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Grupo Galpão leva teatro para o Telegram e surpreende com o espetáculo “Como os ciganos fazem as malas”

Imagem: captura de tela do Telegram do espetáculo

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde|| 

“O Grupo Galpão é uma das companhias mais importantes do cenário teatral brasileiro, cuja origem está ligada à tradição do teatro popular e de rua. Criado em 1982, o grupo desenvolve um teatro que alia rigor, pesquisa, busca de linguagem, com montagem de peças que possuem grande poder de comunicação com o público”. Esse texto está no site do emblemático Grupo Galpão e traduz à risca o que o “internauta-espectador” constata ao participar da experiência teatral Como os ciganos fazem as malas: um texto escrito no ar, que está em “cartaz” até hoje, no aplicativo Telegram. Infelizmente, os ingressos já estão esgotados e já há um pedido do público para uma próxima temporada. Tomara que aconteça, porque vale muito a pena. Só vivenciando para saber. Nenhuma resenha será capaz de descrever o que é estar na “plateia” da peça.

Cartaz do espetáculo. Imagem: reprodução

Nesse processo de reinvenção que alguns setores foram obrigados a passar, e a cultura principalmente, o Galpão se destaca por apresentar um espetáculo interessante, inovador, interativo e que não é chato. Protagonizado por Paulo André, com texto de Newton Moreno e direção de Yara de NovaesComo os ciganos fazem as malas reafirma a qualidade criativa da companhia mineira. Tudo acontece pelo Telegram. Quem acompanha, faz uma viagem com o personagem, que está num voo e, como um bom cronista, narra os fatos para as pessoas que estão recebendo as mensagens multimídias. A sensação é a de que a gente está mesmo no avião, vendo tudo acontecer, conversando com o protagonista. O ator envia mensagens em tempo real para o público. Há momentos de pausa e de interação. Áudios, vídeos, GIFs e fotos auxiliam na narrativa, que se mostra dinâmica, poética e muito realista. Tudo funciona na experiência. Tudo. Diferentemente do WhatsApp, o Telegram permite que o usuário faça a rolagem da tela sem que isso interrompa a execução de áudios e vídeos. A experiência fica ainda mais interessante. E, claro, uma peça que tem “ciganos” no título vai evocar o tempo todo o movimento, o nomadismo, a coisa de mudar de lugar. Num determinado momento, inclusive, o personagem pede para as pessoas lerem um conteúdo se movimentando. E o celular é um objeto portátil, não é? Tudo a ver. A peça aposta  também no sensorial. O espetáculo exige o exercício da imaginação, fundamental em teatro, e, quando acaba, tudo é apagado, para que fique apenas na lembrança. Era (e é!) assim nas montagens presenciais, não era?

O teatro se adapta, mas não é qualquer adaptação que funciona. Tem que ter muito estudo e cuidado para fazer a transposição da linguagem. Caso contrário, fica enfadonho e o uso da tecnologia vira só mais um apetrecho, em vez de uma solução. O Galpão é um grupo de teatro de rua, de palco e de qualquer lugar que ele queira. Impressionante!

Em tempo: amanhã, às 20h30, no canal do YouTube do Grupo Galpão, haverá uma live com parte da equipe de criação do espetáculo. O bate-papo vai falar, entre outras coisas, de como foi o processo de produção da montagem. Principalmente, do uso do Telegram para isso. Coloca na agenda!

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Espetáculo virtual “Do outro lado do mar” discute identidades e mostra o poder de reinvenção do teatro

Com estreia marcada para o dia 30, montagem é a primeira versão brasileira de premiado texto de dramaturga salvadorenha

Andréa Elia e Edu Coutinho protagonizam Do outro lado do mar, de Jorgelina Cerritos. Foto: Ramon Gonçalves

Por Raulino Júnior  

“Somos Dorotea porque estamos muy ocupados en sobrevivir y no tenemos tiempo para vivir, porque solemos definirnos a través de lo que hacemos y dejamos de lado de qué habla nuestro corazón, porque (re)negamos de nuestro pasado, porque si no tenemos qué hacer nos sentimos inútiles, porque consideramos que darnos un chapuzón en el mar es una pérdida de tiempo.

Somos Pescador porque en ocasiones valoramos el amor y la amistad por encima de lo demás, porque a veces caemos en la cuenta que poseer un nombre no equivale a tener una vida, porque la tierra nos marea y hay momentos en los que, simplemente, necesitamos tomar nuestra barca y navegar…”

Os parágrafos acima foram escritos pelo professor salvadorenho Manuel Fernando Velasco e publicados no site do Teatro Luis Poma, em 2016. Na ocasião, Velasco fora convidado a opinar sobre o que pensava a respeito da obra Al otro lado del mar, de  Jorgelina Cerritos, dramaturga, atriz e poeta de El Salvador. Passados cinco anos dessa análise, chegou a vez de o público brasileiro ser convidado para pensar sobre a relação entre Dorotea e Pescador, os dois personagens que desenvolvem as ações constantes no premiado texto da autora (em 2010, Jorgelina ganhou o Prêmio Literário Casa de las Américas). O Teatro Vila Velha, com o projeto Novo Vila Virtual, palco pensado para manter as atividades artísticas neste período da pandemia do novo coronavírus, em que aglomerações não são bem-vindas, vai dar vida ao espetáculo. A versão brasileira [Do outro lado do mar], que estreia neste domingo (30/5), às 19h, e será encenada ao vivo, tem direção de Márcio Meirelles e conta com Andréa Elia Edu Coutinho no elenco. A temporada é curta, com mais  três apresentações: 6, 13 e 20 de junho, sempre às 19h. É a primeira vez que a peça é montada no Brasil, uma parceria da Companhia Teatro dos Novos e o Toró Teatro. A tradução do texto foi feita por Coutinho, que também é produtor do projeto, com a colaboração de Meirelles. Os ingressos estão à venda no perfil do Vila Velha na plataforma Symplawww.sympla.com.br/vilavelha.

Pela leitura da sinopse, Do outro lado do mar discute identidades: de quem cumpre com protocolos e burocracias, de quem não está nem aí para essas coisas e deixa a vida ir seguindo como dá, de quem acha que ser bem-sucedido é viver para o trabalho, para a produtividade, e de quem vive livre de preocupações, da submissão às exigências do sistema. Parece bem apropriada para o momento que estamos passando. Ou seja: com a pandemia, tivemos que ficar imersos em nós mesmos. Isso ajudou no processo de autopercepção, de entender o eu que a gente era, o eu que a gente é e o eu que a gente será depois disso tudo. Talvez, estejamos na travessia, não chegamos ao outro lado do mar.

Do outro lado da tela… tem teatro

Tem o teatro de rua, de palco, de arena e, agora, o de tela. Pois é. Uma prática inimaginável até pouco tempo, tem se tornado cada vez mais comum com o advento da pandemia. O teatro virtual (também registrado como on-line ou webteatro) é mais uma prova de como os agentes culturais tiveram que se reinventar para satisfazer as necessidades artísticas e financeiras. “Teatro virtual é uma loucura. Ainda mais nesse caso, em que somos dois artistas atuando cada qual da sua casa, num espetáculo que brinca com a ilusão de que dividimos o mesmo cenário. Minha parede está cheia de fita crepe, indicando para onde devo olhar em cada cena, para que se crie o efeito de que meus olhos encontram os olhos de Andréa. É óbvio que isso é completamente diferente de estar numa sala de ensaio, e depois num palco, olhando realmente no olho, tocando a pele, encontrando a equipe, levando um ensaio ou a própria peça do início ao fim, sem travar, sem a possibilidade de alguém ‘desaparecer’ de repente porque a internet caiu. É uma experiência tão fascinante quanto desgastante. E, hoje, é o único jeito responsável de se fazer. Por isso, tento focar menos nas dificuldades e mais nas novas possibilidades que surgem nesse contexto tão complicado. É algo que tenho aprendido com Márcio. Estou especialmente feliz por poder fazer teatro agora, aqui em casa, por poder investigar os caminhos possíveis… E mais ainda por estar acompanhado dessa equipe. Rimos do nosso desespero. Nos apoiamos. Criamos. E muito”, diz Edu. A equipe a que ele se refere é formada por Caio Terra e Ramon Gonçalves (responsáveis pela direção musical), Clara Trocoli (assistência de direção), Rafael Grilo (produção audiovisual), Erick Saboya (cenário) e Moisés Victório (desenho de luz e transmissão ao vivo).

Andréa corrobora a opinião de Coutinho e acrescenta: “Quando nos lançamos no teatro por inteiro é simplesmente porque precisamos dele, da sua fascinante ficcionalidade para superar com mais coragem a realidade que tanto nos desafia. Podemos nos encontrar com os próprios ensinamentos do teatro para ver na aparente dificuldade uma oportunidade. Por exemplo, aprendemos no teatro que existe a ‘fé cênica’, que nos lança na cena, lidando com as ‘circunstâncias propostas’ para atingir o objetivo da personagem… Dorotea chegou até a mim justamente na pandemia e ela está nascendo assim… nessa circunstância proposta… e isso estará para sempre no seu DNA. Fazer teatro on-line é um grande teste. Ver se tudo que o teatro nos ensina conseguimos colocar em prática em nossas vidas. Acho que os nossos bastidores, com Márcio Meirelles guiando toda essa equipe talentosa, dá um outro espetáculo! Atuar olhando para câmera do computador, sem ver o ator na frente, mas acreditar que ele está ali… Ouvir seu diretor te dirigindo com um microfone no ouvido, como uma voz na cabeça… Ser também a responsável técnica de seu cenário montado na sala de sua casa… O mundo de Dorotea invadiu minha casa… E não é assim que aprendemos que deve ser a entrega de uma atriz? Estamos criando realidades possíveis, palcos possíveis, antes não imaginados e tudo isso é o quê senão teatro? Me  sinto feliz ao contracenar com a Vida e com o sistema atual assim… Do único modo que vibro e continuo acreditando!”.

Márcio Meirelles: “O teatro (lugar de onde se vê) ganhou novos espaços e uma nova lógica”. Foto: reprodução do Flickr do artista

Atuando em teatro desde 1972, para Márcio Meirelles, o maior desafio em dirigir um espetáculo virtual está na própria tecnologia. “Apesar de ser uma coisa muito complexa e sofisticadíssima, também ainda é muito rudimentar. Temos poucos recursos para ter uma rede potente. Dependemos de cada provedor de cada atriz e ator, e também do público. Ainda estamos descobrindo e nos exercitando na linguagem – como atuar, como mover, falar, olhar neste palco, como temperar a atuação teatral intermediada por uma câmera, microfones e fones de ouvido, para que não seja uma atuação de novela ou cinema, já que a maioria dos textos não foram escritos pra isso –  e também estamos descobrindo todo esse universo tecnológico de aplicativos, plataformas, ferramentas, programas. E leva tempo para começar um ensaio. Toda a preparação das telas, câmeras, microfones, chroma-keys e ajustes de luz feitos, na maioria das vezes, pelas próprias atrizes e atores. Enfim: é um jogo novo para um novo tempo do mundo”. Indagado sobre o que se ganha e o que se perde nessa nova modalidade do fazer teatral, o diretor filosofa: “Pra mim, é difícil dizer o que se perde. Talvez, o que estamos perdendo em tudo, não só no teatro: a presença e o contato físicos, os abraços, a ocupação despreocupada dos espaços, o ir e vir sem protocolos maiores, senão a vontade e necessidade de ir e vir. Ganhamos o mundo. A família tecnológica digital criada pela humanidade e disponível para várias atividades criou um novo palco para o teatro. O teatro (lugar de onde se vê) ganhou novos espaços e uma nova lógica: está espalhado em todo o mundo em cada lugar, cada sala, cada celular, um teatro em rede, um webteatro. E o teatro fez seu trabalho, invadiu a internet, que nunca mais será a mesma depois disto”.

No dia 2 de junho, a autora Jorgelina Cerritos, que se tornou uma parceira do projeto, participará de um bate-papo no canal do YouTube do Teatro Vila Velha. A transmissão, que é gratuita, está marcada para começar a partir das 19h.

COM A PALAVRA, O ELENCO

Andréa Elia atua há 30 anos como atriz, professora e diretora de teatro. Em 2010, recebeu o Prêmio Braskem de Teatro, na categoria Melhor Atriz, pela atuação no espetáculo As Velhas, de Luiz Marfuz. Na entrevista a seguir, feita por e-mail, a artista fala da força feminina de Dorotea e de como o aspecto da identidade da personagem é representado no contexto da história.

Desde que eu me entendo por gente – Numa matéria publicada em 2012, Jorgelina Cerritos afirma que a sua literatura é “de uma mulher escrevendo a partir da voz da mulher”. Onde essa força feminina está mais evidente na personagem Dorotea, que você interpreta?

Andréa Elia: A força feminina de Dorotea está na capacidade de desconstrução a partir do encontro com o Pescador. Dois mundos aparentemente contraditórios, que se atritam e estranhamente vão se nutrindo… Sem poder revelar aqui o destino da personagem, sinto que a força feminina de Dorotea é a coragem de se rever… O destino a lança no desafio de trabalhar num balcão da prefeitura, numa praia isolada do mundo, onde aparentemente nada acontecia, até que o olhar de um “desconhecido” faz ela mergulhar em suas memórias, revendo fragmentos de vida e sonhos… É uma personagem linda, uma mulher que, na maturidade, adentra seu próprio mar e, já sem os arroubos da juventude, vai se reintegrando com a dignidade de seguir com suas próprias escolhas.

Desde – A peça trata de identidades. Como a sua personagem, Dorotea, representa isso no contexto da história?

AE: Dorotea representa a identidade de uma mulher servidora pública atrelada a uma instituição normativa, uma mulher que sempre buscou estar fincada na terra em busca de estabilidade e segurança. Ao encontrar o Pescador, ela está vivendo os temores de envelhecer num sistema laboral rígido e burocrático, onde o valor do seu ser está atrelado à funcionalidade, ao tempo de “serviço”. Uma mulher prestes a se aposentar, mas que ainda tem em sua natureza muita vida, energia, e desejos de ser útil ao outro e ao seu meio. É uma personagem que buscou construir sua identidade servindo ao sistema normativo, até que ela tem a visão de mundo confrontada pelo mundo do  Pescador, regido pelo mar…

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Edu Coutinho é mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Já atuou em diversos espetáculos de teatro e, na TV, integrou o elenco da novela Bom Sucesso (Rede Globo, 2019). É jornalista (formado pela Facom/UFBA), produz e apresenta o programa Lusófonos (Rádio Educadora FM). Na entrevista a seguir, feita por e-mail, o artista fala sobre o processo de tradução do texto e sobre como o aspecto da identidade do seu personagem é representado no contexto da história.

Desde que eu me entendo por gente – Você é o responsável pela tradução do premiado texto de Jorgelina Cerritos. Tradução é sempre coisa muito delicada, porque as questões socioculturais estão constantemente envolvidas na prática. Quais cuidados tomou para que o sentido das falas dos personagens não fugisse muito da realidade que inspirou a autora e funcionasse por aqui também?

Edu Coutinho: Traduzir um texto é mesmo um desafio. Ainda mais nesse caso, pois não sou um tradutor, mas um ator que se encantou por uma dramaturgia e teve o desejo de levá-la à cena. A tradução surgiu num ritmo meio urgente. Eu tinha poucos dias para inscrever uma proposta de montagem num edital (em que, ao final, não fomos contemplados) e queria já mandar a primeira versão do texto em português. Essa primeira tradução acabou virando uma base que foi muito discutida, e muito mexida, ao longo do processo de ensaios, em conjunto com Marcio Meirelles. Tentamos ser fiéis às escolhas da autora, e fizemos isso de jeitos diferentes… Às vezes, buscando equivalentes no português para expressões em castelhano; às vezes, mantendo algumas palavras, ainda que na língua portuguesa soassem menos cotidianas… Mesmo hoje, a poucos dias da estreia, essa tradução ainda vem se transformando. O texto que será publicado no programa do espetáculo, por exemplo, terá inclusive algumas diferenças da versão encenada, pois, além de contemplar a peça sem cortes, vem com contribuições de Rita Rocha, que chegou na reta final do processo e fez uma revisão muito cuidadosa. Mas há algo que facilita muito o trabalho de tradução, que é a própria obra. Jorgelina Cerritos escreve “Al otro lado del mar” de um jeito que qualquer pessoa se reconhece em qualquer um dos personagens. É um texto que fala de temas universais, e com uma simplicidade sofisticadíssima.

Desde – A peça trata de identidades. Como o seu personagem, Pescador, representa isso no contexto da história?

EC: Pescador não tem nome, sobrenome, endereço, não sabe a própria idade. Não tem lembranças de quem foram seus pais, nem informações sobre onde nasceu. Mas nada disso nunca lhe fez falta. Essas perguntas sempre vieram de fora e, por não conseguir respondê-las, nos raríssimos contatos com outras pessoas, ele sempre foi tratado com desconfiança. O mais interessante é que Pescador não se rende a essa arbitrariedade em nenhum momento. Mesmo quando ele vai, obstinadamente, atrás de uma certidão de nascimento, ele vai atrás do papel. Ele tem consciência da artificialidade daquele documento. Ele não pensa sobre si, não questiona verdadeiramente a sua identidade. Ao contrário. Seu interesse é sempre o outro. É pelo outro que ele faz toda a sua jornada… Contar mais seria entregar o ouro da peça!

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Yan Brumas é MUTANTE!

Prestes a completar 20 anos de carreira, artista inicia comemorações

Yan Brumas: mutabilidade na vida e na arte. Foto: André Fridman

Por Raulino Júnior

Lá nos idos de 1999, Yan Brumas estreava o seu primeiro espetáculo profissional, um musical de Pluft, o Fantasminha, que lhe rendeu indicação na categoria de ator-revelação no Prêmio SESC/SATED (Serviço Social do Comércio/Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões, de Minas Gerais). Em 2014, estreou o seu primeiro show musical, intitulado De Peito Aberto. Em 2015, foi a vez de Tropical. Agora, prestes a completar 20 anos de carreira, involuntária e intuitivamente, o ator e cantor mineiro inicia as comemorações com MUTANTE, um espetáculo cênico-musical que sintetiza muito do que ele é: um artista em constante transformação. “O show une música brasileira e textos que falam da nossa condição humana e mutante, tradicional e transgressiva”, revela Yan.

Arte: Jaques Diogo

MUTANTE terá apresentação única, no dia 20 de novembro, às 20h, no Teatro Marília, em Belo Horizonte. Na ocasião, Brumas vai apresentar 17 canções entrecortadas com textos de escritores brasileiros, como Drummond e Nilton Bonder. O cantor será acompanhado pelo multi-instrumentista Thiago Miotto e o show contará com participação da cantora Anna Paula Sabina. No repertório, músicas de Chico BuarqueLenineZé KétiJoão Bosco e Adriana Calcanhotto. Além disso, o espetáculo vai dar espaço para canções inéditas, de compositores contemporâneos: Estátua de Gelo (do mineiro Leandro Ramos), Baião e Mistérios (O Que Sou Eu?) (de Cassiano Luiz, que também é mineiro) e O Preço do Pecado (da pernambucana Isabela Moraes). O show tem assessoria artística de Guilherme Toledo (encenação) e de Pablo Libere (figurino). A produção executiva é de Jaques Diogo. Os ingressos, que estão à venda na bilheteria do teatro ou, antecipadamente, no site www.sympla.com.br, custam  R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

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En(cruz)ilhada é um soco na cara da sociedade

Leno Sacramento em cena de En(cruz)ilhada. Foto: Rodrigo Veloso

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Sabe todos aqueles estereótipos associados aos negros? Eles serviram de mote para o monólogo En(cruz)ilhada, uma intervenção política mais que necessária para os dias de hoje. Com texto e (boa) atuação de Leno Sacramento (Bando de Teatro Olodum e Ouriçado Produções), o espetáculo faz a gente refletir sobre como a sociedade vê e trata os negros, estabelecendo “lugares” e “limites” para eles.

Em pouco mais de 30 minutos de pouco texto falado, Leno aborda as encruzilhadas pelas quais os negros passam diariamente e põe a lupa em fatos que, para muitas pessoas, podem até passar despercebidos. Como o negro é tratado no ônibus, na loja, na rua, na sociedade? Em qualquer lugar, a cruz sempre pesa. En(cruz)ilhada provoca o público a pensar em como atitudes descabidas e perpetuadas pelo tempo caracterizam o racismo, que ainda tem raízes fincadas no solo brasileiro.

Tudo funciona muito bem na peça. Desde a direção precisa do jovem Roquildes Junior à disposição do cenário, em forma de cruz, ampliando a metáfora que dá título à montagem e mostrando como os negros são encurralados pelos sistemas sociais. A luz de Marcos Dede e a trilha de Gabriel Franco são elementos fundamentais no espetáculo, que chegam a “contracenar” com Sacramento. A poesia de Nelson Maca fecha a costura textual, dando ainda mais substância à dramaturgia.

O monólogo tem que ser visto por todas as pessoas que fazem parte da nossa sociedade. Principalmente, pelas preconceituosas e racistas. O soco tem que doer e fazer efeito. O espetáculo segue em cartaz todas as quartas-feiras (a partir do dia 9/8), no Teatro Gamboa Nova, com apresentações às 16h e às 20h. Os ingressos custam R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira).

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Chico e seus mil e um sentimentos

Cena final de Todo Sentimento. Foto: Iure dos Santos Silva

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

O universo literário e musical de Chico Buarque ganhou mais uma versão para o teatro: o espetáculo Todo Sentimento, que estreou ontem, no Teatro Sesc Casa do Comércio, revelou todas as facetas do artista carioca. A mostra didática da turma de 2016, do Curso Livre de Teatro do Sesc, trouxe um elenco cheio de fôlego e, principalmente, de afinação. Em todos os sentidos. Tanto em cena quanto na parte em que o coro preenche a sala de apresentação. Inclusive, sempre que isso acontece, a peça cresce em dramaturgia.

Durante as ações, o espectador é convidado a pensar nas canções de Chico para além da musicalidade. Os sentimentos presentes em cada obra são evidenciados na encenação, dirigida pelo experiente Ramón Reverendo. Na mostra, é possível ver o Chico amante, malandro, trovador, cronista e, claro, político. Nesse sentido, a reflexão, o choro e o (pouco) riso são as reações que tomam conta da plateia. O espetáculo começa com a necessária (e atual!) Roda Viva e termina com O Meu Guri, uma crônica que denuncia um problema social ainda presente na realidade brasileira. Diante dos fatos que estão acontecendo no Brasil, a montagem serve para nos tirar do ostracismo, convidando a reagir e repetir os dias de luta de outrora.

Para quem conhece a obra de Chico Buarque e está a fim de revisitar e para quem não conhece, Todo Sentimento vale a pena. O drama segue em cartaz hoje e amanhã, às 19h. A entrada é gratuita.

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A nossa “ser humanidade” em Minha Irmã

Lorena Bastos (em pé) e Cássia Domingos, em cena de Minha Irmã. Foto: Eduardo Sena

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Duas irmãs descortinando a vida, num jogo de acusações no qual fica difícil saber quem é mocinha ou quem é vilã. Na verdade, isso não é importante. A força da dramaturgia do espetáculo Minha Irmã está exatamente no caráter realista da história encenada no palco do Teatro Gamboa Nova, pela Companhia Total de Teatro: fala de relação humana, mostrando que “não há nada só bom/nem ninguém é só mau”. Enfim, a peça mexe com os nossos sentidos, evidenciando as nossas imperfeições e fragilidades.

Com texto de Marcos Barbosa e direção de Marcos OliveiraMinha Irmã estreou no Gamboa no dia 5/7 e segue em cartaz até hoje, às 17h. As atrizes Cássia Domingos (Amália) e Lorena Bastos (Emília) estão na mesma altura e densidade em cena, o que não é comum de se ver. A direção de Oliveira fez com que as artistas brilhassem com equilíbrio, numa interpretação em que a naturalidade se faz presente o tempo todo. O espectador vê a relação de dominadora e dominada sem lugares marcados, porque há uma alternância no jogo teatral apresentado. É impossível não destacar o subtexto que grita através dos corpos das personagens. Cássia e Lorena, de fato, emprestaram a casa para que Amália e Emília fizessem morada.

O que é lamentável, e isso é uma realidade do teatro em Salvador, é a forçada curta temporada de que as companhias são vítimas. Para quem tem noção de todo o esforço feito para levar um espetáculo para o palco, é desanimador constatar que um trabalho produzido com até seis meses de antecedência (180 dias) fica, apenas, cinco dias em cartaz. Como diz uma das falas de Amália: “Quem sabe de você, sou eu”. Que Minha Irmã volte numa temporada mais longa.

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Antonio Cozido, Dança e Swing Afro-Baiano

Em entrevista exclusiva para o Desde, dançarino fala sobre carreira, cultura e realidade da dança na Bahia

Antonio Cozido: de jogador de futebol a criador do Swing Afro-Baiano. Foto: Raulino Júnior

O blog Desde que eu me entendo por gente completou seis anos em atividade no dia 1º de janeiro de 2017. Para comemorar a caminhada até aqui, estamos publicando uma série de entrevistas com pessoas que fazem Salvador acontecer. Homens e mulheres que dão a sua contribuição para a nossa cultura. Na última entrevista da série, o convidado é Antonio Cozido, dançarino, coreógrafo, ator, diretor e produtor cultural.

Antonio Cozido é o último entrevistado da série em comemoração pelos seis anos do Desde. Imagem: reprodução do vídeo

Antonio Cozido é formado em dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pós-graduado em coreografia, pela mesma instituição. Com mais de 30 anos de carreira, ele já foi dançarino de Daniela Mercury e trabalhou com artistas de todas as gerações da Axé Music. Nesta entrevista exclusiva que concedeu para o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, Cozido fala sobre o início de sua carreira, o seu processo criativo e de como elementos da cultura afro estão, naturalmente, nas coreografias que cria. Opina sobre o caráter midiático que a dança ganhou e sobre o fenômeno FitDance. O artista fala ainda de Swing Afro-Baiano, modalidade que criou, e reflete sobre a realidade da dança na Bahia. A sua participação no filme Cinderela Baiana, a origem do seu apelido e a dança como adereço também figuram na conversa: “As pessoas usam mais como pano de fundo, colocando bailarino para preencher o palco, para dar uma roupagem diferenciada na música, no trabalho, no show”.
Assista, no vídeo abaixo, à entrevista com Antonio Cozido, no Sem Edição:

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Ildazio Tavares Júnior, Rádio e Entretenimento

Em entrevista exclusiva para o Desde, radialista fala de carreira, cultura baiana e negócios

Ildazio Tavares Júnior: um homem de negócios e do rádio. Foto: Raulino Júnior

O blog Desde que eu me entendo por gente completou seis anos em atividade no dia 1º de janeiro de 2017. Para comemorar a caminhada até aqui, estamos publicando uma série de entrevistas com pessoas que fazem Salvador acontecer. Homens e mulheres que dão a sua contribuição para a nossa cultura. O convidado de hoje é Ildazio Tavares Júnior, radialista, administrador, produtor cultural e empresário.

Ildazio Tavares Júnior é o sexto entrevistado da série em comemoração pelos seis anos do Desde. Imagem: reprodução do vídeo

Ildazio Júnior é um homem de negócios e do rádio. Formado em administração de empresas pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), ele atuou no ramo de bares, restaurantes e casas noturnas por mais de 30 anos. Boate MarrakeshRock in Rio CaféTapiocaDivinaFoguetes e Padaria Bar são alguns dos empreendimentos que administrou. Paralelo a isso, ingressou no rádio e descobriu mais uma paixão na vida. Nesta entrevista exclusiva que concedeu para o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, Ildazio fala sobre como começou a sua história no rádio, elenca os programas pelos quais passou, explica o perfil do Conectados (programa que apresenta na Rádio Excelsior FM, de segunda a sexta, das 13h às 14h) e analisa  a cena do rádio na capital baiana. Revela como foi a experiência de participar do reality show Hipertensão, da Rede Globo, em 2002, opina sobre a noite de Salvador, enfatizando o segmento de bares e restaurantes, e sobre o documentário Axé – Canto do Povo de Um Lugar, de Chico Kertész. No final, fala sobre os riscos de se deixar seduzir pelas tentações da indústria do entretenimento: “É quase que impossível resistir ao canto da sereia”.
Assista, no vídeo abaixo, à entrevista com Ildazio Tavares Júnior, no Sem Edição:

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Leno Sacramento, Bando de Teatro Olodum e Arte Engajada

Em entrevista exclusiva para o Desde, ator fala sobre o ingresso no Bando de Teatro Olodum, experiências artísticas e novos projetos

Leno Sacramento: transformação social através da arte. Foto: Raulino Júnior

O blog Desde que eu me entendo por gente completou seis anos em atividade no dia 1º de janeiro de 2017. Para comemorar a caminhada até aqui, estamos publicando uma série de entrevistas com pessoas que fazem Salvador acontecer. Homens e mulheres que dão a sua contribuição para a nossa cultura. O convidado de hoje é Leno Sacramento, ator, integrante do Bando de Teatro Olodum (BTO), produtor cultural, diretor, dramaturgo e youtuber.

Leno Sacramento é o quinto entrevistado da série em comemoração pelos seis anos do Desde. Imagem: reprodução do vídeo

Oriundo do bairro de Castelo Branco, em Salvador, Leno Sacramento ganhou o mundo ao ingressar no Bando de Teatro Olodum, grupo que promove discussões críticas acerca do negro na sociedade. Com talento, carisma e determinação, marcou o seu nome nas artes cênicas brasileiras, sempre promovendo questionamentos bastante significativos através de seu trabalho. Nesta entrevista exclusiva que concedeu para o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, o ator fala sobre o seu ingresso no BTO, em 1996, da vivência no grupo, da polêmica envolvendo o espetáculo Cabaré da RRRRRaça, mesmo antes da estreia, e dos projetos que encabeça fora do Bando. Na conversa, Leno ainda reflete sobre o desafio de promover a formação de plateia em Salvador e sobre a indústria da cortesia (a prática de as pessoas irem ao teatro apenas quando ganham os convites). O artista comenta sobre os vídeos da Ouriçado Produções (seu canal no YouTube que ressignifica a expressão “humor negro”) e sobre o espetáculo Eles Não Sabem de Nada, manifesto feminista de sua autoria. Sacramento revela os planos artísticos para 2017 e fala da razão da falta de patrocínio do BTO: “É difícil você patrocinar um grupo que fala sobre extermínio de jovens, opção sexual [sic], racismo, igualdade… A gente não quer falar de outras coisas que não seja isso, porque foge do nosso propósito”.
Assista, no vídeo abaixo, à entrevista com  Leno Sacramento, no Sem Edição:

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Vivendo em outro mundo

Nem Mesmo Todo o Oceano: drama, política e alienação. Foto: Elisa Mendes

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

É possível uma pessoa ficar totalmente alheia à situação de um país em plena Ditadura Militar? O espetáculo Nem Mesmo Todo o Oceano, que esteve em cartaz de 3 a 6 de novembro, na Caixa Cultural, em Salvador, mostra que sim, apesar de deixar evidente que a falta de engajamento já é uma ação e, como qualquer outra, tem as suas consequências. A peça faz parte do repertório da Cia OmondÉ, do Rio de Janeiro, e é uma adaptação de Inez Viana (que também assina a direção) para o romance homônimo do escritor mineiro Alcione Araújo (1945-2012).

Nem Mesmo Todo o Oceano narra a história de um jovem que sai do interior de Minas Gerais para estudar medicina no Rio de Janeiro nas vésperas do golpe militar. Quando o golpe se estabelece, o então estudante de medicina parece viver em outro mundo, evidenciando uma alienação e uma estupidez sem tamanho. Todas as suas ações nos “anos de chumbo” são egoístas, contrariando o espírito de um país, principalmente da maioria dos estudantes universitários, que lutava de forma coletiva para a transformação social.

Depois de formado, torna-se médico legista do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), um órgão repressor criado pelo Regime Militar. Lá, percebe a real situação do país e vê-se envolvido em tramas tão torturantes quanto a própria repressão.

Em cena, seis excelentes atores da Companhia  Iano SalomãoJefferson SchroederJúnior DantasLeonardo BricioLuis Antônio Fortes e Zé Wendell  se revezam no papel do jovem e de outros interessantes personagens do texto. O espetáculo é muito bom e merece ser visto. Numa entrevista para uma emissora de rádio de Salvador, Inez afirmou que a OmondÉ retorna aos palcos da capital em 2017. Vamos torcer.

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