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A inveja que adoece, que mata e que, no fundo, é sempre inveja mesmo

Quando o desprezo a gente muito preza/Na vera, o que despreza é o que se dá valor*

Por Raulino Júnior ||Texto de Quinta|| 

No seu dicionário, Caldas Aulete é categórico quando define inveja: “Misto de desgosto e ódio provocado pelo sucesso ou pelas posses de outrem”. Logo no início do seu livro Mal Secreto (Inveja),  publicado em 1998, pela Companhia das LetrasZuenir Ventura afirma que “inveja é não querer que o outro tenha”. Na Bíblia, em Provérbios, capítulo 27, versículo 4, lê-se a indagação: “O rancor é cruel e a fúria é destruidora, mas quem consegue suportar a inveja?”. Quem? Nem o invejoso nem o invejado. Esse pecado capital, que muita gente prefere dizer que não comete, faz mal para todo mundo.

A inveja está em todo lugar: nas instituições de educação, na família, nas praças, nas redes… Basta ter humano, para ter inveja. Ou basta ser humano para ter inveja? Talvez, seja um sentimento inerente a qualquer ser vivo, não só aos humanos. É como se a gente nascesse com um gene da inveja. Uns desenvolvem mais, outros desenvolvem menos. É possível que algumas pessoas nem desenvolvam, fiquem indiferentes. Porém, alguns autores que refletem sobre esse mal dizem que todo mundo tem ou já teve inveja. É só mais um pecado, como a luxúria, a soberba, a preguiça, a gula, a avareza e a raiva. Mais cedo ou mais tarde, a gente demonstra um deles em alguma situação da vida. Faz parte da nossa “ser humanidade”.

Não gostar de alguém, de algo ou de alguma coisa, é supernatural. Não reconhecer que uma pessoa é bem-sucedida naquilo que ela faz, não. Isso é inveja. Porque inveja também é a infelicidade ao ver a felicidade do outro. Então, ao ver o outro feliz, com sucesso (não vamos confundir com fama! É sucesso mesmo, no sentido de ter alcançado aquilo que queria!), nasce no invejoso um sentimento de repulsa, de negação, de não querer que aquilo, que é fato, continue acontecendo. Nesse sentido, ele busca subterfúgios, coisas para anular o invejado, para que esse não seja, mesmo sendo.

Quando alguém que se diz nosso amigo só se faz presente nos momentos difíceis da nossa vida, isso também é estranho e tem um pé lá na inveja. É como se houvesse um prazer de nos ver sofrendo, de ver que aquela nossa alegria foi abalada de alguma forma. Então, o ato que é visto como solidário, na verdade, esconde um prazer de não ver o outro feliz. Ou seja: é inveja. Em artigo intitulado O sistema mental determinante da inveja, publicado na Revista Brasileira de Psicanálise (RBP), em 2009, o professor Walter Trinca afirma que “o  invejoso sofre por aquilo que lhe falta, ainda quando se alegra com o sofrimento alheio”. Difícil constatar, mas é isso.

A mentira faz parte da inveja. Está contida nela. Sabe aquela pessoa que diz que torce por você? Fique atento(a) a essa torcida! Ela pode ser a favor, mas também pode ser contra. É a inveja. Inveja é querer que o outro não tenha. Se o sucesso de outra pessoa te incomoda, isso é inveja, porque inveja é querer que o outro não tenha. Se a alegria de outra pessoa te incomoda, isso é inveja, porque inveja é querer que o outro não tenha. Em Mal Secreto (Inveja), Zuenir reproduz a famosa afirmação atribuída a Tom Jobim: “Sucesso, no Brasil, é ofensa pessoal”. É isso mesmo! Duvida?! É inveja!

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É Desde! É Dez! É DEZde!

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