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Ser fã não é ser babaca

Imagem: reprodução do site GratisPNG.

Por Raulino Júnior ||Opinião de Segunda||

Nos bastidores do evento São João da Bahia, Claudia Leitte foi questionada por um jornalista sobre se era a favor da polêmica proposta da prefeitura de Salvador de criar um novo circuito Dodô (orla da Boca do Rio) para desafogar o atual (Barra-Ondina), mantendo nele apenas atrações de pequeno porte. Esse circuito surgiu como alternativo, mas se tornou principal e mais midiático. Diante da pergunta que exigia um posicionamento firme, uma vez que os artistas têm um papel bem importante na dinâmica da festa, Claudia Leitte respondeu assim: “Rapaz, sou a favor de Carnaval em qualquer lugar do mundo! Tem que ter é Carnaval! Carnaval! Pro meu povo!”. Nos comentários da postagem na rede social do site de notícias, uma fã esbravejou: “Ela não foi questionada!!! Ela foi perguntada somente do que acha. Questionamento seria, se fosse perguntando ‘Claudia Leite, carnaval entre farol da barra e boca do rio, qual a sua opção ? Gente, nós poupem com esse jornalismo tendencioso.” [sic]. Esse preâmbulo todo foi só para mostrar o grau de alienação de alguns fãs. A pergunta que não quer calar: o que é ser fã?

Ser fã não é ser babaca. Certamente. Quem é fã tem que ter consciência de que aquele ídolo é um ser humano como ele, cheio de defeitos e de qualidades. É muito cruel endeusar essas pessoas, colocar num pedestal, tirar a humanidade. O ídolo erra (e o fã não tem nada a ver com isso! Cada um com seus problemas! Cada pessoa é responsável pelos seus próprios atos! O erro do ídolo é do ídolo! Digo isso porque é comum algumas pessoas exigirem do fã um posicionamento sobre uma derrapada do ídolo. É possível?! É cada uma…), escolhe não ser relevante para o seu tempo, fica em cima do muro, fala bobagens, não se desafia, não se reinventa, não se coloca como o cidadão que é, e o fã tem que reconhecer isso. O reconhecimento, em muitos casos, não invalida a admiração. Muitas vezes, até potencializa, o que é bem estranho. Tem fã que escolhe ser babaca…

Nisso, se aliena, se limita, fica no mesmo lugar, não aceita opiniões contrárias em relação à pessoa que admira. Prefere insistir numa defesa doentia, de não querer enxergar os deslizes, a falta de noção e de responsabilidade de famosos e não famosos que ele nutre um carinho especial.

Sempre achei bonito o amor de fã, que é um amor como qualquer outro, mas que idealiza o ser amado à décima potência. A doação, o carinho, a torcida, o cuidado, as loucuras que são feitas: tudo vale a pena, se o sentimento é de verdade e consciente. Tem uma música, intitulada , da cantora e compositora Mônica San Galo, que diz assim num dos trechos: “Não durmo direito, não como, não bebo/Só vivo de te ver passar/Você realiza o meu sonho/É a minha razão de sonhar”. Considerando a hipérbole da compositora (em muitos casos, não é só figura de linguagem! A gente sabe!), o que não vale é fazer tudo isso e achar que o ídolo é perfeito. Não é. Nunca vai ser.

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Um comentário sobre “Ser fã não é ser babaca

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