Artigo de Opinião, Opinião

Sociedade das pessoas-discurso

Ilustração: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior

Cansei das pessoas que usam discursos pomposos, prometem mundos e fundos, fazem de tudo para adquirir a nossa confiança, tentam nos seduzir e (coitadas!) pensam que nos enganam. Não, não estou falando apenas dos políticos. Essas pessoas estão mais próximas do que a gente imagina. Pô! É muito fácil falar que gosta de Chico e só citar “Apesar de você” como música de referência. Para, né? Você não é ator! Não precisa representar! A propósito, se nossa sociedade fosse uma obra de ficção, o prêmio de “melhor ator” e “melhor atriz” seria dado para várias pessoas. Poderia até entrar no Guiness, como recorde de maior empate do mundo.

As pessoas-discurso são aquelas que têm uma retórica tão bonita, tão justa e tão admirável que embasbaca qualquer um. Entretanto, no seu dia a dia, nada daquilo que é dito de forma eloquente é posto em prática. É só uma estratégia, uma máscara.

Não duvide nada se aquela menina que se coloca toda revolucionária diante do mundo, com ideias e ideais feministas, viva subserviente ao namorado e até ache que lavar as cuecas dele é uma obrigação dela. O mesmo estudante que vai para as ruas brigar por um país melhor e que acha corrupção e peculato práticas nefastas, é o “cidadão” que usa cartão de meia-passagem de terceiros quando há necessidade, tenta todos os meios de burlar as leis para obter vantagem, manipula qualquer situação cotidiana a seu favor, fura a fila e plagia trabalhos alheios na maior cara dura; sempre achando que tais atos são menos danosos à sociedade. O que ele esquece é que a raiz das atitudes que geram os problemas que prejudicam a todos nós está aí. Tudo é questão de princípios. Ou você tem ou você não tem. Simples assim.

Quantas pessoas você conhece que são capazes de fazer constantes (e até chatas!) reclamações nas redes sociais e, ao mesmo tempo, não movem uma palha para mudar o mundo? O que é mais legítimo: reclamar sentado na cadeira ou reclamar e partir para a ação? Quantas pessoas você conhece que vivem propalando a ética e a correção nos seus discursos e não colocam nada do que falam na própria vida? O que é mais legítimo?

É por causa de haver apenas discursos que o Brasil está do jeito que está. Existe uma máxima que diz que “você é aquilo que você come”. Eu postulo outra: você é aquilo que você não fala.

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