#5AnosDoDesde, Crônica, Cultura, Desde Já, Jornalismo Cultural

Usando com culpa

Menos papel, mais consciência. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Desde Já: as crônicas do Desde||

É claro que deve ter uma estatística sobre o gasto de papel para enxugar as mãos quando a gente vai ao banheiro. O difícil é encontrar. Na verdade, em relação a isso, não precisa nem recorrer a uma pesquisa. A olho nu, fica evidente o desperdício.
Se você for contabilizar o número de vezes que vai ao banheiro em um dia e a quantidade de papel que utiliza, pode se contentar com um mundo com menos fotossíntese. A gente usa os papéis disponíveis (seja a toalha de papel ou o higiênico) com uma culpa danada. Quero acreditar, pelo menos, que uma boa parcela da população tenha esse sentimento.
Não é fácil querer ajudar a natureza nesse sentido. Principalmente, porque não tem alternativas que sejam, ao mesmo tempo, higiênicas e ambientalmente corretas. Há muita discussão sobre o uso das toalhas de papel e dos secadores de mãos. O que é melhor? Ainda não há consenso. Uma matéria publicada no site da revista Galileu, em fevereiro de 2010, afirma que um estudo feito por uma famosa fabricante de papéis sanitários para higiene pessoal apontou que “os secadores de ar quente aumentam em até 254% a porcentagem de microorganismos [sic] nas mãos, enquanto o uso das toalhas descartáveis de papel reduzem [sic] o nível de bactérias em até 77%”. Aí está o nó.
E se cada pessoa usasse a sua própria toalha de pano, a fim de reduzir o gasto e o desperdício de papel? Seria uma solução adequada? Hum… Acho que não é uma boa ideia, haja vista os argumentos citados acima e os outros tantos estudos dos microbiologistas. A biossegurança agradece.
O que nos resta é fazer um uso consciente dos papéis. Isso já ajuda.
Sigamos.
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#5AnosDoDesde, Cultura, DESDEnhas, Educação, Jornalismo Cultural, Resenha, Teatro

O grito das mulheres em “Eles não sabem de nada”

Naira da Hora e Shirlei Sanjeva em cena de Eles não sabem de nada. Foto: divulgação

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

Atual. Política. Necessária. Esses três adjetivos caracterizam de forma precisa a peça Eles não sabem de nada, em cartaz no Teatro Gamboa Nova. Hoje, às 17h, acontece a última apresentação da curtíssima temporada (estreou na sexta, 11 de março). O espetáculo é, declaradamente, um manifesto feminista e funciona muito bem. O texto de Leno Sacramento, que também assina a direção, é inteligente e cheio de humor, mas a peça não é uma comédia pura e simples. Trata-se de uma comédia dramática, se assim podemos dizer. Funciona porque toca em questões importantes do cotidiano, fala do machismo que está vivo em todos os ambientes e põe o dedo nessa ferida com propriedade. É um grito das mulheres, para mulheres e homens.

Fincada no teatro realista, a montagem põe em evidência o mau comportamento dos homens, por séculos avalizado e estimulado na sociedade, e tece críticas à falta de igualdade entre os gêneros, principalmente no processo de indiferença às vontades femininas. Num dos trechos em que a plateia estranhamente se diverte, as atrizes Naira da Hora e Shirlei Sanjeva reproduzem algumas cantadas proferidas por homens e representam situações em que os caras se acham “os gostosões”, como é citado no próprio texto. Além da interação com a plateia durante a apresentação, há, no final, um bate-papo para a troca de informações acerca da temática discutida.
Numa época em que o empoderamento feminino está sendo visto e discutido (o espetáculo, obviamente, fala disso o tempo todo), as duas atrizes exemplificam bem o retrato da mulher de 2016: são competentes, sabem do que estão falando e satisfazem as suas próprias vontades, independentemente de opiniões alheias. As boas interpretações de Naira e Shirlei são, certamente, um ponto de convergência das histórias de vida de cada uma delas e do aprendizado adquirido na Oficina de Performance Negra, oferecida, em 2014, pelo Bando de Teatro Olodum, da qual as duas fizeram parte. No palco, elas estão falando delas, ao mesmo tempo em que falam de todas as outras mulheres.

Eles não sabem de nada é uma peça fundamental, ainda mais quando se pensa nos debates de hoje em dia, que deveria ser cobrada nas escolas e patrocinada pelo poder público. O texto de Leno é costurado por outras referências do movimento negro e feminista, como o poema Eu-mulher, de Conceição Evaristo; e textos do livro Só por hoje vou deixar o meu cabelo em paz, de Cristiane Sobral. As citações enriquecem e ampliam a discussão. O espetáculo não tem nada para tirar nem pôr.

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Gramática, Língua Portuguesa, Português

A troca de independentemente por independente

Imagem: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

“Cada dia civil trabalhado corresponde a apenas um dia letivo, independente da carga horária; contudo, todas as horas trabalhadas com os estudantes deverão ser registradas como horas letivas”. O trecho em destaque faz parte de uma instrução normativa publicada pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia, em abril de 2015. Nada demais. A não ser o emprego equivocado de “independente”. Esse fenômeno da língua está nos jornais, nos ambientes de ensino (com professores e estudantes protagonizando a cena), na TV, no rádio, na internet e em todos os lugares frequentados por humanos. Virou moda.
“Independente” é adjetivo, se refere a um substantivo ou a um termo com esse valor. A mulher é independente. Você é independente? A língua portuguesa não, depende de regras. “Independente” se contrapõe a “dependente” e é uma palavra variável.
No caso do texto da instrução normativa, a forma adequada, para a língua padrão, seria a seguinte: “Cada dia civil trabalhado corresponde a apenas um dia letivo, independentemente da carga horária…”. “Independentemente” é advérbio, modifica um verbo, adjetivo, outro advérbio ou uma oração inteira. É uma palavra invariável.
A troca de “independentemente” por “independente” tem se tornado comum. Não vai demorar ser consagrada. Afinal, quem manda na língua é o falante, independentemente de qualquer coisa. O falante é independente, ora bolas!
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