Cultura, Jornalismo Cultural, Música, Reportagem, Reportagem Especial, Samba

Homenagem a Riachão reforça grandiosidade do artista

Sambista foi homenageado por amigos e admiradores em seminário no IGHB

Riachão: artista ganhou merecida homenagem no IGHB, em Salvador. Foto: Raulino Júnior

Por Raulino Júnior ||Reportagem Especial|| 
“O samba é Deus e Deus é o samba. O samba é alegria, é vida, é ternura, é tudo de bom. O samba é Deus, Deus é a música. O samba, para mim, é Deus. Nada melhor do que Deus. Então, a música está, realmente, no coração de toda a humanidade”. Foi assim, ao ser indagado o que era o samba, que o próprio Riachão, 97 anos, abriu o seminário Eu sou o Samba, realizado em sua homenagem, na tarde de ontem, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), em Salvador. Com seu jeito peculiar, o sambista encantou a todos com a alegria e vivacidade de sempre. Para a homenagem, o IGHB reuniu um time de admiradores de Clementino Rodrigues (nome de batismo de Riachão): Roberto MendesAlessandra CarvalhoJuliana RibeiroÊnio Bernardes e Chocolate da Bahia.

Da esquerda para a direita: Alessandra Carvalho, Juliana Ribeiro, Riachão, Roberto Mendes e Enio Bernardes. Foto: Raulino Júnior

Roberto Mendes falou sobre a origem do samba e sobre o samba chula. No final da apresentação, cunhou: “O samba é Deus de barriga cheia”. Concordando, assim, com as palavras do homenageado. Em seguida, foi a vez de Juliana Ribeiro reverenciar o mestre Riachão (a cantora e todos os convidados se referiram assim a ele, o tempo todo). Ela abriu a exposição com um áudio de Retrato da Bahia, uma das composições mais conhecidas do cantor. Enquanto a música era reproduzida, Riachão se balançava na cadeira onde estava sentado, feliz da vida. No seminário, Juliana falou sobre as histórias dela com o artista e os encontros proporcionados pela vida artística. O primeiro, por exemplo, foi em 2009, num show durante a Festa de Santa Bárbara. A cantora destacou a generosidade e vitalidade de Riachão: “Essa vitalidade ele tem sempre. Está sempre disposto, sempre disponível. Ele também é muito generoso. Não existe um momento de cantar. Ele está sempre cantando. Não para nunca”. Além disso, Juliana pontuou o fato de Riachão colocar a mulher, na própria obra e na vida, num lugar sagrado: “Ele tem noção de equidade de gênero e conseguiu transmutar o machismo, lembrando que é um homem que nasceu no início do século 20. Por decisão própria, não canta mais ‘Vá morar com o diabo‘”, explicou. No final, Juliana colocou Até Amanhã para tocar, Riachão deu canja e aproveitou para cantar também Somente Ela.

Chocolate da Bahia (nome artístico de Raimundo Nonato da Cruz) fez uma verdadeira intervenção durante o seminário. Contou histórias de sua vida, falou da importância que Riachão teve para o início de sua carreira e cantou algumas de suas músicas e jingles. No final, entoou Cada Macaco no seu Galho, para alegria do homenageado. Alessandra Carvalho, filha de Chocolate, trouxe um tom mais acadêmico para o seminário, ao apresentar informações da sua dissertação de Mestrado, defendida em 2006. Na ocasião, falou sobre o contexto histórico do nascimento do samba e desmistificou a ideia de que o samba foi prontamente aceito na sociedade da época: “A história que descobri, pesquisando sobre o samba, é uma história de muita luta, exploração, fome e pobreza”, elucidou. Enio Bernardes contou um pouco de sua relação com o samba e mostrou-se preocupado com a preservação desse patrimônio cultural. Ao falar de Riachão, choveu no molhado: “Você chega na casa dele, a primeira coisa que ele fala, depois que a gente cumprimenta, é: ‘Já comeu? Já bebeu?’. É um cuidado, uma generosidade que não tem tamanho”.

Roda de Bambas

Na homenagem, o que não faltou, obviamente, foi samba. Tanto o homenageado quanto os artistas convidados cantaram músicas do gênero e transformaram a sede do IGHB numa típica roda de samba. E roda de samba que se preze tem que ter muitas histórias. Riachão aproveitou para contar as dele. Contou, por exemplo, como fez a sua 1ª composição, em 1936, aos 25 anos de idade: “Saí da alfaiataria com destino à Ladeira da Misericórdia, para comprar material de trabalho. Vi um pedaço de papel de revista no chão, peguei e estava escrito: ‘Se o Rio não escrever, a Bahia não canta’. Aquilo não saiu da minha cabeça. No dia seguinte, compus a música”, recorda. No vídeo abaixo, você escuta trecho do samba, que não tem nome.

Exclusivamente para o Desde, o sambista falou como foi receber a homenagem promovida pelo IGHB.

O cantor e compositor Roberto Mendes falou sobre a marca que Riachão deixa para o mundo, não só para o samba, e revelou: “Se um dia Deus me permitir voltar, quero ser Riachão”. Veja o vídeo abaixo.

Artista, digamos, da nova guarda do samba, a cantora e compositora Juliana Ribeiro disse que participar da homenagem para Riachão foi fundamental. Segundo ela, artistas como Riachão abriram caminho para ela e para tantos outros: “Se não tivesse Riachão, como é que eu estaria aqui?”. No vídeo abaixo, você confere a declaração de Juliana.

Para finalizar o seminário, uma roda de samba só com músicas de Riachão reuniu bambas de todas as etnias, idades, gêneros e credos, como o homenageado gosta.

Homenagem acabou em samba. Foto: Cleide Nunes

Padrão

Deixe um comentário