Criado por mãe, por vó, pela dança e pela UNILAB, Weslei Machado Cazaes celebra as suas raízes
Por Raulino Júnior
Santiago do Iguape, Brasil e a Lua
⭐ Que gente é você?
Por que você brilha? ⭐
Criado por mãe, por vó, pela dança e pela UNILAB, Weslei Machado Cazaes celebra as suas raízes
Por Raulino Júnior
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Jornalista, escritor e mestre em educação que caminha entre a Bahia, São Paulo e o mundo
Por Raulino Júnior
O filho mais velho de Osmilda e Valmir, irmão de Wadila, Ueslen, Daniel e Daniele, nasceu em Vitória da Conquista, cresceu no povoado Cavada II, em Barra do Choça, e morou por mais de dez anos em Paraisópolis, considerado o maior bairro favelizado da cidade de São Paulo. Já foi para os Estados Unidos, Colômbia e Argentina. Contudo, questionado sobre qual é o seu lugar no mundo, não titubeia: “Meu lugar no mundo acho que é o mundo, ainda quero desbravá-lo mais e mais. Mas meu porto seguro sempre será o povoado na Bahia, onde cresci”. Vagner de Alencar Silva (“Embora eu raramente use o Silva”) é um ariano determinado e perseverante. Aos 33 anos, o baiano é escritor, jornalista (formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie), mestre e doutorando em Educação: História, Política, Sociedade (pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP), cofundador e diretor de jornalismo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias (AMJP), projeto pioneiro que tem como missão “minimizar as lacunas de informação e contribuir para a desconstrução de estereótipos sobre as periferias da Grande São Paulo”, que completa uma década em novembro deste ano. Em 2011, com a pauta Educação para quê? Universos educativos desperdiçados em Paraisópolis, feita em parceria com Bruna Belazi, foi um dos vencedores do 3º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão. Em 2013, em outra parceria com Bruna, lançou o livro-reportagem Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo, fruto do TCC do curso de Jornalismo. Ler e contar histórias sempre esteve presente na vida de Vagner. O ingresso no curso de Jornalismo potencializou ainda mais isso. “Eu sempre gostei de histórias, mas não imaginei que pudesse ser jornalistas, e sim professor. Como já fui e ainda quero. O Jornalismo meio que surgiu por acaso, quase como um devaneio. Eu já estava estudando Letras quando, com a mesma nota do Enem, tentei outros cursos por meio do Prouni. Jornalismo foi a primeira opção, fui aprovado no Mackenzie, então decidi migrar. A melhor decisão”, explica. O amor pelas letras pode ser lido nas crônicas que escreve no Medium. “Ainda vou escrever um livro de crônicas com histórias da Bahia chamado ‘O pé de angelim’, que é a árvore na qual minha mãe foi sepultada. O valor simbólico por si só já diz tudo”. No texto, Vagner narra parte da história da família e a morada de três vida no pé de angelim, que fica no quintal da casa de seu avô, em Barra do Choça. “É o texto mais bonito que já escrevi”
O pesquisador e o cidadão do mundo
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Por Raulino Júnior
Para começo de conversa, ele é de leão. Estreou, como gosta de dizer, no dia 2 de agosto de 1987. Marco Antonio Fera é cuidadoso ao falar que, da sua casa, é o mais à frente do seu tempo. O cuidado, pelo que parece, é pura modéstia. Ele mesmo justifica: “Eu fui o primeiro filho a acessar a universidade [fez Teatro – Arte Educação, na Universidade de Sorocaba (UNISO)] , o único a estudar fora do Brasil [no Chile], através de um intercâmbio, o que mais viaja, o que mais fica fora de casa, o que já morou em São Paulo. Enfim, tenho muita andança pelo mundo”. E essa é uma característica muito forte na personalidade dele. Marco Antonio é uma pessoa que se movimenta e se considera extremamente agitado. “Sou urbano, sou dos grandes centros. Eu gosto de lugares agitados. A pandemia me machuca muito, porque ela me faz estar parado, me faz estar em casa. Eu moro numa cidade [Sorocaba], trabalho em outra [Boituva] e estudo em outra [São Paulo]. Eu vivo em três cidades ao mesmo tempo, nos meus últimos dois anos. E eu gosto de estar no mundo. Eu gosto de andar, eu gosto de transitar”, explica. Por isso, ao ser questionado sobre qual é o seu lugar no mundo, não titubeia: “O meu lugar no mundo é no mundo”.
Agora, por causa da pandemia, o seu lugar no mundo é Sorocaba, perto da mãe (dona Maria Helena) e dos irmãos (Luiz Fernando e João Paulo). O pai, seu José Cassiano, faleceu ano passado. Os genitores influenciaram o pensamento crítico de Marco e sempre foram abertos ao debate de quaisquer questões trazidas pelo artista para dentro de casa. “Eles são de uma outra geração, onde não se discutia racismo, mas se vivia o racismo, de uma forma muito mais pesada e muito mais ferrenha. Os meus pais estão em mim e estarão eternamente. Na educação, na forma de ser e de estar, na forma de me comportar, nos ensinamentos, na ancestralidade. Eles nunca falaram sobre racismo, mas, desde pequenininho, a gente já tinha RG. Em 1994, 1995, não era natural crianças terem RG. Minha mãe falava: ‘Não pode sair sem isso daqui. Em nenhum momento, pode esquecer. Não pode perder de jeito nenhum. Vai no centro da cidade? Não chega perto de nenhum objeto. Olhe tudo de longe, não toque em nada. Não corre na rua! Não empreste nada do amiguinho. O que você quiser, pede pra mim’. Minha mãe e meu pai reviravam as nossas mochilas. Minha mãe olhava todos os cadernos. Nosso caderno sempre tinha que estar limpo, nossa roupa também. A gente sempre tinha que estar cheiroso”.
Pretinho mais que básico
O que o youtuber naturaliza também são as suas formas de ser e mostra por que é mais que básico. “Tudo o que eu faço, eu faço cem por cento, eu me debruço para fazer o melhor possível. Eu acho que tudo que eu faço, eu faço com muito carinho, faço com muita atenção, faço com muito cuidado e com muito profissionalismo. O que eu mais gosto de fazer, e o que eu gostaria de fazer durante toda minha vida, era ser só ator, e youtuber com outras condições. Eu gosto muito de dar aula, mas foi o caminho que eu encontrei para sobreviver. Não foi uma coisa assim: ‘Meu sonho de princesa era ser professor’. Sou professor há 12 anos. O produtor cultural veio porque ninguém me chamava para trabalhar. Ninguém me chamava para fazer teatro. Eu não conseguia fazer filmes, eu não conseguia fazer nada, porque as pessoas não me chamavam e eu cansei de esperar as pessoas. O produtor de conteúdo e o apresentador vieram com essa questão de querer estar na mídia. Eu precisava criar uma mídia. O ativista é porque eu sou uma pessoa preta e preciso estar sempre nesse modo, mas é um modo muito difícil para mim também, porque adoece, machuca, violenta, cansa. Não é uma coisa fácil. É claro que eu queria estar num lugar muito mais confortável e onde eu pudesse produzir as minhas coisas de um outro lugar, um lugar que causasse menos dor, porque ser ativista é um lugar que machuca também e adoece. Se a gente não tiver um suporte, se a gente não tiver ferramentas, é difícil”.
Marco é um crítico do sistema educacional do Brasil. Tanto da educação básica quanto da superior. Para ele, os professores das escolas são caretas e a universidade é castradora. “Os professores são caretas porque muitos deles são professores muito antigos, velhos, que estão lá, têm um pensamento retrógrado e não querem mudar. A educação é o lugar mais deseducado do planeta. É louco imaginar isso. A educação é o lugar onde menos se tem educação, onde menos se tem pensamento, onde menos se tem desconstrução. É uma fôrma mesmo. E é muito triste porque os adolescentes, as crianças entram ali totalmente buchinhas, prontos para ser uma esponja, que absorve, e, infelizmente, a educação, o sistema, tem o pior para oferecer e aí forma adultos preconceituosos, homofóbicos, racistas, machistas, intolerantes. Isso é uma responsabilidade da própria sociedade e, principalmente, do processo educacional. A educação, a escola, é o lugar mais violento, mais perverso e mais nocivo para um ser humano e não sei se os pais se dão conta disso. Transborda caretice. Se fosse só careta, talvez seria um pouco melhor, mas não, é careta e muito violenta”, opina. E a universidade? “A universidade continua castradora. Uma universidade que tem como base o eurocentrismo e desconsidera as contribuições negras para o processo educacional, para a formação de uma nação, é castradora, porque a população não é 100% branca, 100% europeia. Um país que teve como matriz o indígena, a língua tupi, e para você entrar no mestrado, exige o inglês. Isso é castrador porque retira o direito de um conhecimento que é nosso. Então, só por isso é castradora, porque retira o nosso direito de criar as nossas humanidades. O sistema é perverso e a universidade é castradora por causa disso”.
Fera nas artes
Marco é bastante determinado e tem uma força de fazer as coisas acontecerem que nem ele mesmo sabe de onde vem. “Eu não sei de onde vem essa força. Eu não sei de onde vem essa determinação. Eu só sei que eu sou uma pessoa assim. Eu quero aquilo, vou e acontece. É muito louco. É da minha natureza. Gosto de falar que é coisa de leonino, mas não sei também. Estou jogando na roda”. Foi assim quando decidiu morar fora do Brasil [“O cara do Departamento de Relacionamentos Internacionais da universidade foi divulgar a oportunidade na minha sala. Olhei para aquilo e falei: ‘Gente, eu vou morar fora do Brasil’. Eu não sabia nem para onde eu iria. Eu não sabia falar nenhum idioma, não tinha dinheiro. Em seis meses, eu ajeitei tudo e fui estudar fora do Brasil”], quando encasquetou que ia ao programa de Silvio Santos, para ganhar 50 mil reais [“Em 2010, eu estava assistindo ao programa e aí um cara ganhou 500 mil reais. Eu falei: ‘Vou nesse programa e eu vou ganhar esse dinheiro’. Isso foi num domingo. Eu me inscrevi no programa, mandei minha foto, minhas coisas todas. Na terça-feira, eu estava no SBT fazendo teste para o programa. No domingo seguinte, eu já estava gravando com Silvio Santos e ganhei 50 mil reais”] e quando começou no teatro [“Eu queria muito fazer TV. Na época, estava com 12 anos e tinha aquela novela Chiquititas. A produção fazia uma excursão pelo interior da cidade para descobrir novos e novas Chiquititas, o que era uma grande mentira. Era só pra fazer aquele boom. Fui fazer um teste na minha cidade e não passei. O cara falou assim: ‘Olha, quem não passou, faz teatro, porque na próxima vez, estará pronto para fazer o teste e passar. E aí eu saí dali já pensando que tinha que fazer teatro e fui me inscrever na Oficina Cultural Grande Otelo, que era uma oficina aqui da cidade. Lá, eu me formei. Depois dessa primeira oficina, eu nunca mais parei”].
Não parou e ampliou a atuação nas artes cênicas. Em 2011, com a companheira de trabalho Clarice Santos, fundou o Grupo Trança de Teatro, que tem três espetáculos no repertório: No Voo do Instante (2013), Corpo-Notícia: Relatos sobre o Amor e a Violência (2016) e Ilu Okan: O que Minha Vó Contou (2018). No cinema, só fez curtas, e ajudou num roteiro. “Fiz também um curta meu, Estrela Solitária (2018), que produzi, idealizei e atuei”. Os planos para a carreira artística tiveram que ser modificados, devido à pandemia. “Tinha muitos projetos para fazer, mas eu tenho vontade de fazer um solo no teatro e continuar com meu aprendizado de sanfona, utilizar a sanfona nos meus trabalhos. Mas eu sou uma pessoa sem limites. Para o que me chamarem, eu estou dentro e a fim de de fazer. Acho também que temos que entender esse momento, viver esse processo, produzir durante esse processo. A gente não sabe o que vai ser o normal. Então, é experimentar esse lugar, essa experiência da pandemia”. Para a carreira acadêmica, pretende ingressar no mestrado. “Por uma questão da pesquisa mesmo e por uma questão de ocupar aquele espaço”.
Questionado se acredita que, após a pandemia, os artistas vão usar as redes sociais digitais para difundir mais conteúdo artístico e menos futilidade, Marco é categórico: “Nunca. As pessoas não vão mudar. Infelizmente. Tem uma pandemia aí, mas as pessoas não vão mudar. E o artista é uma pessoa. Ele é um ser humano, ele não está alheio à sociedade. Ele não está isento. O artista possui todas as questões que a humanidade possui. As pessoas costumam endeusar o artista, colocar num pedestal, ver como um santo de porcelana. Na verdade, não. Tem muitos artistas que eu fico com a obra, o indivíduo eu anulo para não deixar de amar a obra e de consumir aquilo que me faz bem. Infelizmente, acho que as pessoas não vão mudar. A futilidade sempre estará por aí”, conclui. Marco se mostra e não teme ser quem é.
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Por Raulino Júnior
Rosberg e seu mundo artístico
Rosberg é multimídia. Participou de curtas (João Heleno dos Brito, de Neco Tabosa; e Ela é artista, de Vander Santos), da série AFROntar (TV Jornal Interior) e do longa Palavras de Rua (Pablo), dirigido por Léo Batista e Paula Monteiro. Está preparando o curso on-line O lugar onde se vê, no qual vai abordar o processo de criação artística e improviso. No final, pretende montar uma adaptação do texto A parte que falta, do estadunidense Shel Silverstein. O projeto é uma parceria da Right Hemisphere Creative Productions (mais uma ação de Rosberg) com a Trupe Veja Bem Meu Bem.
O belo-jardinense carrega traços de seriedade e meninice, na mesma intensidade. Isso, obviamente, se reflete em suas produções. Na Trupe Gargalhada, onde assume a persona do palhaço Biliro, mostra a criança viva que habita o seu corpo. “Com o Biliro, eu volto a ser criança. É meu exagero irônico, meu eu poético. Ainda estou descobrindo esse clown, em processo de criação. O Biliro é mais um filho que crio, mais um grande artista, como o Poeta, a Nega Rhos, Patativa do Assaré, Chicó, Gregório Sampsa, Biriba e mais alguns que não lembro”, enumera os personagens que viveu/vive. Nas composições musicais e poéticas, fala do homem que é, de liberdade. Usa todas as formas de expressão artística para se sentir nu, livre. “Nada é forçado. Tudo é desejo e arte. Meus poemas são meus pensamentos encharcados de palavras, são explosões de sentimentos presos. Escrever é limpar, é reiniciar seu corpo, sua mente, seu estado de espírito, é conversar com você mesmo, relatando no papel. Um mar de palavras da mente, escritas no papel, organizadas em forma de reflexão e história. Eu lembrei que quando era criança, fiz uma promessa: prometi a mim mesmo que iria aprender a ler e escrever, pois adorava a escola. Escrevo desde que aprendi, na escola pública, lendo livros na biblioteca”. E assim Rosberg segue escrevendo a própria história, caminhando num mundo que não tem limite, porque é dele.
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*: referência à música Eclético, de Edu Tedeschi.
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Por Raulino Júnior
No vídeo abaixo, veja a declamação do poema Gente.