Num ano importante para a nossa democracia, é fundamental que nós, cidadãos, busquemos informações que nos ajudem a ter uma visão mais crítica das coisas que acontecem na sociedade. Nesse sentido, a leitura do livro Política e Educação, de Paulo Freire, é uma excelente sugestão. Na obra, além de falar da interface entre política e educação, Freire toca em questões que merecem reflexão diária por parte de professores, representantes políticos e demais pessoas preocupadas com o viver social.
O ato de educar é, essencialmente, político. Na obra, Paulo Freire fala de uma educação para a decisão e libertação. Não há nada mais político do que isso. Porque o autoritarismo não pode coexistir com a democracia. E, para reinventar o mundo, algo que perpassa por questões políticas, a educação é um fator crucial.
Freire afirma que “a leitura crítica do mundo se funda numa prática educativa crescentemente desocultadora de verdades. Verdades cuja ocultação interessa às classes dominantes da sociedade”, p. 11. Ocultar as verdades é uma das práticas mais nefastas no âmbito da representação política. Isso só pode ser combatido com informação. Não é por acaso que o Patrono da Educação Brasileira diz que “o ser humano jamais para de educar-se”, p 13.
Todo discurso é disputa e política. Ao refletir sobre discursos reacionários, Paulo Freire afirma: “É preciso mesmo brigar contra certos discursos pós-modernamente reacionários, com ares triunfantes, que decretam a morte dos sonhos e defendem um pragmatismo oportunista e negador da Utopia”, p. 17. Quantos movimentos sociais são esvaziados por ter pessoas que adotam esse tipo de postura? Freire emenda, na mesma página: “É possível vida sem sonho, mas não existência humana e História sem sonho”.
Recentemente, o Brasil foi tomado por uma onda de defensores de uma escola sem partido. Em 1993, quando a obra foi lançada, o educador pernambucano falava isto: “Não pode existir uma prática educativa neutra, descomprometida, apolítica. A diretividade da prática educativa que a faz transbordar sempre de si mesma e perseguir um certo fim, um sonho, uma utopia, não permite sua neutralidade. A impossibilidade de ser neutra não tem nada que ver com a arbitrária imposição que faz o educador autoritário a ‘seus’ educandos de suas opções”, p. 21. Ainda sobre autoritarismo, falando da relação entre educadores e educandos, diz: “Não vale um discurso bem articulado, em que se defende o direito de ser diferente e uma prática negadora desse direito”, p. 22. Tem que ter coerência entre o discurso e a prática.
Um dos capítulos mais interessantes do livro é o que trata sobre o direito de criticar. Para Freire, é impossível não ser criticado: “[…] é impossível estar no mundo, fazendo coisas, influenciando, intervindo, sem ser criticado”, p. 31. O escritor também fala que não se pode criticar aquilo que não se conhece. Por incrível que pareça, isso tem que ser dito, pois há pessoas que saem fazendo críticas de algo que não têm nenhuma referência. É uma atitude feita apenas para impressionar. Além disso, ainda tratando sobre a crítica, Freire afirma que há “frases feitas que se repetem com ares de enorme sabedoria”, p. 31-32. E arremata: “Não posso criticar por pura inveja ou por pura raiva ou para simplesmente aparecer”, p. 32. Muita gente precisa aprender isso.
Outro trecho interessante é quando o autor diz que ninguém nasce feito, que a gente não é, a gente está sendo… A nossa vivência nos forma e essa formação é infinita. Paulo Freire se coloca o tempo todo em avaliação e mostra a sua atitude política diante do mundo: “[…] uma das marcas mais visíveis de minha trajetória profissional é o empenho a que me entrego de procurar sempre a unidade entre a prática e a teoria”, p. 43.
Ser um ser político é interferir o tempo todo na dinâmica da sociedade. “Uma das condições necessárias para que nos tornemos um intelectual que não teme a mudança é a percepção e a aceitação de que não há vida na imobilidade”, p. 43. Essa é a lição que fica.
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