13 anos de sorte!, Audiovisual, Axé Music, Cultura, Entrevista, Jornalismo Cultural, Música, Produção Cultural, Samba-Reggae, Sem Edição

Sem Edição| Negro Léo, Vixe Mainha, Música Baiana e Samba-Reggae

Negro Léo, atual vocalista da Vixe Mainha. Foto: Josi Carvalhos

Por Raulino Júnior 

Na abertura da 10ª temporada do Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, o convidado de honra é Negro Léo, cantor e compositor nascido e criado no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador-BA. Atualmente, Léo é vocalista da emblemática banda Vixe Mainha, que já contou com os vocais de Jau e Pierre Onassis, referências na música baiana. Na entrevista, Léo fala como veio o convite para integrar o grupo e como ingressou no universo da música. A sua trajetória musical também é pauta no bate-papo. Léo opina sobre o atual cenário da música baiana e sobre a necessária renovação dos artistas da cena. Ele ainda fala sobre todos os projetos musicais dos quais faz parte e sobre os próximos passos da Vixe Mainha. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais Negro Léo! Obrigado pela confiança e disponibilidade! Você é um artista maravilhoso e original! Mais sucesso!

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"Adolescendo Solar", Cultura, DESDEnhas, Jornalismo Cultural, Resenha

“Rita Lee: outra autobiografia” traz deboche e consciência de finitude da artista

Relato aborda o diagnóstico do câncer e o tratamento durante a pandemia

Imagem: divulgação

Por Raulino Júnior  ||DESDEnhas: as resenhas do Desde||

“Algo me diz que tenho escrito muito sobre morte. Aliás, por que há tanta gente que até se benze quando tocamos no assunto? A morte é a única verdade, e cada dia a mais vivido é um dia a menos que se vive. Pra quê fazer tanta cara de enterro quando deveríamos tratar dela com humor? Desta vida, não escaparemos com vida”. Esse trecho, presente na página 82 de Rita Lee: outra autobiografia (Globo Livros, 2023), sintetiza muito bem o teor da obra: é um relato leve, debochado e repleto de passagens que constatam que a autora tinha muita consciência de sua finitude. No texto, a paulistana Rita Lee Jones de Carvalho (1947-2023) narra como se deu a descoberta do câncer no pulmão, o tratamento durante a pandemia do coronavírus (o diagnóstico foi dado em abril de 2021) e a preparação para uma exposição em homenagem à sua carreira. O deboche e a autozoação eram traços marcantes da personalidade de Rita, presentes nesta e também em sua primeira autobiografia, lançada em 2016.

A narrativa de Rita Lee parece ser uma conversa com amigos na sala de estar. É simples e interessante, além de bem-humorada. Ela trata as pessoas que conheceu durante o tratamento de “oncolegas” e batiza um dos seus tumores de “Jair”, numa referência a Jair Bolsonaro, amplamente criticado na autobiografia. Por sinal, referência era uma coisa que a roqueira tinha para dar e vender. Ao longo do texto, ela faz menção a várias canções da Música Popular Brasileira (MPB): “Mistérios sempre hão de pintar por aí” (p. 20), “Queria dar beijinhos e carinhos sem ter fim nessa moçada…” (p. 124), “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte” (p. 144) e algumas outras. Rita também cita várias experiências sobrenaturais que teve durante a vida e durante o tratamento, reflete sobre a velhice, proteção de animais e da natureza. E mostra acidez e humor ao falar dessa última: “Fumava para meditar sobre uma letra de música, buscar uma solução para problemas caseiros ou dar uma pausa e só bundar no jardim pensando em como salvar a Natureza enquanto poluía com meu tabaco os delicados aromas das gardênias, dos manacás, das damas-da-noite, ou seja, a mesma Natureza que eu queria tanto salvar… lá estava eu jogando Marlboro no ar. Rita paradoxal. Alguma coisa estava fora da nova ordem mundial em relação aos cuidados com nossa Terra Nave Mãe”, p. 35-36.

Rita acreditava que fosse se curar do câncer. No último parágrafo do capítulo A radioterapia, ela diz: “Mas, em grande parte das vezes, o medo pelo sofrimento que a quimio causou em minha mãe foi suplantado pelo desejo de me curar daquele câncer em homenagem a ela, como uma vingança tipo máfia siciliana”, p. 52. Contudo, no próprio texto, ela revela algumas malandragens que fazia para não tomar os remédios e fingir que estava ganhando peso. Phantom (intervenções de Guilherme Samora), o fantasma onisciente que também esteve na primeira autobiografia, é quem entrega: “Rita, agora que está com dois quilos a mais, não seria a hora de contar o truque de colocar um peso de papel no bolso para enganar a balança e não ter que comer toda hora?”, p. 132.

No dia 8 de maio deste ano, Rita Lee morreu, deixando um legado na música, na literatura e no comportamento. “Aquela velha frase: nunca fui um bom exemplo, mas sempre fui gente fina”, p. 120.

Referência:
 
LEE, Rita. Rita Lee: outra autobiografia. 1. ed. São Paulo: Globo Livros, 2023.
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Sem Edição| Ada Tem de Tudo, Antiguidades, Arte e Cultura

A descontraída e peculiar Ada Tem de Tudo. Foto: Raulino Júnior

Neste episódio do Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, a convidada é Iraci Brandão Cajado, a “Ada Tem de Tudo”, figura muito peculiar de Salvador. Na conversa, ela fala sobre a origem do apelido, sobre como começou a colecionar e vender antiguidades. Cita também as participações que fez na televisão e as tietagens ao longo da vida. Para isso, abre, literalmente, o seu álbum de fotografias. Ada conta como é a dinâmica de empréstimo de seus objetos para produções culturais (peças de teatro, filmes, novelas) e fala de sua família em Amargosa, sua cidade de origem. No final, diz qual é o seu sonho mais imediato e mostra algumas das peças de sua loja. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais a Ada! Obrigado pela confiança e disponibilidade! Você é um símbolo de Salvador! Mais sucesso!

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"Adolescendo Solar", Audiovisual, Cultura, Entrevista, Fotografia, Jornalismo Cultural, Produção Cultural, Sem Edição

Sem Edição| Lalo Batera, Música, Cheiro de Amor e Etarismo

Lalo Batera. Foto: Raulino Júnior

A 9ª temporada do Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, está no ar e o convidado que marca a estreia é Mário Augusto Cardoso de Almeida, o Lalo Batera. O baterista, oriundo do bairro de Periperi, em Salvador, começou a carreira cantando músicas de Fagner no bar do pai. Em seguida, fundou uma banda de heavy metal com os irmãos, a Sinal Vermelho, e a partir daí foi construindo a sua carreira como músico. Durante quinze anos, foi baterista da banda Cheiro de Amor, quando o grupo esteve no auge do sucesso, na época das vocalistas Márcia Freire e Carla Visi. Obviamente, Lalo falou sobre a passagem pelo Cheiro e por que saiu de lá. Nesse trecho da entrevista, o etarismo, preconceito contra pessoas mais velhas, entrou em pauta. O artista contou como foi a experiência de tocar com a dupla sertaneja Marlon e Maicon e como é estar na banda de Luiz Caldas, expoente da música brasileira e precursor da Axé Music. No final, explicou o conceito do projeto Lalo Toca os Mestres, que vai divulgar em breve. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais a Lalo Batera! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Lalo! Você é maravilhoso! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos a Guilherme Cunha, amigo em comum que viabilizou o encontro. Obrigado, Gui!

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"Adolescendo Solar", Cultura, Desde em Trânsito, Jornalismo Cultural

#DesdeEmTrânsito: Salvador, cidade da cultura?

Bate-papo com Fernando Guerreiro, na sede da Associação dos Procuradores do Município do Salvador, teve como foco a política cultural da capital baiana

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Imagem: divulgação

Por Raulino Júnior

Na manhã de hoje, Fernando Guerreiro, atual presidente da Fundação Gregório de Mattos, bateu um papo sobre cultura, gestão cultural e políticas públicas da área com procuradores de Salvador. O evento aconteceu na sede da Associação dos Procuradores do Município do Salvador (AMPS), no centro da cidade, e integrou a programação da Escola Baiana de Direito Municipal para celebrar o aniversário de Salvador, nesta quarta, 29/3, quando a capital comemora 474 anos. Entre outras funções, os procuradores representam judicial e extrajudicialmente um município. O Desde esteve lá e fez uma cobertura via Twitter (@RaulinoJunior), para mais uma edição do especial #DesdeEmTrânsito. Veja o resultado.

Erramos! É Associação dos Procuradores do Município DO Salvador e não DE Salvador. Desculpa!

Cultura é capilaridade!

Outro erro! É FernandO e não FernandA! Até percebi o erro depois, ainda lá, mas não quis fazer a correção, porque o fio ia ficar na sequência errada. Desculpa! Gosto muito dessa postura de escuta de Guerreiro!

Para saber mais sobre a trajetória profissional de Fernando Guerreiro, clica neste link: Arquivo do Desde.

De fato! Cultura é um conceito abrangente, mas, às vezes, as pessoas reduzem a atividades artísticas. Inclusive, muitos veículos de jornalismo cultural tendem a pensar assim! Um equívoco! Cultura é comportamento, costumes. Tudo que é produzido por um povo!

A síndrome do colonizado persiste no Brasil…

Isso deveria ser comum no campo da cultura, não é? As pessoas deveriam viver do que produzem.

Mais um erro: faltou a vírgula em “Ó paí, ó”! Desculpa!

Boa notícia!

Concordo plenamente!

Não acreditei quando ouvi isso! Que absurdo, gente! Em Salvador! Complicado…

Por informalidade, entenda também “falta de documentação básica” para concorrer aos editais.

Verdade verdadeira!

Xi… Kkkkkkkkkkkkk!

Pois é, gente! O Carnaval é uma potência da nossa cultura e deve ser valorizado como tal!

Importante essa documentação histórica! As próximas gerações agradecem!

Xi… Kkkkkkkkk!

Uma grande investigação! Em breve, publico!

Até a próxima edição do #DesdeEmTrânsito!

Todas as fotos foram feitas por Raulino Júnior.

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Cara-pintada na Ditadura

Romance faz imersão em duas importantes épocas da história do Brasil

Obra mostra protagonismo estudantil na Ditadura e no Movimento Caras-Pintadas

Por Raulino Júnior||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||

Um adolescente de 16 anos, integrante do Movimento Caras-Pintadas, é transportado para o ano de 1969 e se depara com um Brasil assolado pela violência e desmandos da Ditadura Militar. Nesse contexto, vivencia situações semelhantes com as que estava acostumado nas manifestações de que fazia parte, se aproxima da luta armada e faz um paralelo entre o movimento estudantil de 1969 e de 1992. Além disso, observa as transformações sofridas na sua cidade [São Paulo] ao longo desse tempo. Esse é o enredo que amarra o excelente romance Carapintada (assim mesmo, tudo junto, por preferência do autor), de Renato Tapajós, que foi publicado pela primeira vez em 1993.

Com uma ficção muito realista, Tapajós consegue também transportar o leitor para duas importantes épocas da história do Brasil. Durante a leitura, fica perceptível o trabalho de pesquisa para trazer os fatos de cada período histórico à tona. No romance, que soa muito atual, a Ditadura é marcada pela violência e falta de humanidade peculiares a ela. Não há maquiagem na história. Tudo que a gente lê sobre esse período sombrio está lá. A personagem Kioko representa bem isso, porque foi perseguida e violentada pelos policiais do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), sendo pendurada no pau de arara e recebendo choque. Isso tudo para que ela entregasse o seu marido, que era chefe de uma organização contrária ao regime. Rodrigo, o protagonista do romance, representa muito bem os jovens do Movimento Caras-Pintadas: destemido, consciente de suas responsabilidades e cheio de vontade de transformar o país. Num dos trechos do romance, reflete: “…cada vez que alguém toma uma decisão, está sempre jogando com a própria vida”, p. 80.

Outra passagem curiosa do livro, e que parece um exercício de profecia de Tapajós, principalmente considerando os recentes acontecimentos políticos do Brasil, é quando ele, através de Rodrigo, já registra que tinha gente que não acreditava que esse período nefasto aconteceu. Na página 50, ao ouvir Kioko contar sobre tudo que sofreu, Rodrigo solta: “Tem um tio meu, irmão da minha mãe, que não acredita que houve tortura no Brasil”. Mais atual, impossível, não é? O tempo é um elemento importante dentro da narrativa, tanto que Rodrigo se atrapalha várias vezes, uma vez que está visitando o passado, mas já com noção de tudo que vai acontecer depois dali. E ele não revela ao novos amigos [estudantes que estão lutando contra o regime ditatorial] que voltou no tempo.

Carapintada é muito bom. É uma obra importante para introduzir os temas que aborda para o público adolescente. O teatro e o cinema poderiam prestar mais atenção nela e adaptar a história para os palcos e para as telonas. Diante de tudo que a gente viveu, com gente pedindo a volta da Ditadura e elegendo pessoas que já provaram que estão preocupadas apenas com o benefício próprio, essa questão se torna urgente.

Referência:

 TAPAJÓS, Renato. Carapintada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2004.
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Sem Edição| Eduardo Mafra, Produção Cultural, Fotografia e Audiovisual

Eduardo Mafra: paixão por fotografia nasceu na faculdade. Foto: Helaine Ornelas.

Eduardo Mafra é um realizador. Formado em Produção em Comunicação e Cultura, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), ele atua profissionalmente fotografando, produzindo e escrevendo. Nesta entrevista exclusiva para o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, fala sobre como começou a sua paixão pela fotografia, os trabalhos que mais gosta de fazer nessa área e de algumas experiências marcantes ao longo da carreira, que começou em 2009. O livro Evangélicos – Uma conversa que não pode ser adiada, lançado neste ano, esteve na pauta da entrevista. Eduardo falou sobre as razões que o motivaram a escrever a obra e fez comentários pontuais sobre assuntos importantes presentes nela.

No bate-papo, Mafra fala ainda de outros projetos que já implementou, da trajetória no universo da fotografia e da Avoa Filmes, produtora audiovisual da qual ele e Helaine Ornelas são diretores. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais a Eduardo Mafra! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Mafra! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos à Helaine Ornelas, que fez as fotos do encontro. Obrigado!

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Sem Edição| Carla Lis, Música, Poder Feminino e Samba-Reggae

Carla Lis: música na alma. Foto: reprodução do vídeo

No mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, o Sem Edição, conteúdo audiovisual do Desde, traz uma entrevista especial e exclusiva com Carla Lis, cantora e musicista. Dona de uma voz suave e marcante, Carla tem a arte na sua vida desde a infância. Aos 13, começou a fazer shows em Salvador. Nesta entrevista, ela fala desse início de carreira e dos 25 anos que passou na banda Didá, referência em percussão comandada por mulheres. Durante a conversa, conta como foi conviver com Neguinho do Samba, ícone da cultura baiana e criador do samba-reggae: “Eu achava Neguinho muito completo”.

No bate-papo, fica evidente o amor de Carla em relação àquilo que faz, que é cantar: “A música me cura, me salva”. E completa: “Eu sou música o tempo todo”. Nesse sentido, reflete sobre a indústria da música em Salvador, que não dá espaço para artistas como ela: “Eu acho, sem nenhuma falsa modéstia, que eu poderia estar ocupando outros espaços, poderia ter uma projeção melhor na minha carreira, mas ser mulher, ser gorda, ser negra, ser nordestina, é muito complicado. A mídia é cruel em relação a essas coisas”.

A cantora conta como foi a experiência de participar do documentário Salvador, Mulheres e Histórias, produzido pelo Shopping Piedade, e fala da emoção em cantar no Carnaval de Salvador.  Responde sobre como nasceu o primeiro e único CD de sua carreira, intitulado Pedidos, de 2011. No final, fala da Yayá Muxima, banda de samba-reggae da qual faz parte atualmente, e canta Perto de Ti, sua única composição até hoje, faixa que abre o disco citado anteriormente. Não deixe de ver!

Agradecimentos mais que especiais à Carla Lis! Obrigado pela confiança e disponibilidade, Carla! Mais sucesso! Estendo os agradecimentos aos profissionais (Lázaro Gomes, Irlane Lopes, Ana Lúcia e José Paulino) da Faculdade de Medicina da UFBA, que autorizaram o uso da Bibliotheca Gonçalo Moniz como locação. Obrigado!

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Política e educação sob a ótica de Paulo Freire

Em obra lançada em 1993, educador pernambucano mostra que todo ato é político e reverbera na prática pedagógica

Imagem: reprodução do site do Grupo Editorial Record

Por Raulino Júnior||Desde Então: análise de produtos culturais de outrora||

Num ano importante para a nossa democracia, é fundamental que nós, cidadãos, busquemos informações que nos ajudem a ter uma visão mais crítica das coisas que acontecem na sociedade. Nesse sentido, a leitura do livro Política e Educação, de Paulo Freire, é uma excelente sugestão. Na obra, além de falar da interface entre política e educação, Freire toca em questões que merecem reflexão diária por parte de professores, representantes políticos e demais pessoas preocupadas com o viver social.

O ato de educar é, essencialmente, político. Na obra, Paulo Freire fala de uma educação para a decisão e libertação. Não há nada mais político do que isso. Porque o autoritarismo não pode coexistir com a democracia. E, para reinventar o mundo, algo que perpassa por questões políticas, a educação é um fator crucial.

Freire afirma que “a leitura crítica do mundo se funda numa prática educativa crescentemente desocultadora de verdades. Verdades cuja ocultação interessa às classes dominantes da sociedade”, p. 11. Ocultar as verdades é uma das práticas mais nefastas no âmbito da representação política. Isso só pode ser combatido com informação. Não é por acaso que o Patrono da Educação Brasileira diz que “o ser humano jamais para de educar-se”, p 13.

Todo discurso é disputa e política. Ao refletir sobre discursos reacionários, Paulo Freire afirma: “É preciso mesmo brigar contra certos discursos pós-modernamente reacionários, com ares triunfantes, que decretam a morte dos sonhos e defendem um pragmatismo oportunista e negador da Utopia”, p. 17. Quantos movimentos sociais são esvaziados por ter pessoas que adotam esse tipo de postura? Freire emenda, na mesma página: “É possível vida sem sonho, mas não existência humana e História sem sonho”.

Recentemente, o Brasil foi tomado por uma onda de defensores de uma escola sem partido. Em 1993, quando a obra foi lançada, o educador pernambucano falava isto: “Não pode existir uma prática educativa neutra, descomprometida, apolítica. A diretividade da prática educativa que a faz transbordar sempre de si mesma e perseguir um certo fim, um sonho, uma utopia, não permite sua neutralidade. A impossibilidade de ser neutra não tem nada que ver com a arbitrária imposição que faz o educador autoritário a ‘seus’ educandos de suas opções”, p. 21. Ainda sobre autoritarismo, falando da relação entre educadores e educandos, diz: “Não vale um discurso bem articulado, em que se defende o direito de ser diferente e uma prática negadora desse direito”, p. 22. Tem que ter coerência entre o discurso e a prática.

Um dos capítulos mais interessantes do livro é o que trata sobre o direito de criticar. Para Freire, é impossível não ser criticado: “[…] é impossível estar no mundo, fazendo coisas, influenciando, intervindo, sem ser criticado”, p. 31. O escritor também fala que não se pode criticar aquilo que não se conhece. Por incrível que pareça, isso tem que ser dito, pois há pessoas que saem fazendo críticas de algo que não têm nenhuma referência. É uma atitude feita apenas para impressionar. Além disso, ainda tratando sobre a crítica, Freire afirma que há “frases feitas que se repetem com ares de enorme sabedoria”, p. 31-32. E arremata: “Não posso criticar por pura inveja ou por pura raiva ou para simplesmente aparecer”, p. 32. Muita gente precisa aprender isso.

Outro trecho interessante é quando o autor diz que ninguém nasce feito, que a gente não é, a gente está sendo… A nossa vivência nos forma e essa formação é infinita. Paulo Freire se coloca o tempo todo em avaliação e mostra a sua atitude política diante do mundo: “[…] uma das marcas mais visíveis de minha trajetória profissional é o empenho a que me entrego de procurar sempre a unidade entre a prática e a teoria”, p. 43.

Ser um ser político é interferir o tempo todo na dinâmica da sociedade. “Uma das condições necessárias para que nos tornemos um intelectual que não teme a mudança é a percepção e a aceitação de que não há vida na imobilidade”, p. 43. Essa é a lição que fica.

Referência:

 FREIRE, Paulo. Política e Educação. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
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Artigo de Opinião, Educação, Opinião, Toca o Desde

Pedir para ir ao banheiro revela autoritarismo na educação básica

Placas de Banheiro em Alumínio Tamanho 15x15cm

Imagem: reprodução do site Sinalize Brasil

Por Raulino Júnior 

A sala está cheia. O professor chega e os educandos se acomodam. A aula começa. Decorridos uns vinte minutos, um estudante interrompe: “Professor, posso ir ao banheiro?”. Essa narrativa hipotética é só para ilustrar um fenômeno que acontece na sala de aula da educação básica e que, para mim, deve ser motivo de reflexão. Pedir para ir ao banheiro revela um autoritarismo implícito que nunca combinou e não deve ter mais espaço nos processos de ensino e de aprendizagem. Principalmente, num país que tem Paulo Freire como Patrono da Educação. Evocar Freire é falar de liberdade o tempo todo. Sendo assim, algumas posturas devem ser revistas. Caso contrário, a escola na modalidade EaD vai ganhar cada vez mais espaço.

Estamos em 2022 e é muito comum, durante as aulas da educação básica (falo, especificamente, do ensino fundamental e médio. A pré-escola tem demandas que justificam tal postura dos educandos), os estudantes pedirem ao professor para ir ao banheiro. Sempre que me deparo com essa situação, fico reflexivo e me pergunto: “Qual é a razão desse pedido? O que está por trás disso?”. Ter vontade de ir ao banheiro e de beber água (há também pedido para isso!) faz parte da necessidade fisiológica básica de todo ser humano. Não tem razão o pedido. É, na minha opinião, descabido. Se o educando tem sede, precisa fazer xixi ou defecar, ele deve se levantar e ir. No máximo, para ser educado, pode avisar ao professor: “Vou ao banheiro”, “Vou beber água”. Nunca pedir para ir. Pedir revela que a escola vive sob a égide do autoritarismo, que não é um lugar de liberdade. Isso é um problema. Se o pedido for negado, pior ainda. É inconstitucional! O direito de ir e vir foi desrespeitado.

Casos de autoritarismo, infelizmente, não são difíceis de encontrar no ambiente escolar. Lembro de uma turma me dizer que uma professora não deixava ninguém comer durante a aula dela. Os estudantes não podiam abrir seus salgadinhos ou biscoitos. Era proibido. O que a ingestão de alimentos durante as aulas ia interferir na prática pedagógica e no aprendizado, até hoje, não se sabe, não foi descoberto. Tal postura mais afasta que aproxima. A escola tem que ser um lugar agradável, convidativo, em que o estudante se sinta bem. Se ele sai de casa para ser perseguido, censurado, tolhido, violentado, não vai querer continuar. Isso dá vazão a discursos que afirmam que professor é dispensável. Na modalidade EaD, o educando faz tudo na hora que quer, no lugar onde quer. Nessa lógica, não precisa pedir para ir ao banheiro. Muitas vezes, o banheiro vira o ambiente de estudo. Quem já assistiu à aula no vaso sanitário ou tomando banho, entende o que eu digo.

Escola não é bagunça. A comunidade escolar não deve abrir mão de regras e de combinados para manter a ordem. Isso tudo deve ser dito aos estudantes, logo no início do ano letivo, para que eles saibam o que podem e o que não podem fazer. Afinal, formar cidadãos críticos, que saibam dos seus direitos e dos seus deveres, é a função primeira da escola. E formar para a cidadania é informar ao educando que ele tem direito de fazer as suas necessidades fisiológicas básicas sempre quando quiser, sem precisar pedir. Caso contrário, a educação libertadora de que falava Freire vai ficar só no discurso.

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