Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Leitura, Resenha

Jornalismo de Revista: a força da imagem

Foto: captura de tela do site da Editora Contexto.

Por Raulino Júnior ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||
Numa revista, as ilustrações, fotografias e infográficos são elementos fundamentais. Isso fica evidente para quem lê o livro Jornalismo de Revista, da escritora e jornalista Marília Scalzo. A obra traz informações históricas bem interessantes. Por exemplo, você sabe quando e onde surgiu a primeira revista do Brasil?
No primeiro capítulo do livro, Por que as revistas existem, abrem e fecham?, Marília Scalzo fala sobre a importância das revistas para o jornalismo e para o entretenimento. Segundo a autora, as revistas são verdadeiras prestadoras de serviço porque englobam todo tipo de assunto. Nesse sentido, a grande vantagem delas é a de aprofundar os assuntos que estiveram na pauta de outros meios de comunicação.
O próprio sucesso das publicações, de acordo com Scalzo, é o motivo para que muitas revistas deixem de existir. O espaço para os anúncios começa a ficar muito caro, igualando-se ao da televisão. Dessa forma, os anunciantes se desinteressam em fazer a publicidade, uma vez que o custo/benefício passa a não compensar.
O capítulo 2, Um pouco de história, trata do itinerário do gênero “revista” no mundo. A autora faz um excelente apanhado histórico e cita algumas características das primeiras publicações. Do nascimento, na Alemanha, até os dias atuais, as revistas sempre tiveram como objetivo atingir públicos específicos e tratar os assuntos com profundidade. Mas foi em Londres, em 1731, que apareceu, pela primeira vez, uma revista mais parecida com as que são publicadas hoje. O nome do periódico era The Gentleman’s Magazine. Outra curiosidade apresentada por Marília é que, nos seus primórdios, as revistas tratavam de um único assunto.
No início do século XX, surge a Time, primeira revista semanal de notícias. Seu lançamento influenciou a linha editorial de muitas publicações no mundo. No Brasil, a Veja é um dos principais exemplos.
 
A evolução das revistas no Brasil é o tema abordado no 3º capítulo do livro. Nele, Marília Scalzo traça o perfil e o histórico das publicações brasileiras. A primeira revista nacional surgiu em Salvador, em 1812, com o nome de As Variedades ou Ensaios de Literatura. O periódico tratava de diferentes assuntos, como os costumes sociais, história, literatura, ciência e filosofia. Daí em diante, foram surgindo revistas com os mais diferentes enfoques. Por exemplo, O Patriota tinha como objetivo divulgar autores e temas próprios da cultura brasileira. O Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura mostrava as mudanças ocorridas no Brasil devido à evolução do conhecimento humano. A Semana Ilustrada, de 1864, foi pioneira por ser a primeira revista do Brasil a utilizar fotos. Nesse período, começa a profissionalização da imprensa nacional e a necessidade de unir técnica e capital para produzir as publicações.
Muitas revistas fizeram história e se tornaram fenômenos editoriais. Nessa lista, destacam-se O Cruzeiro (1928), Manchete (1952), Realidade (1966), Veja (1968), Visão (1952), Capricho (1952), Senhor (1959) e O Bondinho (1970 a 1972).
O que diferencia uma revista dos outros meios? é a pergunta-título do capítulo 4. A tese defendida é a de que a revista, em relação aos outros segmentos da imprensa e da mídia, fala de maneira mais íntima com o leitor. Marília Scalzo cita o formato das revistas como sendo uma das características mais importantes para fidelizar leitores. Elas são fáceis de carregar e de colecionar, não sujam as mãos, são atraentes (pelo uso de papel especial, fotografias e infográficos). A periodicidade é outro elemento importante dentro desse debate, porque está diretamente ligada ao trabalho dos jornalistas. Um tempo maior para elaboração das reportagens implica, quase sempre, num melhor produto a ser apresentado ao público.

O capítulo 5, Como anda o mercado para as revistas?, só constata uma realidade vivida e acompanhada pelas pessoas interessadas em comunicação impressa. Para não perder espaço e tentar consolidar uma fatia de mercado, as revistas segmentam cada vez mais os seus conteúdos. Muita gente pode pensar que a crise das  publicações é resultado do impacto dos meios eletrônicos. Contudo, Marília ratifica o que muitos estudiosos de comunicação defendem há muito tempo: um meio de comunicação, por mais poderoso que possa parecer, nunca vai acabar com os demais. Há, na verdade, uma complementação daquilo que se fazia anteriormente.

O 6º capítulo, O que é um bom jornalista de revista?, é o melhor dentro da temática abordada por Marília em sua obra. A autora fala sobre a importância da leitura no cotidiano do jornalista e a necessidade de o profissional desenvolver uma razoável cultura geral. A isenção na hora de produzir as matérias é um dos pontos enfatizados por Scalzo. Para escrever bem, ela é categórica: deve-se fazer muitas leituras e escrever bastante. Sendo assim, o jornalista terá mais elementos para contar as histórias que já foram divulgadas em outros meios de comunicação, dando ênfase a outros aspectos.

No capítulo 7, O que é uma boa revista?, Marília destaca a importância de as revistas se renovarem constantemente. Nesse sentido, ter um bom plano editorial contribui para isso. A capa é uma das partes mais importantes nesse mercado, porque, como a imagem numa revista é indispensável, é ela quem vai despertar no leitor o interesse imediato para comprar o periódico. O posicionamento das fotografias, as legendas que as acompanham e a escolha dos infográficos são elementos que, num primeiro momento, podem parecer irrelevantes, mas, na produção editorial de uma revista, fazem toda a diferença. Nesse capítulo, faltou Marília abordar questões mais técnicas relacionadas à produção das revistas.

Ética no jornalismo em revista é o assunto em destaque no 8º capítulo do livro. Nele, obviamente, a jornalista aborda questões como qualidade da informação, precisão, objetividade e isenção. Para quem trabalha na área ou é pesquisador de jornalismo, o capítulo não acrescenta muita coisa. Muito daquilo que é colocado por Scalzo soa como teoriazinha ineficaz. Na verdade, ética na profissão não se aprende lendo compêndios de “como agir corretamente”; mas, sim, agindo de tal forma.

No último capítulo do livro, Revista na prática – ou como acertar o foco no leitor, Marília Scalzo narra sua experiência como redatora-chefe da revista Capricho, de 1990 a 1992. A autora fala sobre as dificuldades e estratégias criadas para fazer a publicação se reposicionar no mercado e ser uma das líderes de venda.

Jornalismo de Revista traz informações relevantes para quem quer conhecer a história, consolidação e crise do mercado de revistas no Brasil e no mundo. A autora apresenta uma pesquisa cronológica abrangente. Porém, deixa algumas lacunas quando se pensa na produção técnica do jornalismo de revista. O leitor com poucas referências de jornalismo, se satisfaz com o texto de Scalzo, e isso é louvável. Contudo, aquele que já tem certo conhecimento sobre a prática jornalística, pede um pouco mais da obra.

Referência:

SCALZO, Marília.  Jornalismo de revista. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2009 (Coleção Comunicação).

Padrão