Artigo de Opinião, Opinião

“Como é triste a tristeza mendigando um sorriso” *

Imagem reproduzida do site Jornal GGN

As tecnologias da informação e da comunicação trouxeram vários benefícios para a vida do homem. Hoje em dia, é possível conhecer gente, ler livros, pagar contas e fazer de um tudo apenas com um clique. Isso é o máximo! Contudo, essa mesma humanidade que é beneficiada, não sabe aproveitar o que tem e se apega a coisas do tamanho de um byte para viver nessa era de revolução tecnológica.
 
Não é muito difícil constatar que o “estar” é melhor que o “postar”; que “viver” é melhor que “filmar”, fazendo uma releitura de um dos versos mais famosos do saudoso Belchior. E já que estou na seara da música, o título deste texto sintetiza muito bem o que o motivou. É muito triste ver “amigos” te tratando com indiferença apenas porque você não curtiu uma publicação deles ou não visualizou uns stories. Que é isso, minha gente?! Estamos na era em que a “amizade” é mensurada por curtidas e visualizações?! É isso mesmo?! Aí, a pessoa se zanga e ignora a vida on e off-line de quem não curtiu, não reagiu, não comentou e não visualizou uma publicação. É sério isso?! Eu penso que a vida é muito mais do que likes e afins. No final disso tudo, a gente vai olhar pra trás e perceber o quanto a nossa imbecilidade limitou a nossa forma de viver e de estar no mundo.

Amizades verdadeiras, e aqui eu recorro a um clichê, se sobrepõem ao tempo. Não é necessário “seguir” um amigo para demonstrar o quanto aquela amizade é importante e significativa para você. Quantos amigos não se veem com frequência, mas, quando se encontram, sabem que o laço amistoso se mantém vivo como sempre esteve? Estamos na era da idiotia com atestado. A era líquida, como postulou Bauman. O carinho está sendo substituído por números que, no final das contas, não querem dizer nada. A vida é muito mais do que um evento organizado pelo Facebook ou um story no Instagram. Vamos amadurecer! Esse processo é tão simples que não precisa de likes nem internet. Olha que maravilha!
 
Não vale a pena concentrar energia nessas coisas, gente! A vida é muito mais do que isso! Muito mais! É saber que os amigos estão bem! É encontrar na rua, dar um abraço e falar: “Estava com saudades!”. Dizem que a vida é a arte do encontro, e é mesmo! Like nenhum vai substituir isso. Muito menos um story. Porque, por mais que seja uma realidade a intermediação das redes nas relações de hoje, nada se compara à presença presente (redundância convicta!), que é, entre pessoas que se gostam de verdade, cheia de calor, de carinho e de afeto. Vamos nos apegar ao que realmente importa, ao que não é fluido e não desmancha no ar feito bola de sabão. Comecei com música e encerro com música: “Sofrer com tanta angústia/Por coisas tão pequenas/Gastar essa energia/Assim não vale a pena” **. Vamos fazer a vida valer a pena! Eu acredito que você seja capaz disso! Curtiu?! 😂😂😂
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*: verso da música Sinônimos, de César Augusto, Cláudio Noam e Paulo Sérgio. Veja o vídeo:

**: versos da música À noite sonhei contigo, de Kevin Johansen e Paula Toller. Veja o vídeo:

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Cultura, Jornalismo Cultural, Leitura, Literatura, Reportagem, Reportagem Especial

Colégio de Berimbau publica livros sobre memórias da cidade

Obras foram originadas de projetos pedagógicos desenvolvidos na comunidade escolar

Livros produzidos pela comunidade escolar do Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo, de Conceição do Jacuípe (Berimbau): resgate histórico, valorização da cultura e manutenção da memória. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Reportagem Especial|| 
Era uma vez um colégio, localizado no interior da Bahia, que realizou um projeto pedagógico cujo objetivo era fazer com que professores e estudantes conhecessem um pouco mais sobre a cidade em que ele estava situado. Esse projeto, além de trazer muito conhecimento para todos da comunidade escolar, rendeu um fruto que vai ficar marcado na história cultural do município: a publicação de dois livros. Alguém duvida de que o final foi feliz?! Esse conto não é de fadas, é de professoras. A instituição de ensino citada no texto existe, é o Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo (CEDBA). A cidade também: Conceição do Jacuípe (Berimbau). Ainda bem que essa história é real e tomara que ninguém se canse de contá-la.

Em 2017, incentivados pelo projeto “Berimbau, meu pedacinho de Brasil”, os estudantes do 6º ano do CEDBA fizeram entrevistas com moradores de Conceição do Jacuípe a fim de saber a origem dos nomes curiosos e esquisitos das ruas da cidade. A atividade de sala de aula extrapolou todos os muros possíveis e resultou na produção do livro Tem Nome Esquisito Minha Rua: descobrindo a história que há por trás dos nomes “esquisitos” das ruas de Conceição do Jacuípe, organizado pela professora Elizabeth de Jesus Silva. Através da publicação, os moradores e interessados ficaram sabendo por que, por exemplo, a “Rua Mela Rego” tem esse nome. E o que falar de Rua do Cacete, do Garrancho, do Fogo e a Toca do Sapo?! Tudo está explicado no livro. Assim como a origem do apelido “Berimbau”: “Tudo começou por causa de uma feira livre que surgiu na cidade, em 1914. Essa feira era frequentada por trovadores, violeiros, pandeiristas e tocadores de berimbau. Um certo dia, fizeram uma trova que se encerrava com o nome ‘Feira de Berimbau’, surgindo, assim, o segundo nome do município de Conceição do Jacuípe”.

Trecho do livro “Tem Nome Esquisito Minha Rua”: explicação dos apelidos das ruas de Conceição do Jacuípe. Foto: Raulino Júnior

A comunidade escolar gostou tanto da experiência que a repetiu em 2018. Do projeto “Como nosso Berimbau começou a tocar”, nasceu o livro Como esse Berimbau começou a tocar: um passeio pela história de Conceição do Jacuípe. O mote se manteve o mesmo, ou seja, possibilitar que as pessoas conhecessem mais sobre a origem e cultura da cidade. O que mudou é que, com o aprendizado do passado, as autoras da obra – Arali Ferreira de Aquino Oliveira, Elizabeth de Jesus Silva, Maria Paula Batista de Souza e Núbia Leticia Santos de Souza – ousaram ainda mais. O livro ficou com 54 páginas (mais que o dobro do primeiro, que tem 24) e um personagem foi criado para tornar a leitura ainda mais lúdica. Em Como esse Berimbau começou a tocar, João Vitor, o Berimba, tem que fazer uma pesquisa de História sobre o município onde ele mora. Para cumprir com a atividade, ele recorre a Dona Ana, sua avó, e a Seu Antonio, que conhecem Berimbau como ninguém. Ao conversar com eles, Berimba vai organizando o seu trabalho. Nessa viagem, ele aprende sobre aspectos históricos e culturais da cidade. O livro traz ainda a seção “Você Sabia?”, que tem a função de explicar mais a fundo alguns dados presentes na narrativa. No final, uma ótima sacada metalinguística: as autoras sugerem que a pesquisa de Berimba se transforme num livro sobre a cidade. Foi o que aconteceu. Veja o convite de Berimba no vídeo abaixo:

Comunidade escolar e moradores da cidade

Núbia Letícia de Souza, uma das responsáveis pelas produções das obras literárias, além de ter sido estudante do CEDBA, trabalha no colégio desde 2007. É professora de Língua Portuguesa, mas, atualmente, está na vice-direção da unidade de ensino. Em entrevista via WhatsApp, ela falou sobre o sentimento da própria comunidade escolar em relação aos livros publicados: “Enquanto alguns envolvem-se e procuram informações o tempo todo, querendo ajudar a fortalecer o projeto, outros mantêm-se mais desconfiados da utilidade, principalmente porque não é algo comum às escolas públicas a produção de material bibliográfico. Mas, para o grupo de trabalho, o desafio é justamente este: sair da mesmice e produzir conhecimento de um jeito realmente eficaz e útil, não apenas para adquirir uma nota numa avaliação, mas para viver com mais consciência de nós mesmos e de tudo que nos cerca. Conhecer a nossa cidade proporciona isso”.

Para a professora Maria Paula Batista, que está no CEDBA desde a fundação, em 1991, e ensina Matemática para as turmas do 7º e do 9º anos, houve um envolvimento maior da comunidade escolar no segundo livro. Em resposta também enviada pelo WhatsApp, ela afirmou: “Embora tenhamos uma parcela de pais e alunos que ainda não perceberam a importância deste projeto, muitos têm reconhecido e demonstrado interesse. Sabemos que é um trabalho de formiguinha. No desenvolvimento dos trabalhos para o segundo livro, o envolvimento da comunidade escolar foi bem maior que o primeiro. Quase cem por cento”. Maria, que também faz parte da equipe responsável pelas publicações, diz ainda que os moradores da cidade receberam bem a edição dos livros. “Os moradores têm valorizado o nosso trabalho. Isso nos alegra e nos dá incentivo para continuarmos pesquisando e escrevendo sobre a nossa cidade. Percebemos que eles têm sede de conhecimento sobre a terra natal”. Núbia endossa isso: “Diante da confiança que a sociedade conjacuipense já consolidou ao Colégio Estadual Domingos Barros de Azevedo, boa parte dos moradores recebeu muito bem os dois livros publicados. Muitos se surpreendem com a qualidade do material e com o fato de uma escola pública conseguir fazer esse tipo de coisa. Muitos nos sugerem outros temas para fazer novos livros ou reclamam porque não falamos ainda de assuntos que acham importantes. Mas onde temos a chance de explicar a natureza e o propósito dos nossos livros, sempre colhemos elogios, palavras de apoio e o interesse pela aquisição dos materiais. Além da satisfação pessoal e do amadurecimento profissional, o reconhecimento dos munícipes que leem os nossos livros é muito importante para a continuidade do trabalho da escola”, reconhece. As duas produções estão à venda na própria escola e custam R$ 10 (Tem Nome Esquisito Minha Rua) e R$ 25 (Como esse Berimbau começou a tocar).

literatura infantil foi adotada nos dois livros porque “as novas gerações serão multiplicadoras das histórias contadas pelos mais velhos”, como diz um dos textos presentes no preâmbulo de Como esse Berimbau começou a tocar. Falando de nova geração, os estudantes contribuíram bastante com a produção de cada volume. Além de auxiliar no trabalho de pesquisa, alguns deles ilustraram os dois exemplares. As obras valorizam a história oral, algo muito forte na nossa cultura, principalmente pela herança africana; e trabalham com a memória, elemento importante para manter os nossos costumes e tradições sempre vivos. O desafio que fica para a comunidade escolar do CEDBA agora é o seguinte: escrever uma biografia sobre Domingos Barros de Azevedo. Um livro falando sobre quem foi ele, por que o colégio foi batizado com esse nome e qual a relação de Domingos com a cidade. Vamos lá?!

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Esta reportagem foi produzida no período de 30 de dezembro de 2018 a 12 de janeiro de 2019.
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#Desde8, Cultura, Jornalismo Cultural

Desde completa oito anos cheio de histórias para contar

Oito anos do Desde: experimentação jornalística pautada na cultura. Imagem: montagem do aplicativo Layout

Por Raulino Júnior

Chegamos ao nosso oitavo ano! Não imaginava que a experimentação neste espaço duraria todo esse tempo. O Desde surgiu de uma forma muito despretensiosa. Era só um lugar para um foca experimentar a prática jornalística. Com o tempo, esse exercício foi ganhando força e prioridade. A editoria de cultura foi a escolhida, mas isso não significa que ficamos presos a ela. Aqui, pode tudo. Basta ser jornalismo.

Como a cadeia de produção do blog não segue a mesma lógica do mercado, por não ter condições nem interesse, o Desde é uma espécie de blog-revista. As publicações têm peridiocidade semanal, quinzenal e até mensal. Por aqui, a qualidade é sempre um norte. O jornalismo não precisa ter pressa, precisa ter agilidade. São dois conceitos muito diferentes.

Ao longo desses anos, foram muitas as oportunidades de exercitar o jornalismo. Fizemos coberturas, entrevistamos pessoas interessantes, produzimos notícias. Ou seja, colocamos em prática o objetivo do blog desde o seu início. Naquele 1° de janeiro de 2011, data de criação do Desde, o que me movia era o fato de poder ter um espaço para exercitar o que eu estava aprendendo na faculdade. Queria melhorar o meu texto, ser ágil, me profissionalizar. Acho que consegui.

Histórias para contar

Para comemorar esses oito anos no ar, vamos publicar, a partir de fevereiro, a série de crônicas 8 Histórias para Contar. A ideia é compartilhar histórias dos bastidores das produções do blog. Muita gente tem curiosidade em saber como a pauta é pensada, como foi entrevistar aquela pessoa que tem certa notoriedade, como fazer para que uma cobertura, de fato, mostre muito do que aconteceu num evento, como abordar um assunto sem cair na mesmice.

A nossa ideia é falar de tudo que contribui para que o post seja publicado. Chegar até aí não é fácil. O jornalista tem que abdicar de muita coisa, tem que pesquisar bastante, sair do lugar-comum e produzir um texto que seja interessante para o leitor. É um desafio diário, mas a gente ama. Até lá!

Raulino Júnior
Professor, compositor, jornalista, produtor cultural e editor do Desde.

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