Quando começa a paternidade? Essa pergunta não devia ter razão de ser nem dar abertura para dúvidas, mas a realidade não é assim. A paternidade começa a partir do momento em que o pai fica sabendo da gravidez ou quando decide dar início ao processo de adoção. A condição de ser pai é, acima de tudo, vínculo. E é com esse entendimento que o Guia do Pré-Natal do Parceiro para Profissionais de Saúde, publicado pelo Ministério da Saúde, em 2018, aborda a questão.
Já na Apresentação, é possível identificar uma percepção conectada com os debates atuais. O Guia é colocado como “uma ferramenta inovadora que busca contextualizar a importância do envolvimento consciente e ativo de homens adolescentes, jovens adultos e idosos em todas as ações voltadas ao planejamento reprodutivo…”. Os parágrafos que seguem reforçam isso. Falam de como, historicamente, esse planejamento só era direcionado às mulheres, com foco no binômio mãe-criança. Além de ressaltarem que a participação integral dos homens contribui para romper construções sociais de gênero. Embora a publicação seja voltada para profissionais de saúde, mostrando como eles devem mediar essa relação com o parceiro, é uma fonte de informação para qualquer pessoa que está ou pretende entrar nesse universo da paternidade.
Na parte seguinte, Introdução: homens, gênero, paternidade e cuidado, há um reforço sobre a importância do envolvimento ativo e consciente do pai/parceiro e reflexões sobre o machismo que, infelizmente, ainda impera na sociedade. Isso produz homens que não se envolvem na gestação, achando que é uma responsabilidade apenas da mulher, e que não criam vínculos com filhos e filhas, principalmente se já não tiverem mais relacionamento afetivo com as mães. Por outro lado, o Guia fala de homens que se envolvem tanto e que podem apresentar os mesmos sintomas da gestante, como enjoos, desejos, crises de choro. É a Síndrome de Couvade.
Em A paternidade como caminho para a saúde dos homens, o leitor fica sabendo sobre os objetivos da implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), em 2008. Nessa parte, há várias informações interessantes e que valem a pena registrar: o tempo todo, o Guia tenta tirar o homem da visão tradicional de pai, que, muitas vezes, significa ser o provedor da casa; fala da necessidade de se colocar um fim nos estereótipos; e destaca a licença-paternidade (de cinco dias e garantida por lei!) e a Lei do Acompanhante.
Os capítulos 3 e 4 abordam, respectivamente, A Rede Cegonha a e estratégia Pré-Natal do parceiro e O fluxo do Pré-Natal da gestante e do parceiro. Nesse, o Guia elenca cinco passos que o profissional de saúde deve implementar no para realizar o Pré-Natal do parceiro: 1) Primeiro contato com postura acolhedora; 2) Solicitar os testes rápidos e exames de rotina; 3) Vacinar o pai/parceiro conforme a situação vacinal encontrada; 4) Escuta e criação de vínculo; 5) Esclarecer sobre o direito da mulher a um acompanhante no pré-parto, parto e puerpério e incentivar o pai a conversar com a parceira sobre a possibilidade da sua participação nesse momento. O 5º capítulo traz um Fluxograma ilustrativo da participação do homem no Pré-Natal, parto e puerpério e o 6º, intitulado Fique sabendo e repasse essas informações aos parceiros, trata de legislações voltadas para o assunto.
A informação é o melhor caminho para evitar dúvidas e preconceitos. O Guia do Pré-Natal do Parceiro para Profissionais de Saúde cumpre o seu papel de informar. Cabe aos pais cumprirem o papel de ler e implementar as ações.
Referência:
BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Guia do pré-natal do parceiro para profissionais de Saúde. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pre_natal_profissionais_saude.pdf>. Acesso em: 8 de ago. 2021.