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O hip-hop suingado de Mr. Armeng

Capa do CD de Mr. Armeng, lançado em 2014. Foto: reprodução da página oficial do artista no Facebook

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Você quer levar uma balada para a sua casa? Se respondeu “sim”, a dica é comprar o CD de Mr. Armeng e botar para tocar. A festa está garantida! Brincadeiras à parte, essa é a sensação de quem escuta o bom disco do cantor e compositor oriundo do Nordeste de Amaralina, bairro soteropolitano com forte inclinação artística. Lançado em agosto de 2014, o álbum tem o selo da Sony Music e é  fruto da vitória de Armeng no programa Breakout Brasil, do Canal Sony, em 2013.

Quem está acostumado com o rap que põe o dedo na ferida e fala das mazelas do povo, vai se surpreender com o trabalho de Mr. Armeng. A música dele não trata disso, mas também não prescinde do ritmo e da poesia. Quer dizer, não trata disso o tempo todo, aposta na leveza. Isso é evidenciado na primeira faixa do CD, Música Popular (Mr. Armeng/Dudu Marote). Num dos trechos, o rapper entoa: “Não vou cantar o sofrimento do povo/Muitos já falaram disso e eu não vou falar de novo“. Recado dado. A música que Armeng se predispõe a fazer é popular, “música pro povo se identificar”.

Claro que, com tal escolha, muitas lacunas surgem. Muito mais no que diz respeito às letras do que às sonoridades. Sendo assim, com Embalos de Sábado (Mr. Armeng/Fall Clássico/Zegon/André Laudz) o CD tem a primeira baixa. A música é desnecessária diante do bom repertório apresentado por Armeng. Nesse sentido, Pele Bronzeada (Mr. Armeng/Dudu Marote), que tem a insossa participação de Saulo Fernandes, acaba indo no mesmo embalo, embora tenha uma linha melódica e uma narrativa romântica mais interessantes.

Em Pra Dominar (Mr Armeng/Dudu Marote/DJ Leandro), Armeng volta a ser o Armeng que todo mundo conhece e apresenta uma música com forte batida de funk, percussão bem marcada e elementos de música eletrônica. Além disso, uma letra encorajadora: “Arregaça as mangas, corre, anda/Não tá satisfeito, busca a mudança/Nada vem fácil, disso eu já sei/Você não imagina quanta coisa eu já passei/Mas fiz disso combustível, vitória é o meu hino/O tempo vai passando e sigo evoluindo“. Nessa faixa, Mr. Armeng divide os vocais com a paraense Gaby Amarantos.

Na sequência, o CD brinda o ouvinte com A Flor e a Fera (Mr. Armeng/Dudu Marote), que surpreende por ser um samba típico, cheio de cuícas, pandeiros e tamborins. Dessa forma, fica bem evidente o caráter eclético da música de Armeng. Isso também é um reflexo de sua formação musical e, certamente, das contribuições do seu famoso pai, Guiguio “do Ilê”.
Com A Noite é Nossa (Mr. Armeng), Armeng traz uma crônica simples, que fala de festa e azaração. Em Vai Viver (Mr.Armeng), faz um golaço, ao misturar rap e soul music. Vale destacar a luxuosa participação de Beto Black e o “empréstimo” que Armeng faz do seguinte verso de Gil: “A Bahia já me deu régua e compasso“. “Faça a sua parte, deixa que vem/O importante é nós aqui, junto no que vem” é a mensagem principal de Faça a Sua Parte (Mr. Armeng/Dudu Marote), a oitava faixa.

Cena do clipe ofcial da música Eu Vim de Lá. Foto: captura de tela do YouTube feita em 20 de agosto de 2015

A penúltima música, Vem Cá (Mr. Armeng/Fred Beats), tem um balanço que contagia e ficou muito rica ao contar com a participação de Adriana Drê nos vocais. Mas com Eu Vim de Lá (Mr. Armeng), a última faixa, Armeng faz a gente descambar no clichê “fechou com chave de ouro”. De fato, é a melhor música do CD. Em todos os sentidos. Nela, vê-se um Armeng cronista de sua própria realidade e de seu tempo. A canção foi especialmente composta para o documentário Menino Joel, dirigido pelo cineasta Max Gaggino. Na letra, orgulho e pertencimento: “Eu vim de lá e sei o meu valor/Eu sou Nordeste, sim, e honro aonde eu vou/Vim pra vencer, e não ser sofredor/Na busca pela vitória é nos que tá, nego“. A música é digna de todos os prêmios; o CD, de todos os aplausos.

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