curso de Jornalismo e mantém o blog Quarenta e Dois. Interessado por música desde que nasceu, pois o pai era cantor e diretor de rádio, nesta entrevista exclusiva que concedeu ao Desde, Bruno fala sobre o perfil do novo artista e os erros que ele comete na gestão da própria carreira.

Desde que eu me entendo por gente: Quem é esse novo artista ao qual você se refere?

Bruno Nogueira: Isso foi uma provocação que eu fiz logo no começo: a gente precisa repensar o que significa ser um novo artista. Eu não gosto de fazer falas em que eu traga respostas, mas uma das coisas que eu direcionei é de que o novo artista do mercado de hoje precisa ser um artista muito mais preparado do que o novo artista do mercado de antes, em que a gente conseguia ter um espaço para pessoas que não estavam preparadas para entrar no mercado, que hoje a gente já não tem tanto, quando se pensa em programação de festival, edital, essas coisas. A gente tem uma demanda de novo artista, agora tem que ser um artista que já tem um trabalho, com um público, que já esteja pensando na sua divulgação, que já esteja minimamente focado e não seja um bando de doido fazendo música porque não conseguiu arrumar emprego.

Desde: Nesse sentido, qual novo artista brasileiro, na sua opinião, consegue gerir bem a própria carreira?

BN: É tão difícil responder essa pergunta. Eu consigo dizer não um novo artista, mas um médio artista, que até seis anos atrás era um novo artista e hoje já deu uma crescida. A Maglore, daqui de Salvador, é um novo artista; Selvagens à Procura de Lei, de Fortaleza, é um novo artista. Um artista que tem uma trajetória muito curta, mas eles deram sorte: entraram em gravadora, arrumaram gente para distribuir o disco. Isso não os transformam num artista médio, acelera um pouco o processo. O Apanhador Só é um artista relativamente novo, mas a gente já coloca numa classe média. Então, são artistas que se enquadram um pouco dentro desse perfil. Artistas que são menos dependentes de sair em jornal, menos dependentes de sair num blog de música.

Desde: Quais os principais erros que, no intuito de se promover, um novo artista acaba cometendo?

BN: Os principais erros são: a) não saber se conceituar como artista. Eu estou conversando com você, você tem uma banda e eu te pergunto de quê e você começa a falar que é uma banda que mistura todos os ritmos, que tem referência de coisas que não batem e você não consegue simplesmente falar: “É uma banda de rock”. Às vezes, falar que é uma banda de rock ajuda muito a entender do que se trata. Não saber se delimitar é um erro que boa parte dos novos artistas comete. Porque não é fácil também. No começo, você está experimentando muito, tem caminhos para seguir. Você não quer já começar colocando limites; b) um outro erro comum é você se preocupar demais em estar em contato com produtor, com jornalista, com  a cadeia produtiva da música e não entender que o público é a parte fundamental dessa cadeia. Você faz show sem banda, mas não faz sem público. Se uma banda toca num lugar que não tem ninguém assistindo, esse show não aconteceu. Então, um outro erro grande é este: não entender a importância que tem de estar em contato com o público, de você conseguir conversar com o seu público, de você fazer o seu público olhar para outras pessoas e falar: “Seja fã dessa banda também”. Isso é uma coisa que move a música.

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Em entrevista, coordenador da Biblioteca Abdias Nascimento, Eduardo Pereira Odùdúwa, fala sobre os projetos e desafios da instituição

Eduardo Pereira Odùdúwa, na sede da Biblioteca Abdias Nascimento, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Foto: Raulino Júnior. Edicão de imagem: Josymar Alves

Por Raulino Júnior

O arte-educador Eduardo Pereira Odùdúwa, 34 anos,é um representante fiel do cidadão que contribui para transformar a sociedade na qual está inserido: engajado, consciente e mobilizador. Há sete anos, fundou e coordena, junto com a sua mulher, Isis Sacramento, a Biblioteca Abdias Nascimento (BAN), que fica na Avenida Afrânio Peixoto, a famosa “Avenida Suburbana”. A instituição é a primeira biblioteca independente, em Salvador, especializada em cultura afro-brasileira e africana. Em 2012, o espaço virou Ponto de Leitura, através do Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura. Nesta entrevista, Eduardo fala sobre as ações e perspectivas futuras da BAN.” Nosso grande desafio, agora, é ter a sede própria. Isso vai viabilizar muita coisa”, aposta.
Desde que eu me entendo por gente: O nome da biblioteca é Abdias Nascimento, que faz referência a um ícone do povo negro e da nossa cultura. O que motivou a homenagem?
Eduardo Pereira Odùdúwa: Na época, eu, minha esposa e mais cinco pessoas, todos arte-educadores, resolvemos criar esse projeto porque a Lei 10.639/03, que obriga as escolas a ensinarem a história e cultura afro-brasileira e africana, tinha sido recentemente criada, mas a gente percebeu que não havia uma acessibilidade ao material que era produzido sobre essa cultura.  Coincidentemente, em 2008, Abdias veio a Salvador para receber o título de doutor honoris causa, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), e nós o conhecemos. Tanto ele quanto Elisa Larkin Nascimento [viúva de Abdias]. Resolvemos fazer essa homenagem porque Abdias é uma figura que tem tudo a ver com a nossa proposta, tanto na literatura, no teatro e nas artes plásticas. Aqui, apesar de ser uma biblioteca, tem uma atuação bem ampla.
Desde: Há algum diálogo com as outras bibliotecas de Salvador?
 
EPO: A gente é cadastrado na Fundação Pedro Calmon, a fundação que gerencia as bibliotecas aqui na Bahia, e na Fundação Biblioteca Nacional também. Já fizemos parte de algumas redes de bibliotecas, mas o nosso vínculo é via Pedro Calmon mesmo.
Desde: Como ocorre o sistema de empréstimo de livros?
EPO: A gente faz um cadastro. As pessoas interessadas vêm aqui, preenchem a ficha e trazem a documentação básica (comprovante de residência e xérox da identidade). O empréstimo é gratuito, por sete dias, e pode ser renovado.
Desde: A visitação é grande?
EPO: Hoje, estamos atendendo, praticamente, por visita agendada, porque aqui não tem um fluxo tão constante. Isso, na realidade, é um problema de todas as bibliotecas de Salvador. Como a gente faz muitas atividades externas, nas escolas, nos terreiros, em algumas Organizações Não Governamentais (ONGs) que são parceiras, as pessoas conhecem o nosso trabalho e quando têm interesse de visitar e até mesmo fazer empréstimo de algum livro, entram em contato, por telefone ou pelo e-mail, a gente marca o dia da visita e ela acontece.
Desde: O que essa experiência de sete anos de estrada trouxe? Quais foram os desafios? [A BAN foi fundada em 30 de maio de 2008].
 
EPO: Essa é a nossa quarta sede provisória. Nós estamos, agora, começando a construir a nossa sede própria, em Periperi. Eu acredito que, em novembro, nós estejamos inaugurando a sede definitiva. Essa foi uma experiência que a gente teve, de estar mudando, mas sempre mantendo esse eixo entre Periperi e Praia Grande. Nós começamos em Escada, depois fomos para Itacaranha, em seguida para Periperi e viemos para cá. Daqui, a gente só sai com o nosso espaço próprio.

Eduardo posa ao lado do acervo da BAN: mais de 1000 títulos. Foto: Raulino Júnior

Desde: Qual foi a razão para implementar o projeto da biblioteca?
EPO: Na realidade, o Subúrbio, e isso já é uma coisa comprovada hoje, é a região de Salvador que tem o maior número de população negra e a maior quantidade de terreiros de candomblé. Então, a questão da negritude é muito forte aqui, apesar de a consciência ainda não ser muito grande. As pessoas ainda não têm essa consciência racial, ainda é uma briga que a gente está travando, mas a cultura negra aqui é muito forte. Há muitos grupos culturais de capoeira, de música, de dança. Esse foi o motivo.
Desde: Você é leitor? Qual livro você está lendo no momento?
EPO: Sou. No momento, eu estou lendo um livro sobre Abdias Nascimento, da coleção Grandes Vultos que Honraram o Senado. Aqui na Bahia, só existem dois exemplares desse livro. Foi lançado recentemente e um dos exemplares, que é o que está aqui em Salvador, ficou conosco. Recebemos das mãos de Elisa Larkin. [Eduardo não lembra onde Elisa deixou o segundo exemplar, mas tem certeza de que não foi em Salvador. O livro que fala sobre Abdias é de autoria de Elisa Larkin Nascimento. A coleção é uma iniciativa do Senado Federal].
Desde: Você, como arte-educador, o que acha sobre a prática da leitura no Brasil e na Bahia? 
EPO: A gente já não tinha uma cultura muito forte de leitura, né? Neste momento, a gente vive uma crise, por  causa da questão da internet, dos meios eletrônicos. Eu acho, na realidade, que é um momento de mudança. Estão sendo criadas outras possibilidades de leitura, que a gente precisa saber como acompanhar, para não perder o hábito do livro impresso, do livro físico. Como arte-educador, como eu faço um trabalho de contação de história também, eu estimulo. Sempre que vou contar história, eu levo o livro impresso, para que as crianças vejam, tenham contato, e aquelas que já sabem ler, possam ler, recontar a história. Então, eu acho que essa é uma estratégia.
Desde: Quais serão as próximas ações da BAN?

EPO: Tem várias outras atividades que a gente tem interesse de fazer, mas a gente não tem braço, não tem espaço. Nosso grande desafio, agora, é a sede própria. Isso vai viabilizar muita coisa. A gente quer fazer um trabalho mais específico com as crianças, inclusive nessa questão de formação de leitores, e é muito mais complicado a gente ir até às escolas e em outras instituições. Com a sede, a gente tem essa possibilidade de trazer as crianças e fazer um trabalho mais específico.

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A seguir, Eduardo Pereira Odùdúwa descreve, de forma específica, cada atividade realizada pela Biblioteca Abdias Nascimento. Todas as ações são gratuitas.

Sede da BAN, na Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana). Foto: Raulino Júnior

Curso de Língua e Cultura Yorubá: “Eu sou professor de língua iorubá, formado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO). O curso, que dura de três a seis meses, existe desde o primeiro ano da BAN. A cada semestre, nós temos uma nova turma”.
Oficina de Percussão e de Atabaques: “Nós fizemos nos dois primeiros anos, paramos e retomamos neste ano. Estamos com uma turma numa academia, em Águas Claras”.
Coral Afro nkorin Yorùbá: “É um coral de língua iorubá, formado por ex-alunos do curso. Ao longo do curso de iorubá, as pessoas sentiram essa necessidade de expressar, mostrar essa cultura, os diversos valores culturais. Aí, em 2013, alguns alunos resolveram se organizar e formar esse grupo”.
JAM da BAN: “É uma jam session e sarau poético que acontece uma vez por mês, no Parque São Bartolomeu. Reúne a juventude, os músicos locais e a gente leva o nosso acervo de poesia africana e afro-brasileira. A gente tem uma coleção de literatura angolana muito rica”.
NaEncruza: “É um encontro que a gente faz, especificamente, com os povos de terreiro ou para discutir questões relacionadas a esses povos. Nós vamos até o terreiro, fazemos uma discussão ou trazemos alguns representantes aqui para nossa sede”.
Acervo Itinerante: “Há uma resistência muito grande, hoje em dia, de as pessoas virem até o espaço da biblioteca. Sendo assim, nós levamos o nosso acervo, uma vez por mês, para as escolas públicas daqui da região. É justamente o momento que a gente faz a aproximação e, a partir daí, as pessoas entram em contato pra vir aqui e conhecer, de fato, todo o acervo e as atividades”.
Omodé Griô: “É uma contação de história. Neste momento, nós não estamos fazendo. Fizemos até o ano passado, no Centro de Referência de Assitência Social (CRAS) da Barroquinha, com as crianças ali do Centro Histórico e do entorno”.
Agbá Griô: “É um projeto com os mais velhos, que começamos no ano passado. A gente trabalha com o pessoal do grupo de idosos Conviver Vó Maria, daqui de Periperi. A gente faz um trabalho de resgate da memória, comparando as histórias que eles conhecem com as histórias africanas”.
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Felipe Ferreira lança “Griphos Meus” na Livraria Cultura do Salvador Shopping

Felipe Ferreira e o seu Griphos Meus: “Agora, posso dizer que sou escritor”. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

Às 19h, desta sexta-feira, 12 de dezembro, o coração de Felipe Ferreira estará batendo ainda mais forte: o escritor lançará seu primeiro livro, Griphos Meus: cinema, literatura, música, cultura, política & outros gozos crônicos, na Livraria Cultura, do Salvador Shopping. A obra é uma produção independente e reúne textos do autor publicados nos sites Cinem(ação)Ambrosia e Publikador, dos quais é colunista. Além disso, o livro traz textos inéditos, como poemas, crônicas e alguns de cunho erótico. Em julho, ao participar da série Perfis do DesdeFelipe revelou o plano de publicar um livro até o final de 2014. Agora, que a ideia virou realidade, ele fala com exclusividade para o Desde. Leia a entrevista!

Desde que eu me entendo por gente: Por que “Griphos”?

Felipe Ferreira: Quando comecei a pensar num nome, para poder criar uma identificação e tentando ver o que resumiria bem essa questão de escrever, de se dedicar à palavra, à escrita, fui caçando por sinônimos, pela etimologia da palavra “grafia”. “Grifo” tem a ver com grafia, escrita. Para diferenciar, ter originalidade e ser o meu grifo, não qualquer grifo, coloquei com “ph”.

Desde que eu me entendo por gente: Os textos do livro têm temáticas predominantes ou falam de tudo?

Felipe Ferreira: Falam de tudo: cotidiano, daquela fadiga do homem moderno e de saudade, de sentir falta do que você não tem mais. Todo mundo tem esse momento saudosista.

O livro como extensão do corpo. Foto: Raulino Júnior

Desde que eu me entendo por gente: Griphos Meus tem prateleira?

Felipe Ferreira: Quando fui fazer o registro do ISBN (International Standard Book Number), eles perguntaram qual era o gênero, para poder catalogar. Eu me questionei: “Qual é o gênero?”. Fui analisando cada segmento e encaixei como ensaios brasileiros. Foi o que mais acolheu a ideia da multifuncionalidade do livro.

Desde que eu me entendo por gente: Quando você escreve, pensa num leitor como foco?

Felipe Ferreira: Pode ser aquela coisa meio segmentada. Uma crítica de cinema pode atingir mais o pessoal de cinema; mas, ao mesmo tempo que atinge o pessoal de cinema, vai atingir quem não é crítico, quem não é da área, quem não produz, mas quem gosta, quem curte, quem assiste sem compromisso. Acho que o ideal é você ter uma abrangência de abordagem e a mensagem passar por várias pessoas, sem ter apartheid. A leitura é universal.

Desde que eu me entendo por gente: Com o livro, você acaba perpetuando as suas ideias. Aonde é que você quer que ele chegue?

Felipe Ferreira: Quanto mais longe você pensar, mais perto do que pensou, você chega. Ao lançá-lo em Salvador, penso em criar um público para a obra em livrarias e pontos culturais. Depois, quem sabe, partir para outros estados: Rio, São Paulo. É um trabalho de formiga. Aos poucos, vou criando um público. Não só no meu estado, mas no Brasil todo. É um trabalho árduo, de formiga, mas tem que ser feito.

Desde que eu me entendo por gente:  Você já pensou nos possíveis desdobramentos dessa obra? Por exemplo: um diretor de teatro se interessar em montar um espetáculo que tenha como base o seu livro?

Felipe Ferreira: É uma coisa que eu penso, mas não fico com isso na cabeça.  É uma coisa natural. Se tiver de acontecer, vai acontecer e será muito bem-vindo. Só teria que avaliar o projeto,  se realmente teria a ver com o perfil  e o objetivo do livro. Seria interessante fazer essa transferência de linguagem das páginas para o palco.

Desde que eu me entendo por gente: Felipe: antes e depois do Griphos. Agora, com o livro impresso. Qual a diferença?

Identidade Griphos. Foto: Raulino Júnior

Felipe Ferreira: Acho que, agora, eu posso dizer que sou escritor. Porque se você é ator, você atua; se é cineasta, você produz cinema. Hoje, eu posso afirmar com todas as letras que sou escritor. É sacramentar o seu ofício. É você concretizar aquilo que está na sua alma, no seu dom, na sua persona.

Desde que eu me entendo por gente: Fazendo um trocadilho com o título do livro: quais são os seus “griphos” para o futuro?

Felipe Ferreira: Escrever sempre. Disso eu não tenho dúvida. Focar bem na venda, na divulgação e fazer reverberar muito o Griphos Meus, meu primeiro livro; e , claro,  já tendo ideias, estímulos  e insights para um próximo livro.

Para colocar na agenda…

Felipe Ferreira. Foto: Raulino Júnior

Lançamento do livro Griphos Meus, de Felipe Ferreira, com sessão de autógrafo

Livraria Cultura, do Salvador Shopping
12 de dezembro, às 19h

O livro custa R$ 29 e vai ser vendido pela internet, no InstagramTwitter ou através do e-mail felipe.grifosmeus@outlook.com.

Felipe Ferreira tem 23 anos e é formado em Letras com Inglês pela Universidade Católica do Salvador. Além de escritor, é roteirista.

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