Fernando Conceição lança biografia de intelectual brasileiro em cerimônia bastante disputada
Por Raulino Júnior
“Não é uma biografia chapa branca. Eu não vou mistificar Milton Santos. Eu vou retratá-lo como homem, como um sujeito, cheio de contradições”, esse foi apenas um trecho do discurso que o professor e jornalista Fernando Conceição, 48 anos, fez durante a cerimônia de lançamento do seu livro Milton Santos, uma biografia. Após dizer as afirmações em destaque, ele foi aplaudido pelas mais de 400 pessoas que lotaram o auditório do Sindicato dos Bancários do Estado da Bahia, em Salvador, onde aconteceu o evento, na tarde da última segunda-feira do ano de 2015, 28 de dezembro.
Fernando fez questão de enfatizar que a obra, que foi distribuída gratuitamente no lançamento e, a partir do próximo mês, será para todo o país, é só um aperitivo, a primeira versão do texto. “Esta é a primeira versão de um texto muito mais longo. Aqui [no livro] não tem um terço de todo o material que eu tenho para produzir a segunda versão da biografia de Milton Santos. Mas o que tem aqui, provavelmente, já vai criar algum frisson”, revelou. Segundo o escritor, a correria em publicar a primeira versão se deu por causa de compromissos com a Petrobras, patrocinadora do projeto.
No vídeo abaixo, o biógrafo fala sobre os pormenores da pesquisa iniciada em 2007, além de enumerar alguns países que visitou para entrevistar pessoas que conviveram com o geógrafo baiano. Pontua, brevemente, fatos da vida de Milton e lê alguns trechos do livro. O ex-deputado federal Luiz Alberto, que intermediou o contato de Fernando Conceição com uma das diretorias da Petrobras, em 2012, aparece no início do audiovisual.
O secretário de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Maurício Pestana, falou um pouco sobre como participou do projeto, do interesse de muita gente em saber sobre a obra de Milton Santos e lamentou a insistência do racismo na sociedade brasileira: “Eu não tenho dúvida nenhuma que, se Milton Santos fosse branco, teriam seriados [sic], especiais, a mídia estaria falando, uma comoção. Provavelmente, Milton Santos seria até enredo de escola de samba”. Veja um pouco mais do discurso de Pestana, no vídeo abaixo.
O coordenador da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA), Paulo Vaz, destacou que, diante de todo o trabalho realizado por Milton Santos, a universidade não tem mais como esconder o seu legado. Assista ao vídeo.
Augusto Vasconcelos, presidente do Sindicato dos Bancários do Estado da Bahia, considerou o lançamento da biografia como algo fundamental para quem se debruça sobre a bibliografia de Milton Santos. Salientou o caráter vanguardista do geógrafo e o enfrentamento dele à globalização neoliberal. Confira no vídeo abaixo.
Milton Almeida dos Santos nasceu em 3 de maio de 1926 e morreu em 24 de junho de 2001, em São Paulo, vítima de um câncer de próstata. Formou-se em direito, pela UFBA, mas marcou o seu nome na história como geógrafo e importante pensador da sociedade, do tempo e do espaço. Foi professor, trabalhou em jornais, militou na política estudantil, foi desterrado. Conhecer o seu legado é papel de qualquer pessoa que habita a Terra. Ou seja, é papel de todos nós!
Agradecimentos especiais à Danila de Jesus, que autorizou o Desde a filmar a cerimônia de lançamento da biografia. Muito obrigado!